Como o tempo passa tão depressa e a Barcaça navegando nestas águas ora calmas ou
turbulentas, seguindo o seu caminho sem refúgios ou falácias dos tempos
modernos. Simplesmente segue com os seus conteúdos que mês após mês nos
conservam vivos para falar das nossas gentes da nossa terra e com o olhar no
futuro.
Desde
o seu início perguntava-me a mim mesmo quantos números conseguiria levar até ao
meu porto de abrigo seja onde quer que fique, estou entre amigos que com os
seus textos os seus reflexos ou simplesmente com as suas doces palavras nos transmitem
que podemos chegar muito longe.
Criar
é próprio dos mortais e conseguir dar cor alma e sentimentos ás palavras é um
dom que ninguém poderá conseguir tirar à nossa Liberdade de ser e de pensar. Manifestamo-nos
de muitas formas seja em prosa, em poesia ou contando factos históricos ou
contos de encantar, mas nessas palavras únicas e tão pessoais aqui estamos
passados que estão trinta e nove números de contos ou de histórias e
historietas.
Entramos
nesta Barcaça sem rumo e sem lugar para atracar, mas dedicamos em cada palavra
um pouco das nossas vivências e que são muitas e diversas, não só pela idade,
pelo saber seja intelectual ou da vida e transportamos para o papel “digital” o
nosso crer de sermos isso sim livres.
No
aproximar dos cinquenta anos que vivemos em Liberdade tantas coisas ficaram
para trás que podemos agora contar, tantas memórias e tantas histórias devemos
aos nossos seguidores, porque temos memória e temos vida.
Ao
percorrer este último ano entrando na Barcaça_28 a primeira de 2023
perguntava-me a mim mesmo se tínhamos timoneiro com a força suficiente de
deixar entrar e sair passageiros, mas continuando o seu rumo com a mesma perseverança
com que imitiu a Barcaça_01 em 25AGO2021, aí está a resposta com o lançamento da
Barcaça_39.
Quem
acreditou e se mantém fiel aos seus pensamentos à sua escrita à sua liberdade
nunca questionada, sabe que ao entrar na Barcaça é entrar num espaço seu para
todos. Seja qual for o destino que nos reserva 2024, vamos estar mensalmente
aqui para si com todos os nossos colaboradores para que se sinta seguro neste
rio que como disse algumas vezes está agreste.
Desejo
a todos boas leituras e um ótimo 2024
Onde
nos perdemos?
Fugimos de nós mesmos ou das nossas derrotas e essas foram sem dúvida o princípio da nossa maior vitória, conseguirmos ir em frente lutando contra tanta adversidade.
Pertencemos
ao mundo e será com ele que devemos conversar interagir e lutar
para que outros possam seguir os nossos passos a seu tempo e com aprendizagens válidas
do nosso contributo seja pessoal ou pelo que fizemos na comunidade onde estamos inseridos.
Muitas
vezes colocamo-nos de fronte de um espelho ou simplesmente no fechar dos olhos
e refletimos um pouco se valeu a pena tantas horas perdidas do nosso lar, dos
nos filhos, da nossa família para dedicar ao bem comum? Respondo que sim valeu a
pena, foi com esses ensinamentos com essas horas “perdidas” que nos construímos
e nos tornamos seres capazes de amar, de sentir e ajudar a nossa comunidade. Não
nos podemos fechar em nós próprios no nosso orgulho de ter medo de perder, é
com essas batalhas que conseguimos transmitir aos filhos que vale a pena lutar
pelo bem comum porque depois será ele que nos vai acolher e tanto melhor se o nosso
desempenho tenha contribuído um pouco para o melhorar.
Quantas
vezes acordamos sós, nos pensamentos e sem vontade de vestir as calças, calçar
os sapatos, ou abotoar a camisa e sair de casa para defrontar o mundo que nos
espera a toda a hora do lado de fora da porta.
Fazer
parte da comunidade de tentar ajudar o próximo deve ser um ato constante,
porque será com esses pequenos nadas que conseguimos viver melhor em comunidade
e não fechados em nós mesmos.
Hoje
ao escrever estas simples palavras estou triste, a vida é ingrata e nós comum
dos mortais nada podemos fazer, nem as nossas preces podem mover moinhos de
vento para que seja diferente, mas rogamos para que tudo à nossa volta, aos
nossos familiares e amigos corra da melhor maneira. Mas a vida é madrasta e não
escolhe o bom do mau, é como fosse tiro ao alvo ora se acerta no 1 como no 10,
mas acerta e quanto mais próximo seja mais revoltado nos sentimos por nada conseguirmos
fazer a não ser esperar.
Dois
mil e vinte quatro está aí a poucas horas faltam e desejo a todos os meus amigos
e inimigos que possam contribuir para um mundo melhor cada um à sua maneira.
Salvem
as nossas almas!
Convento
de Almiara [Parte
I]
O Convento ou Quinta de Almiara situa-se em Verride, no limite noroeste da localidade,
assentando numa encosta voltada a norte, de declive suave, que desce até à
linha de caminho-de-ferro do Oeste e, posteriormente, até aos terrenos
agrícolas da margem sul do rio Mondego. A cerca de 700 metros a nascente da
quinta localiza-se o apeadeiro ferroviário de Verride, paragem frequente para
os comboios que fazem a ligação entre Coimbra e Figueira da Foz. A propriedade
é atravessada, a norte, pela linha férrea e, a poente, por um acesso rodoviário
proveniente da vila, constituindo-se, assim, os limites físicos mais evidentes
dos terrenos de Almiara que, todavia, não correspondem aos confins iniciais da
quinta, a poente e a norte, originalmente mais amplos.
