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sexta-feira, fevereiro 28

BARCAÇA_53


Uma sexta-feira como tantas outras, se não fossem os políticos os dias seriam sempre iguais aos anteriores, onde o azul por vezes se esconde e outras vezes o sol abre deixando-nos radiantes com a sua luminosidade como com o seu calor.

Pilotando esta Barcaça em água mansas, deslizando até à foz, e como sem pressa contempla estes arrozais e por vezes o peixe a saltitar bem perto de nós.

Aqui e ali o pescador com as suas nassas esperando que as enguias tenham dado com o isco que escondido espera por elas.

Mas os nossos colaboradores apressam-se em fazer chegar os seus textos sempre com Interligação a nossa terra, Mário Silva fala-nos “MANLIANENSES ILUSTRES” desta vez traz-nos “Dr. José Augusto de Almeida Ferreira Galvão. Já Carla Henriques, um texto muito atual e que o faz com muita sensibilidade na abordagem “A Mulher como objeto”. Pela Figueira da Foz, Fernando Curado não deixando por mãos alheias as suas crónicas “históricas” aborda ele também um ilustre Figueirense “João Gaspar Simões”

“A Importância de Estar Presente” é com tremenda doçura que Isabel Rama nos toca no coração com as suas belas palavras entre a menina e sua avó.

Já na Poesia Garça Real nos seus sonhos consegue que a palavra moldada com uma mistura de sentimentos nos faça refletir. Isabel Capinha descreve-nos a sua tão típica forma de ver o mundo, das suas diferenças, dos seus sotaques...

Os nossos colaboradores são empenhados trazem-nos os seus melhores poemas que sentem como ninguém, mais uma Isabel desta vez Tavares com o seu poema “Agora Eu Paro Par Escutar” a sua palavra leva-nos para janela e sentimos a chuva a bater o chilrear da passarada e se fecharmos depois os nossos olhos voamos por esse quadro belo que descreve na sua poesia. Mara Kopke entre um cruzar de palavras nas decisões e incertezas atravessando a dor e o choro leva-nos pela saudade...

Na nossa Livraria a saudade de Maria Teresa Horta que nos deixou faz pouco tempo. Pela música vamos até 1974 “Aguas de Março” com Elis Regina e Tom Jobim. Já na Pintura escolhi Paulo Rego uma das artistas mais influentes de Portugal.

Desejo a todos boas leituras 

Todos iguais todos diferentes.

A notícia que tarda em aparecer nas capas dos jornais ou na abertura dos telejornais: - “A GUERRA ACABOU”

Quem nestes últimos dias tem acompanhado as notícias não ficou indiferente as guerras que assolam a Europa, Israel e Ucrânia.

As imagens que nos entraram em direto de um espectáculo na troca de prisioneiros pelo Hamas não podia ter sido pior. Ultrapassou todo o bom senso que estes atos merecem pelo seu significado e pela sua imensa dor.

Já do outro lado a guerra de gabinete onde todos os dias são lançados centenas de drones que incutem destruição a um povo que teve simplesmente o azar de ter nascido junto à Rússia.

Mas o melhor estava para vir, a receção ao presidente da Ucrânia pelo presidente dos E.U. não podia ser pior, onde todos berravam e o interesse de Trump é só económico seja para obter “Terras Raras” petróleo ou gás grátis e tentar vender aos Europeus o seu armamento como fosse o salvador da pátria e com arrogância já conhecida colocou fora da Casa Branca o convidado presidente da Ucrânia só visto porque contado ninguém vai acreditar.

Mas como tudo estava a correr mal, o nosso primeiro-ministro juntou-se à festa no mesmo dia que recebeu o presidente da França para deixar o País à beira de um ataque de nervos ou no final da linha amanhã pelas 20h00 dizer que vamos a eleições.

Como disse, pior não podia ter sido este mês curto mas cheio de “Casas e casinhas”.

