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domingo, novembro 30

BARCAÇA_62

 

Na penúltima edição deste ano de 2025, a nossa Barcaça sem nunca ter perdido o rumo segue em frente na divulgação da nossa cultura, da nossa poesia das nossas gentes pelos concelhos de Montemor-o-Velho e Figueira da Foz. Nada disto seria possível sem os nossos colaboradores que sustentam as palavras que transcrevo mensalmente.

Seguindo sempre sem pressas, mas atento ao percurso por vezes atribulado, não perdemos o rumo que é divulgar o que de bom se faz seja como disse na cultura como nas raízes dos nossos munícipes.

Mário Silva continua a sua divulgação parte II Francisco de Pina e Melo e o Terramoto de 1755, sempre valorizando quem nos lê. Carla desta vez “Lar doce Lar” um aconchego de palavras que no calor da sala passam para o papel e trasbordam carinho, amor e saudade.

Já Fernando Curado na sua rúbrica sobre monumentalidade da Figueira da Foz fala-nos das antigas escadas monumentais da esplanada António da Silva Guimarães. António Girão de saudade e carinho pela Avó Amélia. Por sua vez a recente aquisição da nossa terra Maria Forte debruça-se “O Natal que Celebramos... Não é Nosso...

Na parte da poesia Garça Real poemas com sabor a sal e sol. Já Isabel Capinha desta vez apresenta-nos o seu e rico passeio desde hà 35 anos na escola profissional de Montemor-o-Velho. Isabel rama com uma exclamação pergunta-nos “O Natal existe! Isabel Tavares com um lindo poema “NOITE” onde como bela adormecida vagueia entre a realidade e o sonho. Na secção da Livraria escolhi um livro que julgo estar no tempo de refletirmos para onde vamos.... REVOLUÇÂO de Maria Inácia Rezola. Já na discografia. Um tema sempre actual de Chico Buarco.

Bom fim de semana e boas leituras 

Terra da minha infância.

Nesse tempo a ida a Coimbra em dias festivos e à figueira sempre que se arranjava boleia. A Vila era o nosso espaço de conforto, o largo da feira o local de concentração dos jogos de futebol, onde o dono da bola escolhia a equipa e as balizas quatro pedras. Por vezes surgia alguém com uma bola de (Cautchu) que era uma raridade. E assim se jogava com mudança aos cinco golos e jogava-se até escurecer.

Muitas das vezes o acender dos candeeiros marcava o final do jogo, não havia arbitro e algumas vezes também terminava porque o dono da bola zangava-se e levava a bola.

Na Praça o centro da Vila onde os mais velhos se reuniam e falavam de tudo e nós não tínhamos acento. Depois de abalarem para bailaricos seja das povoações circundantes ou para Figueira da Foz num carro que mais parecia um autocarro...sentávamo-nos e era o descanso dos guerreiros.

De fronte da Câmara Municipal o (Ti Baldaque) que aproveitávamos para desfrutar o cheirinho a espigas doces.

Eu como muitos dos meus amigos subíamos então a calçada, jantávamos e cama.

Ao amanhecer de mala feita, encontrávamo-nos na estrada da Torre e seguíamos em rancho para escola primária onde alguns seguiam para lado do professor Teixeira (a fera) e outros para professor Soares mais suave.

No recreio os jogos da época, salto do cavalo, pião, berlinde, botão...

Foram momentos que não esquecemos... ainda hoje os recordo com saudade.


Francisco de Pina e Melo e o Terramoto de 1755

PARTE II 

Espanta-se por verificar, ao ler as relações que vieram da capital, que, não ficando “templo, nem tribunal inteiro”, se mantiveram de pé as casas de meretrizes. Julga incompreensível que a justiça divina se haja compadecido de lupanares tão sórdidos e se irritasse “contra aquelles edificios, que se instituirão” para louvar ao Altíssimo e para o governo público.

Olhando para a terra onde prega, vê que Montemor-o-Velho, se não comete as faltas “odiosas” de Babilónia ou de Lisboa, também é culpada, embora menos, “porque nas terras pequenas não há tantas occasioens para se apurar a malicia”, mas encontram-se nelas “mais vivas as murmuraçoens, os mexe ricos, os odios, as trapaças, as traiçoens, e as usuras: em Montemor tambem há Letrados, tambem há Escrivaens, tambem há mulheres, e outras coisas mais”. Por isso, “foi para Lisboa o castigo” e para Montemor-o-Velho “o ameaço”.

O país, lembra o pregador, encontra-se em estado de calamidade e pânico. Deixa, assim, esta admoestação insistente: “os terremotos do Ceo são vozes de Deos que se continuão a ouvir”. A terra tremeu e “fez arrazar Lisboa, Faro, Tavira, Setubal, Villa-franca, Castenheira, Alemquer e Ourem”, mas não passa semana sem que as cartas não “refirão novas mortes, novas tragedias, novas calamidades” e as notícias estejam clamando “que os homens tem desamparado as povoaçoens, e que vivem a modo de feras pelas brenhas, e pelas charnecas; se despejam os palacios, que habitão nas choupanas”; e “como na arca de Noe, aonde se acommodavão com hum mudo socego tantos viventes de contrarias especies”, há fidalgos e plebeus “misturados nas choças”.

 Fonte: João Francisco Marques, “A ação da Igreja no Terramoto de Lisboa de 1755: ministério espiritual e pregação”, in Lusitânia Sacra, 2.ª série, 18 (2006) 219-329. 

Home sweet home.

Há sempre algo de mágico no regresso. Nunca sabemos ao certo em que momento deixamos de chamar-lhe “a nossa casa” para passar a chamá-la de “a casa dos nossos pais”. É subtil, quase impercetível, como se um dia acordássemos adultos e percebêssemos que já moramos noutro lugar, noutra vida, mas que parte de nós ficou ali, intacta, à espera para quando precisamos ou queremos regressar.

Há um mistério bonito nesse reencontro com o passado. Colocar a chave na fechadura, abrir a porta e sentir o cheiro familiar, ouvir os passos que conhecemos desde sempre, ver os mesmos cantos que guardam pedaços da nossa história. As nossas coisas que ainda por lá permanecem. É como abrir um álbum antigo sem precisar de virar páginas. Está tudo ali, nos móveis, nas paredes, nas gavetas, nas luzes que acendem memórias.

Sinto-me no aconchego. Sinto-me segura. Apesar de já não ser “a minha casa” no sentido prático, continua a ser a casa que mora dentro de mim. A casa onde moro de alguma forma. O lugar onde aprendi a ser quem sou, onde cresci, onde senti tantas coisas pela primeira vez. Onde chorei, onde ri, onde descobri o mundo e onde o mundo me parecia sempre mais simples. Às vezes também mais difícil.

