Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, abril 25

BARCAÇA_16

 


A edição especial do “Jornal de Notícias” e as edições dos jornais “O Comércio do Porto” e “O Primeiro de Janeiro”, no dia 26 de abril de 1974.
FONTE: Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra

“Há muitos, muitos anos, num país muito distante vivia um povo infeliz e solitário, vergado sob o peso de uma misteriosa tristeza.” Assim se inicia o livro de Manuel António Pina, O tesouro, com desenhos de Pedro Proença, publicado por Assírio e Alvim. Neste livro conta também que nesse país, pessoas tristes “falavam baixo, como se alguma coisa, um segredo terrível, as amedrontasse”. Se os vossos filhos o lerem ficarão a saber que “os meninos do País das Pessoas Tristes não podiam ouvir as músicas, nem ver os filmes, nem ler os livros e as revistas de que gostavam, mas só as músicas, os filmes e os livros que não eram proibidos. Nem sequer podiam beber Coca-Cola, porque a Coca-Cola também era (ninguém sabia porquê) proibida!” E, ficarão a saber que “As raparigas e os rapazes não podiam conversar e conviver uns com os outros e tinham de andar em escolas separadas (...) e os rapazes, quando cresciam, eram mandados para horríveis guerras em países longínquos (...) e muitos deles morriam lá ou regressavam loucos ou estropiados”. E que tudo isto acontecia devido à perda de um enorme tesouro: a liberdade! As pessoas desse país tinham-na perdido, tinha-lhes sido roubada e precisavam de a recuperar. Então, um dia, foram para a rua e com alegria, união e cravos conseguiram recuperar esse enorme tesouro. No entanto é preciso refletir que este grande bem não está seguro, nunca estará e que os guardiões dessa liberdade já nem se lembram do que é viver sem ela e, portanto, não lhe dão o devido valor.

Os democratas de hoje não tiveram que lutar por esta democracia e não a sentem como sua. Muitas vezes, ela é tratada como uma velha tia incómoda e néscia com quem ninguém quer passar as épocas festivas, quanto mais viver as rotinas do dia-a-dia. Por isso, deixam que aqueles que não são do seu sangue, que não possuem o seu ADN, a insultem e a maltratem, como se fosse o facto de haver corrupção, más escolhas e desigualdades culpa sua. Como se tudo se resolvesse se os direitos adquiridos em Abril de 1974, fossem suspensos ou postos “entre aspas”, pelo menos para aqueles que são incómodos e que ficam mal na fotografia.

Este é o primeiro 25 de abril em que vivemos há mais tempo em democracia do que em ditadura e este facto deve ser celebrado. Por isso, não podemos esquecer que ao contrário da ditadura, a democracia é um regime que tem que constantemente se reinventar. Pois o respeito por todos, o diálogo e os projetos humanistas e humanos não são fáceis de se implementar, não são perfeitos e podem ser sempre melhorados com a participação ativa e livre. Desengane-se aquele que pensa que abdicando dos valores de Abril se pode atingir mais facilmente a terra do mel e da justiça. Na verdade, os totalitários e totalistas pedem tudo, pedem toda a nossa confiança e a consequente entrega do poder decisório, em troca de promessa de que resolverão todos os problemas pensando por todos nós. Desde que possamos aprender com a história, esse não é o caminho.

Na verdade, a democracia, herdeira da liberdade política, por si só não resolve tudo, mas é razão necessária, embora não suficiente, para que os direitos sejam reconhecidos de forma igual e aplicados com uma lógica equitativa. Em que o facto de se poder dizer o que se pensa e denunciar o que está errado é um forte dissuasor, embora insuficiente, para a corrupção e para a incompetência. Vivemos numa democracia imperfeita, é certo, por isso trabalhemos para a melhorar, para a fortalecer, para a tornar mais justa, mais abrangente.

25 de Abril Sempre!

Com o vinte cinco de abril, abriram-se as portas que durante anos estiveram fechadas a muitas manifestações sejam de caracter político, desportivo, cultural ou mesmo individual e com o aparecimento da nova democracia proliferaram duma forma nunca vista.

O facto de nos podermos reunir sem restrições, de analisar e intervir de criticar ou ser criticado nasce com 25 de Abril que durante mais de 48 anos nos esteve vedado.

Mas como tudo na vida não se nasce perfeito e hoje ao ultrapassarmos a marca de estarmos mais anos em democracia do que em ditadura ainda há muito por fazer.

Mas como eram os dias antes do 25 de Abril?

As tertúlias em casa dos meus pais, com casais amigos eram frequentes, a sala ficava aconchegada os homens discutam assuntos dos (políticos) e as senhoras aproveitavam para colocar as conversas em dia pelo meio de uma cigarrada que nesse tempo só em casa, já que a entrada nos cafés estava vedada ou seja não era bem vista a não ser nos salões de chá onde a (nata) da cidade se reunia para saborear um doce e claro conversar. 

Como era o Associativismo nesse tempo?

Naquele tempo, deram duas opções ao meu pai, ou colocava-me na Mocidade Portuguesa ou teria de ir para os escuteiros esta última foi a escolhida. Muito ligada à igreja, que em 1972 recebi do bispo de Lamego o meu primeiro lenço.

Viria a encontrar novamente em terras transmontanas já depois do 25 de Abril, o Dom Rafael como bispo da cidade de Bragança.

É com o 25 de Abril que surgem não só muitos partidos como muitas coletividades de uma forma rápida. Era a sede de podermos falar, organizar e apareceram para todos os gostos.

Passados quase 50 anos desse grande dia, estamos novamente em crise, mas desta vez não porque não nos deixem falar, mas sim porque a crise financeira, a pandemia a guerra as grandes diferenças salariais a falta de saúde uma educação desigual aliada ao grande salto tecnológico deixam o associativismo de fora, há que se reinventar, modernizar e conseguir chamar a si a juventude. 

