Na
penúltima edição deste ano de 2025, a nossa Barcaça sem nunca ter perdido o
rumo segue em frente na divulgação da nossa cultura, da nossa poesia das nossas
gentes pelos concelhos de Montemor-o-Velho e Figueira da Foz. Nada disto seria possível
sem os nossos colaboradores que sustentam as palavras que transcrevo
mensalmente.
Seguindo
sempre sem pressas, mas atento ao percurso por vezes atribulado, não perdemos o
rumo que é divulgar o que de bom se faz seja como disse na cultura como nas raízes
dos nossos munícipes.
Mário
Silva continua a sua divulgação parte II Francisco de Pina e Melo e o Terramoto
de 1755, sempre valorizando quem nos lê. Carla desta vez “Lar doce Lar” um
aconchego de palavras que no calor da sala passam para o papel e trasbordam
carinho, amor e saudade.
Já
Fernando Curado na sua rúbrica sobre monumentalidade da Figueira da Foz
fala-nos das antigas escadas monumentais da esplanada António da Silva Guimarães.
António Girão de saudade e carinho pela Avó Amélia. Por sua vez a recente
aquisição da nossa terra Maria Forte debruça-se “O Natal que Celebramos... Não
é Nosso...
Na
parte da poesia Garça Real poemas com sabor a sal e sol. Já Isabel Capinha
desta vez apresenta-nos o seu e rico passeio desde hà 35 anos na escola
profissional de Montemor-o-Velho. Isabel rama com uma exclamação pergunta-nos “O
Natal existe! Isabel Tavares com um lindo poema “NOITE” onde como bela
adormecida vagueia entre a realidade e o sonho. Na secção da Livraria escolhi
um livro que julgo estar no tempo de refletirmos para onde vamos.... REVOLUÇÂO
de Maria Inácia Rezola. Já na discografia. Um tema sempre actual de Chico
Buarco.
Bom fim de semana e boas leituras
Terra
da minha infância.
Nesse
tempo a ida a Coimbra em dias festivos e à figueira sempre que se arranjava
boleia. A Vila era o nosso espaço de conforto, o largo da feira o local de
concentração dos jogos de futebol, onde o dono da bola escolhia a equipa e as
balizas quatro pedras. Por vezes surgia alguém com uma bola de (Cautchu) que
era uma raridade. E assim se jogava com mudança aos cinco golos e jogava-se até
escurecer.
Muitas
das vezes o acender dos candeeiros marcava o final do jogo, não havia arbitro e
algumas vezes também terminava porque o dono da bola zangava-se e levava a
bola.
Na
Praça o centro da Vila onde os mais velhos se reuniam e falavam de tudo e nós
não tínhamos acento. Depois de abalarem para bailaricos seja das povoações
circundantes ou para Figueira da Foz num carro que mais parecia um autocarro...sentávamo-nos
e era o descanso dos guerreiros.
De
fronte da Câmara Municipal o (Ti Baldaque) que aproveitávamos para desfrutar o
cheirinho a espigas doces.
Eu
como muitos dos meus amigos subíamos então a calçada, jantávamos e cama.
Ao
amanhecer de mala feita, encontrávamo-nos na estrada da Torre e seguíamos em
rancho para escola primária onde alguns seguiam para lado do professor Teixeira
(a fera) e outros para professor Soares mais suave.
No
recreio os jogos da época, salto do cavalo, pião, berlinde, botão...
Foram
momentos que não esquecemos... ainda hoje os recordo com saudade.
Francisco
de Pina e Melo e o Terramoto de 1755
PARTE II
Espanta-se
por verificar, ao ler as relações que vieram da capital, que, não ficando
“templo, nem tribunal inteiro”, se mantiveram de pé as casas de meretrizes.
Julga incompreensível que a justiça divina se haja compadecido de lupanares tão
sórdidos e se irritasse “contra aquelles edificios, que se instituirão” para
louvar ao Altíssimo e para o governo público.
Olhando
para a terra onde prega, vê que Montemor-o-Velho, se não comete as faltas
“odiosas” de Babilónia ou de Lisboa, também é culpada, embora menos, “porque
nas terras pequenas não há tantas occasioens para se apurar a malicia”, mas
encontram-se nelas “mais vivas as murmuraçoens, os mexe ricos, os odios, as
trapaças, as traiçoens, e as usuras: em Montemor tambem há Letrados, tambem há
Escrivaens, tambem há mulheres, e outras coisas mais”. Por isso, “foi para
Lisboa o castigo” e para Montemor-o-Velho “o ameaço”.
