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sexta-feira, setembro 30

BARCAÇA - Nº24

  



O mundo e os seus erros e as nossas vinganças, ao ligar a televisão ficamos assustados porque a dois metros de distância os canais de televisão dão-nos uma mostra do mundo em mudança, seja pelo furacão IAN na Flórida, pela Guerra na Ucrânia ou mesmo pelos debates parlamentares que nos deixam a beira de um ataque de nervos.

Cinquenta e três anos depois ainda andamos a falar da localização do novo aeroporto. Foi Marcelo Caetano que em 1969 cria Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL) está em “banho-maria” até aos dias de hoje.

Mas o mundo vai girando e com ele seja os problemas climatéricos com furacões a devastar terras da Flórida e uma Guerra que tarda em parar na Ucrânia está a deixar os Europeus e não só em crise profunda. Os bens de primeira necessidade a subir em flecha, os juros idem aspas, e ainda a procissão vai no adro, porque dos lados da Rússia Putin avisa que pode usar bombas nucleares.

Mas nós por cá tivemos uma entrada de um novo colaborador Luís Miguel Carvalho que mensalmente nos vai dar algumas dicas sobre a sua forma de olharmos o desporto. Já Mário Silva numa primeira parte fala-nos da nossa colectividade que recentemente comemorou o seu 130º aniversário. Associação Filarmónica 25 de Setembro.

No Concelho da Figueira da Foz, Fernando Curado fala-nos da importância que teve Bissaya Barreto.

Com um Olhar muito próprio Carla Henriques leva-nos numa abordagem “O amor é gratuito ou não é amor”

Por terras de Tentúgal chega-nos mais um conto do nosso amigo José Craveiro sempre mordaz na sua tão peculiar abordagem.

Repórter Mabor e o seu verde que se mistura com o vermelho os seus dois clubes do coração. Mas escreve-nos as suas preocupações sobre o desporto da sua terra…” será que o passo não é maior que a perna?”

Já na poesia como sempre com as suas próprias formas de escrever, Garça Real falam-nos do Outono, Isabel Capinha das formas de falar, Mara Kopke um soneto Na Estrada e finalizamos com Isabel Tavares (SE) lágrimas mescladas com sorrisos, horas amargas com horas felizes…

Na opinião Política Carolina/Francisco/Vitor abordando temas comuns como a Feira de Ano apresentam a sua própria forma de olhar para este evento. Fazem também uma passagem em problemas da abertura do ano letivo e a chegada do Outono. Vitor leva-nos ao despertar dos concelhos que eram vistos como menores, seja pela Figueira da Foz como de Coimbra e a um problema que persiste em desaparecer os vendedores de festas e festarolas a um caciquismo predominante nestas regiões.

Hoje trago-vos na música Georges Moustaki desaparecido em Maio de 2013 com “Le Métèque”

"Hoje eu lembro de mais uma música...

Quando morreu o poeta

Quando morreu o poeta

Todos os amigos dele

Todos os amigos dele

Todos os seus amigos estavam chorando"

Já a nossa livraria escolhi as Aventuras de Tom Sawyer um clássico.

 

Desejo a todos um Bom Outono.

Foi um mês fértil em festas e festarolas nos concelhos tanto da Figueira da Foz como de Montemor-o-velho.

O “Povo saiu à Rua”

É dentro de cada um que existe o que demais bonito se pode encontrar, a solidariedade, facto inegável dos Portugueses. Percorrendo estas terras bafejadas de gente que comemorava os seus santos, os seus clubes a sua associação por momentos esquecíamos que estava a decorrer uma guerra injusta, mas mais do que isso, que estávamos a sentir no bolso a perca do poder de compra.


Perguntar-me-ão não foi para isso que demos uma maioria absoluta? Para que tratasse do seu Povo, mas ao invés verificamos aumentos de mais taxas e taxinhas e aqui ou ali um rebuçado que lá para 2023 os pensionistas irão descobrir a antecipação de 50% e para os que vão receber 125 euros as implicações que daí advenham na subida de escalão do IRS, tudo isso e mais algumas migalhas pontuais que se apresentam de pompa e circunstância quando soubemos que o marido de uma ministra de uma assentada recebeu de fundos 200.000 mil euros.


Depois em rodapé ficamos a saber que os políticos e alguns juízes ao atingirem os 60 anos e que recebam a subvenção para qual nunca descontaram têm um aumento de 100%. Com a agravante da Ministra manter em segredo de estado a lista de todos os que recebem a subvenção. Afinal onde está o estado democrático que apregoam aos quatro ventos? Ou seja, estamos numa fase de uma maioria “quero posso e mando”


      As cigarras de malas aviadas partem para outros destinos deixando para trás as formigas que estes próximos nove meses darão o seu melhor para não fecharem portas.

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026, mas para o Associativismo nada? Mas ficamos a saber que um empresário (astronauta) acabou de desistir de 40 milhões por pressão de milhares de portugueses caso o não tivessem feito esse dinheiro teria voado para fora como é costume na distribuição.

Só para terem uma noção dos camiões de dinheiro que mais uma vez vêm aí, aqui fica o mapa.

Montante Pago: a Beneficiários Diretos e Finais do PRR.

A "bazuca" da União Europeia está a caminho de Portugal, mas no passado dos fundos comunitários revela um histórico de fraudes. Recorde os casos do Fundo Social Europeu.


Só para avivar entre 1986 e 2011, Portugal recebeu 80,9 mil milhões de euros em fundos estruturais e de coesão, o que corresponde a nove milhões de euros por dia injetados por Bruxelas no País. E quem mais lucrou foram as empresas do betão. E um cooperativismo que prolifera na roda da governação ávido de meter a mão ao pote.

Como no associativismo partidário, o que vemos, abertura a todo o gás de quadros superiores ocupados pela clientela do costume e quando o Cresap (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública) dá parecer desfavorável, cancela-se o concurso até novos ventos. 

Onde devíamos apostar? Qualidade dos serviços do Estado que andam pela hora da amargura, atrasos mais atrasos, serviço precário pago por todos nós.

Investimento na Educação, Saúde, Justiça só com estes três pilares fortes teremos um País capaz de enfrentar as crises.

