Mais
um marco no historial da Barcaça, ao atingirmos a trigésima sétima edição, que
por águas calmas vai deslizando efetuando o seu caminho até não sei bem, porque
o timoneiro nada nos disse para onde íamos.
Todas
as suas saídas são um labirinto de conhecimento, de poesia e de alguma análise
política, mesclada com livros e música onde os seus “cronistas” nos deliciam
todos os meses com a sua prosa.
“Pontos
Sem Fim” fala-nos do seu passado distante onde os miúdos sem telemóvel nem
redes sociais digitais, se reuniam com outros sons, sejam do sino ou da sirene
e controlavam as suas actividades de lazer com esse espírito, que dia após dia
era uma pequena aventura. O jogo do pião, botão ou futebol na feira era sem
dúvida uma actividade que enraizada nos miúdos daquele tempo os trazia sempre
em plena forma.
Mário
Silva foi até Liceia para nos falar da Igreja Matriz de São Miguel de
Liceia a sua origem a sua história.
Já sobre “Os Meus Olhares” Carla serpenteia-se entre os acasos da vida e das marcas que eles nos deixam na sua confusa compreensão ou não.
José Craveiro desta vez traz-nos um conto lindissimo do fazer bem na cara de um lavrador, "A quem dos pobres se lembra, Deus sempre ajuda."
Já António no seu
“Carta aos Carrascos” é um momento muito seu como diz “do nascimento à morte”
um estado de alma que com a sua prosa simples e assertiva nos diz como é a vida
sempre no laço muito fraterno Escola/Vida.
Olímpio
Fernandes num salto enorme até à sua infância descreve-nos como era a rudeza
desses tempos e numa simbiose com o presente onde a inteligência artificial
ninguém por agora saberá dizer para onde vamos.
Fernando
Curado continua a deliciar-nos com a história da sua Figueira e desta vez algo
que marcou muitas gerações o naufrágio do João Costa, um dos mais jovens
oficiais da frota bacalhoeira.
Já
do outro lado também com dados históricos Aldo Aveiro fala-nos do Rei
Absolutista D. Miguel que em outubro de 1828 celebrou em Montemor-o-Velho com
grande pompa o 26º aniversário de D. Miguel, o regente que foi rei absolutista.
António
Matos descreve-nos a Lenda de Tentúgal e Local Chamado Mourão.
Seguindo
a sua “PAGAIADA” João Amaral entre o passado e o futuro faz uma resenha do aparecimento
da canoagem por terras de Montemor-o-Velho desde a sua criação até às
dificuldades ultrapassadas e faz no seu presente um repto ao Edil para que dê
um passo simples e tão necessário para todos os praticantes desta modalidade
que colocou Montemor-o-Velho na boca do Mundo. Uns candeeiros e nada mais...
Na
secção da poesia mais uma vez com as suas diferenças, leituras simples, mas
calibradas com as próprias emoções de cada uma das autoras.
Já
no panorama político mais uma vez as preocupações do momento e sem sabermos
muito bem para onde o Concelho se dirige e se alguma vez irá navegar em águas
calmas como a Barcaça? João Mendes muito preocupado com o momento que se vive
no Associativismo no Concelho e nomeadamente na Sede de Concelho. Victor
Camarneiro dirige-se ao Presidente com algumas perguntas que deveriam ter
resposta, mas no quero posso e mando possivelmente nem na outra vida iremos ter
esse prazer, quem sabe com a queda do executivo nas próximas eleições haja
vontade para uma sindicância para ficarmos a saber o que por lá se passou...até
lá resta-nos esperar sentados. Mas deixa também umas “farpas” à AFMP que lhe
está atravessada na garganta pela punhalada que lhe deram a si como um dos seus
fundadores.
Na
secção da nossa Livraria, 50 anos do 25 de Abril de Fernando Rosas, na música
um tema interligado Abril de Mari Froes.
Nos
quadros dos famosos “Moça com Brinco Pérola de Johannes Vermeer datado de 1665.
E
assim vos deixo até à próxima Barcaça que vai navegado dia após dia na
esperança de encontrar o seu porto de abrigo.
Boas
Leituras
Hoje
um dia diferente, ou talvez como os restantes, só que me apetece descer a
calçada de pé descalço e recordar outros tempos onde as solas eram repostas
pelo sapateiro da vila, havia dois pares bem destintos, os da semana e os de ir
à missa.
O
tempo esse nem chovia nem fazia sol, o encontro era na feira, alguém levava a
bola de “catechu” e tinha o direito de escolher a equipa.
Se
eramos felizes com estas horas de desporto em terra batida, a noite caía
e teríamos de ir jantar e já não voltávamos porque deitar cedo e cedo erguer
era a nossa vida.
A
escola era já ali, tudo ficava perto nesse tempo, o rio, a feira, o campo de
futebol e o nosso castelo...
O
relógio era dado pela torre da igreja e aos domingos o meio-dia pela sirene dos
bombeiros.
Alguns
dias tentávamos a nossa sorte no peixe à toca, porque não havia dinheiro para
canas de pesca ou se tivéssemos um pouco de fio e um anzol, boía com rolha de
garrafa arrancávamos uma cana do canavial e lá íamos todos
felizes com a nossa cana improvisada.
Recordo
também o conforto de chegar a casa, a fome a bater no estomago, no borralho a
panela de sopa em ferro fundido, mais arriba deste o forno com broa com petinga quentinha que num
prato com azeite fazia as nossas delícias.
Cair
na cama era outro dos momentos que ainda hoje recordo, colchão de penas enorme
onde este corpo franzido desaparecia e só com o arraiar do dia estremunhado, se
levantava para ir à escola.
A
romaria à medida que avançávamos mais rapazes se juntavam uns que vinham do Outeiro
outros de Quinhendros e alguns do Moinho da Mata cruzava-nos todos os dias da
semana para frequentar as aulas do Professor Soares ou do Professor Teixeira eu tive a sorte de ficar com Professor Soares sabe-se lá porquê?
O
domingo demorava a chegar, porque era o dia da visita esporádica ao Ti Baldaque
e saborear uma espiga grande. Era comida tão lentamente porque este momento só
viria novamente no próximo domingo se a semana corresse bem.
Depois
dávamos corda aos sapatos e semana sim semana não o campo das lajes era o nosso
palco para aplaudir a equipa da casa Atlético Clube Montemorense.
Viajar
no tempo traz-me tanta saudade, porque foram bem vividos e diria que se fosse
pintor conseguiria pintar este quadro seja na feira como na escola a jogar ao
berlinde, ao botão ou pião...