O
país, lembra o pregador, encontra-se em estado de calamidade e pânico. Deixa,
assim, esta admoestação insistente: “os terremotos do Ceo são vozes de Deos que
se continuão a ouvir”. A terra tremeu e “fez arrazar Lisboa, Faro, Tavira,
Setubal, Villa-franca, Castenheira, Alemquer e Ourem”, mas não passa semana sem
que as cartas não “refirão novas mortes, novas tragedias, novas calamidades” e
as notícias estejam clamando “que os homens tem desamparado as povoaçoens, e
que vivem a modo de feras pelas brenhas, e pelas charnecas; se despejam os
palacios, que habitão nas choupanas”; e “como na arca de Noe, aonde se
acommodavão com hum mudo socego tantos viventes de contrarias especies”, há
fidalgos e plebeus “misturados nas choças”.
Fonte: João Francisco Marques, “A ação da Igreja no Terramoto de Lisboa de 1755: ministério espiritual e pregação”, in Lusitânia Sacra, 2.ª série, 18 (2006) 219-329.
Home sweet home.
Há
sempre algo de mágico no regresso. Nunca sabemos ao certo em que momento
deixamos de chamar-lhe “a nossa casa” para passar a chamá-la de “a casa dos
nossos pais”. É subtil, quase impercetível, como se um dia acordássemos adultos
e percebêssemos que já moramos noutro lugar, noutra vida, mas que parte de nós
ficou ali, intacta, à espera para quando precisamos ou queremos regressar.
Há
um mistério bonito nesse reencontro com o passado. Colocar a chave na
fechadura, abrir a porta e sentir o cheiro familiar, ouvir os passos que
conhecemos desde sempre, ver os mesmos cantos que guardam pedaços da nossa
história. As nossas coisas que ainda por lá permanecem. É como abrir um álbum
antigo sem precisar de virar páginas. Está tudo ali, nos móveis, nas paredes,
nas gavetas, nas luzes que acendem memórias.
Sinto-me
no aconchego. Sinto-me segura. Apesar de já não ser “a minha casa” no sentido
prático, continua a ser a casa que mora dentro de mim. A casa onde moro de
alguma forma. O lugar onde aprendi a ser quem sou, onde cresci, onde senti
tantas coisas pela primeira vez. Onde chorei, onde ri, onde descobri o mundo e
onde o mundo me parecia sempre mais simples. Às vezes também mais difícil.
Talvez
seja isso que faz desta casa um regresso para o coração: não nos pertence mais,
mas continua a guardar tudo o que fomos.
E
sempre que voltamos, é como se uma parte de nós respirasse fundo e dissesse
baixinho: “estou outra vez em casa”.
FIGUEIRA DA FOZ - AS ANTIGAS ESCADAS MONUMENTAIS DA ESPLANADA ANTÓNIO DA SILVA GUIMARÃES
Em
2 de janeiro de 1930 a Comissão Administrativa da Câmara aprovou o anteprojeto
de uma “escada monumental a construir no lado ocidental da Rua dos Banhos”, a
atual Rua David de Sousa.
Tão
atraente era a escadaria que a Repartição Técnica da Câmara passou de imediato
à execução do seu projeto definitivo.
Entretanto decorria a expropriação de um terreno de Joaquim Alves Fernandes Águas e dos edifícios onde estavam instalados os escritórios da Companhia Industrial e Mineira de Portugal, tendo em vista a construção da Avenida Beira Mar e a ampliação da Esplanada António da Silva Guimarães.
Concluído o projeto definitivo da “escadaria monumental”, Bernardo dos Santos, construtor civil da Figueira da Foz, apresentou em 21 de janeiro de 1931 uma proposta para a sua execução no valor de 106.880$00.
O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, José da Silva Fonseca, ficou de dar o seu parecer sobre aquela proposta, mas algumas semanas depois, em carta de 24 de fevereiro seguinte, a Sociedade Construtora de Cimento Armado, de Lisboa, apresentou para a mesma obra uma proposta com o preço de 79.000$00.
