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terça-feira, outubro 31

BARCAÇA_37


Mais um marco no historial da Barcaça, ao atingirmos a trigésima sétima edição, que por águas calmas vai deslizando efetuando o seu caminho até não sei bem, porque o timoneiro nada nos disse para onde íamos.

Todas as suas saídas são um labirinto de conhecimento, de poesia e de alguma análise política, mesclada com livros e música onde os seus “cronistas” nos deliciam todos os meses com a sua prosa.

“Pontos Sem Fim” fala-nos do seu passado distante onde os miúdos sem telemóvel nem redes sociais digitais, se reuniam com outros sons, sejam do sino ou da sirene e controlavam as suas actividades de lazer com esse espírito, que dia após dia era uma pequena aventura. O jogo do pião, botão ou futebol na feira era sem dúvida uma actividade que enraizada nos miúdos daquele tempo os trazia sempre em plena forma.

Mário Silva foi até Liceia para nos falar da Igreja Matriz de São Miguel de Liceia a sua origem a sua história.

Já sobre “Os Meus Olhares” Carla serpenteia-se entre os acasos da vida e das marcas que eles nos deixam na sua confusa compreensão ou não. 

José Craveiro desta vez traz-nos um conto lindissimo do fazer bem na cara de um lavrador, "A quem dos pobres se lembra, Deus sempre ajuda."

Já António no seu “Carta aos Carrascos” é um momento muito seu como diz “do nascimento à morte” um estado de alma que com a sua prosa simples e assertiva nos diz como é a vida sempre no laço muito fraterno Escola/Vida.

Olímpio Fernandes num salto enorme até à sua infância descreve-nos como era a rudeza desses tempos e numa simbiose com o presente onde a inteligência artificial ninguém por agora saberá dizer para onde vamos.

Fernando Curado continua a deliciar-nos com a história da sua Figueira e desta vez algo que marcou muitas gerações o naufrágio do João Costa, um dos mais jovens oficiais da frota bacalhoeira. 

Já do outro lado também com dados históricos Aldo Aveiro fala-nos do Rei Absolutista D. Miguel que em outubro de 1828 celebrou em Montemor-o-Velho com grande pompa o 26º aniversário de D. Miguel, o regente que foi rei absolutista.

António Matos descreve-nos a Lenda de Tentúgal e Local Chamado Mourão.

Seguindo a sua “PAGAIADA” João Amaral entre o passado e o futuro faz uma resenha do aparecimento da canoagem por terras de Montemor-o-Velho desde a sua criação até às dificuldades ultrapassadas e faz no seu presente um repto ao Edil para que dê um passo simples e tão necessário para todos os praticantes desta modalidade que colocou Montemor-o-Velho na boca do Mundo. Uns candeeiros e nada mais...

Na secção da poesia mais uma vez com as suas diferenças, leituras simples, mas calibradas com as próprias emoções de cada uma das autoras.

Já no panorama político mais uma vez as preocupações do momento e sem sabermos muito bem para onde o Concelho se dirige e se alguma vez irá navegar em águas calmas como a Barcaça? João Mendes muito preocupado com o momento que se vive no Associativismo no Concelho e nomeadamente na Sede de Concelho. Victor Camarneiro dirige-se ao Presidente com algumas perguntas que deveriam ter resposta, mas no quero posso e mando possivelmente nem na outra vida iremos ter esse prazer, quem sabe com a queda do executivo nas próximas eleições haja vontade para uma sindicância para ficarmos a saber o que por lá se passou...até lá resta-nos esperar sentados. Mas deixa também umas “farpas” à AFMP que lhe está atravessada na garganta pela punhalada que lhe deram a si como um dos seus fundadores.

Na secção da nossa Livraria, 50 anos do 25 de Abril de Fernando Rosas, na música um tema interligado Abril de Mari Froes.

Nos quadros dos famosos “Moça com Brinco Pérola de Johannes Vermeer datado de 1665.

E assim vos deixo até à próxima Barcaça que vai navegado dia após dia na esperança de encontrar o seu porto de abrigo.

Boas Leituras


Hoje um dia diferente, ou talvez como os restantes, só que me apetece descer a calçada de pé descalço e recordar outros tempos onde as solas eram repostas pelo sapateiro da vila, havia dois pares bem destintos, os da semana e os de ir à missa.

O tempo esse nem chovia nem fazia sol, o encontro era na feira, alguém levava a bola de “catechu” e tinha o direito de escolher a equipa.

Se eramos felizes com estas horas de desporto em terra batida, a noite caía e teríamos de ir jantar e já não voltávamos porque deitar cedo e cedo erguer era a nossa vida.

A escola era já ali, tudo ficava perto nesse tempo, o rio, a feira, o campo de futebol e o nosso castelo...

O relógio era dado pela torre da igreja e aos domingos o meio-dia pela sirene dos bombeiros.

Alguns dias tentávamos a nossa sorte no peixe à toca, porque não havia dinheiro para canas de pesca ou se tivéssemos um pouco de fio e um anzol, boía com rolha de garrafa arrancávamos uma cana do canavial e lá íamos todos felizes com a nossa cana improvisada.

Recordo também o conforto de chegar a casa, a fome a bater no estomago, no borralho a panela de sopa em ferro fundido, mais arriba deste o forno com broa com petinga quentinha que num prato com azeite fazia as nossas delícias.

Cair na cama era outro dos momentos que ainda hoje recordo, colchão de penas enorme onde este corpo franzido desaparecia e só com o arraiar do dia estremunhado, se levantava para ir à escola.

A romaria à medida que avançávamos mais rapazes se juntavam uns que vinham do Outeiro outros de Quinhendros e alguns do Moinho da Mata cruzava-nos todos os dias da semana para frequentar as aulas do Professor Soares ou do Professor Teixeira eu tive a sorte de ficar com Professor Soares sabe-se lá porquê?

O domingo demorava a chegar, porque era o dia da visita esporádica ao Ti Baldaque e saborear uma espiga grande. Era comida tão lentamente porque este momento só viria novamente no próximo domingo se a semana corresse bem.

Depois dávamos corda aos sapatos e semana sim semana não o campo das lajes era o nosso palco para aplaudir a equipa da casa Atlético Clube Montemorense.

Viajar no tempo traz-me tanta saudade, porque foram bem vividos e diria que se fosse pintor conseguiria pintar este quadro seja na feira como na escola a jogar ao berlinde, ao botão ou pião...

Ainda hoje mantemos contactos com esta rapaziada que na casa dos 60 e uns trocos andamos por aí. 