MANLIANENSES ILUSTRES

Dr. José Augusto Peixoto de Almeida Ferreira Galvão

 (1835-1905)

PARTE II

A 5 de abril de 1846, voltamos a ter notícias de José Augusto Galvão, quando este e sua irmã D. Maria da Glória Ferreira Galvão, “desta villa freguezia da Magdalena”, surgem como padrinhos de batizado de uma criança de nome José, natural da Quintã, freguesia da Carapinheira, mas a residir com os seus pais, certamente trabalhadores, na quinta do Fojo Lobal.

Em outubro de 1849, tinha então apenas 14 anos, matricula-se no 1.º ano da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e fixa residência na “Couraça dos Apóstolos”, tendo feito parte “desse curso distincto” em que se salientaram, entre outros, Augusto César Barjona de Freitas, José Luciano de Castro Pereira Corte-Real e Henrique da Gama Barros, figuras marcantes da história política e cultural do Portugal da segunda metade de “oitocentos”.

Aí vai fazendo sucessivamente, sempre com um aproveitamento exemplar, o 2.º ano (1850/51), o 3.º ano (1851/52), ano em que passa a residir na rua da Esperança, o 4.º ano (1852/53), ano em que regressa à “Couraça do Apóstolos” e em que obtém o grau de bacharel, aprovado Nemine Discrepante (22.06.1853), e o 5.º ano (1853/54), ano em que fixa residência na rua do Sub-Ripas, alcançando o grau de formatura, aprovado Simpliciter (20.06.1854).

Concluída a formatura, “não procurou, como fez a maior parte dos seus condiscipulos, talher á mesa do orçamento; veio fixar a sua residencia nesta villa que tanto engrandeceu, procurando sempre ser util a este concelho que tanto lhe deve.

O unico cargo remunerado que exerceu, se remuneração pode chamar-se aos magros emolumentos que lhe pertenciam quando o exercia, foi o de 1.º substituto dos Juizes de Direito, que foi sempre, quasi desde a creação desta comarca; e esse cargo acceitava-o para prestar serviços á sua terra. Por muitas e repetidas vezes, e em algumas por mezes successivos, assumiu a jurisdicção, tendo sempre administrado justiça com são criterio e nobre independencia; e esses magros proventos eram, pelos seus subalternos, divididos pelos pobres mais necessitados desta villa, segundo as suas indicações.”

A 28 de Agosto de 1863, desposa, na vila, freguesia e concelho de S. João de Areias (hoje integrado no concelho de Santa Comba Dão), na diocese de Viseu, D. Maria Clara Correia da Silva Carvalho Galvão, filha de Francisco Esteves Correia e D. Maria Ludovina da Silva Carvalho, naturais da freguesia da Sé Patriarcal da cidade de Lisboa. Deste casamento nasceram:

Henrique Ferreira Galvão (n. 11.11.1864, pelas 4 horas da manhã, na freguesia de Santa Maria de Alcáçova, b. 03.12.1864, na igreja dos Anjos, tendo por padrinhos Maximiano de Freitas Mascarenhas Leal, viúvo, proprietário e advogado desta vila, e D. Maria da Piedade Ferreira Galvão de Carvalho, tia do Henrique). Formado em Direito, pela Universidade de Coimbra (1881-1888), foi administrador do concelho de Montemor-o-Velho, entre 1887 e 1889, tendo falecido em Angola, em abril ou maio de 1901, onde trabalhava “como auditor de guerra de marinha”;

José Luís Ferreira Galvão (n. 28.10.1868, pelas 10 horas da manhã, na freguesia de Santa Maria de Alcáçova, b. 22.12.1868, na igreja dos Anjos, tendo por padrinhos o comendador Maximiano de Freitas Mascarenhas Leal e D. Berarda Polidora das Neves Mascarenhas e Melo, solteira, de Reveles, representada por sua procuradora D. Maria da Piedade Ferreira Galvão de Carvalho, tia do José Luís). Casou com Eugénia Cândida Alves de Sousa de quem teve Maria Clara de Sousa Galvão que casou com o Dr. António Afonso Lucas, 2.º assistente da faculdade de Medicina. Estes, por sua vez, foram pais de: António Afonso Lucas e José Manuel Lucas. Ao longo da sua vida ocuparia cargos de enorme destaque no quotidiano da vila montemorense, como sejam, entre outros, os de vereador e presidente da câmara municipal, provedor da Confraria de Nossa Senhora de Campos e Misericórdia ou o de juiz de paz do “distrito de Montemor-o-Velho, comarca do mesmo nome”, sendo ainda uma das figuras mais proeminentes do republicanismo em Montemor, onde chegou a liderar a comissão municipal do poderoso Partido Democrático, mudando mais tarde para o Partido Evolucionista. Faleceria, com perto de 51 anos, a 23 de junho de 1919;