Neste
preço de 79.000$00 o empreiteiro lisboeta não incluía a execução da
betonilha-marmorite e ficava por conta da Câmara o fornecimento da pedra para
as fundações e para os muros de suporte, bem como toda a água necessária.
E foi esta proposta da Sociedade Construtora de Cimento Armado que a Câmara adjudicou em 4 de março de 1931.
O 4º orçamento suplementar da Câmara 1930/1931, aprovado em 11 de março de 1931, incluía o valor de 40.000$00 para a construção da “escada monumental do lado norte da esplanada António da Silva Guimarães”, valor muito inferior ao adjudicado.
O dinheiro em falta teria de vir de outro lado, e a Sociedade Construtora de Cimento Armado iniciou os trabalhos de construção da “escada monumental” no dia 18 de março de 1931.
Já
a obra decorria quando em carta de 25 de abril de 1931, Alfredo Silva do Grande
Casino Peninsular enviou à Câmara um cheque de 20.000$00 “como contribuição
para as obras que se estão a fazer de prolongamento da esplanada…”.
Por esta altura estavam também em construção as lojas sob a Esplanada, e uma delas, a do extremo norte, foi alugada no dia 8 de julho de 1931, a Joaquim Teixeira Coutinho, de Coimbra, para restaurante, por 500$00, até ao fim do mês de novembro.
A obra das “escadas monumentais” ia atrasada quando em 29 de julho de 1931 a Câmara deliberou chamar a atenção da Sociedade Construtora de Cimento Armado, justificando a empresa as razões do atraso em carta de 10 de agosto seguinte.
Mas
não havia tempo para atrasos numa época em que a Figueira estava a avançar por
terra, mar e ar neste ano de 1931.
Tinham ocorrido as regatas internacionais nos dias 15 e 16 de agosto, a Avenida do Mar avançava, no Mercado construía-se uma grande cúpula sobre a rua central, o aeroporto da Morraceira estava a iniciar-se, as obras do porto e barra constavam do orçamento geral do Estado para 1931/1932 com uma verba de 6 mil contos, tendo havido um banquete de gala e baile em honra do Ministro da Marinha no dia 16 de agosto no Grande Casino Peninsular.
Não
foi por acaso que em sessão de 8 de julho de 1931 a Câmara atribuiu ao Dr.
Oliveira Salazar o título de “Cidadão Honorário da Figueira da Foz, como
reconhecimento por tão assinalados serviços, carinho e interesse nos
melhoramentos do porto e da barra”.
Estudava-se também a construção de uma nova ponte no braço sul do Mondego, assim como a construção de um Grande Hotel.
Neste ano de 1931, pela primeira vez se demarcaram locais próprios para o estacionamento de automóveis, de autobus de excursões e da carreira de Coimbra, proibindo-se os veículos de tração animal de fazer praça em qualquer local da cidade.
Voltamos à “escadaria monumental” da Esplanada António da Silva Guimarães só para informar que a mesma ficou concluída no final de novembro de 1931 e o empreiteiro pediu de imediato a aprovação dos trabalhos, o pagamento da última prestação e a restituição do depósito de garantia.
Mais
tarde, a “escadaria monumental” foi demolida e substituída por outra bem menos
espetacular.
Crónicas
de Viagem Amélia, quem dera que fosses…
Homenagear
um professor é um dever meu! Foram os professores que tive que me ensinaram a
querer ser professor, a par da serenidade de Minha Avó Amélia, a minha primeira
professora aos dois meses, cúmplice e conselheira de meus desejos de pequenote,
a quem eu sempre expressei esse sonho.
Felizmente,
hoje, realidade! Pedia-me, na candura da sua voz e na eloquência da sua nunca
ida à escola com paredes de argamassa, mas doutorada pela escola com vista para
o horizonte, em que o telhado se confundia com as nuvens, as janelas com o céu
e as escrivaninhas com os berços em que criou os nove netos, pedia, repito:
“Tonito, cuidas dos meninos, ensinas os meninos a ler e a escrever?!” Ler e
escrever nunca foi conseguido por si, em letras números e acentos que nos fazem
errar e levar reprimendas! Nunca conheceu um “A”, um “M”, um “O” e um “R”, mas
conheceu a conjugação destas letras na perfeição!