Igreja Matriz de São Miguel de Liceia

Situada a poente da povoação, na saída para a vizinha freguesia de Ferreira-a-Nova, a igreja matriz de Liceia, dedicada ao arcanjo São Miguel (orago da freguesia), remonta ao período Românico (século XII/XIII), vindo a sofrer importantes reformas nos séculos XVI e XVIII.

A fachada é simples e a porta principal de padieira curva e frontão interrompido por ramos a enrolar ao centro. Sobre a porta está um pequeno nicho oriundo de um antigo retábulo a abrigar uma escultura de pedra de São Miguel do gótico decadente dos primórdios do século XVI. Uma má janela substituiu em passado recente um óculo circular.

A porta lateral, à direita, é da época geral do edifício e a ela sobrepuseram um pequeno frontão curvo com “Cristo abençoado” e é resto do retábulo a que pertencia o nicho da frontaria.

O púlpito, de base em pedra e balaustrada de madeira, fixa-se na parede do Evangelho e sobre o nártex está o coro-alto com acesso interior.

Na capela-mor o retábulo principal constitui o aproveitamento de velhas talhas e os colaterais em obras recentes foram substituídos por nichos.

O teto estucado ostenta, sobre o arco-cruzeiro, um brasão eclesiástico de pura fantasia. É património ancestral da igreja as esculturas de São Bento, São João Batista, Nossa Senhora da Piedade, Virgem com o Menino (Rosário), São Sebastião, Santo António e Santa Luzia (séculos XVI-XVII).

Inicialmente, a freguesia foi um pequeno curato apresentado pela abadessa e freiras do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, suas donatárias, surgindo mais tarde anexada à igreja matriz de São Martinho de Montemor-o-Velho. Presentemente é jurisdição eclesiástica de Coimbra, arciprestado da Carapinheira.

Os primeiros registos paroquiais observaram-se a partir de 1655, ao tempo do padre Francisco Cação Cardoso.

Os antigos altares colaterais eram em honra de São Sebastião e caixão de Nossa Senhora do Rosário, do lado da Epístola, e, do lado do Evangelho, o de Santa Luzia e caixão do Santo Nome de Jesus, com mesa da Confraria.

O acesso ao adro e igreja é feito a nascente por um portão de ferro datado de 1882. No adro, encontram-se vestígios de antigo cemitério com sepulturas privativas e jazigo da família do Conselheiro Joaquim da Silva Guardado, edificado em 1884.

Mário Silva

 

Fonte: Correia Góis, Concelho de Montemor-o-Velho – “A Terra e a Gente”, Montemor-o-Velho, CMMV, 1995, pp. 116-117.



[o meu olhar sobre …]

Hoje escrevo sobre os acasos da vida. Aquelas situações que acontecem quando menos esperamos e que, na maioria das vezes, marcam a nossa vida de forma significativa.
Alguns desses momentos, chamemos-lhes acasos, podem ser simples coincidências, ou serão respostas do universo, partidas do destino ou algo maior que ultrapassa a nossa compreensão? Será que algum dia saberemos?

É fascinante pensar como certos encontros, lugares ou acontecimentos podem mudar completamente a direção dos nossos caminhos.
Acontecem quando menos esperamos.
Pode ser aquela pessoa que conhecemos por acaso numa festa, num encontro ocasional a porta de acaso e que se torna um grande amigo, ou um emprego que aparece de repente e nos faz descobrir uma nova paixão ou talento.

Um caso ou um acaso?!
Coincidência ou destino?

Há quem acredite que os acasos não são apenas fruto do acaso em si, mas sim uma forma do destino ou do universo nos guiar para algo.
São pequenos acontecimentos, na nossa vida, que nos fazem voltar a acreditar.
Como se houvesse um plano invisível que nos levasse às pessoas ou situações que precisamos encontrar. Acontecimentos que precisamos viver. Momentos de felicidade.

Esses acasos muitas vezes parecem pequenos milagres. Acontecem por norma quando estamos a passar por momentos difíceis.
Acontecem, assim, de repente.
Sim, de repente, uma pessoa desconhecida surge com palavras de conforto ou aquela ajuda que precisas.
Ou quando menos esperas surge a resposta para um problema com que há muito te andavas a debater.
Ou, sem esperar, encontramos exatamente o que precisamos num livro, numa música ou até mesmo numa conversa casual.

Sim. Acontece.
De repente, sem procurares.

Sim, o mais curioso é que, muitas vezes, esses, supostos, acasos acontecem quando menos esperamos.
Quando abrimos os nossos corações e mentes para o desconhecido, sem preconceitos ou expectativas, permitimos que a magia dos acasos se manifeste.

Acontecem naquele dia em que achamos que, por várias razões, será apenas mais um dia igual a todos os outros.

Independentemente do que acreditamos sobre os acasos, uma coisa é certa: eles ensinam-nos a estarmos atentos, a aproveitarmos as oportunidades que surgem e a confiar no fluxo da vida.
Sim. Há que acreditar. Sempre.

Podemos chamar de destino, universo, acaso ou qualquer outra coisa que faça sentido para nós. O importante é reconhecer que esses encontros e situações têm o poder de transformar as nossas vidas, de uma maneira ou de outra.
Não interessa. Um dia entenderemos. Talvez.

Então, da próxima vez que um acaso, uma coincidência ou uma partida do destino acontecer na tua vida, permite-te viver essa experiência com curiosidade e gratidão.
Não questiones.
Não tenhas receio. Vive apenas.
Deixa fluir.
Quem sabe o que o universo tem reservado para ti?
Fica aberto e recetivo, pois os acasos, as coincidências, as partidas podem ser pequenas pistas que nos levam a uma vida mais rica e significativa.

Nunca te esqueças disto!



Era uma vez um lavrador que tinha por costume deixar qualquer coisa em todos os locais onde estavam as "alminhas"', dizendo sempre " seja p'las alminhas", rezando um Pai Nosso e uma Avé Maria.

Uma noite em que o pobre lavrador tinha no campo todo o milho e feijão que seria para ele e para quem lhe batia à porta, passar um inverno melhor, começa a trovejar de tal maneira que parecia que caía o Céu sobre a Terra.

O milho estava cortado e o feijão às "gavelas" para serem encaminhados para a eira, mas, o que era certo era estar tudo no campo e em perigo.

Ainda o sol estava sabe Deus onde, já o bom lavrador estava a caminho do campo, temendo que não traria muito, mas faria o possível por salvar o que pudesse.

Chegado ao campo vá de carregar o que pudesse. Carregou o milho e por cima carregou o feijão com a ajuda de um pobre pedinte a quem deu esmola tanta vez que lhe disse estar de passagem para a esmola.