Talvez seja isso que faz desta casa um regresso para o coração: não nos pertence mais, mas continua a guardar tudo o que fomos.

E sempre que voltamos, é como se uma parte de nós respirasse fundo e dissesse baixinho: “estou outra vez em casa”.

FIGUEIRA DA FOZ - AS ANTIGAS ESCADAS MONUMENTAIS DA ESPLANADA ANTÓNIO DA SILVA GUIMARÃES


Em 2 de janeiro de 1930 a Comissão Administrativa da Câmara aprovou o anteprojeto de uma “escada monumental a construir no lado ocidental da Rua dos Banhos”, a atual Rua David de Sousa.

Tão atraente era a escadaria que a Repartição Técnica da Câmara passou de imediato à execução do seu projeto definitivo.

Entretanto decorria a expropriação de um terreno de Joaquim Alves Fernandes Águas e dos edifícios onde estavam instalados os escritórios da Companhia Industrial e Mineira de Portugal, tendo em vista a construção da Avenida Beira Mar e a ampliação da Esplanada António da Silva Guimarães.


Concluído o projeto definitivo da “escadaria monumental”, Bernardo dos Santos, construtor civil da Figueira da Foz, apresentou em 21 de janeiro de 1931 uma proposta para a sua execução no valor de 106.880$00.


O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, José da Silva Fonseca, ficou de dar o seu parecer sobre aquela proposta, mas algumas semanas depois, em carta de 24 de fevereiro seguinte, a Sociedade Construtora de Cimento Armado, de Lisboa, apresentou para a mesma obra uma proposta com o preço de 79.000$00.


Neste preço de 79.000$00 o empreiteiro lisboeta não incluía a execução da betonilha-marmorite e ficava por conta da Câmara o fornecimento da pedra para as fundações e para os muros de suporte, bem como toda a água necessária.

E foi esta proposta da Sociedade Construtora de Cimento Armado que a Câmara adjudicou em 4 de março de 1931.


O 4º orçamento suplementar da Câmara 1930/1931, aprovado em 11 de março de 1931, incluía o valor de 40.000$00 para a construção da “escada monumental do lado norte da esplanada António da Silva Guimarães”, valor muito inferior ao adjudicado.


O dinheiro em falta teria de vir de outro lado, e a Sociedade Construtora de Cimento Armado iniciou os trabalhos de construção da “escada monumental” no dia 18 de março de 1931.


Já a obra decorria quando em carta de 25 de abril de 1931, Alfredo Silva do Grande Casino Peninsular enviou à Câmara um cheque de 20.000$00 “como contribuição para as obras que se estão a fazer de prolongamento da esplanada…”.

Por esta altura estavam também em construção as lojas sob a Esplanada, e uma delas, a do extremo norte, foi alugada no dia 8 de julho de 1931, a Joaquim Teixeira Coutinho, de Coimbra, para restaurante, por 500$00, até ao fim do mês de novembro.


A obra das “escadas monumentais” ia atrasada quando em 29 de julho de 1931 a Câmara deliberou chamar a atenção da Sociedade Construtora de Cimento Armado, justificando a empresa as razões do atraso em carta de 10 de agosto seguinte.


Mas não havia tempo para atrasos numa época em que a Figueira estava a avançar por terra, mar e ar neste ano de 1931.

Tinham ocorrido as regatas internacionais nos dias 15 e 16 de agosto, a Avenida do Mar avançava, no Mercado construía-se uma grande cúpula sobre a rua central, o aeroporto da Morraceira estava a iniciar-se, as obras do porto e barra constavam do orçamento geral do Estado para 1931/1932 com uma verba de 6 mil contos, tendo havido um banquete de gala e baile em honra do Ministro da Marinha no dia 16 de agosto no Grande Casino Peninsular.


Não foi por acaso que em sessão de 8 de julho de 1931 a Câmara atribuiu ao Dr. Oliveira Salazar o título de “Cidadão Honorário da Figueira da Foz, como reconhecimento por tão assinalados serviços, carinho e interesse nos melhoramentos do porto e da barra”.

Estudava-se também a construção de uma nova ponte no braço sul do Mondego, assim como a construção de um Grande Hotel.


Neste ano de 1931, pela primeira vez se demarcaram locais próprios para o estacionamento de automóveis, de autobus de excursões e da carreira de Coimbra, proibindo-se os veículos de tração animal de fazer praça em qualquer local da cidade.


Voltamos à “escadaria monumental” da Esplanada António da Silva Guimarães só para informar que a mesma ficou concluída no final de novembro de 1931 e o empreiteiro pediu de imediato a aprovação dos trabalhos, o pagamento da última prestação e a restituição do depósito de garantia.


Mais tarde, a “escadaria monumental” foi demolida e substituída por outra bem menos espetacular.

 


Crónicas de Viagem Amélia, quem dera que fosses…

Homenagear um professor é um dever meu! Foram os professores que tive que me ensinaram a querer ser professor, a par da serenidade de Minha Avó Amélia, a minha primeira professora aos dois meses, cúmplice e conselheira de meus desejos de pequenote, a quem eu sempre expressei esse sonho.

Felizmente, hoje, realidade! Pedia-me, na candura da sua voz e na eloquência da sua nunca ida à escola com paredes de argamassa, mas doutorada pela escola com vista para o horizonte, em que o telhado se confundia com as nuvens, as janelas com o céu e as escrivaninhas com os berços em que criou os nove netos, pedia, repito: “Tonito, cuidas dos meninos, ensinas os meninos a ler e a escrever?!” Ler e escrever nunca foi conseguido por si, em letras números e acentos que nos fazem errar e levar reprimendas! Nunca conheceu um “A”, um “M”, um “O” e um “R”, mas conheceu a conjugação destas letras na perfeição!