D. Maria do Carmo da Silva Carvalho Galvão (n. 30.06.1870, na freguesia de Santa Maria de Alcáçova, b. 16.08.1870, na igreja dos Anjos). Casou, a 1 de outubro de 1894, tinha então 24 anos, na igreja dos Anjos, com António Joaquim Simões, 25 anos, solteiro, proprietário, natural, baptizado e morador nesta vila, filho de António Joaquim Simões, natural “do lugar da Abrunheira, freguesia de Verride” e de Ana Ferreira Palhais, natural do lugar e freguesia de Alfarelos, no concelho de Soure, e sobrinho de Joaquim António Simões, casado, da cidade da Figueira da Foz, cidade, aliás, para onde o casal iria viver mais tarde. Deste casamento nasceram: Maria Amélia Galvão (casou com António de Ornelas e Vasconcelos, nascido em Ponte da Barca, de quem teve Maria de Lourdes Vasconcelos) e Carlos Alberto Galvão.


A Mulher como objeto: O reflexo das redes sociais

Hoje quero falar-vos de um tema que me preocupa, que nos devia preocupar a todas, na verdade.

Vivemos numa era paradoxal, onde a liberdade de expressão de cada um de nós convive com a superficialidade e a objetificação. As redes sociais, que poderiam ser vistas como um espaço de conexão autêntica e partilha genuína, tornaram-se, para muitas de nós, um campo minado. Um local onde a exposição se confunde com permissão e onde a nossa autonomia e liberdade sobre a própria imagem é frequentemente usurpada pelo olhar alheio e julgada.

Uma mulher publicou uma fotografia. Porque sim. Talvez porque gostou do ângulo, porque se sentiu confiante, porque quis partilhar um momento de bem-estar consigo mesma, porque se sentiu bonita ou simplesmente porque lhe apeteceu. Sem precisar de se justificar, sem ter de dar explicações. Mas num instante, essa escolha pessoal pode ser distorcida. Multiplicam-se as mensagens inapropriadas, os comentários invasivos, as insinuações que nunca foram pedidas. Para alguns, o simples facto de uma mulher se mostrar significa que está disponível. Que procura um caso. Que quer atenção.

É como se a sociedade tivesse reaproveitado os antigos padrões de objetificação feminina, os tivesse adaptado ao mundo digital e os amplificasse através de algoritmos, agora protegidos pelo véu do anonimato. O corpo da mulher continua a ser visto como um domínio público, algo passível de avaliação, julgamento e, demasiadas vezes, desrespeito sem consequências.

Pode parecer um exagero para alguns, mas a verdade é que isto continua a acontecer – todos os dias, em diferentes formas, perante o silêncio ou a normalização de muitos.

E a pergunta que se impõe é: porquê?

Porque é que a confiança de uma mulher é tantas vezes interpretada como um apelo? Porque é que a sua autoestima incomoda? Porque é que ainda persiste a ideia de que a exibição do próprio corpo equivale a um convite?

Desenganem-se. O problema não está na fotografia partilhada. O problema está no olhar de quem a vê. A cultura patriarcal, ainda profundamente enraizada, apenas encontrou novas formas de se perpetuar no espaço digital. Se antes a vigilância do corpo feminino era feita por normas sociais e regras implícitas, agora exerce-se através de comentários, mensagens e julgamentos instantâneos, legitimados pelo distanciamento, anonimato e impunidade que a tecnologia tem proporcionado.

Mas uma mulher não é um objeto! Não é um corpo à disposição do desejo alheio, nem uma tela em branco onde se projetam interpretações deturpadas. Publicar uma fotografia não significa procurar validação, muito menos abrir portas ao assédio. É um ato de expressão pessoal que devia ser entendido como tal – e nada mais.