Ainda
hoje mantemos contactos com esta rapaziada que na casa dos 60 e uns trocos
andamos por aí.
Igreja Matriz de São Miguel de Liceia
Situada a
poente da povoação, na saída para a vizinha freguesia de Ferreira-a-Nova, a igreja
matriz de Liceia, dedicada ao arcanjo São Miguel (orago da freguesia), remonta
ao período Românico (século XII/XIII), vindo a sofrer importantes reformas nos
séculos XVI e XVIII.
A fachada é
simples e a porta principal de padieira curva e frontão interrompido por ramos
a enrolar ao centro. Sobre a porta está um pequeno nicho oriundo de um antigo
retábulo a abrigar uma escultura de pedra de São Miguel do gótico decadente dos
primórdios do século XVI. Uma má janela substituiu em passado recente um óculo
circular.
A porta
lateral, à direita, é da época geral do edifício e a ela sobrepuseram um
pequeno frontão curvo com “Cristo abençoado” e é resto do retábulo a que
pertencia o nicho da frontaria.
O púlpito, de
base em pedra e balaustrada de madeira, fixa-se na parede do Evangelho e sobre
o nártex está o coro-alto com acesso interior.
Na capela-mor
o retábulo principal constitui o aproveitamento de velhas talhas e os
colaterais em obras recentes foram substituídos por nichos.
O teto
estucado ostenta, sobre o arco-cruzeiro, um brasão eclesiástico de pura
fantasia. É património ancestral da igreja as esculturas de São Bento, São João
Batista, Nossa Senhora da Piedade, Virgem com o Menino (Rosário), São
Sebastião, Santo António e Santa Luzia (séculos XVI-XVII).
Inicialmente,
a freguesia foi um pequeno curato apresentado pela abadessa e freiras do
Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, suas donatárias, surgindo mais tarde anexada
à igreja matriz de São Martinho de Montemor-o-Velho. Presentemente é jurisdição
eclesiástica de Coimbra, arciprestado da Carapinheira.
Os primeiros
registos paroquiais observaram-se a partir de 1655, ao tempo do padre Francisco
Cação Cardoso.
Os antigos
altares colaterais eram em honra de São Sebastião e caixão de Nossa Senhora do
Rosário, do lado da Epístola, e, do lado do Evangelho, o de Santa Luzia e
caixão do Santo Nome de Jesus, com mesa da Confraria.
O acesso ao
adro e igreja é feito a nascente por um portão de ferro datado de 1882. No
adro, encontram-se vestígios de antigo cemitério com sepulturas privativas e
jazigo da família do Conselheiro Joaquim da Silva Guardado, edificado em 1884.
Mário Silva
Fonte: Correia
Góis, Concelho de Montemor-o-Velho – “A
Terra e a Gente”, Montemor-o-Velho, CMMV, 1995, pp. 116-117.
[o meu olhar sobre …]
Hoje escrevo sobre os acasos da vida. Aquelas
situações que acontecem quando menos esperamos e que, na maioria das vezes,
marcam a nossa vida de forma significativa.
Alguns desses momentos, chamemos-lhes acasos,
podem ser simples coincidências, ou serão respostas do universo, partidas do
destino ou algo maior que ultrapassa a nossa compreensão? Será que algum dia
saberemos?
É fascinante pensar como certos encontros, lugares
ou acontecimentos podem mudar completamente a direção dos nossos caminhos.
Acontecem quando menos esperamos.
Pode ser aquela pessoa que conhecemos por acaso
numa festa, num encontro ocasional a porta de acaso e que se torna um grande
amigo, ou um emprego que aparece de repente e nos faz descobrir uma nova paixão
ou talento.
Um caso ou um acaso?!
Coincidência ou destino?
Há quem acredite que os acasos não são apenas
fruto do acaso em si, mas sim uma forma do destino ou do universo nos guiar
para algo.
São pequenos acontecimentos, na nossa vida, que
nos fazem voltar a acreditar.
Como se houvesse um plano invisível que nos
levasse às pessoas ou situações que precisamos encontrar. Acontecimentos que
precisamos viver. Momentos de felicidade.
Esses acasos muitas vezes parecem pequenos
milagres. Acontecem por norma quando estamos a passar por momentos difíceis.
Acontecem, assim, de repente.
Sim, de repente, uma pessoa desconhecida surge com
palavras de conforto ou aquela ajuda que precisas.
Ou quando menos esperas surge a resposta para um
problema com que há muito te andavas a debater.
Ou, sem esperar, encontramos exatamente o que
precisamos num livro, numa música ou até mesmo numa conversa casual.
Sim. Acontece.
De repente, sem procurares.
Sim, o mais curioso é que, muitas vezes, esses,
supostos, acasos acontecem quando menos esperamos.
Quando abrimos os nossos corações e mentes para o
desconhecido, sem preconceitos ou expectativas, permitimos que a magia dos
acasos se manifeste.
Acontecem naquele dia em que achamos que, por
várias razões, será apenas mais um dia igual a todos os outros.
Independentemente do que acreditamos sobre os
acasos, uma coisa é certa: eles ensinam-nos a estarmos atentos, a aproveitarmos
as oportunidades que surgem e a confiar no fluxo da vida.
Sim. Há que acreditar. Sempre.
Podemos chamar de destino, universo, acaso ou
qualquer outra coisa que faça sentido para nós. O importante é reconhecer que
esses encontros e situações têm o poder de transformar as nossas vidas, de uma
maneira ou de outra.
Não interessa. Um dia entenderemos. Talvez.
Então, da próxima vez que um acaso, uma
coincidência ou uma partida do destino acontecer na tua vida, permite-te viver
essa experiência com curiosidade e gratidão.
Não questiones.
Não tenhas receio. Vive apenas.
Deixa fluir.
Quem sabe o que o universo tem reservado para ti?
Fica aberto e recetivo, pois os acasos, as
coincidências, as partidas podem ser pequenas pistas que nos levam a uma vida
mais rica e significativa.
Nunca te esqueças disto!
Era uma vez um lavrador que tinha por costume deixar qualquer coisa em
todos os locais onde estavam as "alminhas"', dizendo sempre "
seja p'las alminhas", rezando um Pai Nosso e uma Avé Maria.
Uma noite em que o pobre lavrador tinha no campo todo o milho e feijão que
seria para ele e para quem lhe batia à porta, passar um inverno melhor, começa
a trovejar de tal maneira que parecia que caía o Céu sobre a Terra.
O milho estava cortado e o feijão às "gavelas" para serem
encaminhados para a eira, mas, o que era certo era estar tudo no campo e em
perigo.