Atou a carrada e quando ia a chegar á ponte da Vila ou ponte do Rebolim olhou para trás e viu tudo coberto de água.

Meu Deus. Isto encheu tão depressa?

Uma voz lhe respondeu:

A quem dos pobres se lembra, Deus sempre ajuda.

O pobre lavrador tirou o chapéu e disse:

Lembrai-Vos Senhor das pobres Alminhas.

Novamente a voz se fez ouvir:

Bem-aventurados os misericordiosos pois alcançarão misericórdia.

Veio a saber que o pobre que o ajudou a fazer a carrada tinha morrido já havia dois meses.

Deus é louvado, o que era para contar, está contado.


CARTA aos CARRASCOS

Um dia, quando tombares no chão da calçada fria

Uns virão levantar-te Não por compaixão

Antes pelo remorso da triste e inabalável condição

De serem carrascos.

 

Serão frios,

Alarmante mente frios!

 

Nessa ocasião, nesse chão de margaridas

Sempre se ouvirão os malfeitores

De mortes causadores, não de vidas

Em trémulas canções originais

Que de vida não serão mais,

Antes de mortes anunciadas pelos carrascos causadas.

 

Tristes desses!

 

Nunca conseguiram,

Nunca passaram ribeiras,

Arregaçando a calça pelo joelho

Esse mesmo que sempre dobraram

Perante quem lhes dava mau conselho.

O conselho de matar, torturar, difamar

Sem consentimento dos deuses,

Esses deuses endeusados

Sabedores de males e pecados

Videntes de vidas pálidas, bacietas, dormentes.

Os deuses da loucura

Na incansável e parva procura

De carrascos que deitassem fogo

Incendiassem mais a fogueira

Com labaredas de ódio.

Esses deuses que não paravam

Que não vacilavam.

 

Os carrascos são mortais!

 

Matam aqui e ali,

Matam sem perceber que matam

Torturam por interesse

O interesse dos incapazes

Que só conseguem respirar

Só conseguem arfar

Cansados de querer subir, de tudo trepar.

Afinal, só conseguem rastejar!

 

Tu, carrasco da infâmia

Que transportas por entre os dedos

Que trazes a loucura da ambição nos teus medos

Carregas às costas e no juízo

A desgraça que provocas

Num eterno e irreparável prejuízo àqueles que mataste devagar

Mataste sem parar.

 

Tu és o carrasco dos dias e das noites,

Porque nunca levaste uns belos de uns açoites,

Antes tiveste tudo de mão beijada

Mas…de saber nunca tiveste nada!

 

Morrerás, carrasco,

Porque verás morrer

Quem deste a nascer,

Às mãos de outro carrasco,

Pois quem com ferros mata

Da divina providência se trata

E verás quem amas

Não se levantar da lama

Do chão que outrora foi de pasto

Agora já de sangue

Verás os teus morrerem

Às mãos de outro como tu, carrasco!          


         Está provado por quem sabe destas ciências, que ficamos conscientes do que vivemos nas nossas infâncias e mais adiante na juventude, mal vai digo eu sem pretensões de sabedoria, se por desventura esquecermos esse pulsar do nosso crescimento naquelas idades, depois pela vida fora, julgamos no presente o aziago preconceito de um ego insensível e de todo embrutecido e reconhecido pelos que nos conhecem e rodeiam, apenas e só por devaneios da parvoíce. 

      É certo que vivemos pasmados com as novas técnicas da inteligência artificial repentinas, a fazer pensar que não existimos já como pessoas no agir e construir.   

    Coisas do diabo, tenho a certeza diziam as saudosas mulheres no Casal Novo do Rio, quando me ajeitava em seu colo e me davam a comer o caldo da panela de ferro.

Evoluir não é esquecer as origens, mas de todo fazer a ponte do passado e do presente. Vamos supor que vou ao Casal Novo do Rio, em vez de ouvir as minhas gentes e as suas belas histórias de vida, as reduzo à minha viagem, aos meus êxitos e fracassos, feito parvinho e convencido?   

      Estejamos atentos à modernidade das novas tecnologias e não devemos contestar as aventuras das caravelas sobre o mar, como se fossemos velhos e rabugentos, diria cobiçosos com o mais saber dos outros e das suas lições de conhecimento, por aí aprendemos e somos solidários.

     Tudo isto pelo facto de nunca me ter entendido com os doutoraços da moda, eu que fui uma pessoa que sempre prezei pelo meu profissional, propondo às mulheres e homens as modas do meu País e de Paris, mas não perdendo a certeza e a noção das minhas origens, coisa ridícula se todos sabem que nasci para lá do sol posto à beira do meu rio Mondego.



 NO DIA 24 DE SETEMBRO FEZ 71 ANOS QUE OCORREU O NAUFRÁGIO DO JOÃO COSTA.


O navio-motor JOÃO COSTA, propriedade da Sociedade de Pesca Luso-Brasileira, Lda., sedeada na Figueira da Foz, foi construído nos Estaleiros Navais do Mondego, na Morraceira, pelo mestre Benjamim Bolais Mónica.

Este navio de madeira, com 48 metros de comprimento, foi lançado nas águas da Figueira no dia 20 de dezembro de 1945.

Seis anos depois, no dia 15 de abril de 1952, largou de Lisboa rumo aos Bancos da Terra Nova e Gronelândia, comandado pelo capitão João José Silva Costa, um dos mais jovens oficiais da frota bacalhoeira e, com o seu pai, sócio gerente da empresa proprietária do navio.

Com 74 homens de tripulação, usando o método da pesca de bacalhau à linha, com um pescador por dóri, pescou, carregou e salgou, ao longo de 5 meses, 11.000 quintais de bacalhau, tendo iniciado a viagem de regresso à Figueira da Foz no dia 18 de Setembro de 1952.

A 23 de Setembro, pelas 20 horas, quando a tripulação confraternizava o aniversário do pescador Penicheiro, sentiu-se uma explosão seguida de incêndio na casa das máquinas.

Completamente carregado, naufragou completamente a 24 de setembro de 1952, com 74 homens a bordo, sendo 49 figueirenses (de Alqueidão, Buarcos, Vila Verde, Cova e Gala), 7 de Vila do Conde, 3 da Povoa de Varzim, 3 da Fuzeta, 2 da Nazaré, 1 de Almada, 1 de Lagos e 8 de outras localidades.

