Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, setembro 30

BARCAÇA_04

 

Esta semana sai mais um número da barcaça, em que se salienta a importância do movimento associativista para a promoção da saúde democrática.

Convidamos os nossos leitores a refletirem sobre as histórias das nossas gentes, as suas experiências, os seus usos e costumes e, até as pequenas “pirraças” do desporto de antigamente.

Fieis à nossa cultura, levamos-vos numa visita guiada à histórica casa que abriga agora o lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-velho e, depois, descemos o Mondego numa barca serrana…

Também cabe, na nossa Barcaça, o estado do desporto atual, os problemas dos nossos idosos e o rescaldo das autárquicas de 2021, entre outras questões de contemporâneo interesse, a que não falta um cheirinho da nossa saudável e saborosa gastronomia.

Livros, música e poesia tudo vem incluído com o fresquinho do outono e o inegável talento dos nossos escritores e colaboradores.

Bem hajam e até breve!

 



ASSOCIATIVISMO! 


"Viver não custa, o que custa é saber viver"


Dentro de cada um de nós existe um poder escondido que poderá ser aberto e libertado se alguém conseguir abrir essa porta.

Podemos dar muito há comunidade, seja em ideias em trabalho, mas devemos participar, ou seja, ser ativo e não passivo.

Uma das formas é procurar no seu bairro a coletividade que lhe desperta a sua atenção seja desportiva ou cultural, mas existe uma que decerto o vai agradar.

Hoje através das redes sociais pode chamar facilmente os seus amigos seja da escola ou do trabalho e assim formarem (grupos) onde darão corpo aos vossos sonhos.

A cidadania faz parte de nós não podemos estar sempre à espera de que tudo aconteça para podermos comentar sem participar, a vida fora de portas existe, os amigos existem, as comunidades existem por isso seja participativo.

Caso não exista organização/associação/clube que seja do seu agrado junte-se e forme uma que contribua para comunidade e onde se sentirá integrado.


https://eportugal.gov.pt/servicos/criar-uma-associacao-na-hora

O associativismo é uma iniciativa formal ou informal que consiste na constituição de grupos de pessoas ou de organizações que se reúnem com o objetivo de gerar soluções, bem como superar desafios e dificuldades nos mais variados âmbitos — sociais, culturais, políticos, económicos, científicos, entre outros.

O associativismo envolve participação, solidariedade, união e cooperação por objetivos comuns. É uma maneira de mobilizar indivíduos e acreditar que juntos é possível criar propósitos e caminhos para os conflitos e problemas enfrentados pela sociedade.

Num contexto mais amplo, o associativismo é então a livre organização de pessoas que buscam sanar necessidades coletivas ou mesmo realizar objetivos e alcançar metas comuns a todos. E de forma mais específica, o associativismo diz respeito a uma prática social de organizar associações, que reúnem pessoas físicas ou jurídicas, que se representam mutuamente, diante dos interesses de todos os envolvidos.

O movimento associativista está diretamente relacionado à liberdade. As ditaduras sempre impuseram restrições a formação de associações. Pode se dizer então que o associativismo, ou seja, a liberdade de criação de associação é uma consagração das democracias. Nos últimos anos, a sociedade civil vem se fortalecendo e o associativismo contribui para muitos avanços, o que é muito importante para a consolidação da democracia de um país.

Mas para entender um pouco mais sobre o associativismo, é preciso ir lá atrás na história. Na pré-história já havia registos de associativismo, a exemplo da caça coletiva. Há mais de 2,5 milhões de anos, o homem já caçava de forma coletiva. A caça e coleta de alimentos silvestres era feita em grupos, como o mesmo objetivo — matar a fome — e diferentes funções definidas especialmente por gênero.

Já na Grécia antiga, existiam os espaços associativos, como os ginásios associados à cultura física, bem como palestras relacionadas a temas educacionais. Na Roma antiga, outros exemplos de associação eram as organizações profissionais “Collegia”, as escolas de Gladiadores e os Clubes de Jovens.

Na idade média, surgiram os primeiros sinais de associativismo relacionados à Igreja Católica. Além delas, começam a ser criadas corporações por artesãos, produtores e jornalistas, alguns destes movimentos deram origem aos atuais sindicatos e ordens profissionais. Mais tarde, emergiram também outros tipos de associações, como as Ordens Militares, que vigoraram na Europa até o século XIX, e posteriormente substituídas pelas associações profissionais e patronais.

No século XX, foram criadas as associações e coletividades voltadas para a cultura, os clubes desportivos, a recreação, o lazer e a saúde.

O associativismo é também uma metodologia que pode ser aplicada às empresas, independente do setor em que atuam. Para se associar, basta que as empresas usem a mesma matéria-prima, comercializem o mesmo tipo de produto, ou até que se complementem na prestação do mesmo serviço.