Ontem.

- Estávamos nos anos 60 meu pai e mãe trabalhavam no Hospital Psiquiátrico do Lorvão e existia um bar de apoio aos funcionários onde nos reuníamos aos fins de semana e claro ver televisão das poucas da aldeia e mais uma ou outra diversão como o Bingo a rebuçados. Mas logo que Marcelo Caetano aparecia nas Conversas de Família todos paravam de falar para ouvir, viravam-se para televisão e no final como ato obrigatório todos batiam palmas, mais tarde vim a saber que era pela presença da Pide que a todos vigiava. 

Momentos.

Mas onde estava eu quando se deu o 25 de Abril?

Em terras nortenhas bem mais perto de Espanha do que da capital do Norte (Porto). Onde a RTP 1 chegava com soluções e a RTP 2 em dias de sol. Bragança entre vales onde os invernos são rigorosos e os verões de escaldar por isso o mote (três de Inverno e nove de Inferno).

Era uma manhã que tinha tudo para ser igual a tantas outras, tomar o pequeno-almoço, agarrar nos livros na bicicleta e preparar para fazer a subida até ao Liceu que lá do alto junto ao BC3 contemplava a cidade de Bragança.

Na subida da então Rua B hoje Adrião Amado uma senhora nossa vizinha que tinha o seu marido a trabalhar na capital, gritava com todo o folgo que o seu pulmão lhe deixava “ai meu deus, lá em Lisboa rios de sangue” fiquei ali um pouco para entender o que se passava, pois telemóveis ainda não tinha chegado e os telefones eram controlados pelos CTT em sistemas de bananas por senhoras que (sim CTT em que posso ser útil). Nesse tempo em Bragança três dígitos chegavam para percorrer todos os números da cidade, telefone preto de disco de 0 a 9 e como sabemos hoje sempre controlados por alguém que tudo ouvia do outro lado.

Depois de alguns momentos a esperar que a senhora conseguisse respirar e divulgar a preciosa informação lá fiquei a saber que algo se passava na Capital com Militares a tentarem derrubar o Governo. Estava em Marcha o 25 de Abril, se a televisão era fraca e os telefones muito débeis nesses dias ficamos sem ambos.

E ainda hoje tenho a ideia de que o 25 de Abril só chegou no dia 26 de abril a Bragança.

Passados tantos anos, quando estamos já nas festividades para comemoração dos 50 anos de abril, julgo que os Brigantinos ainda se sentem marginalizados.

Hoje.

Um Serviço Nacional de Saúde muito débil, uma educação muito aquém do que sonhamos, duma justiça nada igualitária e trabalho nivelado por baixo, são fatores que ainda afligem muitos de nós.

Poderíamos culpar todos menos nós mesmos, mas não é assim, nós através duma das conquistas de Abril o direito ao voto podemos e devemos estar mais atentos, foram-se instalando no “sistema” famílias que entre elas se organizaram e a taxa de abstenção sobe em flecha, ao não irem votar e as sondagens indica-nos esse perigo, eles organizados com as suas máquinas partidárias vão mantendo o acesso facilitado a empregos nas chefias do estado, empresas controladas pelo mesmo e muitos lugares por nomeação que ao longo dos anos foram criados e que um tal “CRESAP” existe para “inglês ver”.

O que precisamos?

Que os mais velhos consigam incutir nos mais novos o saber viver em comunidade e o passar de valores de cidadania de forma que os vindouros consigam levar a bom porto os interesses da Coletividade.

São por estes valores que devemos lutar para que os nossos filhos consigam partilhar alegrias e tristezas, mas que se tornem maduros e mais sociáveis e porque não dizer integrados no seio onde residem.

Disfrutar uma vitória no seu clube ou juntar forças e animo nas derrotas decerto que vai fortalecer a nossa postura para momentos mais difíceis seja escolar ou profissional.

É esta partilha de conhecimentos de cidadania que o estado muitas das vezes se esquece de ajudar. Para que a nossa rua, o nosso bairro ou a nossa aldeia/vila ou cidade algo único que nos faça sentir uteis nesta sociedade que desejamos construir.

Ter amigos não é coisa fácil, saber o sentido da partilha e não da exclusividade porque no nosso bairro há decerto muitas diferenças sociais e aproximar e conseguir conviver com essas diferenças é uma vitória.

Hoje ouvimos constantemente os políticos a dizer daí à política o que é da política e à justiça o que é da justiça, mas é aqui mesmo o cerne da questão, porque se metem com todos e não desejam que outros se metam com eles.

Vejamos o que se passa na Assembleia da Républica, cada vez mais familiares seja nas bancadas como na orgânica do Governo e na sua infame máquina de gabinetes. Preguntamos o porquê desta situação, está nos genes dos políticos muito ligados ao conceito “La Famiglia”.

As organizações/associações/clubes serão bem mais fortes se deixarem de se identificar com os partidos não é que não sejam necessários, devem caminhar lado a lado e não infiltrados.

Está demonstrado que quando assim funcionam respira-se liberdade, não devem ser o trampolim para outras causas que não seja as que os estatutos defendem.

A força do 25 de Abril foi abrir-nos portas para que pudéssemos organizar seja como Homens, associações, clubes e dar voz a quem não a tinha. Mas hoje vivendo em democracia verificamos que essa voz tende a calar-se por diversos fatores e um deles é o emprego que estando agarrado ao Estado ou a instituições familiares dependentes desse estado, tendem em calar os seus funcionários mais rebeldes com o despedimento ou subida na hierarquia.

Quem sabe se vamos dar a volta e tornar-nos elementos importantes da nossa sociedade.

Hoje é um desses dias que ouvimos na Assembleia da República a cantarem a Grândola Vila Morena será um sinal de esperança?