Um curto-circuito surpreendeu a tripulação. "Parecia pólvora. Pegámos nos extintores para apagar, mas o fogo progrediu rapidamente, devido ao facto das madeiras transpirarem o gasóleo que era usado no abastecimento da embarcação e não conseguimos dominar as chamas", recordou o sobrevivente Hipólito Luís.

Quinze minutos depois o fogo tornou-se incontrolável e, face ao perigo de novas explosões nos tanques de combustível, o comandante João Costa ordenou o abandono do navio e decidiu dividir os 22 dóris em 2 grupos.


Cada grupo possuía uma bússola que, a todo o custo, tinham conseguido retirar do navio em chamas.

“Foi aí que se instalou a confusão. Era cada um a ver quem se safava primeiro, para agarrar lugar nos dóris. Vivemos momentos de pânico", relembrou Hipólito Luís.

Dentro dos dóris, aterrorizados, os pescadores viam o "João Costa" a adernar. Com o auxílio das bússolas tentaram navegar rumo à ilha de S. Miguel, nos Açores, 60 milhas a sul.

O tempo passava. À deriva no oceano os pescadores perdiam as esperanças. "Valeu-nos a fé!", explicou o náufrago Remígio Gonçalves, conhecido como o "da caraga".

Era terrível a dor de verificar o desaparecimento de alguns dóris, afastados e destruídos por fortes ventos e correntes. Dos 22 dóris iniciais restavam agora 17.

Só ao terceiro dia os náufragos conseguiram beber água, quando choveu abundantemente.

Capturaram uma tartaruga, que comeram crua. As alucinações estavam a aparecer. Sem comida, sem água e sem ajuda, os homens fizeram o inconcebível.

"Conseguimos manter a calma e milagrosamente salvamo-nos todos menos o cão, o Bobby, que tivemos que matar para comer. Já andávamos à deriva há uns dias. Foi a única forma de sobrevivermos", contou Hipólito Luís, com os olhos húmidos, quando já tinha 76 anos.

A 27 de setembro, por mero acaso, o navio americano COMPASS encontrou 3 dóris com 12 náufragos. Lançou de imediato o alarme e rumou para Lagos, no Algarve, onde deixou Bernardino do Nascimento, Francisco Luís, Armando Parracho, Silvério Madeira, António Silva, Manuel Borges, Bartolomeu Ramalho, Manuel Guerra, José Fidalgo, António Charana, Joaquim Soares e Francisco Baptista. Desembarcaram em Lagos no dia 8 de outubro.

Continuavam perdidos, em alto mar, 62 pecadores em 14 dóris. Suportaram frio, sede e fome, durante 7 dias. Tentaram manter os dóris agrupados, mas, se durante o dia era relativamente fácil, o mesmo não acontecia durante a noite. Vários barcos passaram ao longe, mas ninguém os avistou. "Não imaginavam o que se passava".

Estavam desidratados, esfomeados e sem forças, quando por acaso, no dia 30 de setembro de 1952, uma embarcação avistou os dóris, “com homens ajoelhados, que não estavam a pescar, antes a implorar ajuda". "Naquele dia voltámos a nascer", recordou António Santos, entredentes, com 77 anos.


O navio STEEL EXECUTIVE recolheu 35 náufragos e o navio HENRIETTE SCHULTE salvou os restantes 27. Estes 62 náufragos desembarcaram em Ponta Delgada, Açores, no dia 30 de setembro.

O meu tio Alberto Jordão e o meu primo Alberto Curado (1º motorista do João Costa), Bartolomeu Ramalho, Manuel Borges, Mário Pimentel, António Félix, Manuel Roque, Mário Miranda, Quim Manardo, João José, José Chapada, Remigio Macara, Zezola, Antonio Pachita, Hipólito Luís, Remígio Gonçalves e António Santos encontravam-se entre os 49 náufragos figueirenses.

Os familiares dos náufragos e a cidade da Figueira da Foz receberam com incomensurável alegria a notícia de terem sido salvos todos os tripulantes do navio-motor JOÃO COSTA.

Apesar do Jornal do Pescador ter noticiado que o comandante Tenreiro tinha telegrafado para os Açores, para a Casa dos Pescadores de Ponta Delgada, a dar instruções para dispensarem todos os cuidados necessários aos náufragos do João Costa, estes foram recebidos na Figueira com alguma frieza pelos “donos do peixe”, como nos relatou António Paxita no livro de Manuel Luís Pata, “A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau”, volume II:

“Deram-nos roupa, cuecas, camisola interior, meias, sandálias e uma boina. O pior foi quando chegámos à Figueira e fomos receber o valor do peixe que tínhamos pescado, pois descontaram-nos 390 escudos da roupa que nos tinham dado. Bem, deram-nos alojamento e comida, mas a roupa tivemos que a pagar...”.






O comandante João José da Silva Costa nasceu na Figueira da Foz no dia 23 de abril de 1919, filho de João José de Figueiredo Costa, e aqui faleceu em 9 de agosto de 1990. No ano seguinte ao naufrágio foi comandar o navio “Senhora do Mar”.

A vida dura da pesca do bacalhau, a “faina maior”, continuou para a maioria dos sobreviventes e muitos deles viveram novas histórias, inimagináveis de sofrimento, nesta dolorosa atividade.

NO DIA 24 DE SETEMBRO FEZ 71 ANOS QUE OCORREU O NAUFRÁGIO DO JOÃO COSTA.

Há 195 anos Montemor-o-Velho celebrou 26.º aniversário do Rei Absolutista D. Miguel

Em outubro de 1828, Montemor-o-Velho celebrou, com grande pompa, o 26.º aniversário de D. Miguel, o regente que foi rei absolutista.

D. Miguel tinha assumido a regência do reino, em 26 de fevereiro de 1828, em nome de D. Maria, sua sobrinha, com a qual aceitara casar. No mesmo dia, D. Miguel nomeou os seus ministros: Duque de Cadaval, José António de Oliveira Leite de Barros, depois conde de Basto, e Furtado do Rio de Mendonça, conde de Vila Real e conde da Lousã.

Em 13 de março D. Miguel dissolveu as cortes sem ordenar no mesmo decreto, como exigia a Carta, que se procedesse a novas eleições. As câmaras municipais, a nobreza e o clero, e muitas personagens importantes pediam ao regente que cingisse a coroa e revogasse a Carta. Da Universidade dirigia-se a Lisboa uma deputação de lentes a convidar D. Miguel a proclamar-se rei, quando alguns estudantes de Coimbra os assassinaram, em 18 de março. A 25 de abril, o senado de Lisboa proclamou rei D. Miguel (…).