Já o problema das PME continua a sua rota de viverem à base de subsídios e como de tempos em tempos vamos tendo conhecimento muitas delas aparecem por altura dos tão apetecíveis fundos europeus que de um dia para outro desaparecem levando consigo os milhares de euros.

Criar “empresas” ao minuto slogan muito apregoado em outros governos mantem-se até aos dias de hoje, mas a opacidade dos seus proprietários deixa muito a desejar. Seria importante tal como referi anteriormente sobre as subvenções que fossem divulgados os nomes também dos proprietários destas empresas para que ficasse transparente as suas candidaturas.

Como sabem os nomes vão sendo alterados, mas os donos mantem-se, basta ler um pouco do que se passou no BPN, BES o emaranhado de empresas de ocultação de ativos muitos deles para offshores.

Se, conseguíssemos munir as colectividades de meios capazes de se candidatarem, quem sabe teríamos um país melhor, mais justo, mais solidário e mais feliz. Porque contentam-se com pouco e com esse pouco fazem pequenos milagres.

Os Fundos Europeus que deveriam ajudar a conseguir dar o salto qualitativo nestes aspetos que referenciei pelo contrário vão parar a amigos dos amigos que por obra do espírito santo vem a sua conta bancária a engordar sem que para tal tenham feito alguma coisa.

     Há colectividades em pleno século XXI que não tem computador, rede de internet e as suas direções cumprindo o que está lavrado nos estatutos, aparecem com todos os cargos ocupados, mas sabemos que muitas delas só metade trabalham. Por isso vivem também momentos difíceis para arranjar quadros diretivos.

Se conseguirmos dar meios capazes de enfrentar o futuro a estas colectividades, veremos que com pouco fazem muito e toda a juventude e menos jovens ocupando os seus tempos livres em prol da sua saúde, do seu conhecimento e do seu divertimento seremos mais felizes. 

Por um Portugal melhor.


As crianças e os jovens precisam que lhes apresentemos o valor da solidariedade enquanto forma de combate ao ódio, que defendamos a liberdade como reduto da democracia e que lhes ensinemos o valor da educação no combate à desinformação. De resto, para se sejam felizes, realmente felizes, o mais importante é que as amemos.

Este foi um texto que li e com o qual me revi integralmente, se tudo o que está referido naquele texto for cumprido parece-me que vamos ter no nosso espaço (à beira Mondego plantado) uma melhor qualidade de vida das nossas crianças e jovens.

Juntando a isso, se as entidades, (Clubes e Associações, Escolas e Autarquia) principalmente estas, perceberem o potencial do desporto para a promoção de competências que permitam uma vida de sucesso e uma sociedade harmoniosa é realmente muito bom.

Contudo, é de questionar quais são e como se desenvolvem estas competências e o consequente impacto positivo através do desporto e, sobretudo, de que forma os agentes nos quais o treinador é fundamental, pode promovê-las de forma intencional no seu contexto de intervenção.

O impacto positivo do desporto depende, assim, da intenção com que os agentes que o promovem o utilizam, desenvolvem e operacionalizam, neste processo, o treinador é quem exerce o papel mais central, na medida em que é ele quem transmite o desporto enquanto prática, mas também promove as competências que lhe estão associadas.

Como alguém dizia “quem só sabe de futebol de futebol nada sabe”, aplicando-se ao desporto em geral quem perceber o desporto apenas com um fim e não um meio que desenvolve muito mais que o aspeto físico, técnico e tático do desporto praticado, está não um, mas vários passos à frente de todos os restantes.

A ver vamos como diz o ceguinho!!!


A Associação Filarmónica 25 de Setembro [Parte I]

As primeiras referências à existência de uma Filarmónica na vila de Montemor-o-Velho surgem nas Páscoas de 1860 e 1861 quando aquela, mediante o pagamento de 48 mil réis, foi atuar nas festas da Ressurreição, organizadas pela Santa Casa da Misericórdia desta vila. Mais tarde, a 5 de janeiro de 1862, encontramos a mesma Misericórdia a arrendar uma das suas casas ao “Mestre da Philarmonica desta villa”, de seu nome Agostinho Libório Alzamora, provavelmente de origem espanhola.


Extinta aquela, em data e por razões que desconhecemos, ficou latente a ideia da criação de uma nova Filarmónica, o que só se viria a concretizar em 1892 quando um grupo de “rapazes entusiastas”, na sua maioria pertencentes à Orquestra Montemorense, liderado pelo carismático e multifacetado Benedito Galvão da Silva Carvalho, decide pôr mãos à obra e convidar, por intermédio do industrial de sapataria Augusto “Bazôrra”, para regente desta Francisco Maria Simões de Carvalho, um jovem e brilhante amador de música, de 22 anos, que em abril deste ano chegara a esta vila para tomar posse do cargo de funcionário das Finanças. Após alguns dias de reflexão este aceitou reger gratuitamente a Filarmónica impondo, no entanto, um conjunto de condições severas a que todos, músicos e diretores, se acabariam por obrigar. Apesar das naturais dificuldades na obtenção de verbas para a compra do fardamento e do instrumental, e da necessária paciência e disciplina imposta aos músicos, no dia 25 de setembro de 1892, pela alvorada, os foguetes e as melodias arrebatadas ao instrumental ecoavam por toda a vila enchendo de alegria as almas e corações de todos os montemorenses.

Dois anos depois, a 1 de outubro de 1894, vê aprovados, por alvará do Governo Civil de Coimbra, os seus primeiros estatutos, os quais continham 30 artigos distribuídos por 7 capítulos, passando então a designar-se oficialmente de “Sociedade Musical 25 de Setembro”.

Constituída, na sua quase totalidade, por “operários” e funcionários públicos, esta Filarmónica atuava, fruto das dificuldades de transporte e deslocação da época, preferencialmente no concelho de Montemor-o-Velho e, ainda que de forma pontual, nos concelhos limítrofes.