Somos livres. Devíamos poder ser quem queremos, fazer o que querermos, sem medo de julgamentos ou de comentários ofensivos.

Se algo precisa de mudar, não somos nós, nem a forma como escolhemos apresentarmo-nos ao mundo. O que precisa de mudar é o olhar sobre nós, a forma como continuamos a ser vistas. O olhar masculino, condicionado por séculos de apropriação do corpo feminino, precisa de ser desconstruído para dar lugar a uma nova perspetiva – uma que reconheça que a nossa liberdade de ser não é sinónimo de disponibilidade para servir.

Mas a verdade é que não é apenas o olhar masculino que precisa de mudar. Também nós, mulheres, muitas vezes nos julgamos entre nós. Infelizmente, é uma realidade.

O machismo não se manifesta apenas nas atitudes dos homens, mas também se infiltra nos nossos próprios pensamentos e comportamentos. Crescemos a ouvir frases como "as mulheres são as piores inimigas umas das outras" ou "uma mulher bonita não pode ser inteligente", e, sem nos apercebermos, essas crenças enraízam-se e tornam-se mecanismos de validação social.

O machismo internalizado leva-nos a criticar e rotularmo-nos umas às outras, perpetuando estereótipos que, ironicamente, tanto combatemos. Quando julgamos uma mulher pela forma como se veste, pelo modo como se expressa ou pelas suas escolhas pessoais, estamos, sem querer, a reforçar a mesma mentalidade que nos limita. Frases como "está a pedir atenção", "é uma exibicionista", "devia ter mais juízo", são pequenos exemplos de como replicamos, entre nós, o discurso que nos oprime.

Esta cultura de julgamento alimenta a divisão entre mulheres, o que acaba por ser um dos maiores obstáculos para a mudança social. A falta de solidariedade enfraquece-nos como coletivo e dá mais força a um sistema que beneficia dessa desunião. Quando estamos demasiado ocupadas a competir entre nós, esquecemo-nos do verdadeiro adversário: a estrutura patriarcal que nos ensinou a desconfiar umas das outras.

Mas a verdade é que não temos de ser rivais. Não temos de olhar para outras mulheres como ameaças, mas sim como aliadas. A mudança começa quando passamos a reconhecer que cada mulher tem o direito de ser e agir como quiser, sem ser rotulada ou atacada por outras mulheres. Quando compreendemos que a liberdade da outra não limita a nossa, mas sim fortalece um caminho que podemos trilhar juntas, damos um passo essencial rumo à verdadeira solidariedade feminina.

Se queremos que o mundo nos veja de forma diferente, temos primeiro de mudar a forma como nos vemos a nós mesmas e umas às outras. O empoderamento feminino não se trata apenas de exigir respeito dos homens, mas também de construir um espaço onde todas as mulheres se sintam livres para serem quem são, quem querem ser, sem medo de serem julgadas ou criticadas.

A verdadeira revolução começa na nossa forma de pensar e na maneira como escolhemos apoiar, em vez de criticar, as mulheres à nossa volta.

Até que isso aconteça, continuaremos a viver num ciclo onde a nossa autonomia e liberdade é confundida com um aval implícito para a invasão e o desrespeito.

É imperativo que, coletivamente, homens e mulheres, reflitam sobre as suas atitudes e perceções, promovendo uma mudança cultural que valorize a individualidade e a liberdade de cada mulher, livre de julgamentos e imposições.

Afinal, no fim das contas, isso revela muito mais sobre quem observa do que sobre quem se expressa!



JOÃO GASPAR SIMÕES – UM ILUSTRE FIGUEIRENSE

João Gaspar Simões foi uma das mais relevantes figuras da literatura portuguesa, enquanto crítico literário, ensaísta, historiador da cultura, biógrafo, polemista, antologista, romancista e dramaturgo.

É considerado o mais influente crítico literário português do século XX, mas também um dos mais controversos.