A
Avó Amélia, como ainda hoje eu, meu irmão e meus primos a tratamos, quando
estamos com ela sem a vermos, mas recordando-a, sabia juntar quatro letras… ”A+M+O+R”
e não as soletrava, li-as de cor e com amor! Amélia tinha os olhos doces! Um
dia, num dos muitos dias em que “me criou”, como dizia brilhando os olhos
doces, Amélia, a Avó, pediu-me (sim, Amélia pedia…) para eu tomar “conta dos
meninos”! Os meninos já todos sabiam ler, eu não teria que lhes explicar letras
ou números, não era necessário interrogá-los sobre os deveres ou se tinham
lápis de cor! Amélia, a Avó, nunca esquecia que os seus meninos poderiam
esquecer-se “das coisas da escola”, como Ela dizia, brilhando os olhos doces!
Amélia pediu-me sorrindo…! Atrás de mim, outros tantos pares de olhos sorriam!
Eu…e mais os outros meninos de Amélia! Nove! Somos nove os meninos de Amélia,
nove os netos, nove os amores repartidos em filhós pelo Natal, amêndoas pela
Páscoa e amor pelo ano inteiro! Os meninos deixaram que eu olhasse por
eles…pensava Amélia! Eu olhava por eles, como o Rui olha pelo Necas, a Mena
pela Ana, o Paulo pelo Diogo, o Fernando pela Paula! Amélia olhava por todos,
todos olharam para Amélia, naquela hora que desafiou a estética…Amélia parecia
ainda mais bonita, como se a arte se possa refinar pela idade! Sim, Amélia
refinara-se, a idade tornara-a uma obra única, um quadro que perdurará pelos
olhos doces e o sorriso dos doces com que presenteava nas festas de família.
Amélia era a Família! Todos a adoravam, todos a adoram! Amélia finou-se…
Amélia, quem dera que fosse, quem dera que fosse sempre aqui quem nos deu, quem
nos ofereceu, quem foi sempre tão doce, a Amélia que ao mundo nos trouxe, num
parto conjunto, num parto sem dor, a Amélia dos olhos doces, a Amélia do nosso
Amor! Amélia, faz hoje anos…Amélia dos olhos doces, fazes hoje anos… Claro,
Amélia, estou a sorrir…! O que querias que fizesse neste dia…?! Beijo doce,
Amélia…Avó Amélia! Ah...é verdade…Os Meninos disseram para te dar um beijo
deles! Sim, já todos fizeram os deveres…andam muito aplicados! Daqui a bocado
passo aí, Amélia…
O Natal que Celebramos…
Não é Nosso...
E se aquilo que
acreditas ser “teu” … nunca chegou a ser teu?
Somos feitos de
repetições: de gestos herdados, de tradições que nunca escolhemos, de memórias
que nos moldam muito antes de sabermos falar de nós.
Há gestos, rituais e
até emoções que repetimos como se fossem escolhas, quando, na verdade, são ecos
da terra onde crescemos.
Percebi isso no Natal.
Essa época que achamos
que “celebramos”, mas que, muitas vezes, apenas herdamos.
Fazemos o que vimos
fazer.
Sentimos o que nos
ensinaram a sentir.
E chamamos tradição ao
que nunca tivemos coragem de questionar.
Cresci em
Montemor-o-Velho.
Entre raízes fortes,
vozes familiares, o cheiro das cozinhas cheias e a dureza doce das terras
agrícolas.
Uma infância marcada
por ciclos, rituais e um sentido de pertença que molda muito mais do que a
nossa memória, molda a nossa identidade.
Durante anos vivi
natais intensos: as caras de bacalhau, as filhoses, o ritual de me vestir de
Pai Natal.
Era um Natal cheio,
vivo, quase "coreografado".
E eu acreditava que
tudo aquilo era meu.
Parte daquilo que eu era.
Mas quando perdi os
meus pais, uma verdade inesperada fez-se silêncio dentro de mim:
Grande parte do meu
Natal… nunca foi realmente meu.
Era deles. Era da nossa
gente. Era da cultura que me formou antes de eu saber quem era.
E aí percebi algo
profundo: O ambiente onde crescemos não é apenas cenário.