Normalmente era requisitada para atuar não só em festividades religiosas que poderiam ir, entre muitas outras, do Senhor dos Passos à Semana Santa, passando pelos Santos Populares, mas também em funerais, inaugurações, saraus culturais, comemorações diversas, concursos de bandas (como o que aconteceu, por altura do S. João de 1898, na cidade da Figueira da Foz, e onde a participação desta Filarmónica foi de tal modo arrebatadora que permaneceu na memória dos montemorenses durante muitas décadas), concertos ao ar livre, espetáculos de carácter filantrópico, etc.


A COLÓNIA BALNEAR DA GALA, O PROF. BYSSAIA BARRETO E A FUGA DE HENRIQUE GALVÃO

Em 1947, a Comissão Municipal de Assistência lançou um desafio à Junta de Província da Beira Litoral: a criação de uma Colónia Balnear Infantil na Figueira da Foz, com capacidade para 500 crianças.

A Colónia Balnear foi aprovada pela Junta de Província e a sua construção foi iniciada em 1949, na Mata Florestal (Mata do Cabedelo), na Gala, em terreno cedido pelos Serviços Florestais.

Fernando Baeta Bissaya Barreto Rosa foi o grande impulsionador desta obra, quando idealizou construir uma Colónia Infantil destinada “sobretudo às crianças das massas trabalhadoras que, vivendo no campo ou na serra, necessitam da benfazeja acção climática da beira-mar.”


Foi inaugurada oficialmente em 24 de setembro de 1950, por Trigo de Negreiros, Ministro do Interior, pelo Prof. Bissaya Barreto, Presidente da Junta de Província da Beira Litoral, e por Álvaro Malafaia, Presidente da C.M. da Figueira da Foz.

Após a sua inauguração, a Colónia Balnear da Gala passou a receber anualmente cerca de 3000 crianças, divididas em turnos de 500, que integravam o estabelecimento durante 2 a 3 semanas ao longo dos meses de junho, julho, agosto, setembro e outubro, números que, em 1963, tinham já duplicado.


Bissaya Barreto estava certo de que as crianças podiam “trilhar o caminho da Saúde”, conhecendo outro ambiente “que não o ar impuro, a promiscuidade, a falta de asseio e de limpeza e de higiene em que viviam” e usufruindo das qualidades terapêuticas do Sol, “o maior dos médicos.”



O professor Bissaya Barreto tinha muita ligação à Figueira da Foz, onde operava no Hospital da Misericórdia e onde o Liceu Municipal tinha adotado o seu nome quando foi criado em 1932, designação que manteve até 1961 quando passou a Liceu Nacional. Foi também o grande mentor do Hospital Hélio-Marítimo da Gala, idealizado por si no início da década de 30 e inaugurado em 1971.

Bissaya Barreto nasceu em Castanheira de Pera em 29-10-1886 e faleceu em 16-9-1974 em Lisboa.

Aluno brilhante, formou-se em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra.

Republicano convicto, participou no grupo de Livre Pensamento (1904), na criação do Centro Republicano Académico, assinou o Manifesto Académico ao País dos estudantes revolucionários de Coimbra, lançou o jornal “Pátria” e aderiu à greve académica de 1907, integrando o grupo dos “intransigentes” quando era dirigente da Associação Académica e do Centro Republicano.

Recusou receber das mãos do rei o prémio que lhe foi atribuído por ser um dos melhores alunos da Universidade, e, em 1909, quando o combate entre republicanos e monárquicos se intensifica com as sociedades secretas, aderiu à Maçonaria, através da loja de iniciação de estudantes “A Revolta”, da qual fez parte até 1913.

Após a implantação da República foi eleito deputado à Constituinte (1911) e deputado na Assembleia Nacional (1912-1915) pelo Partido Evolucionista, liderado por António José de Almeida.

Em 1915 doutorou-se e iniciou a sua carreira como professor universitário na Faculdade de Medicina de Coimbra, a qual culminaria em 1956, ano em que se jubilou.

Seu pai foi Presidente da C.M. do Pedrógão e ele próprio foi Presidente da C.M. de Coimbra de 1922 a 1926.

Entre outras funções políticas, foi deputado à Assembleia Nacional Constituinte (1911), dirigente do Partido Republicano Evolucionista e depois da União Liberal Republicana.

Após o golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 aderiu à União Nacional, de que foi um destacado dirigente.

Bissaya-Barreto foi Presidente da Junta de Província da Beira Litoral e procurador à Câmara Corporativa. Impulsionou sanatórios, leprosarias, casas da criança, refúgios para idosos, institutos maternais, bairros económicos, campos de férias, colónias balneares, estando à frente da campanha de luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças mentais.

À sua iniciativa se devem os Sanatórios de Celas e dos Covões, atualmente Hospital Pediátrico de Coimbra e Hospital Geral, respetivamente, a Maternidade Bissaya Barreto, o Hospital Sobral Cid, o Hospital Psiquiátrico do Lorvão, o Hospital Rovisco Pais e o Hospital da Figueira da Foz.

Criou a Escola Normal Social e o Portugal dos Pequenitos, em Coimbra.

A 1 de Setembro de 1950 foi feito 59.º Sócio do Ginásio Clube Figueirense e a 29 de Outubro de 1956 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Benemerência.

Em 26 de Novembro de 1958 criou a Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra, com sede na casa onde viveu.

Desde 1963 foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Nesse ano, a 9 de maio, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

Após o 25 de Abril foi exonerado de todos os seus cargos, morrendo em Lisboa a 16 de Setembro de 1974.

Por testamento, doou todos os seus bens à Fundação Bissaya Barreto.

Bissaya Barreto foi membro de conselhos de administração de grandes indústrias que integraram, no início dos anos 70, os grupos financeiros portugueses.

Foi médico, professor universitário e benemérito, com fortes ligações a Salazar. Ajudou, contudo, alguns destacados antifascistas, entre os quais o Capitão Henrique Galvão, que terá auxiliado a fugir do Hospital de Santa Maria, em 1959, quando cumpria uma pena de prisão e se deslocou a este hospital.

Henrique Galvão foge e refugia-se na embaixada da Argentina. Depois exila-se na Venezuela. Foi durante este exílio que Henrique Galvão começou a preparar aquela que seria a sua ação mais espetacular: o desvio do paquete Santa Maria em 1961. Coordenou esta ação com Humberto Delgado, que estava exilado no Brasil.