Próximo do sopé da encosta, na imediação
do caminho-de-ferro, encontra-se o edifício principal da propriedade,
vulgarmente designado por Mosteiro de Verride. Trata-se de um edifício composto
por dois volumes longitudinais paralelos entre si, ligados por dois corpos
transversais. O volume dianteiro, a norte, integrava os espaços residenciais no
primeiro piso – o andar nobre –, assente sobre os espaços térreos da antiga
adega, na ala nascente, e do corredor de serviços, na ala poente. O volume
posterior, menos extenso, continha divisões de armazenamento, bem como uma
capela, que hoje se mantém. Nas paredes desta, encontram-se remanescências de
conjuntos de azulejos azuis e brancos com representações da vida dos Crúzios e
de Santo Agostinho, e haveria ainda, no altar-mor e nos altares laterais,
painéis de talha dourada, entretanto desaparecidos. Na envolvente próxima,
encontram-se três construções, correspondentes ao que parece ser um terraço de
apoio às atividades agrícolas, a sul; uma vacaria de planta retangular, a
sudoeste; e uma terceira, de planta circular, a nascente – um pombal.
O núcleo original, supõe-se, terá sido
construído no final do século XVI – assim o sugere uma inscrição com a data de
1580 que ainda figura no lintel de uma porta localizada no piso térreo do
alçado principal, a norte. O projeto inicial, quinhentista, do qual pouco é
possível identificar com convicção, a não ser, talvez, a sua monumentalidade e
a marcação das linhas horizontais, seria de arquitetura renascentista. No
século XVII e, possivelmente com maior impacto, na segunda metade do século
XVIII, a casa foi objeto de uma reforma importante. Desta, resultou a
construção da longa frente setecentista do edifício de dois andares, ainda hoje
existente, que se caracteriza pelo alçado longitudinal praticamente simétrico,
cujo eixo central da composição é marcado por uma estrutura de quatro arcos no
piso térreo, encimada no piso superior por um volume saliente que faz o acesso
a um balcão com parapeito, volume que é, por sua vez, rematado por um frontão
triangular, onde figura um óculo. Este alçado, voltado a norte, para o rio e
para os campos agrícolas, é ainda composto por um torreão na ponta nascente,
também edificado nas intervenções do século XVIII. Sugere-se que no extremo
oposto, a poente, deveria existir outro torreão semelhante. Este, todavia,
nunca terá sido construído, assumindo-se ainda a hipótese, menos credível, de
ter existido, tendo sido posteriormente destruído.
Mário Silva
Fonte: João Miguel Negrão, Plano Diretor para a Quinta de Almiara,
2017.
Meu querido 2023
Desculpa continuar a chamar-te assim, mas ainda não consegui habituar-me a
pensar em ti de qualquer outra maneira, mesmo que estejas de partida.
Mesmo que nem sempre tenhas sido “querido” para mim. Foste bem difícil até!
O pior dos piores.
Foram 12 meses, juntos. 12 meses, intensos. Duros. Muito duros.
Sem descanso. Com muito choro.
Cheios de tristezas, mas também de alegrias.
De quedas, mas também de superações ou não fosse eu uma enorme teimosa!
Meu querido 2023,
Quem te está a escrever não é a mulher que eu hoje sou, mas sim aquela que
eu fui ao teu lado e que pretende ficar para trás.
Sim. Está na hora de dizer adeus.
Está na hora ires embora.
Está na hora de levares contigo tudo o que já não me acrescenta.
Tudo o que me magoou.
De levares todas as tristezas e lágrimas que me fizeste verter.
Uiii davam para encher vários baldes.
Leva também a mágoa. A desilusão.
E, pelo menos, nestes últimos dias dá-me algum descanso.
Meu querido 2023,
Escrevo-te para te dizer que te amei, que tentei aproveitar-te ao máximo,
que tentei tirar o melhor partido de ti e de mim.
Dei-te o melhor de mim, como sempre faço, mesmo quando não deste nada em
Troca. Foste bem lixado!! Fodido, melhor dizendo.
Mas acredita que, apesar de tudo, foste um capítulo lindo da minha vida.
Nunca te esquecerei e espero que não me esqueças também, que guardes sempre
um sorriso na boca quando pensares em mim. Fizestes-me mais forte.
Corajosa.
Resistente.
Meu querido 2023,
Guardarei, com saudade, o melhor de ti.
O melhor de mim, contigo.
O nosso melhor.
E no meio de tanto caos, tanta bagunça, não deixaste de me dar, alguns,
momentos bons. Muito bons.
Mesmo que até esses tenham acabado por me deixar um enorme amargo na boca.
Uma dor tremenda na alma.
E um coração partido.
Caraças, estou a ficar velha para algumas coisas. Estou velha para
continuar a acreditar nos outros. No amor. Na amizade.
Estou velha para tudo isso. Mas que hei-de fazer … sou assim. Acredito!
Mas, agora, vai, tenho grandes expectativas para 2024. Espero que ele não
me engane como tu!
Não fiques com ciúmes. Já cumpriste o teu papel. Vai.
Despeço-me de ti, já, para poder fechar para balanço e finalmente
descansar.
Vai, com a certeza de que cumpriste o teu papel. No fim, saio mais forte,
muito mais, e pronta para enfrentar tudo.
E, acima de tudo, cheia de certezas do que quero e não quero mais.
Vá, vai…
Deixa entrar 2024!
Não é por nada, mas vai ser, com toda a certeza, muito melhor que tu!
Assim o que espero.
É que já chega!!!
Não achas?
2024 vai ser aquele ano … certo?
Eu prometo que vou continuar a sorrir mesmo quando não me apetece! Ok?
•
Já estou de olhos em ti, 2024.
Novo
Ano ou Ano Novo?
Dê-se
a volta que se der, irá dar ao mesmo! Ser um novo ano, uma continuação, uma
adaptação ou uma invenção, as memórias futuras, daqui a 365 dias, serão as
mesmas: desejamos que o novo ano seja melhor do que este que acaba. O novo ano
será 2025. Nada muda! Ou melhor, muda o último algarismo de cada ano, os
pedidos são os mesmos, os desejos são os mesmos e a hipocrisia é a mesma.