Ainda o sol estava sabe Deus onde, já o bom lavrador estava a caminho do
campo, temendo que não traria muito, mas faria o possível por salvar o que
pudesse.
Chegado ao campo vá de carregar o que pudesse. Carregou o milho e por cima
carregou o feijão com a ajuda de um pobre pedinte a quem deu esmola tanta vez
que lhe disse estar de passagem para a esmola.
Atou a carrada e quando ia a chegar á ponte da Vila ou ponte do Rebolim
olhou para trás e viu tudo coberto de água.
Meu Deus. Isto encheu tão depressa?
Uma voz lhe respondeu:
A quem dos pobres se lembra, Deus sempre ajuda.
O pobre lavrador tirou o chapéu e disse:
Lembrai-Vos Senhor das pobres Alminhas.
Novamente a voz se fez ouvir:
Bem-aventurados os misericordiosos pois alcançarão misericórdia.
Veio a saber que o pobre que o ajudou a fazer a carrada tinha morrido já
havia dois meses.
Deus é louvado, o que era para contar, está contado.
CARTA aos CARRASCOS
Um dia, quando tombares
no chão da calçada fria
Uns virão levantar-te
Não por compaixão
Antes pelo remorso da
triste e inabalável condição
De serem carrascos.
Serão frios,
Alarmante mente frios!
Nessa ocasião, nesse
chão de margaridas
Sempre se ouvirão os
malfeitores
De mortes causadores,
não de vidas
Em trémulas canções
originais
Que de vida não serão
mais,
Antes de mortes
anunciadas pelos carrascos causadas.
Tristes desses!
Nunca conseguiram,
Nunca passaram
ribeiras,
Arregaçando a calça
pelo joelho
Esse mesmo que sempre
dobraram
Perante quem lhes dava
mau conselho.
O conselho de matar,
torturar, difamar
Sem consentimento dos
deuses,
Esses deuses endeusados
Sabedores de males e
pecados
Videntes de vidas
pálidas, bacietas, dormentes.
Os deuses da loucura
Na incansável e parva
procura
De carrascos que
deitassem fogo
Incendiassem mais a
fogueira
Com labaredas de ódio.
Esses deuses que não
paravam
Que não vacilavam.
Os carrascos são
mortais!
Matam aqui e ali,
Matam sem perceber que
matam
Torturam por interesse
O interesse dos
incapazes
Que só conseguem
respirar
Só conseguem arfar
Cansados de querer
subir, de tudo trepar.
Afinal, só conseguem
rastejar!
Tu, carrasco da infâmia
Que transportas por
entre os dedos
Que trazes a loucura da
ambição nos teus medos
Carregas às costas e no
juízo
A desgraça que provocas
Num eterno e
irreparável prejuízo àqueles que mataste devagar
Mataste sem parar.
Tu és o carrasco dos
dias e das noites,
Porque nunca levaste
uns belos de uns açoites,
Antes tiveste tudo de
mão beijada
Mas…de saber nunca
tiveste nada!
Morrerás, carrasco,
Porque verás morrer
Quem deste a nascer,
Às mãos de outro
carrasco,
Pois quem com ferros
mata
Da divina providência
se trata
E verás quem amas
Não se levantar da lama
Do chão que outrora foi
de pasto
Agora já de sangue
Verás os teus morrerem
Às mãos de outro como tu, carrasco!
Está
provado por quem sabe destas ciências, que ficamos conscientes do que vivemos
nas nossas infâncias e mais adiante na juventude, mal vai digo eu sem
pretensões de sabedoria, se por desventura esquecermos esse pulsar do nosso
crescimento naquelas idades, depois pela vida fora, julgamos no presente o
aziago preconceito de um ego insensível e de todo embrutecido e reconhecido
pelos que nos conhecem e rodeiam, apenas e só por devaneios da parvoíce.
É certo que vivemos pasmados com as novas técnicas da inteligência artificial repentinas, a fazer pensar que não existimos já como pessoas no agir e construir.
Coisas do diabo, tenho a certeza diziam as saudosas mulheres no Casal Novo do Rio, quando me ajeitava em seu colo e me davam a comer o caldo da panela de ferro.
Evoluir não é esquecer as origens, mas de todo fazer a ponte do passado e do presente. Vamos supor que vou ao Casal Novo do Rio, em vez de ouvir as minhas gentes e as suas belas histórias de vida, as reduzo à minha viagem, aos meus êxitos e fracassos, feito parvinho e convencido?
Estejamos atentos à modernidade das novas tecnologias e não devemos contestar as aventuras das caravelas sobre o mar, como se fossemos velhos e rabugentos, diria cobiçosos com o mais saber dos outros e das suas lições de conhecimento, por aí aprendemos e somos solidários.
Tudo isto pelo facto de nunca me ter entendido com os doutoraços da moda, eu que fui uma pessoa que sempre prezei pelo meu profissional, propondo às mulheres e homens as modas do meu País e de Paris, mas não perdendo a certeza e a noção das minhas origens, coisa ridícula se todos sabem que nasci para lá do sol posto à beira do meu rio Mondego.
NO DIA 24 DE SETEMBRO FEZ 71 ANOS QUE OCORREU O NAUFRÁGIO DO JOÃO COSTA.
O navio-motor JOÃO COSTA, propriedade da Sociedade de
Pesca Luso-Brasileira, Lda., sedeada na Figueira da Foz, foi construído nos
Estaleiros Navais do Mondego, na Morraceira, pelo mestre Benjamim Bolais
Mónica.
Este navio de madeira, com 48 metros de comprimento, foi lançado nas águas da Figueira no dia 20 de dezembro de 1945.
Seis anos depois, no dia 15 de abril de 1952, largou de Lisboa rumo aos Bancos da Terra Nova e Gronelândia, comandado pelo capitão João José Silva Costa, um dos mais jovens oficiais da frota bacalhoeira e, com o seu pai, sócio gerente da empresa proprietária do navio.
Com 74 homens de tripulação, usando o método da pesca
de bacalhau à linha, com um pescador por dóri, pescou, carregou e salgou, ao
longo de 5 meses, 11.000 quintais de bacalhau, tendo iniciado a viagem de
regresso à Figueira da Foz no dia 18 de Setembro de 1952.
A 23 de Setembro, pelas 20 horas, quando a tripulação
confraternizava o aniversário do pescador Penicheiro, sentiu-se uma explosão
seguida de incêndio na casa das máquinas.
Completamente carregado, naufragou completamente a 24 de setembro de 1952, com 74 homens a bordo, sendo 49 figueirenses (de Alqueidão, Buarcos, Vila Verde, Cova e Gala), 7 de Vila do Conde, 3 da Povoa de Varzim, 3 da Fuzeta, 2 da Nazaré, 1 de Almada, 1 de Lagos e 8 de outras localidades.