Em 22 de Janeiro de 1961, algures no mar das Caraíbas, doze portugueses e onze espanhóis, comandados por Henrique Galvão, assaltaram o navio Santa Maria em que viajavam cerca de 1.000 pessoas, entre passageiros e tripulantes, e protagonizaram aquela que foi, muito provavelmente, a mais mediática das ações contra a ditadura de Salazar.

O capitão Henrique Galvão foi tradutor para português da biografia de Bissaya Barreto, da autoria de Pierre Goemaere, e colaborou no roteiro do filme Rumo à Vida: A Obra de Assistência na Beira Litoral.

Voltando à Colónia Balnear da Gala, onde foram felizes milhares de crianças, pobres, que aqui viram o mar pela primeira vez, recordamos a satisfação de quem por lá passou:

“De manhã, as filas indianas organizavam-se para sair intercaladas a caminho da praia, a calcorrear dunas, a subir e a descer por meandros, como cobras a serpentear na areia a olhar o mar, o entretimento passava por apanhar a caruma dos pinheiros que nós chamamos munha e fazer espinhas…. Adorava o jogo do prego na areia molhada, pior mesmo o ritual do mergulho com o banheiro, o medo de que fiquei, ainda hoje não consigo mergulhar, boas lembranças do lanche à tardinha em que as mulheres demoravam em chegar armadas de cestas de verga à cabeça cobertas com panos brancos, traziam o lanche, nada mais do que quartos de pão de quilo com grossas fatias de marmelada da boa, vermelha. Muito gulosa a minha irmã ficava com a minha e eu com o pão dela.”

“Os Banhistas, de calças compridas e arregaçadas, punham-nos todos em fila. Pegavam em cada criança, uma a uma, pelo peito e pernas, e mergulhavam-nos por baixo de uma onda. Estava o banho de mar tomado...O pão com marmelada tinha um sabor especial na Praia da Gala. O que gostava menos era ter de ir para a cama (em beliche) ainda com o sol bastante alto. Saudades desses tempos.”

“Se houver paraíso no céu, este era o da terra. Com o nome de Colónia Balnear Dr. Oliveira Salazar. Por baixo dizia: “FAÇAMOS FELIZES AS CRIANÇAS DA NOSSA TERRA”. Existia uma carrinha VW, tipo pão de forma, que fazia a manutenção daquela colónia. O diretor era o Sr. Marques e dava emprego a dezenas, se não centenas de pessoas, e tudo isto a custo zero. No que diz respeito a alimentação e alojamento era do melhor- HOTEL 10 ESTRELAS. Não tenho palavras para descrever o quanto aquela colónia era maravilhosa. Hoje recordo com muitas saudades os tempos que lá passei e de vez em quando vou lá fazer uma visita. Atualmente era impensável existir uma instituição desta categoria. Tenho dito. A.L.”

A Colónia Balnear recebia crianças de ambos os sexos, dos 5 aos 14 anos de idade, de 10 de junho a 30 de outubro. A admissão era autorizada superiormente e poderia ser solicitada por qualquer entidade oficial ou particular, pelos pais ou por qualquer pessoa que se responsabilizasse pelo pagamento das despesas. A administração estava a cargo de um secretário e de uma regente.

A Colónia Balnear da Gala já não existe e no seu local foi construída uma obra excecional, o Centro Geriátrico Luís Viegas Nascimento, pertença da Fundação Bissaya Barreto, que foi inaugurado em 2005 e tem capacidade para 77 residentes.

 

O meu olhar sobre o AMOR…

 

Em tempos, ao ver uma série na Netflix - “Histórias de uma Geração com o Papa Francisco “, ouvi a seguinte frase, que guardei na minha memória, “O amor é gratuito ou não é amor”.

Não sou escritora. Gosto de escrever, na maioria das vezes, pequenos textos, lamechas que nunca chegam a ver a luz do dia. Hoje o meu olhar vai para este sentimento que denominamos Amor. Um sentimento tão falado, mas do qual pouco ou nada conhecemos. É e será, sempre, um sentimento desconhecido. Talvez por se ter vulgarizado tanto. Talvez por acharmos que, qualquer “sentimentozinho”, é amor.

Durante toda a nossa experiência na terra, sentimos e vivemos variados amores. Amor de filha, mãe, pai, namorada, mulher, neta, irmã, amiga. E cada Amor que experienciamos, ao longo da nossa curta vida, é tão único e tão diferente, do anterior. Mas estou certa de que, não teremos dúvidas, toda a nossa vida se resume ao amor. Ao amor por nós. Pelo próximo. Pela vida.

O amor é aquele sentimento, tão bonito quanto estúpido, tão gracioso quanto ridículo, tão altruísta quanto maléfico, que passamos a vida a desejar sentir, mas do qual, depois, tudo o que queremos é fugir. Porque nunca soubemos nem havemos de saber lidar com ele.

O amor faz-nos flutuar quando tudo corre como queremos e desejamos. Quando tudo está bem. Faz-nos andar com a cabeça nas nuvens, faz-nos rodopiar, dançar à chuva, rir sem parar, acreditar num mundo cor-de-rosa. Mas deixa-nos, literalmente, na “merda” e faz-nos querer chorar e desaparecer quando, não tendo o que queremos, tudo corre mal. O amor deixa-nos vulneráveis. Sensíveis. Melancólicos.

 


Mas o amor, para ser amor, só pode ser gratuito.

 

Um amor que não cobra nem pede nada em troca.

 

Que não implora. Não prende. 

 

Encarar o amor como algo positivo, gratuito, que não exige permite-nos viver de uma forma mais leve e despreocupada. Permite-nos encarar a vida de outra forma e sorrir.

 

É o silêncio no meio do ruído. A paz na guerra. É o ser em vez do ter.

 

Encarar o amor como aquele sentimento sobrenatural, ao alcance de poucos, faz-nos sentir vivos e

felizes. Porque, este, o amor gratuito não carece de nada. É bonito. Leve. Simples. Por si, só!

 

Dizia o Papa Francisco que “O amor é gratuito ou não é amor”, acredito piamente nisto. Como

podemos amar e exigir?