O
homem não muda!
Ele
está mudado!
O
tempo em que um aperto de mão, um abraço ou uma palavra valia alguma coisa,
acabou. Hoje, nada vale nada, nada presta para futuro, nada é confiável. Para o
ano estaremos a lamentar uma outra guerra qualquer que apareceu, mesmo que as
deste ano infelizmente subsistam.
O
homem que se acha de bem, que se entende como “mudador” de todos os males
permanece intocável na sua “capacidade” adquirida nestas últimas décadas: a
mentira. O homem quer lá saber se há crianças a serem bombardeadas, mesmo que
tenha filhos!
O
homem quer lá saber se a Terra está em declínio, com tanto lixo!
Ele
continuará a deitar pela janela fora do carro o copo do iogurte, enquanto vai
falando do “spot” pelo qual passa. O que importa é que aquilo é um “spot” e não
um local, um espaço, como sempre foi. O homem “está-se nas tintas”, mesmo
sabendo que os outros sabem, para o dinheiro que rouba ao estado com subsídios
que recebe ou impostos que não paga, mostrando e publicando escandalosamente
fotografias das férias em locais paradisíacos.
O
homem quer que a honestidade se…lixe!
O
homem quer lá saber se faz o assédio que mata o seu semelhante aos poucos (ou
aos muitos…), para “subir ao céu sem escada”, só porque levantar um pé para
outro degrau é-lhe impossível, pois a sua perna é muito curta!
O
homem quer é “abrasar” o enfermeiro, o médico, o professor, o vizinho, o
padeiro ou o agricultor, sem apelo nem agravo, só porque nunca quis estudar, só
porque foi preguiçoso e, agora, não quer viver com esse complexo!
O
homem quer lá saber se o seu semelhante está a morrer, está a ter uma morte
anunciada, porque lhe tortura a mente e, quando o avisam do que está a provocar
(a morte), responde, de forma criminosa: “Se está doente…vá ao médico!” Sim,
tudo isto é verdade e, algumas verdades, não são provocadas por gente de
antigamente que nunca foi à escola. São provocadas por gente que teve a sorte
de nascer com “a manjedoura alta”.
O
homem nunca mudará para melhor!
Pedir
sorte em novos anos e em anos novos é hipocrisia, mentira, falsidade e de cara
sem vergonha…muitos deles!
Antigamente,
os nossos avós e os nossos pais não desejavam bom ano no Ano Novo, trabalhavam
para isso, comportavam-se de acordo com isso.
Não
vos desejo bom ano, desejo, para todos nós, juízo e inteligência, pois o resto
ficará garantido!
Repórter Mabor.
Admito outras argumentações, já que não sou dono de todas as opiniões (julgo eu que ninguém pode ter essa presunção) se o apego ao passado prejudica o presente e o futuro no sentido de modificarmos o nosso caráter genuíno da infância e da juventude numa base social que deve perdurar no caldo de outras vivências.
Tudo isto pelas alternativas
do conhecimento de outras culturas e outras gentes que nada têm em comum com
aquelas outras por nós enraizadas no passado, por exemplo, no Casal Novo do Rio,
dizendo os que não concordam, lá está ele a bater no ceguinho pobre e carente
com as feridas do passado. Puro engano, se deve ao meu apego não desconhecer o
ancinho que me bateu no nariz, iludindo os presentes com a minha pergunta,
depois de me tornar rico e parvo, regressado das cidades.
Se assim reajo entre o
passado e o presente, não é por aí que se corporizam o meu agir em conformidade
com as atitudes no dia a dia, vindo de longe muito longe, procurando no cesto
na vindima o último bago felizmente saboroso.
Por outra via dos acadêmicos os que tudo sabem procuram nos seus estudos as mudanças e as expectativas em vários comportamentos nos indivíduos no antes e depois do seu estado social e cultural, mas são os factos do quotidiano em variadíssimas vivências que nos transmitem a noção que devemos na escola primária da vida por muitas aventuras que tenhamos na sua aprendizagem ao longo de uma vida de 83 anos de idade.
No caminhar de todos os dias
e do seu empírico conhecimento, percebemos quanto nos garante no presente o que
vivemos no passado, buscando na complexidade das causas a melhor noção de uma
humildade justificada e racional, sentindo o que se perdeu das suas origens e o
que ganhou depois correndo atrás do querer vencer e trabalhar para uma estadia sóbria
e equilibrada no senso comum tão necessário na partilha dos nossos
relacionamentos com as pessoas que nos rodeiam.
Sendo difícil é possível e
acertado na sua comunicação ao não perder os pés que se sujem na lama dos
caminhos de cabras. Essa lama ficou entranhada nos sapatos, depois engraxados e
reluzentes, mas de todo vinculados nos seus percursos já rotos e velhos. Estas
ideias discutíveis, o meu apego ao Repórter Mabor 1960, tem a sua lógica de não
o desprezar, porque me pertence e vive comigo no presente, volvidos mais de 60
anos, trago-o num tempo de cuidada reflexão no sentido de não trair valores
sociais ou outros feitos no disparate de sentir e saber estar no presente, pese
embora o pequeno mundo já percorrido.
O Repórter Mabor, (1960) é um emblema que não dispensa a lapela de todos os casacos vestidos numa vida que não tarda a bater os 84 anos de idade!...
FIGUEIRA DA FOZ - OS AUTOS PASTORIS
Os «Autos Pastoris» são uma peça teatral, vulgarmente conhecida por
«Presépio», sendo a tradição cultural mais antiga da Figueira da Foz.
Esta peça teatral mostra-nos o nascimento de Jesus Cristo, e a sua
adoração, num misto de religioso e pagão.
Foi no princípio do século IV que se iniciou a divulgação do nascimento de
Jesus Cristo, mas, na Figueira da Foz, os Autos Pastoris datam dos finais do
século XVII ou início do século XVIII.