Um grupo mínimo de empresas já é capaz de sustentar a criação de uma associação que pode ajudar na solução de problemas do ramo em que atuam, no fortalecimento de pequenos e médios negócios frente à concorrência, na minimização de custos e até mesmo na elevação de qualidade dos produtos e serviços.

Portanto, é importante estar atento às oportunidades e fazer com que a sua empresa se torne associada a outras com interesses comuns. Essa colaboração pode gerar vantagens econômicas, compartilhamento de informações valiosas e até mesmo de gerenciamento mais estratégico.

E de maneira geral, o associativismo traz muitas vantagens, como a união que tende a gerar um pensamento coletivo, orientando decisões que passam a ser aprovadas pela coletividade, sem decisões individuais, o compartilhamento mais rápido e simples de informações importantes de interesse de todos, facilitando a comunicação, o maior senso de direção, com estratégias mais direcionadas, a atuação conjunta e em rede fortalecendo a representatividade e gerando resultados mais sólidos para os interesses comuns e coletivos.

Conclusão

Pois bem, o associativismo é uma prática que traz mesmo muitos benefícios, mas é importante lembrar que os associados também têm deveres. É preciso participar ativamente quando se faz parte de uma associação, estar disposto a exercer funções específicas dentro da associação e ainda participar financeiramente de forma que toda a coletividade também arque com os custos para manter em pleno funcionamento todas as atividades da associação.

Pesquisas mostram que, nas últimas décadas, em Portugal registou um importante crescimento na criação de associações, e que se refletiu em uma diversificação interna desse universo, ainda que o número de indivíduos participantes não revele o mesmo crescimento.

E então? Agora que já sabe um pouco mais sobre o associativismo e como essa prática funciona, (…)

Participe. 


Foi há muito tempo. Fim dos anos trinta.

Era verão, e na quinta do Taipal em Montemor -o-Velho era grande a azáfama nos trabalhos do arroz. Naquela tarde, aquele rancho de raparigas e mulheres mais velhas iam voltar a entrar na marinha retomando o trabalho, depois de terem enganado o estômago com pouco mais do que uma bucha e passado pelo sono, deitadas ali perto no chão agora duro e seco.

Uma delas adiantou-se e reparou que se aproximava um trabalhador com uma verga na mão cheia de peixes enfiados, luzidios, frescos.... Alegremente, perguntou-lhe em jeito de certeza "foi ao peixe e traz muitos vai dar-me um peixe, não vai? " Ele carrancudo replicou "você esteve a dormir a sesta não esteve? " Ela assentiu, sorrindo. " Pois, enquanto você esteve a dormir eu andei na barroca a apanhar os peixes. "E seguiu caminho a acomodar a pescaria para depois também ele ir "ferrar" ao trabalho.

A tarefa recomeçou para todo o rancho, e algumas moças cantavam ao desafio, mas daí a pouco repararam que a Alice trabalhava, mas, em silêncio estava a chorar. Com preocupação acercaram-se logo para saberem o porquê, mas ela algo  envergonhada evitava dizer a causa daquela tristeza que não conseguia dominar. Porém, as mulheres mais velhas, sábias pelas agruras da vida logo adivinharam... quem sabe se não o sabiam por experiência própria, eram tempos de pouco dinheiro, de comida magra e pouca. O organismo humano falho de vitaminas, nestes casos, reage e aparecem os desejos incontroláveis tão conhecidos, na gente pobre... ela esperava um bebé estava à vista este desequilíbrio nervoso. Uma delas penalizada falou-lhe baixinho, "a Alice está a chorar por causa do peixe"... não, respondeu ela. "Está, está, e logo o meu homem está preso, se não ele ia ao peixe e eu dava-lhe." O homem dela era pescador no rio, um bom homem, mas bebia e batia-lhe, ela gritava e a guarda ia e prendia-o, e no dia seguinte libertava-o. Outra companheira indignada dirigiu-se ao bruto como ela lhe chamou e avisou-o, se acontecer algum mal à rapariga somos todas testemunhas e vamos denunciá-lo na G.N.R. O dia terminou e com as companheiras ela regressou à aldeia que ficava distante da Vila, mas ao deixar a Quinta voltou o choro. Então a prima Nazaré ofereceu, "olha lá Alice e se tu bebesses um copito de aguardente? eu pago, vamos ali à taberna da leiteira" era uma tasca quase imunda situada à beira de estrada. Ela não aceitou, mas riu, o que já foi um progresso.

texto baseado numa história verídica.


A cantadeira “pequiana” (pequena)

 

  A ti Ermelindita era baixa de estatura, mas numa boa conversa ou a cantar ao desafio, nem o diabo lhe dava a volta.

Por isso alguém um dia disse a um célebre cantador da Gândara, que na Portela de Tentúgal vivia uma mulher “piquena”, mas com a alma grande. Tinha a ousadia de desafiar qualquer um a cantar com ela porque se gabava de nunca se ter deixado ir abaixo, fosse lá quem fosse o cantador.