A última Verónica do Estado Novo [Montemor-o-Velho]

Depois de alguma reflexão, a minha opção para este número da Barcaça passou, mais do que abordar questões políticas, económicas ou sociais relacionadas com o 25 de Abril de 1974, por dar a conhecer aquela que foi a Verónica na última procissão do Senhor Passos realizada em pleno Estado Novo.

Então ainda com 14 anos de idade (completaria os 15, poucas semanas depois, a 26 de maio), Ana Cristina Couceiro da Silva Coelho foi a adolescente convidada para o sempre dificílimo papel de Verónica na procissão do Senhor Passos realizada, como sempre fora tradição, em Domingo de Ramos, que no ano de 1974 coincidiu com o dia 7 de abril.

Ao longo da procissão, a Ana Cristina foi sempre acompanhada por seu primo, António João Couceiro Mendes das Neves,

sendo que no final da mesma, já no Calvário, teve a seu lado Maria do Céu Grou (Maria Madalena), Luciana Barriga (Virgem Maria), António Luís Ferreira Davim (João Evangelista) e Maria Helena Oliveira (Anjo do Cálice), devidamente ensaiadas pelas irmãs Olívia Morais de Jesus e Hermínia Morais de Jesus.

No ano seguinte, já em plena vivência democrática, coube à jovem Maria Conceição Cavaleiro Raposeiro o privilégio de entoar “O vos omnes, qui transitis per viam, attendite et videte: Si est dolor similis sicut dolor meus” (“Ó vós todos, que passais pelo caminho, vede e considerai: Se há dor semelhante à minha”).

 

DESPERTAR PARA O DESPORTO

A opinião desportiva que mexe consigo!

No desfecho das celebrações do 25 de abril propõe-se uma reflexão sobre a aplicação da democracia no seio do desporto português, especialmente ao nível do futebol.

A importância do desporto na sociedade é vastamente citada e reconhecida por todos, quer na sua dimensão mais afetiva, quer pela dinâmica associativa que lhe assiste, quer, finalmente, pela mais recente valorização da prática de atividade física, com todos os benefícios associados aos mais modernos estilos de vida e salubridade.

O futebol português regista um atraso na assunção de práticas democráticas, mormente visíveis na obscuridade das decisões disciplinares, na aplicação regimental e no corporativismo que caracteriza a classe da arbitragem. Trata-se de um estilo, de uma opção organizacional e de uma preferência estrutural que pretende elitizar (e nunca democratizar) o acesso, em seleção estratégica dos alinhados e olvidando, convenientemente, a meritocracia.

A maior máquina do futebol português de outrora, a paixão, fica ferida de morte e as cadeiras dos estádios dão lugar às participações económicas e financeiras nas novas organizações empresariais desportivas, anteriormente, puras associações.

O afastamento dos adeptos, que desde sempre garantiram o fiel da

balança nos seus clubes, promove a arbitrariedade dos modelos de gestão – quer porque deixam de se rever na política do clube, quer porque perdem a voz e a capacidade de intervir nas grandes opções estratégicas.

É este abandono dos sócios que explica, por exemplo, a passividade vivida em Coimbra pela queda do maior símbolo desportivo da cidade. A Académica de Coimbra sempre foi mais do povo, dos estudantes e dos seus sócios, do que dos tecnocratas eruditos. Caiu naturalmente, sem qualquer estrondo, passivamente, sem qualquer revolta.

Devolva-se o futebol ao povo.

Pitorra é apelido de muitos portugueses pois significa " homem pequeno".

 Ora era uma vez um rapaz que era muito baixo para a sua idade e por isso lhe chamavam o pitorra.

 Um dia em que na taberna tudo estava animado começaram a humilhar o pitorra dizendo que era pequeno e não valia nada.

 Ele levantou a voz e disse que faria uma aposta em que se lhe dessem um almude de vinho ele se deitaria na cama com a princesa.

 Todos riram da pobre alma de Deus, mas ele repetiu que o que estava dito era para valer, e que desafiava que quisesse competir com ele. Ninguém achou que ele seria capaz e por isso aceitaram a aposta. 

 No outro dia de manhã apresentou- se no paço real perguntando se não precisavam de um rapaz para qualquer tipo de trabalho.

 Foi mandado ao cozinheiro real pois era necessário um ajudante de cozinha.

 Foi logo contratado e mandado para a cozinha e começou o seu novo trabalho.

 O rei sabendo que um novo funcionário estava ao seu serviço quis conhece- lo.

 Como te chamas, rapaz? Pergunta o rei.

 - Majestade, como sou de raça pequena chamam-me Pitorra.

 O rei dando uma gargalhada diz:

 - Bem posto, bem posto! Pequeno como és está muito bem posto.

 Mais tarde a rainha ao passar pela cozinha repara no novo funcionário e pergunta também o seu nome.

 - Majestade, como sou um rapaz muito quente, chamam-me cobertor.

 Mais uma risada e diz rainha:

 - Se és assim como dizes, está bem posto.

 Ao final do dia, a princesa teve fome e foi à cozinha ver se alguma coisa lhe agradava para a sua merenda.

 Ao ver o rapaz diz:

 - Olá, gente nova na cozinha? Como te chamas?

 -Porque sou pequeno como as sementes, chamam-me " favas".... E nesse dia à ceia toda a gente comeu favas guisadas, pois era como a princesa mais gostava.

 Muito bem, muito bem, diz a princesa.

À noite, o nosso rapazote foi ver onde ficava o quarto da princesa e quando tudo dormia, muito devagarinho, foi entrando na cama da princesa e quando ela deu conta já ele estava encostado a ela e a apertava-a com força. 

 - Acuda minha mãe, Acuda, que " favas" matam- me.