Um curto-circuito surpreendeu a tripulação.
"Parecia pólvora. Pegámos nos extintores para apagar, mas o fogo progrediu
rapidamente, devido ao facto das madeiras transpirarem o gasóleo que era usado
no abastecimento da embarcação e não conseguimos dominar as chamas",
recordou o sobrevivente Hipólito Luís.
Quinze minutos depois o fogo tornou-se incontrolável e, face ao perigo de novas explosões nos tanques de combustível, o comandante João Costa ordenou o abandono do navio e decidiu dividir os 22 dóris em 2 grupos.
Cada grupo possuía uma bússola que, a todo o custo,
tinham conseguido retirar do navio em chamas.
“Foi aí que se instalou a confusão. Era cada um a ver
quem se safava primeiro, para agarrar lugar nos dóris. Vivemos momentos de
pânico", relembrou Hipólito Luís.
Dentro dos dóris, aterrorizados, os pescadores viam o
"João Costa" a adernar. Com o auxílio das bússolas tentaram navegar
rumo à ilha de S. Miguel, nos Açores, 60 milhas a sul.
O tempo passava. À deriva no oceano os pescadores
perdiam as esperanças. "Valeu-nos a fé!", explicou o náufrago Remígio
Gonçalves, conhecido como o "da caraga".
Era terrível a dor de verificar o desaparecimento de alguns dóris, afastados e destruídos por fortes ventos e correntes. Dos 22 dóris iniciais restavam agora 17.
Só ao terceiro dia os náufragos conseguiram beber
água, quando choveu abundantemente.
Capturaram uma tartaruga, que comeram crua. As
alucinações estavam a aparecer. Sem comida, sem água e sem ajuda, os homens
fizeram o inconcebível.
"Conseguimos manter a calma e milagrosamente salvamo-nos
todos menos o cão, o Bobby, que tivemos que matar para comer. Já andávamos à
deriva há uns dias. Foi a única forma de sobrevivermos", contou Hipólito
Luís, com os olhos húmidos, quando já tinha 76 anos.
A 27 de setembro, por mero acaso, o navio americano
COMPASS encontrou 3 dóris com 12 náufragos. Lançou de imediato o alarme e rumou
para Lagos, no Algarve, onde deixou Bernardino do Nascimento, Francisco Luís,
Armando Parracho, Silvério Madeira, António Silva, Manuel Borges, Bartolomeu
Ramalho, Manuel Guerra, José Fidalgo, António Charana, Joaquim Soares e
Francisco Baptista. Desembarcaram em Lagos no dia 8 de outubro.
Continuavam perdidos, em alto mar, 62 pecadores em 14
dóris. Suportaram frio, sede e fome, durante 7 dias. Tentaram manter os dóris
agrupados, mas, se durante o dia era relativamente fácil, o mesmo não acontecia
durante a noite. Vários barcos passaram ao longe, mas ninguém os avistou.
"Não imaginavam o que se passava".
Estavam desidratados, esfomeados e sem forças, quando por acaso, no dia 30 de setembro de 1952, uma embarcação avistou os dóris, “com homens ajoelhados, que não estavam a pescar, antes a implorar ajuda". "Naquele dia voltámos a nascer", recordou António Santos, entredentes, com 77 anos.
O navio STEEL EXECUTIVE recolheu 35 náufragos e o
navio HENRIETTE SCHULTE salvou os restantes 27. Estes 62 náufragos
desembarcaram em Ponta Delgada, Açores, no dia 30 de setembro.
O meu tio Alberto Jordão e o meu primo Alberto Curado
(1º motorista do João Costa), Bartolomeu Ramalho, Manuel Borges, Mário
Pimentel, António Félix, Manuel Roque, Mário Miranda, Quim Manardo, João José,
José Chapada, Remigio Macara, Zezola, Antonio Pachita, Hipólito Luís, Remígio
Gonçalves e António Santos encontravam-se entre os 49 náufragos figueirenses.
Os familiares dos náufragos e a cidade da Figueira da Foz receberam com incomensurável alegria a notícia de terem sido salvos todos os tripulantes do navio-motor JOÃO COSTA.
Apesar do Jornal do Pescador ter noticiado que o
comandante Tenreiro tinha telegrafado para os Açores, para a Casa dos
Pescadores de Ponta Delgada, a dar instruções para dispensarem todos os
cuidados necessários aos náufragos do João Costa, estes foram recebidos na
Figueira com alguma frieza pelos “donos do peixe”, como nos relatou António Paxita
no livro de Manuel Luís Pata, “A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau”, volume
II:
“Deram-nos roupa, cuecas, camisola interior, meias, sandálias e uma boina. O pior foi quando chegámos à Figueira e fomos receber o valor do peixe que tínhamos pescado, pois descontaram-nos 390 escudos da roupa que nos tinham dado. Bem, deram-nos alojamento e comida, mas a roupa tivemos que a pagar...”.
O comandante João José da Silva Costa nasceu na
Figueira da Foz no dia 23 de abril de 1919, filho de João José de Figueiredo
Costa, e aqui faleceu em 9 de agosto de 1990. No ano seguinte ao naufrágio foi
comandar o navio “Senhora do Mar”.
A vida dura da pesca do bacalhau, a “faina maior”,
continuou para a maioria dos sobreviventes e muitos deles viveram novas
histórias, inimagináveis de sofrimento, nesta dolorosa atividade.
NO DIA 24 DE SETEMBRO FEZ 71 ANOS QUE OCORREU O
NAUFRÁGIO DO JOÃO COSTA.
Há 195 anos Montemor-o-Velho celebrou 26.º aniversário
do Rei Absolutista D. Miguel
Em outubro de
1828, Montemor-o-Velho celebrou, com grande pompa, o 26.º aniversário de D.
Miguel, o regente que foi rei absolutista.
D. Miguel tinha assumido a regência do reino, em 26 de
fevereiro de 1828, em nome de D. Maria, sua sobrinha, com a qual aceitara
casar. No mesmo dia, D. Miguel nomeou os seus ministros: Duque de Cadaval, José
António de Oliveira Leite de Barros, depois conde de Basto, e Furtado do Rio de
Mendonça, conde de Vila Real e conde da Lousã.
Em 13 de março D. Miguel dissolveu as cortes sem
ordenar no mesmo decreto, como exigia a Carta, que se procedesse a novas
eleições. As câmaras municipais, a nobreza e o clero, e muitas personagens
importantes pediam ao regente que cingisse a coroa e revogasse a Carta. Da
Universidade dirigia-se a Lisboa uma deputação de lentes a convidar D. Miguel a
proclamar-se rei, quando alguns estudantes de Coimbra os assassinaram, em 18 de
março. A 25 de abril, o senado de Lisboa proclamou rei D. Miguel (…).