O cantador ficou logo em “pulgas”. Isso era muito bom, cantar com um(a) fanfarrão dava um prazer dobrado, era uma oportunidade que o tal senhor não queria perder. Não pensou duas vezes: - Digam `a tal mulherzinha que a desafio a cantar comigo. Que diga quando vamos à cantoria.

É já Domingo que vem. Está combinado. O Zé Gaspar à guitarra e o ti Eiras ao violão e vamos a isto…

E no Domingo seguinte lá estavam os tocadores, o povo e a cantadeira, que com o seu xale de primavera, o lenço bem posto e atado abaixo do queixo e aquele sorriso que com o brilho dos olhos lhe davam uma graça “linda de morrer”!

   -Atão isto é que é a tal cantadeira?

-  Pois tá claro, home de Deus, e vamos a isto que faz tarde! ``O Zé Gaspar é ó Vira de todos, (1) que assim é que se “inxofra”.

-Cante mulher.

-Comece vosmecê que vem de fora…

As mulheres primeiras…

  Atão cá vai…

 

-Ao Vira e ao desafio

Não é comer um’ameixa

É cantar uma e mais outra

Mas sempre a pegar na deixa

 

O cantador canta a sua, a pegar na deixa, e vai cantando respondendo o melhor que pode, mas às tantas vai- se abaixo, não entra a tempo e aí a ti Ermelindita entra logo e arruma o caso com esta quadra:

 

S’és carneiro larga a lâ

Sés pito larg”á “penuge”

Nâo t’aguentas comigo

Pega os sapatos e fuge

O pobre homem de “rabinho entre as pernas” lá vai à sua vida e a cantadeira é aplaudida e aos vivas do povo vai à Capela rezar um Padre Nosso e uma Avé Maria à Senhora da Conceição e ao “Divino Espírito Santo”, pois, entretanto, são horas de começar a fazer a ceia.

Adeus e até à próxima

Repórter Mabor, no velhinho campo das Lages, pedalando na minha pesada pasteleira pelas estradas esburacadas das vizinhas localidades de Montemor, o desporto apenas futebolístico na década de 1950, do século passado, construiu a sua história, embora modestamente como já sabem, podem ter como leitura no livro do A.C. publicado em 1992, perto de cinquenta jogos disputados no campo da Lages, Carapinheira, Gatões, onde jogou o saudoso Alves Barbosa, Formoselha, Pereira, Ereira...

Foi uma época de enorme fulgor popular, onde não faltou a carroça do saudoso Nelson Marceneiro, transportando os que acreditavam que o futebol era a única oportunidade de entretenimento aos domingos, já que as televisões eram a total miragem naquela distante base social e desportiva.

Percebe-se por esta análise tão antiga com que a escreve, que o desporto se resumia unicamente ao futebol, talvez o remo tenha navegado no Rio Mondego, numa celebre polémica entre o, jornalista João Bravo e o montemorense Joaquim Barranca, na Voz da Figueira, ambos já falecidos, e que justificou a "colherada "do Figueira Spor, como não podia deixar de ser, o meu metediço nariz...

Compreendemos agora as normas desportivas desse tempo que não se ordenavam sobre qualquer entidade organizadora provocavam nas populações uma presença e um alarido ruidoso e por vezes as fugas pelos campos, saltando as suas barrocas com água ou sem água, era necessário dar á perna.

O A.C.M. e os Castelhanos, foram os primeiros a "incendiar" as paixões da modalidade, citamos o futebol, a seguir a Juventude Radiosa, do Padre João Direito. Fazem parte para sempre na história do que se insinuava desporto.

É verdade que devemos honrar essas memórias, mas a sua força física e mental, superava a técnica e as táticas de qualquer apaixonado treinador.

Quando em 1960, do século passado abandonei o Casal Novo do Rio e Montemor, no meu regresso volvido alguns anos, aquela cultura desportiva e popular já não existia.

Iniciando-me noutros patamares informativos, crescendo e aprendendo até aos dias de hoje.

 



HOSPITAL DE NOSSA SENHORA DE CAMPOS


O Hospital de Nossa Senhora de Campos (atual Lar Sede da Santa Casa da Misericórdia), localizado no lado poente da Praça da República, data das reformas hospitalares levadas a cabo pelo rei D. Manuel I no século XVI, sendo que uma inscrição aponta para a sua edificação no ano de 1504. Posteriormente, foram-lhe anexadas as confrarias de Santa Maria Madalena e de São Pedro e dos Clérigos, também de Montemor-o-Velho, tendo sofrido profundas reformas desde o século XVIII.