 -Comeces menos, pois favas e comida forte.

 - Favas matam -me.

 - P'rá outra vez come menos.

 Tanto gritou que a rainha foi ver o que se passava.

 - Real esposo, grita ela, o cobertor mata a nossa filha.

 -Puxa- o p'ra traz, ou não tens força?

 - Acudi, acudi, o cobertor dá cabo da nossa filha.

 Vai o rei e o rapaz ao vê-lo pula de uma janela e logo o rei grita com voz forte: 

 - Guardas do portão, cuidado, deitem fora as armas e pitorra na mão.

 Os guardas assim fizeram, e assim o rapaz fugiu melhor.

 

Está história é das melhores que há, quem contou está aqui quem quer melhor vá lá.

O nosso diretor da Barcaça, pede-nos para que façamos um testemunho do 25 de Abril de 1974.

Nada mais sensato para os que o esperavam e o festejaram ruidosamente pelas ruas e praças deste país, como foi o meu caso e de milhões de portugueses.

Eu fui, todos somos marcados pela infância e pela juventude nas nossas raízes sociais. Por mim estou muito feliz ter nascido no Casal Novo do Rio, entre o sol e a chuva, as pessoas que amei, a broa com sardinha, o caldo da panela com carne de porco, numa base cultural - social que já não existe no presente.

Uma ou outra memória isso talvez, por isso mesmo valorizo o trabalho no Barracão do sal, feito pela esposa do José Maia, por onde deixei algumas peças e outras tantas são as que fazem a história de um povo heroico que trabalhavam as terras, tendo apenas com dia festivo o domingo, jogando as cartas e a malha no largo do Casal Novo do Rio, enquanto os putos jogavam a bola.

Se aos 14 anos de idade não imaginava a função da luta de classes, discursos políticos do Salazarismo, rapidamente na Figueira    da Foz, o meu choque social entre a luz a petróleo na Barca, a luz elétrica, as ruas limpas e com arvoredo, logo pensei que tinha cometido uma aventura de sonho ao deixar o meu povo, jamais esquecido, percebendo então nessa altura as brutais desigualdades sociais entre o meu lugar e a cidade da Figueira da Foz.

Jornais, alguns livros, a minha inquietação social nunca mais teve descanso com aquela diferença social, nobre sem dúvida a minha, mas pobre e tristemente ignorante.

Se na Barca, tinha conhecido os irmãos Costa Alves, de novo na Figueira da Foz, nos tornamos contestatários ao sistema envelhecido do Salazarismo. Estudantes, noites que se prolongavam até ao amanhecer na Figueira da Foz, quis o nosso destino de novo encontros em Lisboa.

Eles estudantes e trabalhadores, sempre com livros de mais políticos e de estudo por baixo dos braços, enquanto eu de barbeiro na Polícia Militar, cursava os meus conhecimentos como cabeleireiros de senhoras, logo que acabei a vida militar sinto alguns remorsos ainda hoje. Nos anos 60 do século passado em cada esquina havia um bufo no Rossio e nos Restauradores. 

A malta juntava-se aos magotes e desafiava as bestas que batiam com as patas na calçada e a malta fugia como fortes tiraços da polícia de toda aquela cavalaria ainda por mim recordada.

Sei que fugi para o meu quarto na rua da Bica, no outro dia não fui trabalhar com medo de ser conhecido.

Volvidos dias encontrei no Rossio o Costa Alves, perguntei-lhe pelo irmão, disse -me... Foi preso está em Caxias vais lá? Não, como se ele foi preso junto de mim! Nunca mais vi o jovem preso em Caxias. Já na Figueira da Foz, telefonei para Lisboa para saber do Costa Alves, era o mais velho tinha falecido.

Nessa época já as minhas convicções de justiça me animavam o meu carater em pleno regime que prendia tudo e por nada fui ao Jornal República do grande democrata e maçom Raul Rego denunciando a brutalidade do Professor Teixeira que batia como se fosse besta chegando a verter sangue nos pobres rapazes alguns com fome e descalços.

Um dia no café Mondego tive uma a grande discussão com professor Teixeira foi testemunha o Emidio dos Santos já falecido devo este meu carater rebelde e justiceiro ao meu povo da Barca, foi com ele que aprendi a pegar a toiro pelos cornos, agora com 82 anos é tarde mais para mudar, mas nunca é tarde de mais para amar os nossos semelhantes e defender os mais fracos. 

Conquistar..., mas, a que preço?


Para ser verdadeira devo dizer que sempre me impressionei desfavoravelmente com os relatos de violência; mesmo quando ainda na escola aprendia história de Portugal e a sra. professora nos falava de batalhas, e dizia que nós portugueses havíamos conquistado muitas terras além-mar, e que muitos rapazes jovens, e também fidalgos e até um rei morreram nessas guerras, e que eram homens valorosos, etc.… isso já nessa altura me fazia alguma confusão...

Morreram pela Pátria, e dizia é uma honra!

- Eu ouvia isto e encaixava, mas eu também sabia que morrer era deixar de existir, e até tinha pena.

O tempo foi passando e fui ficando um pouco mais esclarecida, e finalmente cheguei à conclusão de que a humanidade passou a maior parte do tempo em batalhas e guerras, com todo o cortejo de sofrimento e morte que lhes é adjacente, e os motivos eram sempre os interesses.

Não se combatia por uma causa de amor, a carnificina terrível (que já vimos representada em filmes) era sempre para adquirir algo.

Afinal algo que pertencia a outrem. Agora que já estou tão longe da escola primária (atual ensino básico), não consigo alhear-me da dualidade; “o respeito que devo aos bravos que povoam a nossa história, e o facto de chamarmos conquistas à apropriação por sofrimento e morte, do que era propriedade desses povos que fomos invadir, e infligir sofrimento".