Entretanto reuniam-se os Três Estados, no dia 23 de
junho de 1828, e sendo orador José Acúrcio das Neves propôs que se levantasse
D. Miguel como rei, o que se aprovou, fazendo-se um assento das deliberações
que os três braços tinham tomado separadamente, reunindo o clero na igreja de
Santo António da Sé, a nobreza em S. Roque e o povo em S. Francisco da cidade.
No dia 7 de julho aclamou-se D. Miguel rei absoluto, e
no dia 15 encerraram-se as cortes. (…).
Com o pretexto de celebrar o 26.º aniversário de D. Miguel, Montemor-o-Velho levou a efeito grandes festas que comemoraram “o absolutismo”; em Portugal, de 25 a 29 de outubro de 1828, conforme nos relatam os documentos anexos (fotos) da Imprensa da época.
D. Miguel
Infante regente de Portugal, reconhecido como rei por
uma grande parte da nação, e que reinou efetivamente no continente e colónias, exceto
na ilha Terceira, onde nunca a sua realeza foi reconhecida. Era terceiro filho
do rei D. João VI e da rainha D. Carlota Joaquina. Nasceu no Paço de Queluz em
26 de outubro de 1802, foi batizado a 14 de novembro seguinte. Em 2023 faria
221 anos.
De seu nome completo D. Miguel Maria do Patrocínio
João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António
Gabriel Rafael Gonzaga Evaristo de Bragança e Bourbon, foi grão-prior do Crato,
da Ordem de S. João de Jerusalém, priorado de Portugal; claveiro das ordens
militares de Nosso Senhor Jesus Cristo, S. Tiago da Espada, de S. Bento de Avis
e da Torre e Espada; grã-cruz da Ordem de N. Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa;
cavaleiro do Tosão de Ouro; grã-cruz da Ordem de Santo Estêvão, da Hungria; do
Cruzeiro do Sul, do Brasil; de S. Fernando e Mérito, e de Carlos III, de
Espanha; do Espírito Santo, de S. Luís, e de S. Miguel, de França de Santo
André, da Rússia.
Foi regente do Reino, a par de sua sobrinha Maria, de
2 de maio de 1826 a 11 de julho de 1828. Reinou de 11 de julho de 1828 a 26 de
maio de 1834, isto é, ocupando o trono, em detrimento da sobrinha, regente, o
que gerou uma guerra civil contra o irmão (1832-1834), que regressou a Portugal
para defender os direitos da filha. Saiu derrotado e os liberais expulsaram-no
do trono e de Portugal.
Vigésimo nono rei de Portugal (1828-1834), ficou
conhecido pelos cognomes o Usurpador, o Tradicionalista e o Absolutista.
Bibliografia: É vastíssima
a coleção de publicações que se poderiam indicar sobre D. Miguel, a sua realeza
e a sua biografia. Vejam-se: História de Portugal, por Pinheiro Chagas,
continuada por Barbosa Colen; História das lutas civis, por Soriano; Portugal contemporâneo,
por Oliveira Martins; A última corte do absolutismo, por Alberto Pimentel;
Memória histórica, por Silva Maia; Memórias, de José
Liberato; Crónica de D. Maria II, por Araújo; História de Portugal, por Sousa
Monteiro; História contemporânea, por Martins de Carvalho; José Silva Carvalho
e o seu tempo, por António Viana; História contemporânea ou D. Miguel em
Portugal, por Arsejas, Documentos para a história das cortes gerais, tomo de
1828; Portugal e suas dinastias por Correia de Mello; D. Miguel de Portugal e o
seu tempo, por Hermann Kuhn; A legitimidade da exaltação do Sr. D. Miguel, por
Filipe Avellar, etc.
Aldo Aveiro
A LENDA DE
TENTÚGAL E LOCAL CHAMADO "MOURAO "
Extraindo algumas partes do livro Percursos Literários de António Breda
Carvalho
O nascimento do nome chamado Mourão, vem dos tempos da guerra dos
Portugueses cristãos com os Mouros.
Tentúgal é a terra de sobejamente conhecida, pela sua famosa doçaria
conventual, nomeadamente pelos pastéis de Tentúgal.
Mas, vamos falar da origem do nome Mourão.
Na primeira dinastia, Tentúgal de, teve uma fortificação, por se situar
entre Montemor e a cidade de Coimbra.
Esta última cidade ao tempo foi muito rica e era a capital do Reino e por
isso muito cobiçada por Mouros e Sarracenos. Nesta época os mouros, foram
escorraçados até ao Algarve e também assim, os sarracenos deram em fazer
incursões que, vindos de Espanha, atacavam os cristãos portugueses.
Os portugueses eram senhores dos castelos e quando os mouros faziam os seus
de ataques, as populações rurais, ainda moçárabes, isto é, mistas de cristãos
árabes convertidos, refugiavam-se atrás das ameias.
Numa dessas incursões dos mouros, vinham a ser comandados por um grande
mouro, uma figura gigantesca a que os portugueses chamavam Mourão. Este feroz
inimigo concebeu o plano de ir atacar Coimbra, que, como já disse, era bastante
rica em bens e joias.
Para concretizarem o seu plano, passaram o rio Mondego e vieram acampar no
lado norte do mesmo, próximo entre os castelos de Montemor e o de Coimbra.
O acampamento ficava exactamente no local onde hoje está erigida a igreja
matriz e ali mesmo foi montada uma enorme tenda que era do general Mourão que
era o comandante das tropas.
Houve nesse local lutas ferozes, em que os portugueses estavam prestes a
desistir. Eis, quando aparece um moço português, disposto a enfrentar o gigante
Mourão. E esse válido guerreiro com a ajuda dos seus companheiros, cercaram o
Mourão por todos os lados e assim o venceram, decapitando-o e fazendo rolar a
sua cabeça pelas pedras.
É certo que ao evocar o nome de Tentúgal, não é o nome primitivo, porquanto
o atual nome dá-se com a evolução dos tempos, mas o nome de Mourão vem desses
longínquos tempos e ainda hoje o seu nome é dito e conversado pelas gentes atuais.
Quem circula pela estrada nacional número cento e onze, viajando entre as
Cidades de Coimbra e Figueira da Foz ou o inverso, não deixa de parar para
levar como recordação os afamados e deliciosos pastéis de Tentúgal.