 

Como podemos amar e prender?

 

Como podemos amar e não respeitar?

 

Certo que o amor se manifesta em cada um de maneira diferente, com tonalidades, sons e cheiros diferentes, mas há algo comum o amor, quando verdadeiro, jamais pode cobrar.

 

O amor, aquele sentimento verdadeiro, não exige.

 

Não força,

 

Não questiona.

 

Escrever sobre amor é escrever sobre saudade, intimidade, cumplicidade, esperança.

 

É escrever sobre brilho nos olhos.

 

Escrever sobre amor é escrever sobre loucura e afeição.

 

Sobre paz, calma e afeto.

 

Força, coragem e emoção.

 

Escrever sobre amor é escrever sobre um sentimento tão profundo e raro. É escrever sobre o sentimento mais bonito da vida.

Mas escrever sobre amor, o verdadeiro, também é saber que só pode ser amor quando gratuito!


 Andava uma companhia de comediantes, marido, mulher e filhos, por esse mundo fora e ora aqui ora ali paravam para fazer o seu espetáculo e assim angariar algum dinheiro para as suas necessidades do dia a dia.

 Um dia chegaram a uma zona do sul do país e logo o marido disse à mulher que estava a ver um lavrador a guardar fardos de palha e por isso fosse num instante pedir que lhe desse dois gatinhos de palha para o cavalo.

 Não vou. Não vou e pronto. Homens com homens e mulheres com mulheres. Vai lá tu e é se queres. Vou fazer a ceia que está tudo com fome. São os cachopos, é o cavalo, o cão e mais o raio que vos parta. Andar, andar...

 O marido pegou num pau e com ar ameaçador disse que ou ela ia a bem ou ia a mal.

 Aí é assim? Então lá vou e vamos ver o que vai dar ...

 Chegou junto do dono da palha e pediu que lhe desse dois fardos de palha pois o cavalo estava a morrer de fome.

 Isso é que era bom! Para ajudar a guardar a palha não apareceu ninguém, mas para a consumir já aparece alguém. Fora daqui. Cambada. Não queria mais nada.

 Ó, meu rico senhor, se não me der a palha morre o cavalo com fome.

 Olhe há mais animais com fome. Se entrar na casa palha um bocado mais eu ainda lhe dou um fardo de palha. É pegar ou largar.

 Então pelos dois ainda vou…, senão nada feito.

 É um ou nada. Toca a andar.

 Pronto, pronto, vamos a isso.

 E passado um bocado lá vai ela com um fardo a cabeça e ao vê- lá chegar só com um fardo diz o marido que só um é pouco

 É pouco, diz ela. Sabes quanto me custou que me desse ao menos este. Queres mais vai lá tu.

E é que vou mesmo.

 E lá vai ele. Ao chegar diz ao lavrador que não sai dali sem mais um fardo pois o cavalo está cheio de fome.

 Cá, zangado, o lavrador pega num pau e fazendo-lhe sangue na cabeça com uma paulada certeira empurra- o para que se vá embora.

 Ao chegar ao pé da mulher ela aperta as mãos na cabeça e chorando diz:

 Desgraçado. Não tens sorte nenhuma. Inda agora te pus os cornos e já te partiram um. 

A fome não tem lei, e disto mais não sei.



REPÓRTER MABOR

Porque me sinto igual a centenas de sócios e adeptos do A.C.M., a cada um o seu tempo de afeição ao clube. para alguns entre nós, desde o Terreiro Queimado e depois na Dr. José Galvão, depois ainda numa rua na encosta do castelo, há que repor memórias desde 1953 /14, do século passado, chegando a velho com um cardápio de boas recordações, embora migrar nas aventuras tenha sido o meu destino.

Se não me rendo e nem me calo sobre a terra que se colou aos sapatos, a participação do A.C. M. no Campeonato da 1º Divisão, A.F.C. me tenha causado alguma preocupação na sua sustentabilidade, financeira, resta-me esperar pelo êxito desportivo numa Divisão A.F.C. que bem conheceu durante vários anos no tempo das vacas gordas, em que os patrocinadores surgiram com relativa facilidade no apoio ao A.C-M.

Analise e preocupação da minha parte não se justifica menos compreensão pelo trabalho dos atuais dirigentes e atletas, não é por aí o meu desatino, até porque o passado histórico do clube, potencia esse glorioso gabarito competitivo naquela Divisão A.F.C.

Porém, o pior no encerrar de contas, é saber se há trocos para comprar os melões numa competição e organização já de custos elevados e com bilheteiras, onde se vão fazer contas a uns trocos modestos, face aos encargos do A.C.M. nesta Divisão, que se iniciou da melhor maneira, ao vencer por 4/5 golos, o Cova Gala, no campo do Cabedelo.

Para finalizar e não me julgarem "desertor" nos valores Institucionais do nosso glorioso A.C.M, os Águias, São Silvestre, Montemorense, Vinha da Rainha, Febres, Sepins, Sanjoanense, Ala Arriba, Pereira, Cova Gala, Touring 1970 e Ribeirense, fazem Parte da Série B da A.F.C. 

    


Setembro chegou risonho …

Dias claros de luz,

sol, calor … céu azul…

Parece verão,

ainda é verão…

Porém, há no entardecer

uma tristeza vaga …

um não sei quê

que esmaga e dói…

uma melancolia

que escurece a alma,

invadindo-a de sombras

e perplexidades …

anunciando o outono

que não quero,

antecipando a queda

das folhas submissas

que desistem da vida …

A ARTE DE COMUNICAR

Com palavras ou sem palavras…

A arte de comunicar

Me leva a pensar que

a palavra faz falta,

como uma pauta para dar beleza ao som!

Pode a forma da linguagem ser um olhar de passagem

que se traduz num tanto querer dizer….

Ah…o sussurrar da fala

enquanto minha voz cala

neste silêncio que acalma

me diz “aquieta a tua voz”

e recolhida, a sós, escuta o som da tua alma!

Na Estrada


Afasto-me para assim ver melhor
E ter uma nova perspetiva
Um hiato dá-nos, não a morte,
Mas renova toda a nossa vida!