Nasceu a 25 de fevereiro de 1903, na Rua do Príncipe, na Figueira da Foz, filho de João Simões, comerciante, natural de Santa Maria da Arrifana, em Vila Nova de Poiares, e de Constança Neto Gaspar, doméstica, natural da Figueira da Foz.

José Régio com João Gaspar Simões

Era neto paterno de Marta de Jesus e de avô incógnito, e neto materno de Domingos Lino Gaspar e de Constança Gaspar Neto.

Fez a instrução primária na Figueira da Foz, num colégio dirigido por Eloy do Amaral, e a partir dos 11 anos frequentou como interno o Colégio Lyceu Figueirense (que lhe motivaria a escrita do romance “Internato” em 1946).

Terminou o ensino liceal em Coimbra, no Liceu José Falcão, onde foi colega e amigo de Branquinho da Fonseca.

Em 1921 matriculou-se em Direito, curso que viria a detestar, vindo só a concluí-lo em 1932, depois de muita boémia e outros afazeres de cariz intelectual.

Em 1924 fundou a revista «Tríptico», com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca, Campos de Figueiredo e Vitorino Nemésio, e na qual colaboraram Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, José Régio, Alberto de Serpa, Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes, entre outros.

Em 1926, com 23 anos, casou, em Coimbra, com Mécia de Vasconcelos Gonçalves, com quem, mais tarde (1941), traduzirá o romance «Jane Eyre», de Charlotte Brontë.

Em 1927, ainda estudante de Direito, fundou a revista «Presença», com José Régio e Branquinho da Fonseca. Residia, nessa altura, na Figueira da Foz, mas encontrava-se todas as semanas com José Régio, no Café Central, em Coimbra.

Em 1930, Branquinho da Fonseca sai da direção da revista «Presença», tendo sido substituído por Adolfo Casais Monteiro.

O nº 1 da revista «Presença» saiu em 10 de março de 1927 e o último (nº 56) foi publicado em 1940.

De 1930 a 1931, João Gaspar Simões foi Presidente da Associação Académica de Coimbra.

Colaborou nas revistas «Princípio» (1930), «Sudoeste » (1935) e «Mundo Literário » (1946-1948), com ensaios, contos e críticas literárias.

Fez tirocínio para Conservador do Museu Machado de Castro, em Coimbra, e nessa qualidade transferiu para este Museu a valiosa coleção de antiguidades chinesas doada pelo poeta Camilo Pessanha, que se encontrava em depósito no Museu das Janelas Verdes em Lisboa.

A partir de 1935 foi revisor da Imprensa Nacional, passando para a Biblioteca desta instituição em 1940.


Entre 1942 e 1945 dirigiu o programa de traduções da casa editora «Portugália», em Lisboa.

A partir de 1946 finalizou a sua carreira de romancista para iniciar a sua produção dramatúrgica.

Entre 1954 e 1968 foi sua companheira de vida e de trabalhos literários a escritora Isabel da Nóbrega, certamente a Albertina, personagem principal do seu romance «As Mãos e as Luvas», apresentando-a como uma espécie de Madame Bovary: “sim, essa arma, digo bem, que ela sabia constituir, no arsenal das suas seduções, a mais mortífera das suas armas: os olhos, precisamente”.

José Régio e João Gaspar Simões

João Gaspar Simões publicou «As Mãos e as Luvas» em 1975, provavelmente por revanchismo, algum tempo depois de Isabel da Nóbrega o ter abandonado e ter ido viver com José Saramago, à data um desconhecido jornalista e tradutor.

Isabel da Nóbrega viveu com Saramago de 1970 a 1986, à qual dedicou no «Memorial do Convento», publicado em 1982, a seguinte frase: “À Isabel, porque nada perde ou repete, porque tudo cria e renova”.

Atrás, ao centro, João Gaspar Simões. Jorge de Sena, à direita, sentado.

Dedicatória que Saramago não repetiria noutros livros, pois conheceu Pilar del Rio em 1986 e com ela casou em 1988.

João Gaspar Simões faleceu 1987, Saramago recebeu o Nobel em 1998 e faleceu em 2010, e a relação entre ambos não foram as melhores.

João Gaspar Simões desafiou sempre a moral vigente, ora através da sua obra ficcional, ora através das obras que elegia para a sua crítica.