PARA O "LUIZITO"

Já te disse palavras salgadas,

Tão tristes e magoadas, doentes...

Já te disse palavras de brisa

Quentes e longas, doces e carentes...

 

Mas quero-te dizer outras palavras,

Aquelas que ouças na agonia,

Da solidão das lutas que tu travas,

Sejam sons de Amor e harmonia.

 

Companheiro improvável na vida,

Por mais que te pense és um mistério,

Mas és meu Mar, sentido, carinho.

 

Quando a noite me envolver desprovida,

Procurarei no teu olhar tão sério,

A doce luz do sonho e do caminho.

Raiou sorridente essa manhã de abril,

trazia consigo a alegria de um dia

novo, a ternura dos abraços,

os sorrisos rasgados,

sinal da tão desejada liberdade…

Trazia as mãos abertas,

finalmente soltas e libertas

do medo, da escuridão, da ignorância,

agora sem grilhetas.

Fez-se luz em nós, raiou o sol,

partilhámos abraços,

unimos a nossa voz em coro,

cantando ao mundo

a conquista da

nossa liberdade …

Finalmente éramos mulheres,

homens de corpo inteiro,

donos dos nossos desejos,

senhores da vontade inebriante

de construir o futuro

iniciado nesse abril inesquecível…

25 de Abril

Esta data histórica,

que hoje se comemora

um grupo de capitães

deu,

a este país,

uma voz,

um caminho,

um futuro!

Para que a memória

dos portugueses

não seja curta,

para que as gerações

de agora

e as vindouras,

se reconheçam

neste Dia da Liberdade

e para que não confundam liberdade com libertinagem,

urge tornar

estas celebrações,

mais do que um ritual…

urge fazer delas um tributo

à alegria,

à democracia,

para que todos nós contribuamos para um Portugal melhor,

cheio de ESPERANÇA na LIBERDADE!

"Discurso de 25 de Abril de 2022 - Sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Montemor-o-Velho"

Discurso 25 de Abril

 


Estamos aqui hoje reunidos, nesta casa da democracia, para celebrar o 25 de abril.

Pela primeira vez celebramos o 25 de abril com mais dias de liberdade do que em ditadura!

Celebramos o dia mítico e eufórico, em que pela Rádio Clube Português chegou à população a informação do que estava a acontecer. E o que estava a acontecer era a marcha de tanques militares para zonas estratégicas do governo, nomeadamente o quartel da GNR do Carmo onde estava o sucessor de Salazar, Marcelo Caetano.

A população juntou-se.

As floristas da rua distribuíram cravos.

Os militares usaram-nos no cano da espingarda.

E deu-se o golpe de estado, a revolução militar e civil, mais bonita da história. 

Este dia continua a ser celebrado e continuará a ser.

Não só pelo orgulho de se tratar de um Revolução de cravos sem balas, mas essencialmente pela liberdade ganha e todas as conquistas sonhadas e projetadas desde então. 

E ao falar no que se conseguiu com esta revolução eu sinto uma emoção enorme. Porque se eu vivesse na ditadura salazarista que se derrubou neste dia 25 de Abril, há 48 anos atrás, não poderia estar aqui a falar.

Talvez tivesse conseguido tirar o meu curso superior, mas a vida política ativa era impensável numa mulher. Não poderia ter a carreira profissional que tenho. Aliás, não tinha certamente, porque os cuidados de saúde eram muito precários - o SNS foi uma das conquistas do 25 de abril.

Vou ler um pequeno excerto de um texto educativo, do 3o ciclo, relativo à mulher no Estado Novo:

"Ser o outro sexo, estar em segundo plano, ou mesmo em terceiro, ter um papel definido pelo dominador, obedecer sempre e deixar-se violentar sempre. A cartilha é longa e passou de mães para filhas, numa herança disciplinada e castradora. Na história das mulheres há desigualdade, discriminação e muita violência. A libertação, a luta pelos mesmos direitos humanos do homem, é dura e longa e, ainda hoje não chega a todas as casas nem a todas as mentalidades. Muito menos quando existe uma ideologia a alimentar e a fomentar a opressão do machismo.

No país do Estado Novo, a mulher existia para ser a mãe extremosa, a esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar. Desde pequenina que era treinada para ser assim, submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido. O único futuro que podia ambicionar era o de fazer um bom casamento que garantisse o sustento da família, que, custasse o que custasse, tinha de se manter unida, estável e forte;

Na ideologia vigente, os direitos da mulher eram quase nenhuns. Não podia votar. Não podia ser juíza, diplomata, militar ou polícia. Para trabalhar no comércio, sair do país, abrir conta bancária ou tomar contracetivos, a mulher era obrigada a pedir autorização ao marido. E ganhava quase metade do salário pago aos homens." 

Foram muitos os avanços conseguidos com a Revolução dos Cravos, nas áreas da cultura, da saúde, na educação, nas ex colónias, ...  Mas sobretudo para a mulher, por finalmente ter podido ser Mulher, livre, dona de si. 

Na celebração do 25 de abril faço sempre este exercício de reflexão. Encontrar os verdadeiros motivos pelos quais faz sentido celebrar este dia.

O jovem Diogo disse que se entristeceu porque uma colega, do Ensino Secundário, não entendia a importância de celebrar este dia. Se calhar ela precisa de refletir também... E que se não tivesse sido este dia, provavelmente ela já não estaria no ensino secundário, e já estava com casamento arranjado agendado. E não podia ouvir toda e qualquer música que lhe apetecesse. Nem passar horas a ver qualquer tipo de filmes. Nem sair com as amigas à noite para uma discoteca. Nem podia ser homossexual. 

Dizermos que se conquistou a liberdade é muito bonito, - é! - mas muito vago.