Administrado pela Confraria de Nossa Senhora de Campos, do edifício primitivo ficaram as divisões térreas, diversas, com largos arcos quebrados para suportarem as divisões altas. A frontaria foi reconstruída entre 1752 e 1754 pelo arquiteto conimbricense Gaspar Ferreira. A porta, enquadrada por pilastras, liga-se ao piso superior por uma grande sacada suspensa por um segundo vão rematado de alta cabeceira com o escudo nacional e uma esfera armilar quinhentista. Ao lado da sacada colocaram dois nichos e num deles está a imagem de Nossa Senhora da Piedade, datada do século XV.

A escadaria lateral de acesso ao andar nobre, situada na antiga rua do Senhor dos Aflitos (atual rua dos Combatentes da Grande Guerra), possui alpendre com colunas dóricas quinhentistas, modificado e ornado de “restos” de uma pintura de cariz popular de “Cristo Crucificado”.

No salão nobre encontrava-se o salão capela (reformados no século XVIII) com três arcos de pedra levantados em colunas dóricas a dividir a capela-mor.

Por despacho ministerial de 17 de janeiro de 1893, foi decretada a sua anexação à Santa Casa da Misericórdia. Com a construção de um novo hospital (atual Centro de Acolhimento de Nossa Senhora de Campos, sito na rua dos Bombeiros Voluntários) a nascente da vila, o velhinho hospital seria adaptado a quartel da Guarda Nacional Republicana.

Mais tarde, já na década de 1980, o espaço seria transformado em Lar de Idosos da Misericórdia de Montemor-o-Velho (o andar nobre foi adaptado a dormitórios e o rés-do-chão a secretaria e capela/galeria de arte sacra), mantendo, no entanto, a fachada e o portal setecentistas.





Setembro

 

Cai neblina por cima do dia

Miudinha, triste, persistente

Não dá para chorar e a gente

Acomoda-se à melodia…

 

Tudo fica bem no silêncio

Educa-se coração e olhar

A rotina é como verdete

Não se vê se não se limpar…

 

Dá-se uma volta pela praça

Dá-se uma volta pela praia

Olha-se desconfiado o tempo

Que o frio está de atalaia.

 

O Outono chegou de repente,

Bem dentro do coração,

Já caiu a folha da alma

O vento assobia em vão…

Na frescura orvalhada

da madrugada que rompia,

avistava-se ao longe,

envolto na penumbra,

o vulto recortado de um castelo,

feito de pedras medievais,

adornadas com as ervas

que por ali proliferam

generosamente.

Ouve-se o som discreto

de um pássaro madrugador

rasgando os ares,

timidamente,

na serenidade da manhã.

 

Depois, mais tarde, já o sol ia alto,

surgiu, em todo o seu esplendor,

a clara imagem do castelo,

grandioso, imponente,

orgulhoso das suas pesadas portas,

das ameias,

das torres, das vigias,

desenhando no azul do céu,

histórias e lendas

de um outro tempo,

mas ainda hoje presente,

impondo a sua marca indelével.

 

Ao sol poente,

recortava-se, no alaranjado do céu,

o seu perfil grandioso,

com contornos exatos, rigorosos,

bem definidos,

projetados no céu

agora aceso em fogo

e promissor,

antevendo o sol do

amanhã.

O CAMINHO DA VIDA! 

Às vezes, um acontecimento sem importância é capaz de transformar o momento em angústia. 

Por vezes insistimos em ver as pedras do caminho e esquecemos de sentir a grandiosidade das montanhas, dos campos e do infinito azul do céu. 

Quando todos os dias ficarem iguais é porque deixámos de nos aperceber das coisas boas que aparecem na nossa vida.

Vê a beleza e encara todos os momentos, eles podem ser vistos de perspetivas diferentes. 

Escuta o teu coração e não permitas que as barreiras sejam maiores do que o potencial que existe dentro de ti.

Quando encontramos o caminho errado precisamos ter coragem suficiente para dar os passos certos. 

As deceções, as derrotas, o desânimo fazem parte da vida, mas com sabedoria poderemos contornar tudo isso e seguir em frente.

Vê a beleza, sente o prazer de tudo o que está à tua volta. 

Existem pessoas na nossa vida que nos transmitem paz; que nos empurram para o melhor de nós, que nos guiam. 

Pessoas que são sorrisos e que enchem o nosso coração, que são o nosso suporte quando parece que tudo vai desmoronar. 

Tem pessoas que pensam e repensam jeitos de nos fazer felizes, que se preocupam. 

Pessoas que abraçam, te ouvem e te ajudam a ter a certeza que tudo vai dar certo. 

Pessoas que emprestam o seu coração para dele fazermos morada, e que plantam pensamentos bonitos nos nossos dias!…

Barcas Serranas e o Rio Mondego

 


O Rio Mondego, até princípios do século XX, era a única via de comunicação importante da região, dando emprego a muita gente das suas proximidades como Barqueiros, Calafetes, Carreiros, Estanqueiros, etc.