Entretanto reuniam-se os Três Estados, no dia 23 de junho de 1828, e sendo orador José Acúrcio das Neves propôs que se levantasse D. Miguel como rei, o que se aprovou, fazendo-se um assento das deliberações que os três braços tinham tomado separadamente, reunindo o clero na igreja de Santo António da Sé, a nobreza em S. Roque e o povo em S. Francisco da cidade.

No dia 7 de julho aclamou-se D. Miguel rei absoluto, e no dia 15 encerraram-se as cortes. (…).

Com o pretexto de celebrar o 26.º aniversário de D. Miguel, Montemor-o-Velho levou a efeito grandes festas que comemoraram “o absolutismo”; em Portugal, de 25 a 29 de outubro de 1828, conforme nos relatam os documentos anexos (fotos) da Imprensa da época.



D. Miguel

Infante regente de Portugal, reconhecido como rei por uma grande parte da nação, e que reinou efetivamente no continente e colónias, exceto na ilha Terceira, onde nunca a sua realeza foi reconhecida. Era terceiro filho do rei D. João VI e da rainha D. Carlota Joaquina. Nasceu no Paço de Queluz em 26 de outubro de 1802, foi batizado a 14 de novembro seguinte. Em 2023 faria 221 anos.

De seu nome completo D. Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Gabriel Rafael Gonzaga Evaristo de Bragança e Bourbon, foi grão-prior do Crato, da Ordem de S. João de Jerusalém, priorado de Portugal; claveiro das ordens militares de Nosso Senhor Jesus Cristo, S. Tiago da Espada, de S. Bento de Avis e da Torre e Espada; grã-cruz da Ordem de N. Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa; cavaleiro do Tosão de Ouro; grã-cruz da Ordem de Santo Estêvão, da Hungria; do Cruzeiro do Sul, do Brasil; de S. Fernando e Mérito, e de Carlos III, de Espanha; do Espírito Santo, de S. Luís, e de S. Miguel, de França de Santo André, da Rússia.

Foi regente do Reino, a par de sua sobrinha Maria, de 2 de maio de 1826 a 11 de julho de 1828. Reinou de 11 de julho de 1828 a 26 de maio de 1834, isto é, ocupando o trono, em detrimento da sobrinha, regente, o que gerou uma guerra civil contra o irmão (1832-1834), que regressou a Portugal para defender os direitos da filha. Saiu derrotado e os liberais expulsaram-no do trono e de Portugal.

Vigésimo nono rei de Portugal (1828-1834), ficou conhecido pelos cognomes o Usurpador, o Tradicionalista e o Absolutista.

Bibliografia: É vastíssima a coleção de publicações que se poderiam indicar sobre D. Miguel, a sua realeza e a sua biografia. Vejam-se: História de Portugal, por Pinheiro Chagas, continuada por Barbosa Colen; História das lutas civis, por Soriano; Portugal contemporâneo, por Oliveira Martins; A última corte do absolutismo, por Alberto Pimentel;

Memória histórica, por Silva Maia; Memórias, de José Liberato; Crónica de D. Maria II, por Araújo; História de Portugal, por Sousa Monteiro; História contemporânea, por Martins de Carvalho; José Silva Carvalho e o seu tempo, por António Viana; História contemporânea ou D. Miguel em Portugal, por Arsejas, Documentos para a história das cortes gerais, tomo de 1828; Portugal e suas dinastias por Correia de Mello; D. Miguel de Portugal e o seu tempo, por Hermann Kuhn; A legitimidade da exaltação do Sr. D. Miguel, por Filipe Avellar, etc.

Aldo Aveiro


A LENDA DE TENTÚGAL E LOCAL CHAMADO "MOURAO "

Extraindo algumas partes do livro Percursos Literários de António Breda Carvalho

O nascimento do nome chamado Mourão, vem dos tempos da guerra dos Portugueses cristãos com os Mouros.

Tentúgal é a terra de sobejamente conhecida, pela sua famosa doçaria conventual, nomeadamente pelos pastéis de Tentúgal.

Mas, vamos falar da origem do nome Mourão.

Na primeira dinastia, Tentúgal de, teve uma fortificação, por se situar entre Montemor e a cidade de Coimbra.

Esta última cidade ao tempo foi muito rica e era a capital do Reino e por isso muito cobiçada por Mouros e Sarracenos. Nesta época os mouros, foram escorraçados até ao Algarve e também assim, os sarracenos deram em fazer incursões que, vindos de Espanha, atacavam os cristãos portugueses.

Os portugueses eram senhores dos castelos e quando os mouros faziam os seus de ataques, as populações rurais, ainda moçárabes, isto é, mistas de cristãos árabes convertidos, refugiavam-se atrás das ameias.

Numa dessas incursões dos mouros, vinham a ser comandados por um grande mouro, uma figura gigantesca a que os portugueses chamavam Mourão. Este feroz inimigo concebeu o plano de ir atacar Coimbra, que, como já disse, era bastante rica em bens e joias. 

Para concretizarem o seu plano, passaram o rio Mondego e vieram acampar no lado norte do mesmo, próximo entre os castelos de Montemor e o de Coimbra.

O acampamento ficava exactamente no local onde hoje está erigida a igreja matriz e ali mesmo foi montada uma enorme tenda que era do general Mourão que era o comandante das tropas.

Houve nesse local lutas ferozes, em que os portugueses estavam prestes a desistir. Eis, quando aparece um moço português, disposto a enfrentar o gigante Mourão. E esse válido guerreiro com a ajuda dos seus companheiros, cercaram o Mourão por todos os lados e assim o venceram, decapitando-o e fazendo rolar a sua cabeça pelas pedras.

É certo que ao evocar o nome de Tentúgal, não é o nome primitivo, porquanto o atual nome dá-se com a evolução dos tempos, mas o nome de Mourão vem desses longínquos tempos e ainda hoje o seu nome é dito e conversado pelas gentes atuais.

Quem circula pela estrada nacional número cento e onze, viajando entre as Cidades de Coimbra e Figueira da Foz ou o inverso, não deixa de parar para levar como recordação os afamados e deliciosos pastéis de Tentúgal.

Mas se o viajante, perguntar aos habitantes da localidade, provavelmente já poucos sabem a origem de MOURÃO.


PASSADO...

Há relatos de Virgílio, na Eneida, que descrevem uma regata de remos ou as supostas corridas entre os barqueiros do Nilo, no Egito, que teriam competido para ganhar a honra de participar na procissão funerária do faraó.

Na última edição tinha dito que iria informar como adquirirmos a maioria dos barcos e pagaias. Um pouco ao contrário do que se faz agora, em primeiro lugar adquiríamos a embarcação e só depois o atleta para ela.