Mas se o viajante, perguntar aos habitantes da localidade, provavelmente já poucos sabem a origem de MOURÃO.
PASSADO...
Na
última edição tinha dito que iria informar como adquirirmos a maioria dos
barcos e pagaias. Um pouco ao contrário do que se faz agora, em primeiro lugar adquiríamos
a embarcação e só depois o atleta para ela.
As
instituições viviam tempos difíceis, era necessário sermos imaginativos para
conseguir dinheiro para a aquisição de barcos.
Sendo
uma Associação de gente nova e bem formada, a maioria com amigos ligados a
indústria, comércio e outros afins, porque não ir bater a porta dessa gente,
foi o que fizemos.
Tudo
começou com a oferta de um barco pela companhia de seguros "O
Trabalho", barco conseguido pelo Professor Vítor Pardal que sem rodeios
chegou a dita companhia de seguros e disse que queria um barco, assim sem mais
palavras e o certo é que o barco apareceu, o nosso primeiro barco que batizamos
de "O TRABALHO".
Depois
fomos bater a porta de todas as empresas e foram muito poucas que recusaram.
Posso aqui mencionar algumas que ofereceram: Móveis Carvalho, Escola de
Condução "Auto-Montemor", Câmara Municipal, Motas & Companhia,
Eletro gás Minerva, Federação Portuguesa de Canoagem (6 barcos cor de laranja)
e a Junta de Freguesia. Possivelmente houve outros que não mencionei por já não
me lembrar.
Foi
assim que começamos a Canoagem em Montemor, sem pista, sem hangar, sem ginásio,
diria mesmo quase sem água. Os treinos na água eram sobretudo realizados no
velhinho "poço da cal", na altura um dos poucos locais ainda sem
limos e um enorme local de pesca.
Os
barcos estavam arrumados num antigo celeiro que o Infantário tinha alugado ao
Sr. Carlos Lucas e onde também se faziam as aulas de Karaté, ginástica infantil
e de manutenção.
Transportávamos
os barcos as costas até a ponte da lagoa e a partir daí, com maior ou menor
dificuldade, conseguíamos ir ora para o lado da Ereira ora para o lado do Casal
novo do Rio. Tudo era difícil, mas a nossa força de vontade e a minha teimosia
eram muito maiores do que as dificuldades.
Assim,
demos início a iniciação com vista a competição, sem falta de embarcações e já
com objetivos traçados: estar presente nos Torneios Abertos.
Tirei o nível I de treinador e agora era treinar, treinar, treinar com vista a fase
Final das Primeiras Pagaiadas, competição organizada pela Federação e destinada
aos atletas que estão a iniciar...
...
Aqui surpreendemos...
PRESENTE
Hoje
no Centro de Alto Rendimento quase que somos obrigados a formar campeões,
enormes são as condições que ali temos para que os nossos atletas assim como os
treinadores possam trabalhar muito bem e com qualidade.
Mas,
o presente e o presente é mesmo hoje, existe uma enorme lacuna nas instalações
do CAR. A falta de iluminação para que os atletas que estudam possam treinar no
final das aulas.
Com
esta mudança de horário só nos é possível treinar na água ao fim de semana.
Torna-se urgente que a Câmara Municipal proceda a instalação de alguns postes
de iluminação ao longo da pista, seria o suficiente para nossa orientação á
medida que vamos avançando na pista.
Não
terá forçosamente de ser um projeto complicado e caro, até porque seria mais
para nossa orientação, os treinos que já efetuei durante a noite, provaram que
a maior dificuldade é mesmo a orientação.
Não
existe qualquer lâmpada ao longo da pista.
Este
é o PRESENTE da minha pagaiada que apresento hoje, espero que os responsáveis
leiam e pensem nesta lacuna que limita e de que maneira a utilização da Pista
no Inverno.
Pagaiada
para o FUTURO.
Aproveitando
o que escrevi no meu PRESENTE, hoje vou aproveitar o que disse para falar sobre
o FUTURO.
Assim,
gostaria de ver num futuro próximo esta situação da iluminação do Centro de
Alto Rendimento, ao longo do lençol de água, resolvido para que seja possível a
nós treinadores darmos continuidade ao nosso MACROCICLO de treino que
elaboramos no início de cada época, devidamente estruturado com vista a
participação nas provas mais importantes do nosso calendário desportivo
nacional, assim, com esta paragem nos treinos semanais por falta de
visibilidade, os atletas irão de certa maneira atingir a melhor forma física
muito mais tarde.
A
solução passa sem dúvida por instalar ao longo da pista alguns candeeiros de
iluminação. Espero que os responsáveis vejam esta pequena crónica e tentem
resolver esta lacuna o mais rápido possível.
As folhas soltas
do outono resvalam por aí, desoladamente …
buscam (parecem buscar!)
o sentido do vento mais agreste ou
o leve rumor de uma aragem
apesar de tudo triste …
Dessa aragem desolada e desaconchegante,
que faz cinzentos (mais cinzentos ainda…)
os dias breves,
cada vez mais breves …
O outono soa a dormência, a letargia…
É tempo de vida parada, de melancolia…
E eu fico apática, alheada de tudo,
numa quase inexplicável abulia
que me tolhe por dentro
e involuntariamente exteriorizo
e se converte num olhar inexpressivo e vago,
num semblante melancólico, aparentemente indiferente
à chuva que cai e que, engrossando, tudo ensopa,
encharcando-me a alma …
Só o céu azul e o sol sabem dar cor
e conhecem o segredo da alegria,
da vida buliçosa e com sentido…
Assim, vivo o outono e o inverno
à espera dessa luz de esperança,
sempre na expectativa da plenitude
e do cumprimento das promessas
que o vento arrastou para longe,
impiedosamente…
PESSOAS
O mundo está cheio de pessoas...
Há pessoas caladas
que precisam de alguém para
conversar...
Há pessoas tristes
que precisam de alguém para
confortá-las...
Há pessoas tímidas
que precisam de alguém para
ajudá-las a vencer a sua timidez...
Há pessoas com medo
que precisam de alguém para
dar-lhes a mão...
Há pessoas fortes
que precisam de alguém
para fazê-las pensar na
melhor maneira de usarem suas forças...
Há pessoas habilidosas
que precisam de alguém para
ajudar-lhes a descobrir a melhor maneira de usarem suas habilidades...
Há pessoas que não sabem
fazer nada e precisam de alguém que as ajude a descobrir as diversas coisas que
final sabem fazer...
Há pessoas apressadas que
precisam de alguém para mostrar-lhes tudo o que não têm tempo para ver...
Há pessoas que se sentem do
lado de fora e precisam de alguém para lhes mostrar o caminho da entrada...