O Barqueiro do Mondego, tinha como função conduzir a Barca serrana, no transporte de lenha, carqueja e carvão e hortícolas de Montemor-o-Velho/ Casal Novo do Rio, para Coimbra ou Figueira da Foz. No sentido inverso, era possível receber mercadorias por mar e embarcá-las rio acima. Assim, para além de peixe (seco ou salgado), sal, louça de Coimbra, vinho, hortícolas, etc.

Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras Natais.

A Barca serrana deslocava-se com a ajuda de remos, da vela, da corrente do rio e por vezes das varas (quando havia menos água), espetando-as no fundo do rio e andando pelo bordo, apoiando a vara contra o lado do peito, virados para a ré.

Tinham que colocar um pano grosso, para protegerem o peito, mas mesmo assim fazia “mossa”. Também era usual usarem a sirga para das margens auxiliarem na subida do rio, o avanço da Barca serrana.

O traje do Barqueiro do Mondego era composto por ceroulas até aos joelhos, uma camisola de lã, um colete, um garruço para o frio e os pés descalços ou com alpercatas de pano.

Para dormir, as barcas possuíam na proa ou na ré, umas cavidades “Leito”, onde os barqueiros dormiam, sendo o colchão de esteiras de palha, colocados por cima do estrado, e tendo como cobertores, a vela ou sacos, e dormiam com os pés para o bico.

Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria. Dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc.

XIX. Porto este que diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva.

Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua e Oliveira do Hospital.

Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham de calçar as alpercatas de pano, se fossem apanhados descalços pelos guarda rios, eram multados, se porventura andassem com um pé calçado e outro descalço, pagavam metade da multa.

O Porto de Montemor-o-Velho/Casal Novo do Rio/Barca, era de primordial importância, de entre os demais: Porto da Raiva, Coimbra e Figueira da Foz.

 

Fonte: Rancho Típico de Miro "Os Barqueiros do Mondego", 29/09/2021



DESPERTAR PARA O DESPORTO

A opinião desportiva que mexe consigo!

Na América do Norte, ou nos países nórdicos da Europa, a Escola assume, quase na integra, a formação desportiva dos alunos/atletas. Nos Estados Unidos da América, as ligas universitárias de basquetebol são a antecâmera da mais famosa competição da modalidade, a NBA. Essas ligas são o corolário de uma formação desportiva de excelência, com protagonismo colegial e com forte dependência estatal.

Em Portugal, mercê da tradição histórica, por um lado, e da dinâmica frágil do Desporto Escolar, por outro, impera a atividade associativa. O tecido associativo tem características únicas. Por norma é gerido por voluntários locais, com forte envolvimento do povo e com a “carolice” das suas referências. Estes contextos são ávidos de independência conceptual que acaba por provocar uma identidade própria, que os distinguem, caracterizam e os tornam pertinentes. A sua capacidade financeira é, em regra, frágil e gerida quotidianamente, até pela tipicidade da gestão, voluntária, empírica e pouco desenvolvida tecnicamente. O impacto da pandemia foi arrasador para a maioria das associações, quer pelo agudizar da tipicamente frágil situação financeira, quer pela mudança de hábitos que estes dezoito meses provocaram nas gentes habitualmente envolvidas. A nossa cultura, a nossa história, as nossas tradições, o folclore, a música, o teatro e o desporto serão arrastados para uma situação de marasmo dinâmico que poderá, em muitos casos, ser fatal.

Nesse sentido, e numa fase de renovação dos órgãos autárquicos, impõe-se que as suas prioridades estratégicas passem pela revitalização do associativismo local, não só à custa da atribuição de subsídios anuais (muitas vezes ineficazes e injustos) mas sobretudo na criação de modelos de monitorização e acompanhamento, bem como na potenciação das suas condições de atuação. Porventura, este não será um tema de referência nos debates europeus, dado que, como referi acima, as potências europeias não terão esta lógica organizativa, mas assume-se como uma emergência social e educativa no contexto português, historicamente enraizado na ação associativa. Numa fase em que queremos avançar para temas tão estruturantes como a transição ecológica ou a preservação ambiental, não poderemos descurar o que está a montante, a Educação, a Formação e a valorização das nossas impressões digitais, da nossa árvore genológica, e da nossa terra.

Por último, porque é atual e porque se relaciona com o tema de hoje, gostaria de felicitar todos os novos estudantes universitários.


No rescaldo do acto eleitoral do passado domingo, é impossível não escrever uma reflexão sobre os resultados obtidos. Comparando com as últimas eleições, em 2017, o concelho de Montemor-o-Velho tem menos população inscrita e ainda houve menos votantes (apesar da abstenção ser inferior a 50%).

Os dois partidos com maior expressão municipal, perderam votos - apesar de manterem os mesmos mandatos municipais. Em relação à CDU, tenho a enaltecer a campanha limpa, honesta, trabalhadora e unida que apresentou. Uma candidatura jovem que se projeta para o futuro.