É narrativa.
É molde.
É filtro do que
sentimos e espelho do que acreditamos ser.
A forma como cuidamos.
A forma como
celebramos.
A forma como nos
relacionamos.
A forma como
trabalhamos.
A forma como amamos.
Tudo começa lá atrás,
muito antes de termos consciência disso.
E por isso, neste tempo
de tradições, memórias e regressos, deixo-te esta reflexão:
Quantas das tuas
escolhas são realmente tuas?
E quantas são apenas
heranças emocionais que continuas porque sempre foi assim?
Não há resposta certa.
Há, sim, um convite à
honestidade.
Porque, às vezes, para
nos reencontrarmos…
temos de ter a coragem
de olhar para tudo aquilo que herdámos e perguntar finalmente:
“Isto é meu… ou é
apenas a voz de quem veio antes de mim?”
Sabem a sal e a sol
os campos da minha
terra
tudo sabe a rosas, a
flores, a liberdade…
E há no ar e no céu um
aroma
a rosmaninho e a
alecrim
e a rosas…
Sabe a mar o meu país
de abril…
Ah, como eu te quisera
assim sempre florido e
viçoso,
com promessas quentes
de sol
em cada esquina
e sorridentes os rostos
em cada lugar…
Há sorrisos húmidos
rasgados de ternura em
torno de um abraço …
E os olhos rasos de sol
e de alegria
com cravos e rosas
florindo deslumbrados
ao sol
de inverno
descobrem a chegada da
primavera …
Surgem então aves
delirantes
rasando a vida,
rasgando o sol…
E olhos ávidos e
sedentos
na espera atenta de
promessas por cumprir …
Vê-se daqui o mar,
sempre o mar, o mar e a
bruma…
Mar de outrora de hoje
…
Hoje, sem bruma, só
a branca espuma das
ondas …
Mar de sol, mar de
vida, mar de encontro,
mar nosso…
Ecos de vida
tão próximos distantes
florindo expectantes ao
sol
em mim.
Quando comecei, o
trabalho na secretaria era bem diferente: tudo era feito manualmente, os
registos eram em papel e as comunicações eram feitas por telefone. Com o tempo,
vi a revolução digital transformar a maneira como as informações eram
processadas e armazenadas. Tive que aprender e apreender a usar novos sistemas
de gestão, estando em constante atualização para garantir que a escola
acompanhasse essas mudanças com eficiência e garantir que a mesma funcionasse
de maneira fluida, desde as matrículas até o controle de documentos, passando
por toda a logística do dia a dia, com a dupla função de secretariar as
reuniões de direcção durante muitos anos.
Hoje, ao refletir sobre
esses 35 anos, sinto um grande orgulho de ter sido parte fundamental da vida da
escola. Não só ajudei a manter a organização e os processos administrativos em
ordem, mas também ver muitas gerações de alunos passarem por aqui, com quem
compartilhei momentos e desafios. O legado de todo esse tempo é também o
impacto que tive na educação desses jovens, sendo algo que me enche de orgulho.
Ser a primeira pessoa a
quem alunos e pais recorrem em momentos de dúvida ou necessidade foi e é uma
grande responsabilidade, mas também uma grande satisfação. Sempre procurei ser
uma fonte de apoio, seja esclarecendo dúvidas, resolvendo problemas administrativos
ou orientando na organização de documentos. Esse papel de apoio fundamental
para que a escola funcionasse.
Ao longo de mais de
três décadas, a educação e a administração passaram por várias transformações,
no entanto trabalhar tanto tempo na secretaria ensinou-me a ser paciente, capaz
de lidar com situações que exigem rapidez e eficiência. Não foi só uma jornada
profissional, mas também um caminho de crescimento pessoal. Cada desafio foi
uma oportunidade de aprender e melhorar.
Obrigada a todos que
por cá passaram, discentes, docentes, não docentes e órgãos de gestão!
Cá continuarei mais
algum tempo!
O Natal existe!
Era
uma vez um menino chamado João que vivia numa pequena aldeia da Beira Baixa.
O
João vivia com os pais e a governanta numa casa grande e confortável. Não muito
longe da casa do João vivia o Tiago com a sua irmãzita Lila e a avó Maria. Os
pais de Tiago vítimas de um acidente de viação habitavam a casa dos anjos, com
o seu avô que também já havia partido.