A Avó Amélia, como ainda hoje eu, meu irmão e meus primos a tratamos, quando estamos com ela sem a vermos, mas recordando-a, sabia juntar quatro letras… ”A+M+O+R” e não as soletrava, li-as de cor e com amor! Amélia tinha os olhos doces! Um dia, num dos muitos dias em que “me criou”, como dizia brilhando os olhos doces, Amélia, a Avó, pediu-me (sim, Amélia pedia…) para eu tomar “conta dos meninos”! Os meninos já todos sabiam ler, eu não teria que lhes explicar letras ou números, não era necessário interrogá-los sobre os deveres ou se tinham lápis de cor! Amélia, a Avó, nunca esquecia que os seus meninos poderiam esquecer-se “das coisas da escola”, como Ela dizia, brilhando os olhos doces! Amélia pediu-me sorrindo…! Atrás de mim, outros tantos pares de olhos sorriam! Eu…e mais os outros meninos de Amélia! Nove! Somos nove os meninos de Amélia, nove os netos, nove os amores repartidos em filhós pelo Natal, amêndoas pela Páscoa e amor pelo ano inteiro! Os meninos deixaram que eu olhasse por eles…pensava Amélia! Eu olhava por eles, como o Rui olha pelo Necas, a Mena pela Ana, o Paulo pelo Diogo, o Fernando pela Paula! Amélia olhava por todos, todos olharam para Amélia, naquela hora que desafiou a estética…Amélia parecia ainda mais bonita, como se a arte se possa refinar pela idade! Sim, Amélia refinara-se, a idade tornara-a uma obra única, um quadro que perdurará pelos olhos doces e o sorriso dos doces com que presenteava nas festas de família. Amélia era a Família! Todos a adoravam, todos a adoram! Amélia finou-se… Amélia, quem dera que fosse, quem dera que fosse sempre aqui quem nos deu, quem nos ofereceu, quem foi sempre tão doce, a Amélia que ao mundo nos trouxe, num parto conjunto, num parto sem dor, a Amélia dos olhos doces, a Amélia do nosso Amor! Amélia, faz hoje anos…Amélia dos olhos doces, fazes hoje anos… Claro, Amélia, estou a sorrir…! O que querias que fizesse neste dia…?! Beijo doce, Amélia…Avó Amélia! Ah...é verdade…Os Meninos disseram para te dar um beijo deles! Sim, já todos fizeram os deveres…andam muito aplicados! Daqui a bocado passo aí, Amélia…

O Natal que Celebramos… Não é Nosso...

E se aquilo que acreditas ser “teu” … nunca chegou a ser teu?

Somos feitos de repetições: de gestos herdados, de tradições que nunca escolhemos, de memórias que nos moldam muito antes de sabermos falar de nós.

Há gestos, rituais e até emoções que repetimos como se fossem escolhas, quando, na verdade, são ecos da terra onde crescemos.

Percebi isso no Natal.

Essa época que achamos que “celebramos”, mas que, muitas vezes, apenas herdamos.

Fazemos o que vimos fazer.

Sentimos o que nos ensinaram a sentir.

E chamamos tradição ao que nunca tivemos coragem de questionar.

Cresci em Montemor-o-Velho.

Entre raízes fortes, vozes familiares, o cheiro das cozinhas cheias e a dureza doce das terras agrícolas.

Uma infância marcada por ciclos, rituais e um sentido de pertença que molda muito mais do que a nossa memória, molda a nossa identidade.

Durante anos vivi natais intensos: as caras de bacalhau, as filhoses, o ritual de me vestir de Pai Natal.

Era um Natal cheio, vivo, quase "coreografado".

E eu acreditava que tudo aquilo era meu.

 Parte daquilo que eu era.

Mas quando perdi os meus pais, uma verdade inesperada fez-se silêncio dentro de mim:

Grande parte do meu Natal… nunca foi realmente meu.

Era deles. Era da nossa gente. Era da cultura que me formou antes de eu saber quem era.

E aí percebi algo profundo: O ambiente onde crescemos não é apenas cenário.

É narrativa.

É molde.

É filtro do que sentimos e espelho do que acreditamos ser.

A forma como cuidamos.

A forma como celebramos.

A forma como nos relacionamos.

A forma como trabalhamos.

A forma como amamos.

Tudo começa lá atrás, muito antes de termos consciência disso.

E por isso, neste tempo de tradições, memórias e regressos, deixo-te esta reflexão:

Quantas das tuas escolhas são realmente tuas?

E quantas são apenas heranças emocionais que continuas porque sempre foi assim?

Não há resposta certa.

Há, sim, um convite à honestidade.

Porque, às vezes, para nos reencontrarmos…

temos de ter a coragem de olhar para tudo aquilo que herdámos e perguntar finalmente:

“Isto é meu… ou é apenas a voz de quem veio antes de mim?”

Sabem a sal e a sol

os campos da minha terra

tudo sabe a rosas, a flores, a liberdade…

E há no ar e no céu um aroma

a rosmaninho e a alecrim

e a rosas…

Sabe a mar o meu país de abril…

Ah, como eu te quisera

assim sempre florido e viçoso,

com promessas quentes de sol

em cada esquina

e sorridentes os rostos em cada lugar…

Há sorrisos húmidos

rasgados de ternura em torno de um abraço …

E os olhos rasos de sol e de alegria

com cravos e rosas

florindo deslumbrados ao sol

de inverno

descobrem a chegada da primavera …

Surgem então aves delirantes

rasando a vida, rasgando o sol…

E olhos ávidos e sedentos

na espera atenta de promessas por cumprir …

Vê-se daqui o mar,

sempre o mar, o mar e a bruma…

Mar de outrora de hoje …

Hoje, sem bruma, só

a branca espuma das ondas …

Mar de sol, mar de vida, mar de encontro,

mar nosso…

Ecos de vida

tão próximos distantes

florindo expectantes ao sol

em mim.

35 ANOS DE ESCOLA PROFISSIONAL

Quando comecei, o trabalho na secretaria era bem diferente: tudo era feito manualmente, os registos eram em papel e as comunicações eram feitas por telefone. Com o tempo, vi a revolução digital transformar a maneira como as informações eram processadas e armazenadas. Tive que aprender e apreender a usar novos sistemas de gestão, estando em constante atualização para garantir que a escola acompanhasse essas mudanças com eficiência e garantir que a mesma funcionasse de maneira fluida, desde as matrículas até o controle de documentos, passando por toda a logística do dia a dia, com a dupla função de secretariar as reuniões de direcção durante muitos anos.

 

Hoje, ao refletir sobre esses 35 anos, sinto um grande orgulho de ter sido parte fundamental da vida da escola. Não só ajudei a manter a organização e os processos administrativos em ordem, mas também ver muitas gerações de alunos passarem por aqui, com quem compartilhei momentos e desafios. O legado de todo esse tempo é também o impacto que tive na educação desses jovens, sendo algo que me enche de orgulho.

 

Ser a primeira pessoa a quem alunos e pais recorrem em momentos de dúvida ou necessidade foi e é uma grande responsabilidade, mas também uma grande satisfação. Sempre procurei ser uma fonte de apoio, seja esclarecendo dúvidas, resolvendo problemas administrativos ou orientando na organização de documentos. Esse papel de apoio fundamental para que a escola funcionasse.

 

Ao longo de mais de três décadas, a educação e a administração passaram por várias transformações, no entanto trabalhar tanto tempo na secretaria ensinou-me a ser paciente, capaz de lidar com situações que exigem rapidez e eficiência. Não foi só uma jornada profissional, mas também um caminho de crescimento pessoal. Cada desafio foi uma oportunidade de aprender e melhorar.