Há pessoas que dizem que não
servem para nada e precisam de alguém para ajudá-las a descobrir como são
importantes.
Essas pessoas,
Somos NÓS...
Esse ALGUÉM
És TU!
RESPIRO POESIA
Ah! Como eu gosto de poesia…
Como eu vivo e respiro
poesia,
Como eu me alimento dela…
Penduro-me nos meus sonhos
Abraço-me aos meus desejos
E nos meus lábios… tenho
sempre
Madrugadas de esperança…
Ah! Como a poesia me
preenche o vazio
Me aconchega, quando eu
sinto mais frio
Me é fiel…. Companheira e
amiga…
Com ela nunca me sinto
sozinha
E nem penso em tristeza…
Penso mesmo é na beleza
Que me cerca…
Ah! Como eu sinto a
compulsão
De dizer-vos por palavras
O que me vai no coração…
E então: ponho-me aqui a
escrever
Numa torrente de abraços
Em que vos quero envolver…
Viver, viver e sonhar!
Toda a beleza do mar
Vive pertinho de mim…
Por isso eu sou assim
E assim me deixo levar
Nunca deixo de sonhar
Com a poesia que há em
mim!..
Desvanece...
Estes eram os dias em que a alma ardia
Em que a dor te envolvia como um manto
Em que a tempestade se apagava no pranto…
Estas são as noites em que o frio invade
Pelo corpo se espalha como doença
Em que o esquecimento é a sentença.
Por fim, vencida pelo cansaço,
De uma espera sem esperança
Escureço num sono sem lembrança
Não consigo segurar a luz da tarde,
Este perfume que ao ar pertence
Nem a tua imagem que desvanece
Zeitgeist:
ou do tempo em que é fundamental reforçar o associativismo.
É-me
difícil escrever neste clima de guerra em que vivemos.
Ainda
mais difícil, e perdoem-me este episódio prosaico, quando a campainha de casa
toca.
Um
operário da construção civil ficou sem gasóleo na carrinha da empresa e
procurava quem o ajudasse a ir a uma gasolineira próxima para encher uma lata
que o deixasse regressar a casa. Dizia: “estou aqui a tocar a campainhas vai
para uma hora e ninguém me ajuda”. Amigo, calma, eu ajudo – disse eu.
Certo,
e sabedor, que o nosso valoroso editor me iria puxar as orelhas pela preguiça
de pontualidade.
Fiquei,
contudo, a pensar na humanidade. Raios, não havia mais quem ajudasse? Lá fui
com o homem à bomba de gasolina e voltei a casa a pensar: Como não havia mais
ninguém?
Deixou
de haver gente que sente o desespero do outro?
Ter-se-ia
perdido a nossa humanidade? Isso não sei.
Sei
que se vai perdendo muito espaço público e muito associativismo.
Isso
é terrível para o município de Montemor-o-Velho.
A
perda de humanidade é absolutamente terrível.
A
guerra, essa, só acrescenta ódio a ódio.
A
perda de associativistas e gente a desfrutar o espaço público é uma tragédia no
município e torna-nos mais isolados, ficamos mais pobres, muito mais
vulneráveis e acima de tudo sem mãos para mudar o que é a terra em que vivemos.
Seria
um idiota se desprezasse o mau resultado dado pelo entrar a eito do cacique
partidário nas associações. Serei um burro se não disser que devemos voltar ao
associativismo e ao espaço público. É disso que se faz, de facto, também a
democracia popular. Na próxima vez seremos mais a ir à bomba. Ainda bem.
Adorei a emotividade do discurso de Emílio Torrão que me chegou por
telemóvel em formato vídeo, referente à última sessão solene do dia do
Município de Montemor-o-Velho, não porque tenha assistido ao vivo e a cores ou
tenha sido convidado como antigo autarca para o evento, contrariamente
a muitos outros que todos os anos engrossam a comitiva e disfrutam dos comes e
bebes e acepipes, mas porque fez questão de me responder sem citar o nome, me
designar “profeta da desgraça”, afinal, só por não concordar com ele, o ter
criticado em alguns momentos, designadamente, nos assuntos respeitantes à
“estátua” da queijada de Pereira, ao “regabofe das Festas”, ao “conjunto
estatuário de Fernão Mendes Pinto”, entre outros detalhes que tenho vindo a
abordar nos últimos tempos, por um lado, pela forma como tem sido aniquilado e
subjugado o PS concelhio ao estrito interesse do executivo municipal e, por
outro, pelo péssimo desempenho autárquico, político, estratégico, sociológico e
operacional.
Com pouco mais de 25 anos, ainda bastante jovem, fui eleito Presidente do
Conselho Municipal, órgão consultivo e representativo da sociedade civil que só
durou 1 mandato de 4 anos até ter sido extinto, sem que me recorde se foi por
iniciativa do PS ou PSD. Mais tarde fui eleito vereador da oposição em duas
ocasiões: a primeira, quando me candidatei a nº 2 de José Manuel Antunes à
Câmara, ganha por Luís Leal, em que conjuntamente com os meus camaradas e
amigos Ramalhete e Fidalgo, cumprimos o mandato até ao fim e eu assumi o
difícil papel de liderar a oposição, e a segunda como candidato à presidência
da Câmara, que perdi e a cujo mandato renunciei, já que não deveria ter sido
protagonizada por mim mas por Fernando Ramos ou José António Sousa Alves,
anteriores Vice-presidente da Câmara e Presidente da Assembleia Municipal, que
declinaram e não quiseram ir a “jogo”, abrindo por minha iniciativa espaço a
uma futura candidatura de Torrão, que a veio a alcançar dois mandatos mais
tarde.
Daí para cá nunca ninguém mais me convidou para as festividades do dia do
Município e outros eventos ocasionais, nem para a inauguração do Centro Náutico
do qual fui o principal mentor, concretizado parcialmente nos mandatos de José
Manuel Antunes, o presidente a quem há muito deveria ter sido reconhecido o
mérito, tal como a mim próprio que nem sequer fui convidado para a inauguração,
tempos em que me mudei para o Alto Alentejo com a família e soube a que sabe a
traição, a maledicência, a mentira, a calúnia e a tentativa de assassínio de
caráter!