Com um orçamento muito limitado e apoiado exclusivamente por nós. Fizemos a nossa campanha positiva, sem apontar críticas às outras candidaturas. Sem cobrar insultos ou responder aos atos de vandalismo à nossa propaganda política.

Contactámos com gente de todas as freguesias, vimos e sentimos o que cada um vive neste concelho. Confirmou-se um resultado bastante positivo, crescendo em números e percentagem.

Mantém um membro na Assembleia Municipal e quatro eleitos nas juntas de freguesia. A força não nos falta para nos mantermos unidos e ativos. Para afirmarmos as nossas ideias e convicções.

Para lutarmos pelo bem-estar de quem aqui vive. Para não desistirmos de ninguém. "Aqui ninguém abdica do sonho de ser tudo e de um dia tudo ser diferente.

Aqui não abdicamos de fazer Montemor de todos, não abdicamos de FAZER MONTEMOR DE NOVO"!

O nosso (Des)Amigo Alemão 

Em primeiro lugar não posso deixar de começar este pequeno artigo de opinião sem fazer uma pequena referência às eleições autárquicas do passado domingo, dia 26 de setembro, apenas para parabenizar os vencedores da noite e honrar os vencidos porque a democracia é feita pela participação de todos.

Teremos mais oportunidades para desenvolver o tema das eleições, mas permitam-me que nesta edição vos fale de um tema que me é extremamente sensível e inquietante, mas que não posso deixar de referir.

No passado dia 21 de setembro assinalou-se o Dia Mundial da Doença de Alzheimer.


A primeira vez que contactei diretamente com esta doença foi através de familiares meus. Na altura dos primeiros sintomas desvalorizava a situação e pensava que era da velhice. Mas com o passar do tempo fui-me apercebendo que era mais do que isso.

Nunca mais foram voltaram a ser aquilo que eram…

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras).

Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades no dia-a-dia.

É um tipo de demência normalmente associada a pessoas com mais de 65 anos, no entanto pode afetar adultos em qualquer idade.    

Esta é uma doença para a qual ainda não há cura, mas que afeta cada mais pessoas em Portugal e a nível mundial. Mas há muitas formas de prevenir estas doenças através da alimentação e da prática do exercício físico e mental.

Com um país e um concelho cada vez mais envelhecido não podemos descorar os cuidados que devemos ter a prevenir este e outros tipos de demências que cada vez mais nos afetam.

Sendo Montemor-o-Velho um concelho rural e envelhecido devemos ter particular atenção com os nossos idosos. Muitos deles pelo desconhecimento, pelo isolamento ou por questões financeira não são acompanhados como deveriam. Isto leva a que este tipo de doenças se vá desenvolvendo silenciosamente e vá matando a pessoa aos poucos.

Ao longo destas últimas eleições tive oportunidade de ler os programas eleitorais das diversas candidaturas e verificar que a preocupação com os idosos é um tema transversal a todos.

No entanto é preciso passar aos atos. É preciso que andem atentos à nossa população mais sénior. É preciso dar-lhes mais qualidade de vida.

O nosso concelho tem excelentes condições para se tornar num município amigo do idoso.

Um concelho onde se estimula o envelhecimento ativo ao otimizar oportunidades para a saúde, participação e segurança, de forma a aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem. 

Em suma, para além de termos de criar condições para atrair gente jovem e dinâmica, temos de garantir em primeira instância que damos o devido valor e criamos os alicerces necessários para dar qualidade e felicidade aos nossos munícipes seniores.

Todos nós caminhamos para lá. E todos nós gostaríamos de, quando formos velhos, nos sentirmos bem, felizes e envolvidos na sociedade.

É bom chegar a velho, mas não é bom ser se velho.


Álcool-gel  

Bem digo que a verdade era

ir pelo fio da gente;

co’s mais, mais forças houvera,

e o amigo e o parente

que murmurar não tevera.

Porém a mim só não minto.

não dobro, não lisonjeo;

som farto; que era faminto:

que mal é o meu destino

que mal é o meu destinto

antes seguir, que o alheo?

Sá de Miranda Séc XVI

        (SOM FARTO significa “Sou livre” na linha oito) 

Bazuca!

Corações ao alto.

Chegam os “pardaus” e enchem-se de ansiosa vontade os bolsos sequiosos do pilim.

De tanto anunciado até já parece que chegou… o tal PRR.

Tentei uma pesquisa rápida e não encontrei equivalente europeu.

Provavelmente será gente insensível a tão elaborados detalhes?!

Demos nome e alcunha… como se fosse gente, a gente a quem tal projeto se apronta para abandonar a coberto de um nevoeiro de promessas. Serão livres? Talvez… carenciados ou pobres? De certeza… prostrados no sofá a apreciar nas revistas televisivas o rápido sucesso dos novos aristocratas.

Virá para aí o apoio ao desenvolvimento e ao desenvolvimento sustentável?