Durante décadas perderam força, tendo ressurgido nos finais do século XIX e no início do século XX.
Representavam-se na sede do Rancho do Vapor e atualmente a tradição
sobrevive sobretudo à custa da Sociedade Filarmónica Dez de Agosto.
A Sociedade Filarmónica Figueirense, forçada a interromper as representações devido à quase extinção da sua secção cénica, em consequência da derrocada da sede nos anos setenta, retomou recentemente o tradicional «Cortejo da Espera dos Reis Magos» e a representação dos «Autos Pastoris».
Antes das salas de espetáculos, os Autos ocorriam nos chamados “palheiros”,
ou “cardenhos”, armazéns amplos que albergavam grande número de espetadores,
depois de limpos e ornados com verdura, louro e flores.
Depois de alindados os “palheiros”, montava-se um palco, onde se construía no seu centro uma gruta ou “lapinha”. No restante espaço do palco construía-se uma colina revestida de musgo, por onde passavam os atores, representando pastores e romeiros, transportando oferendas, como cestinhos de queijos, rosários de pinhões, bolos, réstias de alhos e cebolas e pequenos brinquedos para o Menino brincar.
Na “lapinha” encontrava-se o Menino e a Virgem Maria, São José, o burrinho
e a vaquinha. Como pano de fundo, uma imagem pintada da cidade de Jerusalém.
O guarda-roupa dos atores era diversificado, o pastor com a “palhoça” às
costas, a pastora de colete vermelho e saia de veludo preto, muito ouro no
peito e nas orelhas das raparigas, ouro emprestado, claro está.
Os bancos da assistência eram corridos, sem costas, e o preço dos bilhetes
ficava ao critério do público, colocando o dinheiro que bem entendesse numa
mesa à entrada do salão.
No final do espetáculo, guardava-se o dinheiro suficiente para as despesas e com o restante organizava-se uma bacalhoada para os atores.
Nessa época os Autos não eram ainda divididos em quatro atos, como
atualmente, e o espetáculo decorria desde o começo da noite até alta madrugada.
Os atores podiam interromper o espetáculo, quando conveniente, para descansar,
e o público aproveitava para devorar as fartas ceias levadas de casa, como
filhoses, torta doce das Alhadas, vinho e jeropiga.
Nos intervalos dos Autos discutia-se a atuação dos atores, comia-se,
bebia-se, conversava-se e as senhoras chegavam mesmo a fazer renda.
Com o passar dos tempos surgiram as salas de espetáculos, onde os Autos
Pastoris foram representados.
Entre 1885 e 1910 (25 anos) existiram na Figueira cerca de 20 associações recreativas que se dedicavam ao Teatro.
Entre as principais salas de espetáculos recordamos o Teatro do Paço (1820), a Sociedade Filarmónica Figueirense (1842), o Teatro do Pinhal (1863) do Grupo Dramático Recreio Operário, o Teatro Natalense (1864) que pertencia à Sociedade Filarmónica Figueirense, o Teatro Príncipe (1874), a Sociedade Filarmónica 10 de Agosto (1880), o Grémio Lusitano (1882), o Teatro-Circo Saraiva de Carvalho (1884), o Grémio Recreativo (1888), o Teatro Garret (1893), o Teatro Afonso Taveira (1893), o Casino Peninsular (1895), o Teatro Caras Direitas/Teatro Duque (1907), o Teatro Parque-Cine (1907) o Salão Lisbonense (1908), o José Ricardo, o Teatro Chalet, o Teatro Operário, o Teatro Nicolau e o Teatro Trindade (1910).
Algumas das antigas coletividades recreativas do concelho também apresentaram os Autos Pastoris, como a Sociedade Musical Santanense (1894), a Sociedade de Instrução Tavaredense (1904), o Grupo de Instrução Musical da Fontela (1921), o Grupo Recreativo Vilaverdense (1921), o Ateneu Alhadense (1924) e o Grupo de Instrução e Recreio Quiaiense (1934).
O caráter profano foi introduzido no espetáculo e, para além das cenas clássicas do nascimento e da adoração do Menino, surgiu um ato dedicado ao Diabo e várias cenas críticas retiradas da realidade social figueirense, sempre com hilariante participação da assistência, recordando-nos os Autos Pastoris de Gil Vicente (1465-1536), representando diálogos cómicos de pastores.
“Rindo, castigam-se os costumes” é, talvez, uma das frases mais famosas de Gil Vicente, isto é, por meio do humor é possível corrigir os costumes, denunciar a hipocrisia da sociedade, restabelecer a moral e a religiosidade, como acreditava o teatrólogo.
Nas sociedades recreativas burguesas, como a Assembleia Figueirense, o
Ginásio Figueirense e o Grupo Dramático Figueirense, os autos pastoris
populares e cómicos eram substituídos pelas operetas e pelas comédias, muitas
delas de autores locais.
Nos finais de novembro iniciavam-se os ensaios, diariamente, até à véspera de Natal, dia da primeira representação, onde muitos se reencontravam, alguns vindo de longe, complementando as reuniões familiares nos lares e, “para ver os presépios vivos, caía meio mundo na Figueira”.
“Houve tempos - e não vão elles muito longe! - em que aqui, n’esta minha terra querida, se representava o presépio na noite de Natal e n’outras da época que, de geração em geração, nos tem vindo a relembrar a Natividade de Christo. Era uma distracção simples, mas reunia ella muitas familias n’um convivio fraternal, alegre, que nos proporcionava umas horas de satisfação íntima”.
“Ia-se ao presepio, revia-se a gente na garbosidade das moças tavaredenses, vestidas a capricho no traje de pastoras, e admirávamos-lhes também as habilidades scenicas, porque ellas quasi sempre debutavam n’estes espectaculos... E d’ali, os felizes da sorte, regressavam ao lar, e lá iam rodear a certã onde fervia o azeite com os tradicionaes filhós, ou onde o forno transbordava com dovces tortas!”