Com o 25 de Abril deu-se a possibilidade de existirem partidos e discutir ideias diferentes. E sem dúvida que na pluralidade de pensamentos sai o melhor da democracia. Pode não ser ao nosso gosto pessoal ou como queríamos que fosse.

Mas continuo com vontade de acreditar que, na política, todos fazemos o melhor pelo outro, pela população, pela sociedade, em detrimento de ganhos próprios. É um pensamento e uma crença naif, eu sei. 

Mas é isto que a liberdade tem que representar. Todos temos direito a, com respeito, expor a nossa ideia, opinião, crença.

Claro, sempre sem pôr em causa valores inquestionáveis. Sim, a liberdade tem limites.

Há mensagens - e Partidos e Países - racistas e xenófobas, misóginas, autoritárias, individualistas e egoístas. E expressar essas mensagens não é liberdade de expressão, é um ato inconstitucional, é um atentado aos Direitos Humanos. 

Agora que se tem falado diariamente em política internacional, faço novamente a reflexão anterior, e concluo que ainda bem que sou Portuguesa!

Porque se fosse Ucraniana, não poderia estar livremente aqui a falar porque o Partido Comunista Ucraniano está ilegalizado desde 2015. Aliás, à data de hoje, poucos seriam os presentes porque também os partidos como os que vossas excelências representam nesta assembleia foram ilegalizados - Não por expressarem ideias inconstitucionais ou que atentam ao Direitos Humanos, mas por terem ideias diferentes das do Partido no governo.

(Se, isto é, desculpa ou motivo para Putin invadir a Ucrânia matar, violar, destruir? Não, claro que não!) 

Assusta-me esta corrente nacionalista, anti sistema, anti democracia, anti imigração, que tem surgido e crescido por toda a Europa.

Conseguirão os discursos populistas, a roçar o tal limite da liberdade e da constitucionalidade, ter impacto? Teremos em pleno século XXI Países Europeus nacionalistas, fruto de propaganda de ódio, racismo, xenofobia? Onde prevalece a desinformação, o medo, o ódio? Onde a mulher volta a perder todos os ganhos conseguidos até então e vai recambiada para casa a mando do marido? 

Eu sou mulher dos pós 25 de Abril. Não vivi na Ditadura. Viverão as minhas filhas? Celebrarão elas, ou os meus netos, não o 25 de abril de 1974 mas um " 25 de abril" de dois mil e...? 

Por tudo isto...

Cada vez faz mais sentido celebrarmos o 25 de abril de 1974!

Cada vez faz mais sentido refletirmos por onde queremos construir o nosso futuro.

Cada vez faz mais sentido lutarmos pela liberdade como conhecemos e que temos por garantida.

Cada vez faz mais sentido lutarmos pelos direitos da Mulher, pela liberdade de expressão, de género, pela igualdade, pelo combate à precariedade laboral, pela extinção da pobreza, pela perseguição à corrupção. 

É por isso que estamos aqui hoje. Pelo que foi o passado e por o que queremos que seja o futuro.

É por isso que trazemos o cravo ao peito.

25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!!!!

Viver em Democracia sem Liberdade

Este ano comemoramos os 48 anos do 25 de Abril de 1974. Comemoramos 48 anos de Liberdade e Democracia. No entanto acho que acho que nunca podemos falar do 25 de abril de 74 sem falar do 25 de novembro de 75. Mas isto será uma discussão e um assunto para outra altura.

Centremo-nos no chamado “Dia da Liberdade”.

Felizmente faço parte de uma geração que nasceu em liberdade. Que não sabe o que é viver em ditadura. Apenas sei o que me é dito por familiares, amigos e conhecidos que viveram nessa época e de tudo aquilo que a história nos diz sobre o tempo da ditadura.

Sem dúvida que são tempos que esperemos nunca voltem.

Mas que liberdade temos hoje? A que custo? De que forma usufruímos dela? Será que não podemos ter um retrocesso?

Ao longo destes 48 anos de democracia e liberdade temos tido vários partidos a conduzir os caminhos do futuro do país. Destaca-se claramente o partido socialista enquanto comandante dessa caminhada e na condução dos destinos do país.

E este ano, após as eleições legislativas, iremos ter mais quatro anos com o partido socialista a liderar Portugal.

No entanto esta maioria absoluta socialista revela-se de grande importância para o futuro do país e da democracia portuguesa. Não só pela tão aclamada “bazuca europeia”, mas também pelo crescimento dos extremismos.

Mas vejamos um pouco da nossa história democrática.

Desde o 25 de Abril de 1974 que Portugal se desenvolveu e cresceu de uma forma que se ainda vivêssemos em ditadura nunca teria acontecido. Isso verifica-se no nosso dia-a-dia, na evolução da nossa comunidade e nos milhares de perspetivas de crescimento que tivemos na nossa qualidade de vida.

No entanto, como infelizmente acontece em muitas democracias, também muitos foram os desperdícios que foram feitos a todos os níveis. Não com o intuito de ser o melhor para o país e para os portugueses, mas sim para alimentar clientelas e interesses económicos e familiares.

E estas más escolhas e decisões têm custos. Não só a nível económico para o bolso de todos os portugueses, mas também no que toca à credibilização, proximidade e interesse de todos nós na política portuguesa e naqueles que conduzem o nosso país.

Infelizmente, ano após ano, temos verificado que cada vez são menos os portugueses que acreditam nos políticos e no sistema democrático que temos implementado em Portugal. Pelo contrário, cada vez são mais os portugueses que ponderam um regresso a um sistema autoritário.

Cada vez mais os portugueses veem a sua carga de impostos a aumentar. Cada vez mais os portugueses sentem que a sua qualidade de vida diminui. Cada vez mais os portugueses vivem com dificuldades.

Os jovens cada vez sentem mais dificuldade em sair de casa dos pais. Em ter a sua casa, o seu carro e a sua independência. Cada vez mais assistimos a que a única solução que têm é emigrar.