 

Obrigada a todos que por cá passaram, discentes, docentes, não docentes e órgãos de gestão!

Cá continuarei mais algum tempo!

O Natal existe! 

Era uma vez um menino chamado João que vivia numa pequena aldeia da Beira Baixa.

O João vivia com os pais e a governanta numa casa grande e confortável. Não muito longe da casa do João vivia o Tiago com a sua irmãzita Lila e a avó Maria. Os pais de Tiago vítimas de um acidente de viação habitavam a casa dos anjos, com o seu avô que também já havia partido.

Apesar de serem vizinhos, o João e o Tiago apenas se encontravam na escola porque o Tiago ajudava muito a avó Maria nos trabalhos mais pesados como levar lenha para casa para o Inverno que na aldeia era muito rigoroso.

Toda a aldeia sabia das dificuldades daquela humilde família, mas toda a gente parecia indiferente, absorvidos pela sua própria vida.

A véspera de Natal não estava a ser diferente e na casa de Tiago crepitava uma fraca fogueira que aquecia a casa de pedra. Na mesa um pedaço de pão para o Tiago e a Lila, já que a avó Maria disse que não tinha fome.

Lá fora ouvem –se cânticos de Natal e …. “Truz …Truz …Truz…” – alguém havia batido na porta de madeira. “Não, não! Quem poderia ser?” – pensaram os três.

“Truz …truz…truz” – voltou de novo a ouvir-se agora mais forte. Tiago levantou-se e abriu a porta. Viu o João e o pai entre a soleira da porta da casa mal iluminada.

- Boa noite! Sou o vosso vizinho, pai do João.

- Boa noite! – respondeu o Tiago timidamente.

- Somos vizinhos, mas quase não nos conhecemos – continuou - é noite de Natal e sei que estão sozinhos, venham para nossa casa.

- Mas …ia a dizer Tiago.

- Não há, mas… vêm para nossa casa, onde poderão tomar um banho quente, vestir roupas novas e quentes e cear connosco.

Tiago olhou para a avó como pedindo com o olhar uma resposta. De facto, não sabia o que responder. No rosto da avó duas lágrimas cristalinas caiam pela face enrugada pelas torturas da vida e do tempo.

Na casa do João, colorida pela decoração de Natal, uma fogueira sorria e aquecia toda aquela alegria que pairava nesta casa. Tiago, Lila e a avó Maria não conseguiam esconder as lágrimas de emoção, comoção e contentamento. Após estarem confortáveis, quentes e com roupas aconchegantes dirigiram –se à sala de jantar onde foi servida a consoada.

A noite não podia ter sido mais bela. De regresso á sua humilde casa os três olharam o céu e três estrelas brilharam de contentamento. Tiago, Lila a avó recordou os seus entes queridos que dormiam na casa dos anjos e agradeceram –lhe por esta noite mágica. Os anjos não os vemos, mas existem…basta acreditar.

O Natal é mágico, transforma realidades noutras realidades. Para o Tiago e sua família foi um recomeço onde uma outra família fez a diferença, que começou numa noite de Natal…

Coletânea Natal em Palavras – 2019

NOITE

Chegaste minha noite adormecida.

Bela, enigmática, sedutora…

Fechaste-me na luz da tua lua

deste-me um beijo na boca sonhadora.

Cobriste de luar os meus cabelos…

Nos teus braços deslumbrantes me deitei

em leito de horizontes… me fiz tua

e foi a ti, oh noite! Que me dei…

 

Qual bela adormecida me entreguei

tão leve e sonhadora… que criança…

saudosa dos momentos que vivi

prisioneira desta noite absoluta

nos braços de Morfeu estremeci…

 

Coada dos meus lábios noites nuas

rendida às estrelas e ao luar

volitei por entre vales e savanas

foi contigo noite…

…Que eu aprendi a amar!...

Revolução

A Construção da Democracia Portuguesa

de Maria Inácia Rezola

Muito se tem escrito sobre o 25 de Abril de 1974 e o nascimento da democracia portuguesa. No entanto, passados 50 anos, a memória da Revolução continua a suscitar debates intensos, entre celebrações entusiásticas, leituras críticas e até condenatórias, como o demonstra a recente controvérsia em torno do 25 de Novembro.

Neste contexto, torna-se imperioso regressar à história, compreender o papel dos militares, dos políticos e da sociedade civil e revisitar as escolhas, os dilemas e as esperanças de um tempo decisivo.

Este livro oferece ao leitor uma perspetiva rigorosa e acessível, revelando a complexidade do processo revolucionário e a riqueza de um legado que continua a marcar a vida democrática em Portugal.









sexta-feira, outubro 31

Barcaça_61

 

Mais uma vez e ao longo de sessenta e um meses sempre em final de mês a Barcaça larga as suas amarras e como quem consome lentamente o seu rio, vai até à foz. E por aí fica até regressar saboreando da bolina até ao seu porto de abrigo as margens do Mondego por terras de Montemor.

Na impossibilidade de dar os pontos de vistas dos eleitos e não eleitos nas últimas eleições deixo aqui os resultados sem surpresas. Nos Pontos Sem Fim.

Mário Silva como já é seu hábito fala-nos do nosso património rico e muito ainda por fazer para que tenhamos no Concelho uma Rota que chame visitantes e não ficarmos confinados ao nosso Castelo. Mas desta vez foi até ao trágico acontecimento de "Francisco de Pina e Melo e o Terramoto de 1755"

Carla atingiu mais uma etapa da sua vida com “Entre o silêncio e o grito entre o certo e o errado” “mais uma volta do sol” que vale a pena reler.

Por terra da Figueira, Fernando Curado, fala-nos do grande terramoto de 1755 e como enfrentou a Figueira esse desastre.

António Girão uma abordagem muito própria “A Universidade da Vida e os Seus Ilustres Graduados”

Maria Forte numa bela descrição de cores e sabores descreve o Outono Interno “As estações do ano também vivem em nós”

Garça Real um poema dos seus preferidos autores Manuel da Fonseca “Antes que Seja Tarde”

Isabel Capinha deixa aqui o seu legado a um dos Magníficos que nos deixou.

Isabel Rama mais um poema “Entre o sono e o sonho” que nos deixa uma mensagem de esperança.

Isabel Tavares como Mulher de Esquerda dá o alerta para “Liberdade Sempre” quando tantos inconformados se deixam levar pela ladainha dos que espreitam pela calada.

Na literatura trago-vos um livro atual que deve ser lido para compreender um pouco destas organizações.