Quando no dia a dia abafamos
Aqueles nossos pressentimentos,
Então, reduzimos a quase nada
Rumo reto dos nossos pensamentos

A vida precisa de paragem
E, tal como vemos na autoestrada,
De portagem, sinal de proibido…

De revisão, pontos de viragem
Vão-se ideais na vida apressada…
Paro! E sei o que é permitido!

SE…

 

Se eu não conhecesse as lágrimas,

Não conheceria tantos sorrisos,

Se não conhecesse horas amargas.

Desconheceria horas felizes!…

 

Se eu não soubesse o que é a dor,

Não saberia o que é a felicidade…

Nem saberia que um grande amor,

Vai para lá da eternidade!…

 

Se eu não conhecesse os espinhos,

Que fazem parte das rosas,

Eu não saberia que a vida…

Tem horas tão grandiosas!

 

Se eu não soubesse um pouco,

De tudo o que a vida tem…

Acharia este mundo louco,

Que não faz feliz, ninguém!...

 

Mas eu já fui tão feliz!

Já senti tanta emoção…

Que não trocava por nada,

Tudo aquilo que já senti…

 

Nem lágrimas, nem desenganos,

Nem cicatrizes, nem dores,

Nem traições, nem desamores!

Nada troco nesta vida, de tudo que já vivi!...

 

Se eu não conhecesse os espinhos,

Que fazem parte das rosas,

Eu não saberia que a vida…

Tem horas tão grandiosas!

 

AUTORIA: ISABEL TAVARES 10-07-2020

(© Todos os Direitos de Autor Reservados)

Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos - Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março - Diário da República n.º 61, Série I, de 14.03.1985 


Setembro, o mês da Feira do Ano, do início do Ano Lectivo e da chegada do Outono. 

 

Feira do Ano: 

Foi uma Feira de Ano bonita, com espetáculos de gabarito nacional. Uma boa programação, diversificada e abrangente a todos. Lamento que se aposte “tudo” neste evento e que depois, durante o resto do ano, a programação cultural seja praticamente inexistente - deve-se certamente à inexistência de um espaço próprio dedicado e de ausência de políticas fortes a nível da cultura do município. 


Não só a programação, mas também o espaço estava diversificado e adequado a todos - as crianças tinham um espaço próprio bonito, bem organizado e adequado.

Já a parte não vedada, também ela considerada espaço da Feira do Ano, achámos estar pouco organizada, com espaços à frente uns dos outros, muito pouco pertencente à festa em si, à Feira do Ano.

Em relação aos feirantes e à essência da Feira, julgamos que se estão a perder as suas raízes. A Feira do Ano era conhecida como Feira das Cebolas e da Roupa Velha ou dos Trapos. As cebolas ficaram renegadas para 3º plano, e a parte da roupa usada e das velharias não existiu. Os feirantes, habituais na Feira Quinzenal de Montemor, viram bastante condicionada a permanência no espaço:

Os feirantes não puderam trabalhar nos dois fins de semana da Feira do Ano, só estiveram de 5 a 8 setembro (que ainda por cima coincidiu com condições climatéricas pouco apetecíveis). O descontentamento dos feirantes é evidente e fica o receio de que no futuro a Feira do Ano seja cada vez mais dos stands e comes e bebes, perdendo a sua essência de Feira dos Feirantes e dos Montemorenses… 

 

Início do Ano Lectivo: 

Começou mais um ano lectivo. 


O nervosismo dos miúdos e dos Pais, o cheiro aos livros, as novas rotinas… Toda uma azáfama que, esperamos, corra bem! 

Há várias questões de fundo que devem ser pensadas, programadas, melhoradas: os casos sociais ou desfavoráveis; os edifícios escolares; os transportes escolares; a oferta das actividades curriculares, extracurriculares e extraescola; a Associação de Pais. 

Espero que 

Não só o município (sobretudo agora que lhe foram atribuídas mais responsabilidades), mas os Pais e a sociedade devem estar atentas e reunir todos os esforços para que as crianças e jovens sejam felizes, se sintam seguras e apoiadas e tirem o maior proveito possível do seu percurso académico. 

 

O Outono: 

O Outono chegou. 


As folhas vão cair, a chuva vai chegar. 

Espero que o município esteja alerta e preparado para estas alterações climatéricas sazonais, e que às primeiras chuvas não estejam valetas inundadas e estradas feitas de lagos. 

Feira sem Feira

 

Ao fim de dois anos de pandemia voltámos a ter a festa anual de Montemor-o-Velho nos moldes habituais, a Feira do Ano.

É verdade que já todos ansiávamos pelo regresso da nossa mítica festa concelhia cheia de “show-off” como este executivo nos tem acostumado. Mas acima de tudo esta é uma festa de família, amigos e pessoas com ligações a Montemor que aproveitam estas ocasiões para “matar saudades” de pessoas que só se encontram neste certame.

No entanto este executivo não nos deixa de nos surpreender. E este ano não podia fugir à regra.

Se bem me recordo, desde que sou gente, que a Feira do Ano para além das habituais tasquinhas, bares e espetáculos que encontramos em todas os certames a nível nacional, distinguia-se das restantes festas pela quantidade de feirantes e artesãos que nesta altura do ano se encontravam espalhados na envolvente de toda a Feira do Ano.


Não sei se estes feirantes e artesãos fazem confusão a algumas pessoas, ou se essas mesmas pessoas, que hoje dirigem os destinos do concelho de Montemor-o-Velho têm noção do conceito da Feira do Ano.

Por isso, este ano, toda a população de Montemor ficou estupefacta com o facto de, ao contrário do que era habitual, não existirem feirantes e artesãos durante o período em que decorreu todo o certame.

Estes apenas foram autorizados a ficar na festa durante dois dias. Para além disso esses dias não abrangeram nenhum fim-de-semana não permitindo que ao menos usufruíssem do período em que mais pessoas se deslocavam à festa.

Mas infelizmente nada disto nos surpreende. Isto porque esta lógica que este executivo camarário tem de afastar os feirantes do concelho de Montemor já se arrasta algum tempo. Já na habitual feira quinzenal se verifica que cada vez são menos os feirantes que participam por falta de condições.