As instituições viviam tempos difíceis, era necessário sermos imaginativos para conseguir dinheiro para a aquisição de barcos.

Sendo uma Associação de gente nova e bem formada, a maioria com amigos ligados a indústria, comércio e outros afins, porque não ir bater a porta dessa gente, foi o que fizemos.

Tudo começou com a oferta de um barco pela companhia de seguros "O Trabalho", barco conseguido pelo Professor Vítor Pardal que sem rodeios chegou a dita companhia de seguros e disse que queria um barco, assim sem mais palavras e o certo é que o barco apareceu, o nosso primeiro barco que batizamos de "O TRABALHO".

Depois fomos bater a porta de todas as empresas e foram muito poucas que recusaram. Posso aqui mencionar algumas que ofereceram: Móveis Carvalho, Escola de Condução "Auto-Montemor", Câmara Municipal, Motas & Companhia, Eletro gás Minerva, Federação Portuguesa de Canoagem (6 barcos cor de laranja) e a Junta de Freguesia. Possivelmente houve outros que não mencionei por já não me lembrar.

Foi assim que começamos a Canoagem em Montemor, sem pista, sem hangar, sem ginásio, diria mesmo quase sem água. Os treinos na água eram sobretudo realizados no velhinho "poço da cal", na altura um dos poucos locais ainda sem limos e um enorme local de pesca.

Os barcos estavam arrumados num antigo celeiro que o Infantário tinha alugado ao Sr. Carlos Lucas e onde também se faziam as aulas de Karaté, ginástica infantil e de manutenção.

Transportávamos os barcos as costas até a ponte da lagoa e a partir daí, com maior ou menor dificuldade, conseguíamos ir ora para o lado da Ereira ora para o lado do Casal novo do Rio. Tudo era difícil, mas a nossa força de vontade e a minha teimosia eram muito maiores do que as dificuldades.

Assim, demos início a iniciação com vista a competição, sem falta de embarcações e já com objetivos traçados: estar presente nos Torneios Abertos.

Tirei o nível I de treinador e agora era treinar, treinar, treinar com vista a fase Final das Primeiras Pagaiadas, competição organizada pela Federação e destinada aos atletas que estão a iniciar...

... Aqui surpreendemos...

PRESENTE

Hoje no Centro de Alto Rendimento quase que somos obrigados a formar campeões, enormes são as condições que ali temos para que os nossos atletas assim como os treinadores possam trabalhar muito bem e com qualidade.

Mas, o presente e o presente é mesmo hoje, existe uma enorme lacuna nas instalações do CAR. A falta de iluminação para que os atletas que estudam possam treinar no final das aulas.

Com esta mudança de horário só nos é possível treinar na água ao fim de semana. Torna-se urgente que a Câmara Municipal proceda a instalação de alguns postes de iluminação ao longo da pista, seria o suficiente para nossa orientação á medida que vamos avançando na pista.

Não terá forçosamente de ser um projeto complicado e caro, até porque seria mais para nossa orientação, os treinos que já efetuei durante a noite, provaram que a maior dificuldade é mesmo a orientação.

Não existe qualquer lâmpada ao longo da pista.

Este é o PRESENTE da minha pagaiada que apresento hoje, espero que os responsáveis leiam e pensem nesta lacuna que limita e de que maneira a utilização da Pista no Inverno.

Pagaiada para o FUTURO.

Aproveitando o que escrevi no meu PRESENTE, hoje vou aproveitar o que disse para falar sobre o FUTURO.

Assim, gostaria de ver num futuro próximo esta situação da iluminação do Centro de Alto Rendimento, ao longo do lençol de água, resolvido para que seja possível a nós treinadores darmos continuidade ao nosso MACROCICLO de treino que elaboramos no início de cada época, devidamente estruturado com vista a participação nas provas mais importantes do nosso calendário desportivo nacional, assim, com esta paragem nos treinos semanais por falta de visibilidade, os atletas irão de certa maneira atingir a melhor forma física muito mais tarde.

A solução passa sem dúvida por instalar ao longo da pista alguns candeeiros de iluminação. Espero que os responsáveis vejam esta pequena crónica e tentem resolver esta lacuna o mais rápido possível.



As folhas soltas

do outono resvalam por aí, desoladamente …

buscam (parecem buscar!)

o sentido do vento mais agreste ou

o leve rumor de uma aragem

apesar de tudo triste …

Dessa aragem desolada e desaconchegante,

que faz cinzentos (mais cinzentos ainda…)

os dias breves,

cada vez mais breves …

O outono soa a dormência, a letargia…

É tempo de vida parada, de melancolia…

E eu fico apática, alheada de tudo,

numa quase inexplicável abulia

que me tolhe por dentro

e involuntariamente exteriorizo

e se converte num olhar inexpressivo e vago,

num semblante melancólico, aparentemente indiferente

à chuva que cai e que, engrossando, tudo ensopa,

encharcando-me a alma …

Só o céu azul e o sol sabem dar cor

e conhecem o segredo da alegria,

da vida buliçosa e com sentido…

Assim, vivo o outono e o inverno

à espera dessa luz de esperança,

sempre na expectativa da plenitude

e do cumprimento das promessas

que o vento arrastou para longe,

impiedosamente…



PESSOAS

O mundo está cheio de pessoas... 

Há pessoas caladas

que precisam de alguém para conversar...

 

Há pessoas tristes

que precisam de alguém para confortá-las...

 

Há pessoas tímidas

que precisam de alguém para ajudá-las a vencer a sua timidez...

 

Há pessoas com medo

que precisam de alguém para dar-lhes a mão...

 

Há pessoas fortes

que precisam de alguém

para fazê-las pensar na melhor maneira de usarem suas forças...

 

Há pessoas habilidosas

que precisam de alguém para ajudar-lhes a descobrir a melhor maneira de usarem suas habilidades...

 

Há pessoas que não sabem fazer nada e precisam de alguém que as ajude a descobrir as diversas coisas que final sabem fazer...

 

Há pessoas apressadas que precisam de alguém para mostrar-lhes tudo o que não têm tempo para ver...

Há pessoas que se sentem do lado de fora e precisam de alguém para lhes mostrar o caminho da entrada...

 

Há pessoas que dizem que não servem para nada e precisam de alguém para ajudá-las a descobrir como são importantes.

Essas pessoas,

Somos NÓS...

Esse ALGUÉM

És TU!