“Era assim que se passava por aqui esta feliz quadra do Natal. E hoje, se é
certo que ao estomago dos afortunados não faltam as abundantes consoadas com
que se celebra a data natalícia, há no entanto - triste é dizê-lo - a falta de
qualquer espectáculo que nos recreie o espirito e que venha quebrar um tanto a
insipida monotonia d’estas longas noites de Dezembro”. (Gazeta da Figueira –
12-12-1903- retratando o Presépio na terra do teatro).
A Comunicação Social no
Concelho de Montemor-o-Velho
Neste ano de
2023, que ora finda, os jornais Correio de Montemor (1903) e A Verdade (1913),
se ainda existissem, teriam assinalado, respetivamente, 120 e 110 anos da sua
fundação.
A Comunicação Social escrita, no concelho de Montemor-o-Velho, segundo documentos coligidos, remonta ao final do séc. XIX e primórdios do séc. XX. Embora o analfabetismo, de acordo com dados estatísticos da época, atingisse significativa parte da população, a leitura de jornais, folhetos e outras publicações proporcionava uma pertinente divulgação cultural, cívica, política e social.
Embora podendo cometer qualquer imprecisão, deixamos aqui alguns elementos sobre a imprensa que se publicou no concelho de Montemor-o-Velho ou a ele referente.
A Crença Popular -
semanário político, noticioso e recreativo - iniciou a sua publicação a 19 de
outubro de 1890, terminando a 22 de março de 1891, com o número 23, sendo a sua
propriedade e edição de J. Pires Ferreira Júnior.
Editado por Alfredo Barjona, o Boletim do Sindicato Agrícola de Montemor-o-Velho, impresso em Lisboa, parece ser a segunda publicação do concelho, distribuída aos sócios da instituição, no ano de 1896.
No 1.º dia de janeiro
de 1903, surge o Correio de Montemor, em conjunto com a Correspondência da
Figueira, como semanário independente, sendo seu editor Adriano Crispim de
Carvalho, terminando com o n.º 196, a 11 de Outubro de 1906.
Dirigido por Humberto
de Carvalho até ao n.º 13 e depois por Jerónimo de Carvalho, apareceu na vila
de Pereira, a 14 de janeiro de 1912, A União, órgão do partido republicano
português, sendo extinto com o n.º 16, em 11 de agosto de 1912.
Propondo-se defender a verdade e educar o povo na consciência dos seus deveres sociais, iniciou a sua publicação a 25 de Fevereiro de 1912, em Arazede, O Dever, semanário que, dirigido sucessivamente por Manuel de Melo e José de Almeida Júnior, mudou a sua redação para a vila de Montemor-o-Velho, onde terminou em 28 de maio de 1917.
Filiado no partido democrático, surgiu o semanário A Verdade, a 17 de outubro de 1913, na vila de Pereira, dirigido por Jerónimo de Carvalho, vindo a terminar com o n.º 18, em 15 de maio de 1914.
O À Rasca, quinzenário
humorístico, recreativo, literário, noticioso e sportivo, dirigido e editado
por Calixto A. Ferreira, publicou 14 números em 1916.
Em 1919, é publicado A
Portuguesa, semanário republicano, com direção de Agostinho José Ferreira Ramos
de Carvalho e Jaime Lopes Brejo e edição de António Grão, conhecendo-se 13
números.
O n.º 1 do Boletim do Sindicato Agrícola de Abrunheira publicou-se em março de 1922, com direção de António Teles de Meneses.
Em Formoselha, o
periódico quinzenal Mocidade nasceu em 22 de setembro de 1929 e terminou com o
n.º 47, em 27 de setembro de 1931, sendo seu diretor João Amaro Júnior.
Em maio de 1935, em
Arazede, surge um único número com o título do anterior periódico O Dever, do
qual foi diretor José de Almeida Júnior e redatores António Ismael da Cruz,
Soveral da Rocha, Cruz Gonçalves e Humberto Beirão.
Vida Regional é o
título do semanário regionalista (passando, mais tarde, a quinzenário) que
iniciou a sua publicação em Arazede, a 15 de abril de 1946, como defensor dos interesses
do concelho de Montemor-o-Velho, dirigido por César Vieira de Matos, sendo seu
redator principal Joaquim Soveral da Rocha Júnior.
Após significativo
interregno na publicação de jornais, surge, em 1985, o Jornal de Montemor (I
Série), propriedade e direção de Santiago Pinto, passando mais tarde, em II Série,
a ser propriedade da Radio Beira Litoral, CRL, com sede em Arazede, e sendo seu
diretor Aldo Aveiro, de setembro de 1996 a 1999, quando terminou.
Em 1989, surge O
Montemorense, sob a direção de Olímpio Fernandes, do qual apenas conhecemos o
primeiro número.
Editado pela Liga dos
Amigos dos Campos do Mondego, na Carapinheira, inicia a sua publicação e
distribuição gratuita, em 1993, o periódico bimestral Ecos do Mondego, sendo
seu fundador e primeiro diretor Aldo Aveiro, e cujo editorial indica que é um órgão
de informação e defesa do ambiente e do património. Atualmente não é editado e era
dirigido por Álvaro Quinteiro.
Propriedade da
Associação Fernão Mendes Pinto, de Montemor-o-Velho, o jornal Baixo Mondego e
Gândaras teve início com o diretor José Cardoso, em fevereiro de 2002 e terminou
em novembro de 2005.
Terras de Montemor foi
uma publicação que surgiu em maio de 2002, com propriedade e direção de Olímpio
Fernandes, terminando um ano depois.