Chegámos ao ponto de países de leste, como a Roménia, estarem prestes a ultrapassarem-nos e a empurrarem-nos cada vez mais para o fundo da Europa.

E isto tudo por causa das más escolhas e das más decisões que os políticos têm tomado.

E isto leva-nos inevitavelmente ao crescimento de partidos extremistas. Partidos estes que são autoritários, ditadores, racistas, xenófobos. Ou seja, tudo o que seja contra o sistema instalado.

Muitos perguntam como é possível isto acontecer? Pois isto só acontece por tudo aquilo a que temos vindo assistir. Diminuição da qualidade de vida das pessoas, aumento da pobreza, aumento do descrédito no sistema instalado, revolta das pessoas.

É preciso de uma vez por todas criar as políticas e reformas necessárias ao sistema português, que permitam fazer com que os portugueses voltem a acreditar que é possível sermos um país democrático, que apoia os mais desfavorecidos e ao mesmo tempo aposta no crescimento económico do país e das famílias.

É urgente que isto seja feito para que possamos, daqui a dois anos, comemorar a Revolução dos Cravos com um espírito otimista e de esperança. Em vez de estarmos a dar mais uma machadada na democracia portuguesa e a caminha a passos largos para o fim da democracia.


SAUDAÇÃO AO 25 DE ABRIL

 

De pé!

Cravo em riste!

Corações cheios de válidas razões. Na mente todas as emoções da verdade primeira, da liberdade, do coletivo abraçado, da justiça que nasceu rórida naquela aurora digna.

Juntamo-nos à marcha? Juntamos sim!

25 de abril de 1974, o boletim meteorológico havia anunciado: Céu geralmente muito nublado; vento fraco ou moderado de noroeste; visibilidade boa; mar encrespado e de pequena vaga e ondulação fraca de noroeste. Portugal dormia num sono triste e carunchoso.

E era ali, exatamente ali, que a coragem posta em marcha aumentava de fulgor no bulir trepidante dos motores e dos passos do soldado que arrancava em paz –pela paz. A cada passada, a cada alvor, a cada sombra da velha vergonha que se escondia, aumentavam o sonho e a esperança de mais e mais homens e mulheres, o esteio alargava-se - inquebrável – sustentando orgulhosamente, sorrindo, a vontade popular.

Os cravos ao peito declamavam sem medo - finalmente sem medo:

 

“Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo”

Sophia de Mello Breyner,

in O Nome das Coisas, 1977

 

Saudamos o 48º aniversário da Revolução de Abril: Viva o 25 de Abril! Viva!!

Prestamos o nosso tributo a todas e todos aqueles que se envolveram na luta contra o fascismo e a ditadura, aos que se empenharam pela democracia social e laboral, à gente que não desistiu da implementação do estado social, pelo qual é tão imperativo lutar hoje como no sonho, mais que desejado, daquele amanhecer, tão ansiado, na Primavera de 1974.

O ano de 2022 marca o arranque oficial das celebrações dos 50 anos da Revolução de Abril, que se assinalarão ao longo dos próximos dois pares de anos.

É e será tempo de lembrar a história da resistência à ditadura e ao colonialismo, de convocar a memória e a atualidade dos dias da Revolução, da transformação e da esperança que deram origem à democracia portuguesa, e ao unir de braços contra a opressão. De lembrar tanto sacrifício, tanta partida, tanta prisão, tantas torturas e morte. De recordar tanta família em jorna paga ao preço da escravidão. De revisitar tanto medo, tanta pobreza e tanto atraso. Chamar a história de tantas guerras e de meio século de uma ditadura fascista, autocrática, insensível, discricionária e oligárquica.

Foi através da ação desencadeada pelos Capitães de Abril, apoiada pelo Povo, que se terminou com a ditadura fascista do Estado Novo, que se pôs fim à PIDE, que se acabou com a censura, que se libertaram os presos políticos e se terminou com a guerra colonial. A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais.

Devemos celebrar as conquistas da liberdade e dos direitos fundamentais que foram adquiridos, nomeadamente na saúde, que veio proporcionar a criação do Serviço Nacional de Saúde, na educação, que deu lugar à criação da Escola Pública, no direito à habitação e nos direitos dos trabalhadores, dando lugar a uma maior dignidade para quem trabalha.

O 25 de Abril não é apenas importante como data simbólica, mas também como um processo de transformação social que modelou o nosso presente. A vitória da liberdade e da democracia contra o fascismo e a opressão permitiram a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

As conquistas económicas e direitos de cidadania alcançados com a Revolução não são irreversíveis e devem ser defendidos e protegidos contra a exploração laboral, as discriminações, a intolerância e a violência. Manter vivo o espírito de abril implica aprofundar a democracia popular e combater as desigualdades e a exclusão social.

Quando o neoliberalismo e a extrema-direita lançam a sua sombra de regressão política, social e civilizacional, num ataque frontal às conquistas de Abril, viver diariamente esta celebração é continuar a defender a Constituição da República de Abril. E fazemo-lo em solidariedade e intercâmbio com os povos da Europa e do Mundo que hoje enfrentam a mesma ameaça de retorno à barbárie, à segregação, ao medo, à guerra, à pobreza de muitos para gáudio de tão poucos, à exploração dos povos e dos recursos do planeta para enfartar as mesas, o poder e o capital dominado por apenas - e somente apenas - alguns com os seus maléficos e famélicos esquemas de controlo do governo, da tecnologia e da finança.