RESPIRO POESIA

Ah! Como eu gosto de poesia…

Como eu vivo e respiro poesia,

Como eu me alimento dela…


Penduro-me nos meus sonhos

Abraço-me aos meus desejos

E nos meus lábios… tenho sempre

Madrugadas de esperança…


Ah! Como a poesia me preenche o vazio

Me aconchega, quando eu sinto mais frio

Me é fiel…. Companheira e amiga…


Com ela nunca me sinto sozinha

E nem penso em tristeza…

Penso mesmo é na beleza


Que me cerca…

Ah! Como eu sinto a compulsão

De dizer-vos por palavras

O que me vai no coração…


E então: ponho-me aqui a escrever

Numa torrente de abraços

Em que vos quero envolver…


Viver, viver e sonhar!

Toda a beleza do mar

Vive pertinho de mim…


Por isso eu sou assim

E assim me deixo levar

Nunca deixo de sonhar

Com a poesia que há em mim!..

Desvanece...
Estes eram os dias em que a alma ardia
Em que a dor te envolvia como um manto
Em que a tempestade se apagava no pranto…
 
Estas são as noites em que o frio invade
Pelo corpo se espalha como doença
Em que o esquecimento é a sentença.
 
Por fim, vencida pelo cansaço,
De uma espera sem esperança
Escureço num sono sem lembrança
 
Não consigo segurar a luz da tarde,
Este perfume que ao ar pertence
Nem a tua imagem que desvanece

(férias)

Zeitgeist: ou do tempo em que é fundamental reforçar o associativismo.


É-me difícil escrever neste clima de guerra em que vivemos.

Ainda mais difícil, e perdoem-me este episódio prosaico, quando a campainha de casa toca.

Um operário da construção civil ficou sem gasóleo na carrinha da empresa e procurava quem o ajudasse a ir a uma gasolineira próxima para encher uma lata que o deixasse regressar a casa. Dizia: “estou aqui a tocar a campainhas vai para uma hora e ninguém me ajuda”. Amigo, calma, eu ajudo – disse eu.

Certo, e sabedor, que o nosso valoroso editor me iria puxar as orelhas pela preguiça de pontualidade.

Fiquei, contudo, a pensar na humanidade. Raios, não havia mais quem ajudasse? Lá fui com o homem à bomba de gasolina e voltei a casa a pensar: Como não havia mais ninguém?

Deixou de haver gente que sente o desespero do outro?

Ter-se-ia perdido a nossa humanidade? Isso não sei.

Sei que se vai perdendo muito espaço público e muito associativismo.

Isso é terrível para o município de Montemor-o-Velho.

A perda de humanidade é absolutamente terrível.

A guerra, essa, só acrescenta ódio a ódio.

A perda de associativistas e gente a desfrutar o espaço público é uma tragédia no município e torna-nos mais isolados, ficamos mais pobres, muito mais vulneráveis e acima de tudo sem mãos para mudar o que é a terra em que vivemos.

Seria um idiota se desprezasse o mau resultado dado pelo entrar a eito do cacique partidário nas associações. Serei um burro se não disser que devemos voltar ao associativismo e ao espaço público. É disso que se faz, de facto, também a democracia popular. Na próxima vez seremos mais a ir à bomba. Ainda bem.


Adorei a emotividade do discurso de Emílio Torrão que me chegou por telemóvel em formato vídeo, referente à última sessão solene do dia do Município de Montemor-o-Velho, não porque tenha assistido ao vivo e a cores ou tenha sido convidado como antigo autarca para o evento,  contrariamente a muitos outros que todos os anos engrossam a comitiva e disfrutam dos comes e bebes e acepipes, mas porque fez questão de me responder sem citar o nome, me designar “profeta da desgraça”, afinal, só por não concordar com ele, o ter criticado em alguns momentos, designadamente, nos assuntos respeitantes à “estátua” da queijada de Pereira, ao “regabofe das Festas”, ao “conjunto estatuário de Fernão Mendes Pinto”, entre outros detalhes que tenho vindo a abordar nos últimos tempos, por um lado, pela forma como tem sido aniquilado e subjugado o PS concelhio ao estrito interesse do executivo municipal e, por outro, pelo péssimo desempenho autárquico, político, estratégico, sociológico e operacional.

Com pouco mais de 25 anos, ainda bastante jovem, fui eleito Presidente do Conselho Municipal, órgão consultivo e representativo da sociedade civil que só durou 1 mandato de 4 anos até ter sido extinto, sem que me recorde se foi por iniciativa do PS ou PSD. Mais tarde fui eleito vereador da oposição em duas ocasiões: a primeira, quando me candidatei a nº 2 de José Manuel Antunes à Câmara, ganha por Luís Leal, em que conjuntamente com os meus camaradas e amigos Ramalhete e Fidalgo, cumprimos o mandato até ao fim e eu assumi o difícil papel de liderar a oposição, e a segunda como candidato à presidência da Câmara, que perdi e a cujo mandato renunciei, já que não deveria ter sido protagonizada por mim mas por Fernando Ramos ou José António Sousa Alves, anteriores Vice-presidente da Câmara e Presidente da Assembleia Municipal, que declinaram e não quiseram ir a “jogo”, abrindo por minha iniciativa espaço a uma futura candidatura de Torrão, que a veio a alcançar dois mandatos mais tarde. 

Daí para cá nunca ninguém mais me convidou para as festividades do dia do Município e outros eventos ocasionais, nem para a inauguração do Centro Náutico do qual fui o principal mentor, concretizado parcialmente nos mandatos de José Manuel Antunes, o presidente a quem há muito deveria ter sido reconhecido o mérito, tal como a mim próprio que nem sequer fui convidado para a inauguração, tempos em que me mudei para o Alto Alentejo com a família e soube a que sabe a traição, a maledicência, a mentira, a calúnia e a tentativa de assassínio de caráter!

Tempos a partir dos quais, Torrão e Guerra se tornaram num só e conseguiram enganar Montemor-o-Velho e os montemorenses, um a brincar às câmaras municipais e à melhor maneira de esbanjar os recursos públicos em festas e festinhas, eventos e “eventinhos”, estátuas e estatuazinhas, e o outro a brincar à melhor maneira de desmanchar uma das mais criativas e prometedoras IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social e ONGD – Organização Não Governamental para a Cooperação e Desenvolvimento Portuguesa, condenando-a à vulgaridade e boçalidade, submetendo-a a objetivos medíocres e a modelos de gestão centrados nos interesses dos beneficiários entre “presidentes, diretores e diretores executivos”, em vez dos outros beneficiários realmente importantes: utentes, famílias, comunidade, funcionários e parceiros, já para não falar dos pobres, dos velhos e dos excluídos...!