De cariz religioso e
cultural, publica-se o mensário Comunidades a Caminho desde 1999, com sede na
vila de Verride, sendo seu diretor o padre António Domingues, “propriedade” das
comunidades paroquiais confiadas aos presbíteros do Instituto do Preciosíssimo
Sangue, sendo pioneiras desta publicação as comunidades de Abrunheira, Ereira,
Reveles, Verride e Vila Nova da Barca, incorporando, mais tarde, as paróquias de
Carapinheira, Montemor-o-Velho e Samuel.
No dia 3 de outubro de
2012, surgiu nas bancas o Jornal de Montemor, terceiro no título, com sede em
Formoselha, propriedade de O Pulso da Notícia, Unipessoal Lda e dirigido por
Ana Maria Coelho.
Atualmente não
conhecemos jornais impressos.
Dezembro de 2023
Aldo Aveiro
PASSADO: .... Era necessário criar condições para treinar, a
Canoagem em Montemor estava já num patamar que não era possível evoluir se não
fossem criadas as condições para tal. O Infantário Jardim de Infância e a sua
direção começou por planear e organizar alguns eventos com vista a mostrar às
Entidades competentes pela limpeza e manutenção do "leito abandonado"
do rio Mondego, batizamos de leito abandonado o braço de rio que vinha de
Formoselha, passava em frente do Parque de campismo e Ereira e acabava por se
juntar mais á frente ao Rio Novo.
Todo
este braço de rio, tinha ficado abandonado e só sujeito às marés quando as
comportas estavam abertas, por isso criou as condições necessárias para o
aparecimento em grande escala de limos, arbustos e até animais mortos eram
encontrados por ali e por lá se mantinham pois não sabíamos muito bem de quem
era a responsabilidade de manter aquele leito de rio limpo.
Assim,
organizamos em certa altura uma manifestação ecológica, onde estiveram
presentes várias Entidades desde Câmara Municipal, Junta Freguesia, Direção do
Infantário e a Direção da Federação Portuguesa de Canoagem que na altura tinha
como Presidente o Sr. José Ferreira. Esta manifestação começou com o funeral do
Rio Mondego que foi feito no poço da cal e que consistiu em puxar pelas águas
do poço um caixão que representava o enterro do rio. Esse caixão era puxado por
caiaques e atrás iam em cortejo todos os atletas nos seus caiaques.
De
seguida foi feito um cortejo fúnebre que começou no Casal Novo do Rio e
terminou em frente a Câmara Municipal e aí foi feito o enterro do Rio com um
breve discurso de despedida dito pelo Vítor Filipe.
Seguiu-se
uma sessão de esclarecimento no Salão Nobre da Câmara Municipal, por todas as
Entidades presentes e foi aí que o Presidente do Infantário Jardim de Infância,
Vítor Camarneiro deu a conhecer a todos as suas intenções para o futuro da
canoagem: A CONSTRUÇÃO DE UMA PISTA OLÍMPICA DE CANOAGEM.
Então,
foi assim que nasceu o Centro de Alto Rendimento. Alguns dias depois o
Presidente da Federação portuguesa de Canoagem voltou a Montemor e juntamente
com a Direção do Infantário fomos até ao local que o Vítor Camarneiro tinha
idealizado para a pista. Sabíamos que iria ser uma enorme batalha pois todo
aquele braço de rio estava cercado por terras de agricultura, mas não seria
impossível se as entidades competentes fizessem a sua parte. O sítio
apresentado para a construção da pista agradou ao Presidente da Direção da
FPCANOAGEM e a todos os técnicos presentes e assim estavam lançados todos os
dados para a construção da pista.
Portanto,
se hoje temos um Centro de Alto Rendimento de Canoagem em Montemor, deve-se ao
Infantário Jardim de Infância e ao seu Presidente da altura o Senhor Vítor
Camarneiro. Não vale a pena especular mais sobre quem é o Responsável por esta
enorme OBRA e "lutado" para que ela tenha ficado em Montemor e não em
Aveiro como muita gente da Canoagem queria.
Nas
próximas edições irei divulgar alguns dos entraves que, entretanto, foram
surgindo.
Hoje no meu PRESENTE vou apenas fazer um pequeno desabafo. Desde que comecei a escrever estas pequenas crónicas sobre o aparecimento da Canoagem em Montemor, tenho recebido algumas mensagens de pessoas que não gostaram muito que eu contasse a verdade sobre como apareceu e quem teve ideia da construção da pista. Possivelmente esperavam que fosse algum Presidente de Câmara de um Partido qualquer.
Lamento ter desiludido, mas podem ter a certeza de que não me
vão calar. Por incrível que pareça tive também quem me pedisse para deixar de
escrever, houve até quem me dissesse o que eu devia escrever, chamo a isso CENSURA.
Lamento desiludir, mas não vão conseguir calar-me.
Como estamos na viragem de mais um
Ano o meu Futuro de hoje vai ser apenas desejar a todos um excelente 2024,
muita saúde e paz porque com estas duas coisas podemos construir todo o resto e
o resto é sermos todos muito FELIZES.
BOM
ANO NOVO
EU NEM DORMIA
SEQUER
Eu nem dormia sequer
Tal era a excitação
Passava a vida a espreitar
Se via as renas no ar
Na noite só o luar
E a minha grande emoção…
Dormitava e acordava
Acordava e dormitava…
E punha-me logo à escuta
Para ouvir algum movimento
Se havia gente de pé…
Ou se o grande Pai Natal
Lançava cordas compridas
Para descer pela chaminé…
Rompendo o novo dia
Logo ao nascer da aurora
Eu abria a minha porta
Corria pelo corredor fora…
Mas logo a minha mãe
Dizia muito depressa
- Vai dormir minha filha
- Ainda não está na hora.
Quando o sono me vencia
Depois de tanta ansiedade
Eu finalmente dormia
O sono da felicidade…
E logo de manhãzinha
Quando a casa já bulia
Corria ao sapatinho
E a minha mãe com carinho
Dizia:
Agora já pode ser…
Corre a ver a tua prenda
O Pai Natal já cá veio.