Não sei como será o futuro de Montemor e o quotidiano das suas gentes. Mas uma coisa tenho a certeza. Nenhum concelho evolui e se projeta no futuro se o tentarem descaraterizar e descontextualizar do seu passado e da sua história.

E a perceção que este executivo nos dá é que a cada ano, a cada mês e a cada dia que passa querem acabar com as tradições e os costumes do concelho de Montemor. Querem acabar com aquilo que dá alma e o diferencia dos restantes concelhos.

Se não vejamos.

Começaram por acabar com o mercado de Montemor. Depois, em plena época pandémica, deixaram de apoiar os poucos comerciantes existentes no concelho. Agora atacam os feirantes e artesão.

Enfim, não sei qual é o objetivo disto tudo, mas o que sabemos é que este não é o caminho certo nem é o rumo que o nosso concelho precisa. 

Bloco de Esquerda

“Rentrée” sans sortir

 

Abriram-se e fecharam as portas do Verão. Políticos a banhos e todos quantos os que podemos em férias de ganhar coragem para o ‘novo ano’.

Tudo parecia bem encaminhado, com garantias de que a inflação que se começou a sentir a partir de janeiro era transitória e as festas da Primeiro-ministro finlandesa a garantir nas capas dos jornais que tudo estava bem aqui pelo sul da europa.

Tudo estava bem? Quase.... Afinal o nosso respeito pela vida privada dos atores políticos é sumo princípio. Não somos moralistas. Bem! Quer-se dizer... uma mulher não devia prestar-se a essas figuras! E aquele candidato à liderança do PSD ser homossexual? Não é coisa que se aceite nas redes sociais dos militantes do partido. Claro, não julgamos a vida privada desde que o problema seja com um político homem e o caso tenha a haver com mulheres ou álcool. Assim fica mais correto e, simultaneamente, bem mais longe do nosso afirmado respeito pelas opções da vida pessoal do outro ou da outra. Enfim... a fazer pensar.

Montemor-o-Velho engalanou-se para as suas Festas concelhias – Feira do ano e os partidos foram fazendo as suas ´rentrées` políticas nacionais. Se em Montemor-o-Velho o forte investimento na festa garantia à partida um sucesso do encontro popular, sempre eximiamente aproveitado para gerar dividendos políticos ao partido que governa a câmara municipal (PS-PSD), já a entrada em cena dos partidos nacionais mostrava que os problemas afinal estavam aí, emergentes, sem trégua nem descanso. Afinal, as férias pacificas do governo do país não tinham sido senão mais que um espetar de cabeça na areia durante um mês. Melhor dito: uma tentativa de espetar a cabeça na areia durante um mês!

Nem preciso foi chegar ao primeiro dos dias grandes e garantidamente soalheiros para ver cair da graça à desgraça a ministra da saúde. O caos na segurança social e o tornar-se óbvio de justiça das queixas a propósito da sobretaxa dos pensionistas da função pública tratou do resto obrigando todos a dizer que as propostas do Bloco de Esquerda para votar favoravelmente a Lei de orçamento de estado para 2022 eram absolutamente justas, inequívocas e imprescindíveis à coesão social e nacional. Pasme-se agora! A secretária de estado da administração interna foi pouco feliz e a partir daí foi ver esboroar. Os casos graves já assombram mais ministérios do que menos e a maioria absoluta revela-se hoje uma dor de cabeça nacional. Ora incompatibilidades, ora lobbies ou ora ausência de confiança do próprio PS. Pior ressaca de férias de verão era impossível.

António Costa foi obrigado a vir a campo mostrar os dotes. É implacável com os inimigos políticos e trucida-os como ninguém, mas a aura pessoal começa a perder força e o governo não oferece nenhuma garantia de capacidade de estruturação, reforma e democratização.

Nos entretantos o terceiro partido mais representado na Assembleia da República, o Chega! fez-se mostrar ao povo português como Bolsonarista e reforçado por uma moção de apoio interno ao líder Duque Dom André Ventura, que ajoelhado ao lado do descanso eterno d’El Rei Afonso Henriques se autoproclamou em Coimbra escolhido por Deus e Senhor de Portugal e só não saiu decapitado porque, como sabido, o Afonso desde a fratura na perna esquerda em Badajoz, ganhou mais em inteligência que em brutalidade. Já os deputados do Chega! vão noutra cavalgada em que cenas de pancadaria entre os seus deputados e os insultos em linguagens boçais a jovens funcionárias da Assembleia da República deviam encher de vergonha todos os crentes.

Certinho é que até ao momento, se António Costa calou o PSD ao mostrar a sua permeabilidade ao liberalismo – mesmo depois deste desastre dos aliados britânicos, que conseguiu ser criticado até por FMI e The Economist, pela descida de impostos aos ricos e grandes empresas, entretanto revertido em menos de 2 semanas – não consegue disfarçar a absoluta inoperância do governo e a ineficácia sempre associada a este acumular legislação prolixa, temporária e had-hoc.

Certinho é que neste caminho, além do mais que previsível colapso social e económico das franjas mais em baixo da sociedade, a classe média e os adultos jovens estão absolutamente no centro do furacão. Sem projeto político sério as consequências serão absolutamente desastrosas para a coesão social. E a descolagem dos ricos do resto social inevitável. Triste para o país que fica mais pobre.

Marcelo, o Rei acordado, tenta dizer isso agora entre bocejos. Talvez depois de achincalhado pelo populismo do Rei do Brasil Bolsonaro, percebeu o perigo para a democracia dos movimentos colados à Iniciativa liberal e dos neoliberais colados ao Chega! Será tarde?

Para o município de Montemor-o-Velho é sem dúvida tempo de arrepiar caminho.

A execução de ‘obra de estado’ merece tanta revisão, tanto quanto é sabido que o rendimento médio no concelho é apenas de 70% da média nacional e que neste contexto inflacionário e de depressão económica a resposta clássica do concelho é a saída de pessoas para Porto, Lisboa, Luxemburgo, França, Inglaterra e Suíça.