Apostaremos aqui no mundo rural?

Reclamaremos frente a uma distribuição homicida da PAC?

Ou contamos, numa esperança paternalista e obscura, que os lobos tomem conta dos cordeiros?

A bazuca fez campanha com tanto valor como os que nenhumas campanhas fizeram. 

Os segundos: procuraram pôr-se em bicos de pés e a subvenção pública para robustecer com o dinheiro público o partido.

O partido Chega enche assim a sua presunçosa mesa de jantar à custa da democracia, que despreza tanto, que nem um rosto, nem um programa, sequer uma ideia lhe oferece para o debate dos eleitores das autárquicas do nosso município de Montemor. 

O nosso primeiro: emproou-se a lembrar a todo e mais algum distraído que partido está no governo e irá premir o gatilho de tão portentosa arma. Há que escolher o lado dos vencedores, o “fio da gente” de quem Sá de Miranda genialmente se afasta. 

No nosso real país carecemos de muito, precisamos de corrigir a rota e mudar de paradigmas. Necessitamos de uma nova política democrática, popular e justa. 

A agricultura e o mundo rural são a vítima mais visível do desastre da elite dos nossos políticos. Emigra-se. Ponto. Deixa-se. O ancião fica triste, mas aceita a espera pela resignação, sentado perdido no seu café despido de gente. A mesma visão que a dos sapatos abandonados pelo chão, em despojo, que logo ao primeiro olhar nos avisa: ali houve catástrofe séria. As gentes fugiram sem poder olhar para trás. É a arrepiante realidade que se vai perfundindo pelas terras e campos montemorenses. 

O atual Ministério da Agricultura é um dos maiores responsáveis ao qual se juntam o Primeiro-ministro e restante governo, se à bazuca faltar a “acertaria” indispensável a quem depende de uma última tentativa ao alvo. Aos demais já Sá de Miranda apontou o dedo há para mais de 500 anos… 

“…O desenvolvimento sustentável que o nossos filhos reclamam?…”

“…. Proteger o planeta e viver melhor e com maior esperança?…”

“…. Reestruturar a floresta para a proteger dos incêndios?…”

Esquece lá isso e junta-te aos que ganham. Vai tudo à bazucada.

Não!

Montemor-o-Velho precisa de um suporte adequado da PAC e dos apoios financeiros e organizadores para a transição até um modelo de exploração agrícola e florestal digno do futuro, assim como o desenvolvimento sustentável das suas comunidades. Montemor-o-Velho quer alavancar o mundo rural. Desenvolver as suas gentes e freguesias. Ter de volta espaço público com povo e as casas com gente regressada. Ter opções de mobilidade. Recuperar para si rio e ribeiros. Alimentar novos tipos de indústria e a cultura. Montemor necessita de vida e esperança. 

Há muito caminho para andar e… pouco tempo.

Aqui estou eu a olhar para a estrada.

Álcool-gel para matar os germes e parasitas. 

Nota:

Pardaus - Antiga moeda da Índia portuguesa, popular para moeda de valor.

 


Resultados das Autárquicas 2021 

        No pretérito dia 26 de outubro, realizaram-se as muito “vividas” eleições autárquicas e, como é apanágio, a sociedade no seu todo pode e deve fazer a sua exegese sobre o processo, os resultados, os atores, os eleitos e os vencidos.

        Numa primeira reflexão, excluindo qualquer sectarismo partidário, pudemos observar certa “loucura” instalada por parte de algumas candidaturas. Se por um lado houve uma tentativa de reinventar o mal designado marketing político e ser disruptivo para uma eficaz captação de apoio popular, em demasiados locais, tivemos como exemplo o recurso à demagogia, à mentira, a métodos muito questionáveis que nada abonam a favor da democracia. Nalguns casos, houve até uma tendência para assemelhar a fantasia dos grandes ecrãs à realidade e noutros confundindo-se a publicidade eleitoral com publicidade de vários setores do mercado. Não sou conservador ao ponto de achar que a forma deve ser estanque e pesada porque de política se trata, ao invés, sou apologista de modernizar, não obstante sem perder a solenidade que governar o “lugar-comum”, exige. Acho que os concidadãos perceberão isso da melhor ou da pior maneira!

        Numa segunda reflexão de forma objetiva e pragmática o Partido Socialista foi o vencedor destas eleições. Não foi o grande vencedor, pois perdeu Municípios com expressão pública significativa e capitais de distrito. Contudo, e porque não vale a pena transformar derrotas em vitórias, mas ao contrário a premissa mantém-se, o Partido Socialista ganhou o maior número de Câmaras Municipais, Assembleias Municipais, Assembleias de Freguesia e recolheu os maioríssimos números de votos. Este cenário político permite ao PS liderar a Associação Nacional de Municípios Portugueses e Associação Nacional de Freguesias.