Na rúbrica dedicada à música “MARÈ”

Boas Leituras

No executivo, José Veríssimo será acompanhado pelos vereadores Diana Andrade, Ana Ribeiro e Vasco Martins (PS); Fernando Pardal e Ana Matias (PSD/CDS) e Décio Matias (S.I.M.). Refira-se que a cabeça de lista da coligação Maria João Sobreiro renunciou ao mandato.
Quanto à Assembleia Municipal, Fernando Ramos foi reeleito presidente pelo quarto mandato consecutivo. Neste órgão, tomaram posse os seguintes deputados: Maria Albertina Jorge, José antónio Serrano, Telma Simões, Fernando Curto, Liliana Duarte, Luís Fonseca, Maria Gorete Duarte, Telmo Graça e Maria Clara Oliveira (PS); Aurélio Rocha, Cláudia Sousa, Alexandre Leal, José Correia, Ana Valente, Bruno Ferrão, José António Freitas e Ricardo Ferraz (PSD/CDS); Joaquim Carraco e Carlos Correia (S.I.M.) e Carolina Aires (CDU).
Tal como aconteceu para o executivo, também os candidatos da coligação Mudar Montemor Juntos – Pedro Machado e Cristina Oliveira – renunciaram ao mandato.
Também os presidentes de junta eleitos a 12 de outubro têm assento neste órgão: Rui Costa (PS, Arazede); José Pires Matos (PS, Carapinheira); Nelson Carvalho (PS, Ereira); Sandra Domingues (PS, Liceia); Paulo Valente (PS, Meãs do Campo); António Ferreira (PS, Pereira); Marcelo Ferreira (PSD/CDS, Santo Varão); João Paulo Ângelo (PS, Seixo de Gatões); Ricardo Araújo Monteiro (PSD/CDS, Tentúgal); Carlos Alves (PS, UF Abrunheira, Verride e Vila Nova da Barca) e Bruno Rodrigues (PS, UF Montemor-o-Velho e Gatões).
RESULTADOS DO CONCELHO
RESULTADOS CMMV


ASSEMBLEIA MUNICIPAL MV



ASSEMBLEIA DE FREGUESIA MV


PS AGRADECE AO "SIM"
PPD/PSD.CDS-PP GANHA EM SANTO VARÃO E TENTÚGAL.
COM UMA CURIOSIDADE O CHEGA NA EREIRA CONCORRE E NÃO TEM NENHUM VOTO E GANHA UM MANDATO NA CARAPINHEIRA COM 153 VOTOS
JÁ O SIM CONSEGUE UM MANDATO EM ARAZEDE, 2 NA CARAPINHEIRA, 1 EM LICEIA E 1 EM MONTEMOR.
NA ASSEMBLEIA MUNCIPAL O PCP MANTEM O MANDATO E PERDE O MANDATO DA JUNTA DE FREGUESIA PARA O SIM.
OUTRO DADO EM RELAÇÃO ÀS ULTIMAS ELEIÇÕES DE 2021 O BE PERDE 50% E O CHEGA DESAPARECE PARA ASSEMBLEIA MUNICIPAL COMO PARA CMMV.

Francisco de Pina e Melo e o Terramoto de 1755

PARTE I

 


O terramoto de 1 de novembro de 1755 deu origem a grande número de escritos que imediatamente vieram a público e em que os seus autores procuraram interpretar as causas do acontecimento.

Entre os muitos sermões pregados, um outro a sair do prelo, nos tempos imediatos à catástrofe, aparece na província. Trata-se de o Juízo sobre o Terramoto [Lisboa, 1756], de Francisco de Pina e Melo, Moço Fidalgo da Casa de Sua Majestade Fidelíssima, nascido na vila de Montemor-o-Velho a 7 de agosto de 1695, que o censor dominicano do Santo Ofício tem por “hum homem Encyclopedico”.

Este sermão foi recitado “na Capella do Hospital Real de Montemor o Velho no último dia do Oitavario, com que a Confraria da Senhora da Conceição [Confraria de Nossa Senhora de Campos], instituída no mesmo Hospital, implorou o patrocínio da Soberana Virgem, estando sempre o Sacramento exposto de dia, e de noite”. A data encontra-se, pois, registada: 7 de dezembro de 1755, ia decorrido pouco mais de um mês após a terrível catástrofe que, como “enraivada Víbora”, continuava a mover-se insistente, todavia com menos fortes tremores. O tema é do evangelho de São Mateus, 11, 25: Abscondisti haec sapientibus, et pruden tibus, et revelasti ea parvulis (escondeste estas coisas dos sábios e as revelaste aos pequeninos).

Entende o orador, conhecido nas lides literárias como “Corvo do Mondego”, que poucos no numeroso auditório “não desejem saber a Origem destes horríveis abalos da Terra, que nos tem posto em continuo susto, desde o primeiro de Novembro”. Com este dado arranca o tema, mas de imediato avisa que se desiludam quantos pensarem dever-se o terramoto a causas naturais, pois só a poderosa mão do Altíssimo “he que faz este tremendo abalo” que não tem dia marcado pela natureza, porque esse é o “da ira, do furor divino”. A verdade sobre a origem dos terramotos, acentua, não será a dada por matemáticos e filósofos, mas pelo Profeta Isaías. A história sagrada e profana mostra não haver terramoto “que não seja fulminado contra a perversidade humana”. Lisboa, de facto, estava “cheia de lascívia, de latrocínios, de iniquidades, de delícias, de jogos, e de bailes”, quando se deu o terramoto e, por isso, como Babilónia, foi castigada. A Providência divina não podia agir de outra forma: “era preciso que esta vingança correspondesse á culpa, que assim procede sempre a justiça de Deos; e como Lisboa se jactava das suas mesmas dissoluções, e se glorificava nos seus delitos, que podia esperar-se da equidade suprema, senão que correspondesse a esta gloria, e a esta jactancia o luto, e o tormento?”. O mal, por toda a parte, campeava infrene. Dominavam, na verdade, os crimes, as obscenidades, “mas de roubos, de violências, de soberba, de ambição” todos sofreram e os que podiam fugiram, tendo o que sucedeu acontecido por sentença divina. 

Fonte: João Francisco Marques, “A ação da Igreja no Terramoto de Lisboa de 1755: ministério espiritual e pregação”, in Lusitânia Sacra, 2.ª série, 18 (2006) 219-329. 

[13.10 * 00:00 - mais uma volta ao sol]

Sou Balança.

Não tenho meio-termo.

Oscilo entre extremos, entre o tudo e o nada,

entre o silêncio e o grito,

entre o certo e o errado.


Sou desejo e sou medo.

Sou coragem e sou dúvida.

Sou quem sonha alto e quem renuncia baixinho.


Sou Balança.