No INTERIOR  

Toda a minha vida foi sendo vivida a comprovar que não há territórios nem comunidades insolventes, apesar da localização, da dimensão ou de quaisquer outros epítetos que sirvam para os/as caraterizar! Trabalhei muitos anos no litoral centro, em pleno Vale do Mondego, onde a similitude com o que hoje se passa no INTERIOR era quase total, apenas porque a ênfase que era atribuída ao facto de estar localizado na periferia das cidades da Figueira da Foz e Coimbra, em vez de positiva era tida como negativa, uma verdadeira ameaça ao desenvolvimento dos concelhos rurais de Penacova, Soure, Condeixa,  Montemor-o-Velho, Cantanhede e Mira, facto que o tempo se encarregou de contrariar mercê das dinâmicas integradas que então foram postas no terreno.  

É claro que a localização é efetivamente um fator acrescido de dificuldade, mas não o único a determinar o sucesso ou insucesso de uma região, distrito, concelho ou freguesia, não sendo inclusive rara a observação de algumas exceções que contrariam a regra no interior ou litoral, no norte, centro, sul e ilhas. 

Podia tentar dissertar sobre isso, enunciar uns quantos exemplos e tentar captar a atenção para o objetivo deste escrito. Passe a imodéstia, a minha experiência e curriculum, postos ao serviço de causas concretas e da concetualização de modelos de intervenção, legitimar-me-iam a fazê-lo com a absoluta garantia da produção de efeitos benéficos e reais, designadamente, de quem mais precisaria. 

E não sendo minha intenção recorrer ao autoelogio fácil e astuto, direi que o INTERIOR, esse chavão, conceito… de que tanto se tem falado, especialmente após os incêndios do ano transato, merece ser discutido e redefinido, e devidamente interpretado, quem sabe começando pela famosa, célebre e sábia frase dita pelo primeiro-ministro António Costa, de “que o interior não é as costas do litoral!” 

De fato não devia ser, mas é: as costas, o rabo e a nuca!

O INTERIOR, por mais que o Presidente da República mergulhe nas praias fluviais, se desdobre em iniciativas e retóricas e o deseje genuinamente; o Primeiro Ministro e a restante classe política de Lisboa o apregoem; os autarcas de província o denunciem; os académicos dêem pareceres e os comentadores comentem, continua a ser desconhecido para a maior parte, de nada valendo, por comparação, recorrer à tese de que “a montanha é mais clara para o montanhês quando vista à distância”. Porque o problema é que “os montanheses” se deixaram contaminar pelos faustos de Lisboa, pelas férias na costa algarvia ou em paragens exóticas e paradisíacas e detestam o INTERIOR, salvo quando tem mesmo que ser para resgatar heranças, angariar votos e outras vantagens diversas. 

O outro problema é que a maior parte dos que ainda residem ou resistem no INTERIOR, salvo distintas e honrosas exceções, são precisamente os que nem sequer foram capazes e competentes para partir. Bom, mais uns tantos românticos, poetas, excêntricos e solitários. 

Viver ou permanecer ocasionalmente no INTERIOR até pode ser bucólico e terapêutico: trabalhar em profissões liberais ou atividades bem remuneradas da administração pública e privada; ter tido a sorte de herdar ou adquirir grandes propriedades com rendimentos garantidos, juntando o útil ao agradável, bailando entre o litoral e o interior e beneficiando do melhor de dois mundos, quem não gostaria...  

Contudo, trabalhar por conta de outrem em empregos precários e de fraco estatuto social; ter o seu próprio negócio ou atividade agrícola de reduzida dimensão; ser idoso em situação de isolamento ou dependência institucional; jovem com poucos recursos familiares, impossibilitado de aceder a ofertas educativas e formativas adequadas e eficazes; não ter bons serviços de saúde de proximidade; de justiça; finanças, redes sociais e de solidariedade merecedoras desse nome, comércio justo e fornecimento de serviços competentes e economicamente acessíveis;  pode tornar-se um pesadelo impossível de suportar. 

No Interior é tudo muitíssimo mais caro que no litoral, exceto as remunerações do trabalho indiscriminado por conta de outrem. Os combustíveis são ao preço das autoestradas. Só para dar um exemplo, em Nisa o gasóleo agrícola custa mais 22 cêntimos que em Montemor-o-Velho, o normal e a gasolina são tabelados pelos preços da estação de serviço da A23 de Vila Velha de Ródão. Os supermercados cobram mais 30 a 40% do que os da mesma rede localizados no litoral. Os trabalhadores especializados (mecânicos, eletricistas, canalizadores, carpinteiros, entre outros), não existem ou são caros e não passam faturas. Os pequenos comércios de materiais agrícolas e construção acompanham a tendência dos demais, praticando preços 30, 40 ou 50% mais caros que no litoral. Os lagares fazem jus à fama e têm sempre mais de um ladrão. Boa parte da economia é informal e quem paga tudo isso é quem menos pode, pois não tem autonomia para se deslocar e aceder à oferta das cidades capitais de distrito.  

Os serviços públicos, que raramente têm chefias de acordo com o disposto, comportam-se como se não tivessem regras, fazendo valer a sua importância e aterrorizando os incautos. As forças de segurança passeiam-se como se fossem generais e são sempre muito fortes com os fracos. Os políticos são caciques e especialistas em adular os idosos, afinal de contas a esmagadora maioria dos eleitores que os elege a troco de uns almoços e jantares, umas excursões e actividades festivas e pouco mais, não permitindo que à sua volta floresçam quaisquer movimentos da sociedade civil e da economia social que não controlem a belo prazer.



Aujourd'hui je me souviens d'une autre chanson... Quand il est mort le poète Quand il est mort le poète Tous ses amis Tous ses amis Tous ses amis pleuraient Quand il est mort le poète Quand il est mort le poète Le monde entier Le monde entier Le monde entier pleurait On enterra son étoile On enterra son étoile Dans un grand champ Dans un grand champ Dans un grand champ de blé Et c'est pour ça que l'on trouve Et c'est pour ça que l'on trouve Dans ce grand champ Dans ce grand champ Dans ce grand champ des bleuets ♫

 



 

Artigo 24.º

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.


BARCAÇA_MAIO

  Para garantir a redução do expediente extenuante, os trabalhadores da cidade de Chicago organizaram uma greve para o  1º de maio  de 1886....