Apesar
de serem vizinhos, o João e o Tiago apenas se encontravam na escola porque o Tiago
ajudava muito a avó Maria nos trabalhos mais pesados como levar lenha para casa
para o Inverno que na aldeia era muito rigoroso.
Toda
a aldeia sabia das dificuldades daquela humilde família, mas toda a gente
parecia indiferente, absorvidos pela sua própria vida.
A
véspera de Natal não estava a ser diferente e na casa de Tiago crepitava uma
fraca fogueira que aquecia a casa de pedra. Na mesa um pedaço de pão para o
Tiago e a Lila, já que a avó Maria disse que não tinha fome.
Lá
fora ouvem –se cânticos de Natal e …. “Truz …Truz …Truz…” – alguém havia batido
na porta de madeira. “Não, não! Quem poderia ser?” – pensaram os três.
“Truz
…truz…truz” – voltou de novo a ouvir-se agora mais forte. Tiago levantou-se e abriu
a porta. Viu o João e o pai entre a soleira da porta da casa mal iluminada.
-
Boa noite! Sou o vosso vizinho, pai do João.
-
Boa noite! – respondeu o Tiago timidamente.
-
Somos vizinhos, mas quase não nos conhecemos – continuou - é noite de Natal e
sei que estão sozinhos, venham para nossa casa.
-
Mas …ia a dizer Tiago.
-
Não há, mas… vêm para nossa casa, onde poderão tomar um banho quente, vestir roupas
novas e quentes e cear connosco.
Tiago
olhou para a avó como pedindo com o olhar uma resposta. De facto, não sabia o que
responder. No rosto da avó duas lágrimas cristalinas caiam pela face enrugada
pelas torturas da vida e do tempo.
Na
casa do João, colorida pela decoração de Natal, uma fogueira sorria e aquecia
toda aquela alegria que pairava nesta casa. Tiago, Lila e a avó Maria não
conseguiam esconder as lágrimas de emoção, comoção e contentamento. Após
estarem confortáveis, quentes e com roupas aconchegantes dirigiram –se à sala
de jantar onde foi servida a consoada.
A
noite não podia ter sido mais bela. De regresso á sua humilde casa os três
olharam o céu e três estrelas brilharam de contentamento. Tiago, Lila a avó
recordou os seus entes queridos que dormiam na casa dos anjos e agradeceram
–lhe por esta noite mágica. Os anjos não os vemos, mas existem…basta acreditar.
O
Natal é mágico, transforma realidades noutras realidades. Para o Tiago e sua
família foi um recomeço onde uma outra família fez a diferença, que começou
numa noite de Natal…
Coletânea
Natal em Palavras – 2019
NOITE
Chegaste minha noite
adormecida.
Bela, enigmática,
sedutora…
Fechaste-me na luz da
tua lua
deste-me um beijo na
boca sonhadora.
Cobriste de luar os
meus cabelos…
Nos teus braços
deslumbrantes me deitei
em leito de horizontes…
me fiz tua
e foi a ti, oh noite!
Que me dei…
Qual bela adormecida me
entreguei
tão leve e sonhadora…
que criança…
saudosa dos momentos
que vivi
prisioneira desta noite
absoluta
nos braços de Morfeu
estremeci…
Coada dos meus lábios
noites nuas
rendida às estrelas e
ao luar
volitei por entre vales
e savanas
foi contigo noite…
…Que eu aprendi a
amar!...
Muito
se tem escrito sobre o 25 de Abril de 1974 e o nascimento da democracia
portuguesa. No entanto, passados 50 anos, a memória da Revolução continua a
suscitar debates intensos, entre celebrações entusiásticas, leituras críticas e
até condenatórias, como o demonstra a recente controvérsia em torno do 25 de
Novembro.
Neste
contexto, torna-se imperioso regressar à história, compreender o papel dos
militares, dos políticos e da sociedade civil e revisitar as escolhas, os
dilemas e as esperanças de um tempo decisivo.
Este
livro oferece ao leitor uma perspetiva rigorosa e acessível, revelando a
complexidade do processo revolucionário e a riqueza de um legado que continua a
marcar a vida democrática em Portugal.