E eu cheia de excitação
Tremendo de ansiedade
Voava pelo corredor
Com alegria tão grande...
Que até me causava dor
E via que era verdade!
Com o passar do tempo,
com o rolar
sobressaltado
das horas apressadas,
dos dias, meses e anos,
descobri …
Descobri que a vida
se entranha em nós …
E em cada casa nossa
que foi
Está à deriva, tantas
vezes,
um pouco de nós,
um apontamento inédito
do que somos (fomos?) …
Um breve trecho do que
ainda queremos construir…
Está à espera a vida
para acontecer …
Talvez só já num novo
ano,
num outro tempo …
Garça Real
ANO NOVO – SÊ FELIZ
As melhores coisas acontecem…
Felicidade é acordar numa manhã qualquer
e fazer dela especial…
Viver simples, sonhar grande, ser grato,
dar amor e rir, rir muito.
A vida pode ser qualquer coisa, basta
fazeres dela o que quiseres!
Vive cada dia com gratidão: ama, perdoa e
agradece cada momento que a vida te proporciona.
O bom dia que tanto desejas só depende de
ti!
Um pensamento positivo pode fazer toda a
diferença.
SÊ FELIZ
Aproveita todos os dias do ano para que a
felicidade permaneça sempre ao teu lado!
Refúgio
Pedi para ficar
Onde o vento não ousa,
Onde o verde repousa,
Onde o ar acaricia…
Pedi para ficar
Longe do clamor do mar
Num céu de azul sem par
Onde o sol alicia…
E nesta paragem ficarei
Até que seque a semente do medo
Lastro inútil que carrego há anos,
Noite eterna do meu degredo
E nesta paragem ficarei
Até que o verde, faça verde o meu olhar
Até que o silêncio entorne a minha alma
E nela me possa deitar…
Alterando o ano, não se altera a vida.
Sabemos que alterar o ano não altera só por si as condições de vida. O
desejo de uma vida melhor tem de estar acompanhado por uma vontade de acreditar
e lutar por uma vida diferente para melhor. No entanto, pelos sítios que
visitamos e intervimos as notícias não nos trazem uma perspetiva de mudanças
para melhor.
Foi disso exemplo a análise do orçamento da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho
para 2024, traz, entre outras novidades duas que vou referir. Existem mais,
infelizmente, mas para não tornar maçador, ficamos por exemplo pelo aumento de
cerca de 8% de aumento da água faturada pela empresa intermunicipal de gestão
de Água do baixo mondego. Que esta empresa em nada contribuiria para um serviço
melhor, já o PCP tinha referido várias vezes. Face ao desequilíbrio crónico das
contas e de uma falência anunciada à nascença a única forma de equilibrar as
contas da empresa referida é o de aumentar o preço ao consumidor, e embora esta
decisão possa ajudar no imediato, sabemos que estes aumentos se vão repetir
mais vezes no tempo devido à incapacidade deste modelo de empresa se tornar
autossuficiente.
Como se isto não bastasse ficamos também com a novidade de 3 milhões pagos
pela Câmara de Montemor-o-Velho em transportes públicos nos próximos 5 anos,
não falamos de transportes escolares. Falamos de cerca de dois mil euros
semanais para financiar um transporte que ninguém conhece e que não existe. O
único transporte que vimos nas nossas freguesias são algumas, poucas, carreiras
de autocarros que circulam no tempo de aulas. Resta-nos saber efetivamente onde
está a ser gasto este dinheiro desde 2019 e o porquê de um aumento para os
próximos anos.
Quanto a todo o resto, ficam os meus desejos de um ano feliz.
De
Calígula, de Cláudio e de outras aVenturas.
Chega-se
mais depressa do que a nossa vontade quer a mais um Ano Novo.
Bom
2024 a todos e todas!
Mas
raios e coriscos! Vamos ter mais três meses de campanha eleitoral.
As
notícias tal anunciam. Sim, as notícias. Quais?
As
já feitas ou as demais?
As
despedidas ou as corrompidas?
Quais
as delas? Ou como Camões:
“Üa
faz-me juramentos
que
só meu amor estima;
a
outra diz que se fina;
Joana,
que bebe os ventos.
Se
cuido que mente Helena,
também
mentirá Joana;
mas
quem mente, não me engana.”
Estaria
assim feliz a desejar o melhor dos anos a todos e todas.
Estaria
assim feliz se a certeza do jornalismo me desse alguma certeza de verdade.
Acredito?
Não acredito?
Sigo
o nosso Miguel Torga em ir acreditando com todas as dúvidas.
Lê
rapaz – digo eu aos meus filhos. Sim! Porque ler faz bem, e sem ler nem sabes fazer
perguntas. A dúvida infértil é a certeza da imbecilidade: - digo eu.
Com
os anos a passar passei também a gostar da pergunta imberbe. Pergunte! Não tenha
medo de errar, a menos que já tenha opinião feita e nesse caso perdemos tempo
os dois, mais o meu que o seu. Evidente a escolha! Não perguntes ao acaso!
Mas
se a pergunta for: qual o caminho para vivermos todos e todas melhor?
Não
tenho dúvida em dizer que é este. Que é duro e mal trilhado. Mas que é nosso e não
nos envergonha venha qual século vier.
Filho:
Páh a paz e a dignidade não se medem! Somos nós.
Pai:
Não dá para medir. No limite é todos sermos gente.
O
amor, a paz, a camaradagem e a família não se medem.
A
todos e todas replico um fantástico novo 2024.
Mas
então pai? O que é preciso?
Filho!
Tens que aprender por ti!
Claro
que me pedem a analise do ano. Cheguei a pensar que o título elucidava.
Faço:
Um Chega! a subir sozinho. Um PSD que rebusca o Passos Coelho. O mesmo gajo que
se juntou ao Sócrates para destruir a Manuela Ferreira Leite. O mesmo que fez
tudo para “ir além da Troika”. Um PS a ocupar todo o centro. Com todos os caciques
locais a fazer fúria. Facas e mais facas. É isto. O Partido Comunista e o Partido
Bloco de Esquerda ofereceram muita réplica. Foi o que é.