Uma balança que oscila entre o certo e o errado,

entre o que deseja e o que teme,

entre o que sonha e o que renuncia.


Sou equilíbrio — um equilíbrio desequilibrado.

Equilíbrio em construção,

sempre à procura do meu centro,

mesmo quando tudo em mim balança.


Carrego dentro de mim esta eterna dança:

o peso e a leveza,

a força e a fragilidade,

a busca constante por um centro

que nunca está quieto.


E, mesmo assim,

sou eu — inteira, imperfeita, em movimento.

Sou Balança.

E é nesse balançar que me encontro. ♥️

FIGUEIRA DA FOZ - O GRANDE TERRAMOTO DE 1755 (3ª PARTE)

Quando ocorreu o grande sismo de 1 de novembro de 1755 a pequena povoação da Figueira tinha apenas 900 habitantes, valor calculado pelo pároco Manoel Tomaz no ano de 1756, porque o 1º censo populacional só ocorreria no ano de 1864.


Ainda não existia Câmara na Figueira, o que só veio acontecer em 1771, estando esta pequena povoação sujeita à jurisdição da Câmara de Tavarede, cujo limite do couto e jurisdição era, a nascente, o esteiro da Salmanha e o ribeiro de Caceira.

Poucos dias após o terramoto de 1 de novembro de 1755 decidiu o ministro de D. José, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, enviar a todos os párocos do reino um questionário sobre o sismo.


Pretendia-se saber o que se tinha passado no país, naquele dia fatídico, em cada paróquia, a que horas se tinha dado o abalo, que tempo durara, em que direção se manifestara, quantas casas se tinham arruinado, quantas pessoas tinham morrido, o que se notara no mar, nas fontes e nos rios, se a terra tinha fendido, que providências tinham sido tomadas, que repetições de abalos se teriam verificado.


O inquérito tinha as 13 perguntas seguintes:

1ª – A que horas principiou o terremoto do primeiro de Novembro, e que tempo durou?

2ª – Se se percebeu, que fosse maior o impulso de uma parte; que de outra, v.g. do Norte para o Sul, ou pelo contrário, e se parece, que caíram mais ruínas, para uma, que para outra parte?

3ª – Que número de casas arruinaria em cada freguesia, se haveria nela edifícios notáveis, e o estado em que ficaram?

4ª – Que pessoas morreram, se algumas eram distintas?

5ª – Que novidade se viu no mar, nas fontes, e nos rios?

6ª – Se a maré vazou primeiro, ou encheu? Quantos palmos cresceu mais do ordinário? Quantas vezes se percebeu o fluxo, e o refluxo extraordinário? Se se reparou, que tempo gastava em baixar a água, e quanto em tornar a encher?

7ª – Se abriu a terra algumas bocas, o que nelas se notou, e se rebentou alguma fonte de novo?

8ª – Que providências se deram imediatamente em cada lugar pelo Eclesiástico, pelos Militares, e pelos Ministros?

9ª – Que terremotos tem repetido depois do primeiro de Novembro, em que tempo, e que dano tem feito?

10ª – Se há memória de que em algum tempo houve terramoto, e que dano fez em cada lugar?

11ª – Que número de pessoas tem cada freguesia declarando se poder ser, quantas há de diferente sexo?

12ª – Se se experimentou alguma falta de mantimentos?

13ª – Se houve incêndio, que tempo durou, e que dano fez?

Manoel Tomaz, então o cura da Figueira da Foz do Mondego, recebeu este inquérito, datado de 11 de fevereiro de 1756, proveniente do Bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação, Cónego Regular de Santo Agostinho da Congregação Reformada de Santa Cruz, Conde de Arganil, Senhor de Coja, e do Conselho de Sua Majestade.

Explicitava o Bispo de Coimbra que o inquérito deveria ser respondido no prazo de um mês, “aproveitando-se desse tempo para conferir os pontos duvidosos com pessoas inteligentes, e peritas, que comuniquem à Vossa Mercê a luz necessária para o acerto.”

Em 11 de maio de 1756, Manoel Tomaz respondeu ao inquérito da seguinte forma:

1ª - “Nesta freguesia principiou o primeiro terremoto pelas nove horas e meia da manhã do dia primeiro de Novembro e duraria sete ou oito minutos com pouca diferença e passado um quarto de hora, se sentiu haver segundo menos violento e que duraria quatro ou cinco minutos, depois do qual se sentiu terceiro que duraria um minuto”.

2ª - “O seu impulso foi por igual principiando do Nascente para o Poente sem se perceber maioria de uma para outra parte”.

3ª - “Não causaram pela Misericórdia de Deus nesta Freguesia ruína alguma notável nem nas casas nem nos edifícios”.

4ª - “Não morreu por ocasião destes terremotos pessoa alguma”.

5ª - “Logo depois do terceiro terremoto se levantou no mar para a parte do Sul uma onda desmarcada e nunca vista grandeza, a qual correndo de longo da costa para o Norte impeliu as águas que diante dele trazia, e as fez entrar pela Barra dentro com tanta violência que sendo um quarto de água cheia começou o Rio a encher tão rapidamente e com tal forma que com o fluxo das mesmas águas subiram estas vinte braças (40 metros) pouco mais ou menos pelas praias acima contra o seu curso natural e retrocedendo logo fizeram também com tanta brevidade.… que deixaram totalmente descobertas as áreas da Barra, e depois deste refluxo se seguiu segundo e terceiro da mesma grandeza e com os mesmos efeitos, e depois destes ficaram no rio uns pequenos fluxos, e refluxos de água que duraram até o Sol posto do mesmo dia primeiro de Novembro a referida onda se desfez na mesma parte do Sul com distância de meia légua (3 Km) da barra voltando daquele sítio para o mar, e impelindo extraordinariamente para ele repetidas ondas e umas sobre outras, até que de todo se desvaneceu.”

6ª – “A maré enchia primeiro e depois vazava e não se pôde averiguar ….mas que crescia mais do ordinário e três vezes se percebeu o fluxo e refluxo extraordinário das águas e de enchente a vazante poderia mediar de uma hora pouco mais ou menos.”

7ª – “Nesta Freguesia não abriu a terra boca alguma nem rebentou de novo fonte alguma, nem nascente há, houve novidade.”

8ª – “Imediatamente que se sentiu o primeiro terremoto saíram os religiosos do Convento de Santo António, e com eles muita quantidade de gente em procissão pelas ruas, a que se juntou o clero desta freguesia cantando a ladainha dos santos a pedir a Deus Misericórdia, as quais preces continuaram nesta Igreja da Freguesia pelo espaço de dezoito dias que foram duas novenas. E por entre elas houveram uns sermões doutro ... pregados pelo Rev. Padre Domingos de S. Bernardino de Sena.”