        Uma última nota mais local e circunspecta à região do Baixo Mondego, em concreto Montemor-o-Velho. Os eleitores exerceram uma inequívoca expressão de apoio ao projeto liderado pelo Dr. Emílio Torrão e pelo Partido Socialista, reiterando a promoção do desenvolvimento local e coesão territorial, a transição digital, modernização e mitigação das alterações climáticas, colocando as pessoas em primeiro lugar, sem deixar ninguém para trás. Por tal resultado, felicito todos os candidatos e responsáveis deste projeto político.


RESULTADOS:

CONCELHO DE MONTEMOR-O-VELHO

CONCELHO DA FIGUEIRA DA FOZ


DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

 


Artigo 4.º

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

 

 

Sugestão de livros – graúdos e miúdos
 

Sinopse

No vilarejo de Tizangara, os Capacetes Azuis da ONU trabalham como soldados da paz após anos de guerra civil. Cinco explosões matam cinco soldados; apenas seus capacetes e falos sobraram. Massimo Risi, tenente italiano destacado em Maputo, capital de Moçambique , chega à aldeia para apurar os acontecimentos. Auxiliado por Joaquim, tradutor local, Massimo inicia a investigação e logo descobre que nem tudo é o que parece ser.


Sinopse

Seguindo a tradição dos antepassados pescadores da Nazaré, Guilherme Piló Sales foi a primeira vez ao bacalhau com 17 anos, em 1960. Seguiram-se sete campanhas como pescador à linha nos pequenos barcos dóri, nas águas tempestuosas dos Grandes Bancos da Terra Nova e da Gronelândia, na designada Faina Maior, a Epopeia do Bacalhau, um dos episódios mais esquecidos e notáveis da história marítima portuguesa.

  Este livro é o relato autobiográfico de memórias marcantes desses tempos, dessas viagens e dessas fainas de extrema dureza, cheias de perigos e de privações, na pesca de bacalhau à linha. Um homem sem coração arrisca tudo na vida e ali era preciso ir ao limite ou mesmo ultrapassá-lo, diz o autor deste retrato. Uma história comovente de bravura, dedicação e amor pelo mar.



Poema Do Menino Jesus 

Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra. 

Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva.

A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a ouvir-se de longe.

Ele tinha fugido do céu. 

Era nosso demais pra fingir-se de Segunda pessoa da Trindade. 

Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três. 

Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que

Ele tinha fugido; com o segundo

Ele se criou eternamente humano e menino; e com o terceiro

Ele criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às outras. 

Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro raio que apanhou. Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo.

É uma criança bonita, de riso natural. Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece. 

Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares, e foge a chorar e a gritar dos cães. 

Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha graça,

Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia. 

A mim, Ele me ensinou tudo.

Ele me ensinou a olhar para as coisas.

Ele me aponta todas as cores que há nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas. 

Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo que nunca pensamos um no outro.

Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda. 

Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no degrau da porta de casa.

Graves, como convém a um DEUS e a um poeta.

Como se cada pedra fosse todo o Universo e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair no chão. 

Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens.

E Ele sorri, porque tudo é incrível.

Ele ri dos reis e dos que não são reis.

E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios. 

Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo materno até Ele estar nu. 

Ele dorme dentro da minha alma.

Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos.

Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos. 

Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua casa.

Deita-me na tua cama.

Despe o meu ser, cansado e humano.

Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar.



SABORES E ODORES

RECEITAS TRADICIONAIS PORTUGUESAS

Arroz de Lampreia

Ingredientes:

1 lampreia

1 cebola média

2 colheres de sopa de azeite

0,5kg de arroz carolino do Baixo Mondego

Temperos da Lampreia:

4 dentes de alho

1 colher de sobremesa de pimentão-doce

1 colher de café de cravinho

1 raminho de salsa

2 folhas de louro

Sal q.b.

Preparação / Confeção

Depois de amanhada a lampreia, corta-se em pedaços (grossura de dois dedos). Colocam-se com os temperos num recipiente, deixando-a a marinar até 12 horas.

Para fazer o arroz, é necessário a cebola picada e o azeite, deixando-se refogar um pouco até esta ficar transparente. Acrescenta-se a lampreia temperada com um pouco da calda em que esteve a marinar e deixa-se cozinhar, mexendo de vez em quando. Acrescenta-se aos poucos o resto da calda até a lampreia ficar cozida. Após verificar a sua cozedura, retiram-se os pedaços da lampreia para um prato.

Adiciona-se um pouco mais de água no tacho (a necessária para que resulte num arroz solto) e deixa-se levantar fervura. Coloca-se o arroz e deixa-se ferver, retificando os temperos. Quando o arroz estiver quase cozido borrifa-se com um pouco de vinagre.

Retira-se do lume e está pronta a comer.

 


BARCAÇA_MAIO

  Para garantir a redução do expediente extenuante, os trabalhadores da cidade de Chicago organizaram uma greve para o  1º de maio  de 1886....