Em 1965, João Gaspar Simões foi preso pela PIDE, por ter pertencido, juntamente com Fernanda Botelho, Augusto Abelaira, Alexandre Pinheiro Torres e Manuel da Fonseca, ao júri do Prémio Literário da Sociedade Portuguesa de Autores, que resolveu atribuir o galardão ao escritor Luandino Vieira.

Uma das facetas mais importantes da sua obra de crítico e de editor foi a de ter sido o primeiro biógrafo e também o primeiro editor (com Luís de Montalvor) de Fernando Pessoa, de quem tinha sido amigo e correspondente.

Foi autor de vários romances e peças de teatro, colaborou em diversas publicações nacionais e brasileiras e foi crítico literário do «Diário de Notícias» durante mais de 50 anos.

Romancista, novelista, contista, dramaturgo, ensaísta, memorialista, editor, diretor literário e tradutor, celebrizou-se, principalmente, como crítico, teórico da literatura, historiador da literatura portuguesa dos séculos XIX e XX e biógrafo de escritores, com especial relevo para os seus trabalhos sobre Eça de Queirós (1945) e Fernando Pessoa (1950).

No domínio da literatura estrangeira divulgou e traduziu vários autores russos e anglófonos, entre eles Dostoiévski,



Liev Tolstói, George Eliot, Jane Austen e Elizabeth Gaskell.

Manteve sempre fortes ligações ao mundo da imprensa, tendo colaborado no «Diário de Lisboa», «Diário de Notícias», «Diário Popular», «O Primeiro de Janeiro», «Mundo Literário» e «O Século», do qual foi o último diretor.

Proferiu numerosas conferências sobre literatura em Portugal e no Brasil e em várias cidades europeias, tendo participado como orador convidado no «First International Symposium on Fernando Pessoa» realizado em 1977 na «Brown University», Providence, USA, e no «Second International Symposium on Fernando Pessoa» em 1983, na «Vanderbilt University», Nashville, USA.

A 13 de Julho de 1981 foi-lhe atribuído o grau de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.

Foi sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras e colaborador da Enciclopédia Britânica.

João Gaspar Simões morreu a 6 de janeiro de 1987, em Lisboa.

Foi uma das mais marcantes figuras da cena literária portuguesa do século XX.

No domínio do romance, do conto e da novela, deixou obras significativas, tais como: «Elói ou Romance numa Cabeça» (1932), «Pântano» (1940), «Amigos Sinceros» (1941), «A Unha Quebrada» (1941) e «Internato» (1946).

No setor da biografia deixou-nos duas obras que são, ainda hoje, de referência obrigatória: «Eça de Queirós, o Homem e o Artista» (1945) e «Vida e Obra de Fernando Pessoa» (1950).


Em 2009, a Câmara Municipal da Figueira da Foz homenageou-o, criando o Prémio Literário João Gaspar Simões, pretendendo incentivar a criação literária e dar a conhecer novas obras e autores.

Em homenagem à importância da sua obra foi o seu nome atribuído a diversas ruas: na Figueira da Foz, em Foros de Amora (Seixal), na Aldeia de Juzo (Cascais), em Leça da Palmeira (Matosinhos), em Albufeira (Algarve) e ainda no Brasil, no Bairro Diadema, distrito de Jabaquara, cidade de São Paulo.

A Importância de Estar Presente

 

Era uma vez uma menina chamada Doçura. Todos os dias, logo pela manhã ela visitava a sua avó Maria, para ela se sentir menos só. Os seus olhos azuis como o céu num dia claro refletiam toda a pureza da sua alma.

Ao caminhar, todo o espaço envolvente sorria-lhe. Ardente de ansiedade a avó esperava por ela como se fosse a sua última conversa.

As conversas de ambas eram grandes momentos de cumplicidade, e partilha de histórias sem fim.

— Sabes Doçura sempre que me levanto e deito-me penso neste nosso momento. — diz a avó Maria. — É o melhor momento da minha Vida – conclui.

Comovida Doçura não sabe o que dizer, e aperta a avó num abraço emotivo e comovente.