9ª – “Depois do primeiro de Novembro tem repetido várias vezes tremores de terra que por pequenos não são de especial menção, sendo alguns deles nos seguintes dias. Na noite do mesmo dia primeiro de Novembro, um pelas dez para as onze horas da noite. No dia três de Novembro outro ao Sol posto, e outro pelas três horas depois às nove e às vinte. No dia quatro do mesmo mês outro pelas quatro horas depois da meia noite. No dia cinco outro das sete para as oito horas da noite e aí se seguiram outros, mas todos pequenos. Na noite do dia quatorze de Janeiro repetiu um terramoto que na sua intenção se assemelhou ao do primeiro de Novembro, porém nem este nem os mais causaram nesta Freguesia ruina alguma pela Misericórdia de Deus.”

10ª – “Não há memória nem notícia nos moradores desta Freguesia que nela conhecessem algum outro terremoto.”

11ª – “Nesta freguesia há novecentas pessoas, e destas serão quinhentas de diferente sexo mais ou menos.”

12ª e 13ª– “Não se experimentou falta de mantimentos nem houve incêndio algum do que pude averiguar com o conselho de pessoas inteligentes.”

Vejamos também o que responderam os párocos de Redondos e Buarcos ao inquérito de 11 de fevereiro de 1756 proveniente do Bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação.

Escreveu em 11 de maio de 1756 o então pároco de Buarcos, Joseph de Ceya Curado:

“Nesta Freguezia não se arruinou caza alguma, e menos edifício algum experimentou ruína mayor (…) Não morreo mesta mesma freguezia pessoa alguma, nem tam pouco experimentou o menor damno.”

E o cura de Redondos, António Nunes Luiz, respondeu em 12 de maio de 1756:

“Nesta freguezia não cahio caza alguma, nem nella há edifício mais notável que a Igreja Matriz, a qual ainda foi combatida na forma supradicta, contudo isso não padeceo e mais teve ruina, tanto assim que sendo azulejada, não se vio que se dezonisse hum só azulejo della; há taobem nesta villa hum castello que se diz ser dos Mouros, deste cahiraõ algumas pedras que já dantes estavaõ ameaçando ruina. Naõ morreu pessoa alguma nesta freguezia…..”.

Dois anos depois, o mesmo pároco de Buarcos, Joseph de Ceya Curado, nas Memórias Paroquiais de 1758, respondeu no mesmo sentido à questão do terramoto:

“26º - Os Edeficios desta Villa não padesceram royna no Terramoto de 1755, ahinda que algumas das paredes delles tiveram suas rachas, que se acham reparadas.”

O cura de Redondos, Sebastião de Almeida, retorquiu de igual forma à questão colocada sobre o sismo de 1755 nas Memórias Paroquiais de 1758:

“26º - Com o terremoto de 1 de Novembro de 1755 não padeceo a dita Villa ruina consideravel e somente se virão nos edifícios algumas rachas, que se achão reparadas.”





Como vimos, nesta região os estragos foram de pequena monta, e não houve mortos, contrariamente ao que se passou em Lisboa, onde uma tragédia sem precedentes trouxe para a história uma frase atribuída ao General Pedro D’Almeida, Marquês de Alorna, quando D. José I lhe perguntou, em pânico, o que fazer, respondeu:

“Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. 

A Universidade da Vida e os Seus Ilustres Graduados

Há um certo grupo de simpatizantes de um partido muito específico que gosta de repetir, com ar superior, que não precisaram de estudos nem de livros: frequentaram a "universidade da vida". Dizem-no com orgulho, como se fosse um diploma conferido apenas aos iluminados e com uma condescendência implícita para com todos os outros que, imagine-se, decidiram estudar. Na lógica destes "graduados", quem passou pela escola, quem leu, quem tirou um curso, quem se formou, andou a ver navios ou a comer gelados com a testa, como se diz na gíria popular.

É curioso como este argumento, tantas vezes repetido, mais parece um escudo do que uma convicção real. Usam-no como arma de desvalorização, como se quem estudou fosse menos experiente, menos "do povo", menos legítimo. Mas ao mesmo tempo, não hesitam em colocar os filhos na escola — felizmente —, em recorrer ao médico quando estão doentes, em ir à farmácia pedir "o que o doutor receitou", em atravessar pontes construídas por engenheiros e em confiar a vida a pilotos formados em escolas que, pasme-se, exigem estudo e conhecimento.

Então, como se explica esta glorificação da "universidade da vida"? Será uma forma de esconder o facto de não terem tido, ou aproveitado, as mesmas oportunidades num país onde o ensino é obrigatório? Ou será apenas uma desculpa conveniente para opinar sobre tudo com a certeza de quem nunca teve dúvidas nem precisou de estudar?

Porque a verdade é esta: todos andamos na universidade da vida. Todos enfrentamos desafios, perdas, dificuldades, injustiças e vitórias. Mas não é por isso que deixamos de aprender com os livros, com os professores, com o pensamento crítico. Viver não é o mesmo que compreender. E ter vivido não equivale, automaticamente, a ter aprendido.

Muitos destes "doutorados" da vida juntam-se em círculos de autoafirmação, onde reforçam as suas certezas uns nos outros, sem espaço para confronto de ideias, sem abertura para aprender mais. Transformam-se em seitas ideológicas onde reina a desconfiança face ao saber, à ciência, à cultura. E assim alimentam-se de um orgulho estéril, acreditando que só eles é que viram o mundo como ele é, enquanto os outros andaram de olhos fechados.

A "universidade da vida" não é exclusiva de ninguém. E o que distingue as pessoas não é o facto de terem vivido, mas o que fizeram com essa experiência. Alguns aprenderam, outros apenas sobreviveram. E outros ainda, infelizmente, tornaram-se apenas mais arrogantes.

Outono Interno

“As estações do ano também vivem em nós”

Cresci em Montemor‑o‑Velho, de pés na terra e alma nos ciclos.

Fui criada também pelos meus avós paternos, agricultores.

E foi na terra que aprendi que as quatro estações não são só do ano, são partes de nós. Primavera é quando acreditamos.

Verão é quando nos expomos.

Outono é quando começamos a largar.

Inverno é quando somos chamados a parar.

E há outonos que não têm data.

Aparecem em forma de cansaço, de desmotivação, de perguntas sem resposta.

O corpo abranda.

A alma pede silêncio.

Mas tu continuas a forçar verão.

Continuas a dar quando já não tens.

A sorrir porque “é o que se espera”.

A manter tudo bonito por fora, mesmo quando cá dentro já começou a cair.

O outono não é fim.

É aviso.

É convite à verdade.