No ano em que voltamos a poder celebrar o 25 de Abril de uma forma mais próxima da “normalidade” pré-pandemia, o Bloco de Esquerda reitera a defesa dos valores da liberdade, democracia e solidariedade. Porque manter viva a lembrança simbólica desse marco fundador da democracia é, igualmente, continuar a manter viva a luta pela conquista de mais direitos e de uma vida mais justa, mais solidária, com mais esperança e igualdade de escolha para todos e para todas. Cá estamos, juntos na esperança, no sonho e no combate.

Valeu a pena? Valeu pois!

25 de Abril Sempre,

25 de Abril Sempre!

25 de Abril Sempre!



Ao repto lançado pelo Luiz Pessoa de escrevermos desta vez em “A BARCAÇA” um texto subordinado ao 25 de Abril de 1974, cujo 48º aniversário estamos prestes a assinalar, pelo menos para mim veio mesmo a calhar:

- Primeiro, porque recorrentemente reflito sobre a efeméride, falo e escrevo a propósito;

- Segundo, porque considero esse um dos mais importantes dias da minha vida, então com 14 anos e felizardo por ter sido testemunha do evento quando, na ida para a escola, recolhi um dos comunicados (nessa altura ainda não se chamavam flyers…) distribuídos por uma avioneta do MFA – Movimento das Forças Armadas, e observei a pressa com que alguns soldados da GNR tentavam recolher todos os exemplares espalhados pela rua e impedir que o cidadão comum a eles tivesse acesso, embora em vão, já que no que me diz respeito consegui surripiar um e levá-lo até à Escola onde o seu conteúdo foi lido em voz alta, tendo feito furor junto de alunos e professores, ao ponto de ter levado à decretação de greve às aulas e suspensão de todas as atividades letivas até decisão em contrário, desafiando os espíritos e as almas de crianças, adolescentes, jovens e adultos para uma nova forma de ver o país e o mundo.

E foi assim que desde esse dia derrotámos os medos, pudemos falar livremente e exprimir as nossas opiniões sem receio de sermos julgados, presos, torturados ou mortos; e renascemos de 48 anos de obscurantismo, opressão, humilhação, submissão e hipocrisia; e nos libertámos da obrigatoriedade de travar guerras inglórias, injustas e injustificáveis contra povos irmãos que nunca tratámos como iguais; e pudemos encetar políticas de democratização, parlamentarismo, direitos humanos, etc…, etc…, etc!

Digam o que disserem os idiotas do costume contra o 25 de Abril, não passam tais ditos de ignorância, iliteracia, verborreia e populismo que mais não pretendem senão cativar incautos que mais tarde dominarão e subjugarão em seu proveito, aliás, como é possível constatar em diversos países espalhados por todos os continentes. Mas mesmo admitindo que muito ainda falta por fazer apesar de quase meio século ter passado desde a Revolução dos Cravos, designadamente ao nível do combate à pobreza e das políticas sociais, corrupção, clientelismo, eficácia da justiça, igualdade de oportunidades…. e por aí fora, a verdade que se impõe é a importância de prosseguir o caminho da democracia, da equidade e da liberdade, sendo esta a mais importante de todas as conquistas.

Viva a LIBERDADE. 25 DE ABRIL SEMPRE!

Artigo 16.º

1.  A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.

2.  O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3.  A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.


O mês de abril nos permite continuar desfrutando de muitos alimentos que ainda podemos encontrar frescos, pois a variedade de frutas e legumes será reduzida com a chegada do calor. A alimentação saudável é um hábito que fará com que você se sinta melhor consigo mesmo.

Com a chegada da primavera começamos a preparar pratos mais leves e temperados. Antes de fazer sua próxima lista de compras, verifique quais alimentos estão na época de abril para aproveitar ao máximo seu sabor. Esses produtos são orgânicos e locais, por isso são considerados mais naturais e mantêm todos os seus valores nutricionais, pois não contêm substâncias químicas para mantê-los em boas condições por muito mais tempo.

Além disso, você apoiará a sustentabilidade e o comércio justo, privilegiando a gastronomia local. E, por sua vez, você economizará dinheiro, pois esses alimentos serão mais baratos do que se você os comprar em outro momento.


Tesouro foi publicado pela primeira vez em 1994, pela Associação 25 de Abril e pela APRIL, com o alto patrocínio do Presidente da República de então, Dr. Mário Soares. Em 1999, nos 25 anos do 25 de Abril, O Tesouro deu origem ao premiado filme de João Botelho: Se a Memória Existe. 

A nova edição foi enriquecida com magníficos desenhos de Pedro Proença: uma parceria que já nos habituou a outros tesouros como O Pequeno Livro da Desmatemática ou Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães.



Las tierras, las tierras, las tierras de España
las grandes, la sola desierta llanura
galopa caballo cuatralbo, jinete del pueblo
que la tierra es tuya
A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar (bis)
A corazón, suenan, suenan, resuenan
las tierras de España en las herraduras
galopa caballo cuatralbo, jinete del pueblo
que la tierra es tuya
A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar (bis)
Nadie, nadie, nadie, que enfrente no hay nadie
que es nadie la muerte si va en tu montura
galopa caballo cuatralbo, jinete del pueblo
que la tierra es tuya
A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar (bis)
Tanto mar
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

Título: Outro País 

Realização: Sérgio Tréfaut

Género: Documentário

Origem: Portugal

Data: 1999

Duração: 70 min

A Revolução Portuguesa (1974-75) vista através dos olhares de alguns dos mais importantes fotógrafos e cineastas que testemunharam o evento. Quais eram os seus sonhos e expectativas? O que ficou do sonho da revolução?

Um documentário que reúne arquivos históricos excecionais.


  • Documentário em que são abordados cronologicamente os principais acontecimentos que marcaram o país e a sociedade portuguesa nos anos de 1974 e 1975.

BARCAÇA_MAIO

  Para garantir a redução do expediente extenuante, os trabalhadores da cidade de Chicago organizaram uma greve para o  1º de maio  de 1886....