Este ano, por ter estado mais tempo entre a Figueira da Foz e Montemor-o-Velho, fui acompanhando de perto as dinâmicas quer da Câmara e seus responsáveis, quer da Associação Fernão Mendes Pinto e seus diretores, assumindo as críticas que entendi dirigir a uns e outros sem me intimidar ou deixar passar em claro o que não está bem, assistindo a uma ou outra Assembleia-geral da AFMP e intervindo publicamente de forma a convencer as entidades competentes de que é urgente sindicar as suas práticas e desvios funcionais, fiscalizar procedimentos e garantir a total transparência na utilização dos recursos públicos colocados ao dispor.

E descobri também o que nunca pensei chegar a ver num município socialista, ou seja, duas áreas VIP nas festas, uma como parque privativo de estacionamento da nomenclatura, com acesso privilegiado ao palco principal, e a outra, um espaço VIP atrás do dito palco, de comes e bebes à borla para a socialite concelhia e os artistas contratados. 

Enquanto isso, as festividades de muitíssimas centenas de milhares de euros, exceto para feirantes e bares - e mesmo no que respeita aos bares com critérios muito largos e pouco transparentes -, afundaram a feira tradicional e transformaram o evento num festival como todos os demais que proliferam pelo país, apenas com a variante de que em Montemor-o-Velho foi de graça e nos outros sítios a pagar, ou seja, por cá tudo à grande…!

Enquanto tudo isso ocorria, na cerimónia filmada e difundida pelos serviços autárquicos ou alguma das empresas contratadas para esse e outros efeitos, chamou-me a mim e a outros “profetas da desgraça”, a mim porque pus em causa a suposta genialidade concetual e artística do conjunto estatuário de homenagem a Fernão Mendes Pinto e divulguei os 144 mil euros que a mesma custou, acreditando, contudo, que o valor terá ficado muito acima desse montante e que terá sido diluído na conta corrente da edilidade, tal como aproveitou o ensejo para destilar a sua verborreia e  espumar contra os opositores da ABMG - Águas do Baixo Mondego, que o têm acossado e ganhado as ações que lhes têm sido movidas em tribunal.

E por falar em Fernão Mendes Pinto, vem ao caso a Associação cujo nome foi por mim proposto e aprovado há muito, cujo anterior presidente já só é terceiro ou quarto vice-presidente, mas continua a ser Diretor Executivo, pelos vistos para se reformar no decurso do mandato irregular em que todos os membros dos corpos sociais são cúmplices e incorrem, caso a Inspeção da Segurança Social o venha a querer determinar, não se sabendo até ao momento e à próxima Assembleia-geral se o atual presidente da direção recebe salário pelo desempenho do cargo…(?)

Por outro lado, já que o Presidente da Câmara ficou tão irritado com as críticas que lhe foram feitas e maldisse quem as fez, seria de bom tom explicar como é que a edilidade contratou através de procedimento simplificado para o ano letivo em curso, à UNISELF, 922.000 euros de refeições destinadas às escolas concelhias, confecionadas em condições mais do que precárias na Cadeia Velha, utilizando instalações da Câmara cedidas à Associação, pessoal e equipamentos da Associação cedidos à UNISELF, mas que nas contas de gerência da instituição praticamente não têm reflexo, tal como as pinhas doces que, pese embora o sucesso e de estarem a ser vendidas por todo o lado, fica a sensação que as quantidades reportadas ficam muitíssimo aquém das que são comercializadas. 

Serei o primeiro a pedir desculpa publicamente se isto que aqui deixo dito não for verdade, pois até pode haver algum contrato celebrado nestes últimos 13 anos entre todos os intervenientes que eu desconheça, mas como nas assembleias gerais da associação os esclarecimentos são sempre escassos, sacados a ferros da boca seca do ex-presidente, tenho todo o direito de duvidar e repetir que durante todo o último mandato, inclusive os dois últimos, nunca a pergunta de quantos associados tem a Associação foi respondida, tendo as eleições sido realizadas sem que se soubesse quantos e quem eram os associados com direito a voto, já que alguns que nem sequer o eram nem poderiam ser, foram eleitos para os corpos sociais! 

50 ANOS DO 25 DE ABRIL: EM TEMPOS DE «IMPOLÍTICA», UM LIVRO QUE ASSINALA A NATUREZA MATRICIAL DA REVOLUÇÃO NA DEMOCRACIA PORTUGUESA

Reúno neste livro alguns textos que fui escrevendo para seminários, obras colectivas, conferências e outros actos públicos a propósito do 25 de Abril, da Revolução Portuguesa de 1974/1975, designadamente para o seu cinquentenário, que se assinala em 2024. É uma forma de me associar à celebração dessa efeméride que mudou o curso da história portuguesa a partir do último quartel do século XX.

A anteceder esses ensaios, deixo um texto testemunhal, autobiográfico, que pretende tornar presente, contra um certo tipo de desmemória organizada, o modo como uma jovem geração militante nos anos 60 e 70 do século passado resistiu à ditadura, denunciou o absurdo e a injustiça da guerra colonial e desembocou na tempestade revolucionária abrilista com a alegria e o entusiasmo que lhe conferia a convicção profunda de que estava a ajudar a moldar com as próprias mãos um futuro emancipatório para o povo português e a responder aos desafios de uma revolução mundial que, desde 1968, parecia aproximar‑se da Europa. Dessa esperança sagrada, dos seus sucessos e insucessos, vos falam este meu depoimento e o conjunto de ensaios que lhe sucedem.

— Fernando Rosas



as estrelas brilhavam mais forte no mês de abril e as palavras cantadas cantavam mais alto os planetas giravam em torno do sol em perfeita ordem e eu acreditava em dias melhores e era tudo por causa de você era tudo por causa de você era tudo por causa de você mas esse abril tá diferente as flores murcham, a gente mente que acredita em dias melhores planetas colidem, estrelas eu já não vejo mais palavras eu guardo pra mim

Meisje met de parel (Brasil: Moça com o Brinco de Pérola / Portugal: Rapariga com o Brinco de Pérola) é uma pintura do artista neerlandês Johannes Vermeer de 1665. Como o seu nome indica, é utilizado um brinco de pérola como ponto focal. A pintura faz parte da coleção do Mauritshuis de Haia. É muitas vezes referido como "a Mona Lisa do Norte" ou "a Mona Lisa holandesa".




BARCAÇA_MAIO

  Para garantir a redução do expediente extenuante, os trabalhadores da cidade de Chicago organizaram uma greve para o  1º de maio  de 1886....