Tempos a partir dos quais, Torrão e Guerra se tornaram num só e conseguiram
enganar Montemor-o-Velho e os montemorenses, um a brincar às câmaras municipais
e à melhor maneira de esbanjar os recursos públicos em festas e festinhas,
eventos e “eventinhos”, estátuas e estatuazinhas, e o outro a brincar à melhor
maneira de desmanchar uma das mais criativas e prometedoras IPSS – Instituição
Particular de Solidariedade Social e ONGD – Organização Não Governamental para
a Cooperação e Desenvolvimento Portuguesa, condenando-a à vulgaridade e
boçalidade, submetendo-a a objetivos medíocres e a modelos de gestão centrados
nos interesses dos beneficiários entre “presidentes, diretores e diretores
executivos”, em vez dos outros beneficiários realmente importantes: utentes,
famílias, comunidade, funcionários e parceiros, já para não falar dos pobres,
dos velhos e dos excluídos...!
Este ano, por ter estado mais tempo entre a Figueira da Foz e
Montemor-o-Velho, fui acompanhando de perto as dinâmicas quer da Câmara e seus
responsáveis, quer da Associação Fernão Mendes Pinto e seus diretores,
assumindo as críticas que entendi dirigir a uns e outros sem me intimidar ou
deixar passar em claro o que não está bem, assistindo a uma ou outra
Assembleia-geral da AFMP e intervindo publicamente de forma a convencer as
entidades competentes de que é urgente sindicar as suas práticas e desvios funcionais,
fiscalizar procedimentos e garantir a total transparência na utilização dos
recursos públicos colocados ao dispor.
E descobri também o que nunca pensei chegar a ver num município socialista,
ou seja, duas áreas VIP nas festas, uma como parque privativo de estacionamento
da nomenclatura, com acesso privilegiado ao palco principal, e a outra, um
espaço VIP atrás do dito palco, de comes e bebes à borla para a socialite
concelhia e os artistas contratados.
Enquanto isso, as festividades de muitíssimas centenas de milhares de
euros, exceto para feirantes e bares - e mesmo no que respeita aos bares com
critérios muito largos e pouco transparentes -, afundaram a feira tradicional e
transformaram o evento num festival como todos os demais que proliferam pelo
país, apenas com a variante de que em Montemor-o-Velho foi de graça e nos
outros sítios a pagar, ou seja, por cá tudo à grande…!
Enquanto tudo isso ocorria, na cerimónia filmada e difundida pelos serviços
autárquicos ou alguma das empresas contratadas para esse e outros efeitos,
chamou-me a mim e a outros “profetas da desgraça”, a mim porque pus em causa a
suposta genialidade concetual e artística do conjunto estatuário de homenagem a
Fernão Mendes Pinto e divulguei os 144 mil euros que a mesma custou,
acreditando, contudo, que o valor terá ficado muito acima desse montante e que
terá sido diluído na conta corrente da edilidade, tal como aproveitou o ensejo
para destilar a sua verborreia e espumar contra os opositores da ABMG -
Águas do Baixo Mondego, que o têm acossado e ganhado as ações que lhes têm sido
movidas em tribunal.
E por falar em Fernão Mendes Pinto, vem ao caso a Associação cujo nome foi
por mim proposto e aprovado há muito, cujo anterior presidente já só é terceiro
ou quarto vice-presidente, mas continua a ser Diretor Executivo, pelos vistos
para se reformar no decurso do mandato irregular em que todos os membros dos
corpos sociais são cúmplices e incorrem, caso a Inspeção da Segurança Social o
venha a querer determinar, não se sabendo até ao momento e à próxima
Assembleia-geral se o atual presidente da direção recebe salário pelo
desempenho do cargo…(?)
Por outro lado, já que o Presidente da Câmara ficou tão irritado com as
críticas que lhe foram feitas e maldisse quem as fez, seria de bom tom explicar
como é que a edilidade contratou através de procedimento simplificado para o
ano letivo em curso, à UNISELF, 922.000 euros de refeições destinadas às
escolas concelhias, confecionadas em condições mais do que precárias na Cadeia
Velha, utilizando instalações da Câmara cedidas à Associação, pessoal e
equipamentos da Associação cedidos à UNISELF, mas que nas contas de gerência da
instituição praticamente não têm reflexo, tal como as pinhas doces que, pese
embora o sucesso e de estarem a ser vendidas por todo o lado, fica a sensação
que as quantidades reportadas ficam muitíssimo aquém das que são comercializadas.
Serei o primeiro a pedir desculpa publicamente se isto que aqui deixo dito
não for verdade, pois até pode haver algum contrato celebrado nestes últimos 13
anos entre todos os intervenientes que eu desconheça, mas como nas assembleias
gerais da associação os esclarecimentos são sempre escassos, sacados a ferros
da boca seca do ex-presidente, tenho todo o direito de duvidar e repetir que
durante todo o último mandato, inclusive os dois últimos, nunca a pergunta de
quantos associados tem a Associação foi respondida, tendo as eleições sido
realizadas sem que se soubesse quantos e quem eram os associados com direito a
voto, já que alguns que nem sequer o eram nem poderiam ser, foram eleitos para
os corpos sociais!
50 ANOS DO 25 DE ABRIL: EM TEMPOS DE «IMPOLÍTICA», UM LIVRO QUE ASSINALA A NATUREZA MATRICIAL DA REVOLUÇÃO NA DEMOCRACIA PORTUGUESA
Reúno neste livro alguns textos que fui escrevendo para seminários, obras colectivas, conferências e outros actos públicos a propósito do 25 de Abril, da Revolução Portuguesa de 1974/1975, designadamente para o seu cinquentenário, que se assinala em 2024. É uma forma de me associar à celebração dessa efeméride que mudou o curso da história portuguesa a partir do último quartel do século XX.
A anteceder esses ensaios, deixo um texto testemunhal, autobiográfico, que pretende tornar presente, contra um certo tipo de desmemória organizada, o modo como uma jovem geração militante nos anos 60 e 70 do século passado resistiu à ditadura, denunciou o absurdo e a injustiça da guerra colonial e desembocou na tempestade revolucionária abrilista com a alegria e o entusiasmo que lhe conferia a convicção profunda de que estava a ajudar a moldar com as próprias mãos um futuro emancipatório para o povo português e a responder aos desafios de uma revolução mundial que, desde 1968, parecia aproximar‑se da Europa. Dessa esperança sagrada, dos seus sucessos e insucessos, vos falam este meu depoimento e o conjunto de ensaios que lhe sucedem.
— Fernando Rosas
Mari Froes - Abril
Meisje met de parel (Brasil: Moça com o Brinco de Pérola / Portugal: Rapariga com o Brinco de
Pérola) é uma pintura do artista neerlandês Johannes
Vermeer de 1665. Como
o seu nome indica, é utilizado um brinco de pérola como ponto focal. A pintura faz
parte da coleção do Mauritshuis de Haia. É muitas vezes referido como "a
Mona Lisa do Norte" ou "a Mona Lisa holandesa".
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