Voltando
ao título não esqueço o camarada Alcindo e o camarada José Carvalho.
Esfaqueados
pela Direita Extrema. Mortos por vontade dessa Direita. Estão comigo e com o
meu pai nesta passagem de 2023 para 2024. Não estão esquecidos:
PRESENTES!
Sei
que replicariam os votos de bom ano, deixasse a direita estarem vivos,
Bom
ano 2024.
“Os Cus de Judas”, de António Lobo Antunes
António
Lobo Antunes é considerado um dos maiores escritores portugueses vivos e um dos
nomes mais promissores das nomeações portuguesas ao Nobel da Literatura. Já
para Marcelo Rebelo de Sousa, o autor está acima do Nobel. O médico psiquiatra
foi convocado pelo exército português para servir na guerra em Angola, onde
durante dois anos presenciou horrores que descreve em formato de testemunho no
seu segundo romance “Os cus de Judas”, publicado em 1979. António Lobo Antunes
classifica a guerra de Angola como uma “dolorosa aprendizagem da agonia”. Além
de um retrato do conflito e independência dos angolanos, a obra é também uma
história verídica e contada na primeira pessoa.
Poeta, cantor e compositor, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de agosto de 1929, em Aveiro, e faleceu a 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal.
Viveu até aos três anos na cidade onde nasceu,
tendo, em 1932, viajado para Angola onde passou a viver com os pais e irmãos
que aí já se encontravam. Terá sido aqui que o poeta criou uma relação estreita
com a Natureza e sobretudo com África que, mais tarde, se refletiria em muitos dos seus
trabalhos.
Regressado
a Portugal, depois de uma breve passagem
também por Moçambique, José Afonso foi viver para
casa de familiares em Belmonte, onde completou o Ensino
Primário.
Estudou, já em Coimbra, no liceu D. João III e ingressou depois
no curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras daquela
cidade, tornando-se notado pelas suas interpretações do fado típico coimbrão -
não apenas pela qualidade da sua voz mas pela originalidade que emprestava às
interpretações.
Em 1955, iniciou uma pequena carreira como
professor do Ensino Secundário e lecionou em liceus e colégios de locais tão
variados como Mangualde, Aljustrel, Lagos, Faro e Alcobaça. Seis anos mais tarde, partiu para Moçambique onde voltaria a dar aulas.
De volta a Portugal, em 1967, conseguiu uma colocação como professor,
mas, ao ser expulso do Ensino por incompatibilidades ideológicas face ao regime
ditatorial vigente, começou a dedicar-se mais à música e, consequentemente, a
fazer gravações mais regulares.
A sua formação musical integrou um processo global de atualização temática
e musical da canção e fado de Coimbra. Foi assim que o cancioneiro de Zeca
Afonso recriou temas folclóricos e até infantis, reescrevendo formas
tradicionais como a "Canção de Embalar", evocando mesmo, neste
retomar das mais puras raízes culturais portuguesas, o ambiente lírico dos
cancioneiros primitivos (cf. "Cantiga do Monte"), ao mesmo tempo que
introduziu no texto temas resultantes de um compromisso histórico, denunciando
situações de miséria social e moral (os meninos pobres, a fome no Alentejo, a ausência de liberdade) e cimentando a
crença numa utopia concentrada no anseio de "Um novo dia"
("Menino do Bairro Negro").
Reagindo contra a inutilidade de "cantar o cor-de-rosa e o bonitinho,
muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music-hall de exportação", partiu da convicção de que
"Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência
dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez
fabricar um novo tipo de canção cuja atualização poderia repercutir-se no
espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez
de o distrair." ("Notas" de José Afonso in Cantares, p. 82).
Canções decoradas por várias gerações de portugueses, filhas da tradição e
incorporando, por seu turno, a tradição cultural portuguesa, a maior parte dos
temas de Zeca Afonso integram, como voz de resistência, mas também como voz
pura brotando das raízes do ser português, o imaginário de um povo que durante
a ditadura decorou e entoou intimamente os versos de revolta de
"Vampiros" ou de "A Morte Saiu à Rua", ou que fez de
"Grândola, Vila Morena" o seu hino de utopia e libertação.
Menos equívoca, no pós-25 de abril, mas animada pelo mesmo ímpeto de
reivindicação de justiça e de apelo à fraternidade, a sua canção, no que perde
por vezes de subtil metaforização imposta pela escrita sob censura, ganha em
força e engagement, na batalha contra novos
fantasmas da alienação humana como o imperialismo, a CIA,
o fascismo brasileiro, o novo colonialismo de África, o individualismo europeu.
Neste alento, as Quadras Populares (1980) constituem uma verdadeira miscelânea sobre os novos
desconcertos do mundo, as suas novas e renovadas formas de opressão, enumerando
uma por uma as iniquidades, disparates e esperanças frustradas da sociedade
saída da revolução de abril, aspirando, em conclusão, a uma revolução ainda não
cumprida ou ainda por fazer.
Apesar de galardoado por três vezes consecutivas (1969, 1970 e 1971) com um
prémio oficial, a sua produção viria a ser banida dos meios de comunicação,
dado o seu conteúdo indesejável para o regime; por essa mesma ordem de razões -
talvez mais do que pela inovação musical -, a sua popularidade viria a crescer
após a reimplantação da democracia.
De toda a sua discografia, destacam-se os seguintes álbuns: Balada do outono (1960), Baladas de Coimbra (1962), Baladas e Canções (1964), Cantares de Andarilho (1968), Traz outro Amigo Também (1970), Venham mais Cinco (1973), Coro dos Tribunais (1974), Grândola, Vila Morena (1974), Enquanto há Força (1978), Como se fora seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985)