Quantas versões de ti deixaste cair só para caberes no que era suposto?

Quantos sonhos engoliste para manteres a pose de quem tem tudo sob controlo? Quantas folhas tuas caíram… e fingiste não ver?

Está na hora de parar.

Não para desistir.

Mas para te ouvires.

Para largares o que já não te veste.

E plantares o que queres colher.

A mim, a terra ensinou-me que crescer não é só subir.

É saber parar.

É ter coragem de deixar cair o que já não alimenta.

É respeitar os próprios ciclos, mesmo quando o mundo lá fora continua em modo “verão”.

Se estás nesse momento de viragem, então talvez este texto seja o sinal que precisavas.

Porque o que te deixo aqui,

É verdade.

A minha.

É presença.

Este outono pode ser o teu recomeço.

E começa assim: com a coragem de parar.

Com alma,

Foi em 1911, a 15 de outubro, que nasceu em Santiago do Cacém, o escritor Manuel da Fonseca a quem sempre recordo com saudade e ternura ...

Evoco aqui um poema seu, cuja mensagem continua sempre atual ...

Antes que Seja Tarde

Amigo,

tu que choras uma angústia qualquer

e falas de coisas mansas como o luar

e paradas

como as águas de um lago adormecido,

acorda!

Deixa de vez

as margens do regato solitário

onde te miras

como se fosses a tua namorada.

Abandona o jardim sem flores

desse país inventado

onde tu és o único habitante.

Deixa os desejos sem rumo

de barco ao deus-dará

e esse ar de renúncia

às coisas do mundo.

Acorda, amigo,

liberta-te dessa paz podre de milagre

que existe

apenas na tua imaginação.

Abre os olhos e olha,

abre os braços e luta!

Amigo,

antes da morte vir

nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

Homenagem a um “Magnífico” que partiu

Hoje, as palavras faltam, mas o coração está cheio.

Cheio de saudade, de lembranças e de gratidão por terem tido ao vosso lado alguém tão especial como era o Fernando Campos.

Fazeis parte de um grupo que chamam com orgulho de - Os Sete Magníficos.

E ele sempre foi isso: magnífico em presença, em alma, em amizade e na luta pelos seus ideais.

Um irmão de caminhada.

Um companheiro nas risadas, nos silêncios, nas vitórias e nas batalhas da vida.

Fernando Campos não era só um entre sete — era parte do coração do grupo desde 1982!

Agora, com sua partida, irão sentir um vazio de uma ausência impossível de preencher... mas também sentirão a força da sua memória, que nunca vos vai deixar.

Será sempre um de vós.

Será sempre um dos SETE MAGNÍFICOS

Nas vossas conversas, haverá sempre um espaço reservado e nos vossos corações, o seu nome para sempre gravado.

Ele é, e fará sempre parte da vossa história!

Aos Sete Magníficos a minha gratidão por me mostrarem o quanto a AMIZADE prevalece entre todas as coisas.

A ti, Fernando Campos, partiste mas nunca deixarás de ser um dos SETE MAGNÍFICOS!

Abracinho caloroso para vocês

- José Dias

- Augusto Pereira(Tito)

- Tó Caiado

- Henrique Maranha

- João Abrantes

e o meu Capinha Lopes.

Entre o sono e o sonho

Existe o crepúsculo.

Nesta galáxia

não há guerra, nem fome

ou qualquer sofrimento.

Aqui estendo-me

terna e languidamente

como uma sereia na praia

esperando o seu príncipe encantado.

Entre o sono e o sonho

existe a esperança.

Crianças gritam alegremente

como se o Mundo em seu redor não existisse.

Entre o sono e o sonho

acordo!

Vejo um admirável Mundo Novo,

num sonho tornado realidade!

LIBERDADE SEMPRE!

A bandeira da Liberdade

Aquela que cala a mordaça

A que destrói a pobreza

E honra o tempo que passa

Jamais será posta em causa

Se houverem homens de raça

De lealdade e valentia

Aos valores da Liberdade

Igualdade e Democracia!


Nunca fez tanto sentido

Depois de Abril nascer

Estar atento aos ditadores

Aos da palavra...impostores

Que deixam o povo morrer

Contando os parcos tostões

E deixam nascer crianças

Nas estradas desta vida

Sem as mínimas condições!


Um relato impressionante de traição, intrigas políticase escolhas perigosas.

OS BASTIDORES DE UMA DAS ORGANIZAÇÕESTERRORISTAS MAIS PERIGOSAS DO MUNDO

NOMEADO PARA O GOODREADS CHOICE AWARDS 

Desde pequeno que Mosab Hassan Yousef pôde ter uma visão privilegiada acerca do Hamas e do conflito israelo-palestiniano. Filho mais velho do líder mais popular da organização, ajudou o pai durante anos nas suas atividades políticas, enquanto se preparava para assumir o seu legado, política, estatuto... e poder. 

Nas vésperas de completar 18 anos, movido pela raiva e pelo desejo de vingança, decidiu assumir um papel mais ativo e acabou por ser preso. Depois de vários dias sob tortura, recebeu uma proposta: a liberdade em troca de colaboração. No início, considerou a oferta inconcebível. Afinal, como poderia trair a sua religião e o seu povo e ajudar os seus inimigos?

Mosab é o filho mais velho do xeque Hassan Yousef, um dos membros fundadores do Hamas e o seu líder mais popular. Foi capturado pelo exército israelita e viria a tornar-se um dos seus espiões mais valiosos, ajudando a combater aquela que é uma das organizações terroristas mais perigosas do mundo. 

Filho do Hamas é o relato impressionante do caminho inesperado que Mosab resolveu seguir ao questionar o sentido de um conflito que só traz sofrimento aos inocentes, sejam eles palestinianos ou israelitas. 

No livro, revela como se tornou espião do Shin Bet, levando uma vida dupla durante dez anos, e fala das escolhas arriscadas que fez para conter a violência da organização.

A obra relata os pormenores da sua agonizante separação da família e da terra natal, a perigosa decisão de tornar pública a sua nova fé e a sua convicção de que o versículo cristão de «amar os seus inimigos» é o único caminho para a paz no Médio Oriente.



“‘Maré’ é um tema de almas reunidas conscientes do mar, ora sereno ora revolto, da vida. Duas almas num canto que se salvam do quotidiano e do tempo que as atravessa. Mais do que uma canção, são versos de fraternidade e paciência com a vida e com tudo o que nos dá. Porque sabemos que nos podemos salvar uns aos outros com amor e empatia.” Ricardo Ribeiro



BARCAÇA_62

  Na penúltima edição deste ano de 2025, a nossa Barcaça sem nunca ter perdido o rumo segue em frente na divulgação da nossa cultura, da nos...