A manhã voa rapidamente e Doçura despede-se da avó. Caminha cabisbaixa e vagarosamente com medo de fracassar no seu compromisso para com a sua querida avó.

O que Doçura não sabia era que, de forma irónica, enquanto temia falhar, já fazia exatamente o que a sua avó mais precisava: estar presente, com amor e dedicação.

Voltou a surgir

aos meus olhos deslumbrados

a moldura de há tempos…

A mesma, exatamente a mesma…

moldura sem retrato

com contornos invisíveis,

traços vagos

que só a alma

vê e sente …

Trouxe-a a brisa gélida

deste janeiro tão frio

que o sol luminoso e brilhante

mal consegue aquecer.

E o retrato lá está, sorrindo

ao sol de inverno,

a aquecer-se risonho,

sorrindo nesse encantamento

sempre deslumbrado

sorrindo só para mim …

Porquê?!

O Mundo

O mundo é uma roda gigante cheia de pessoas,

todas elas diferentes…

de diferentes lugares

de diferentes línguas

e muitas vezes a mesma língua,

mas com diferentes sotaques,

de diferentes razões de pensar, falar e agir,

de diferentes raças

e até de diferentes tamanhos.

Perante todas estas diferenças pensamos que tudo vai ser diferente,

que no meio de toda esta diversidade,

esta incrível variedade de gente,

alguém se destaque pela diferença!

E sim, é verdade,

encontramos a diferença que tanto queremos

na maneira de pensar ou de agir,

seja certa ou errada,

esta será peculiar a cada um de nós

o que faz com que todos sejamos diferentes

mas que todos estejamos em sintonia

desejando o melhor para o MUNDO.

AGORA EU PARO PAR ESCUTAR…

Trago dentro de mim…

algures... em mim…

no meio de uns poemas...

de uma estrofe…

algumas histórias… dilemas…

Muita força,

muita paz,

muita Luz.

Porque não fui sempre assim?

O que é que mudou em mim?

Que calma é esta que me abala

a correria… e me faz pensar

que…no dia-a-dia, tudo muda?

Não permanecemos iguais

nada menos, nada mais!…

Ficamos diferentes…

Com o passar do tempo,

percebemos…

Agora eu paro para escutar…

O som da chuva na vidraça

ouvir um passarito que passa

quando ele tão solto e alegre

voa junto à minha janela…

E penso… Que imagem terna!

Agora eu olho a natureza bela

e deixo-me embalar por ela

olho fundo nos olhos das pessoas

para saber se elas são puras e

belas… por dentro!…

Agora eu esqueço agravos

eu não sinto rancores…

nem abalos… com a maldade

humana que me tenta ferir…

Eu hoje sinto mais paz!

Eu hoje gosto muito de sorrir

de ajudar, de me preocupar,

com tudo o que me rodeia.

Gosto de sentir amor por

tudo e por nada…

Agora eu paro para escutar…

"Trago em minha alma a dualidade de dois seres:

Uma parte de mim é permanência, a outra, distância, desapego.

Uma sorri, gargalha, é criança ainda, a outra madura, quase anciã.

Uma é decisão, firmeza,

a outra, inconstância, incerteza.

Uma sempre diz sim, a outra, não ou talvez.

Uma acredita que vive plenamente, a outra, parece até que nem nasceu.

Uma superou as angústias,

a outra, ainda chora de dor.

Uma desacreditou de tudo,

a outra, vive a sonhar.

Uma decidiu esquecer,

a outra é só saudade.

Se a minha alma é dueto,

faço dela então uma bela obra de arte:

Uma é composição

A outra só canção."

Lu Prado


Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno. Três Marias, uma obra. As “Novas Cartas Portuguesas” marcaram o declínio do Estado Novo em Portugal, tendo sido lançadas em 1972. A revelação de muitas das situações discriminatórias e lesivas para a mulher em Portugal deram um passo inaugural numa caminhada que tem sido feita até aos dias de hoje, naquilo que é a igualdade de género nas diversas circunstâncias sociais, culturais, laborais e económicas. Desta feita, são três rostos providenciais na construção de um estado crescentemente equitativo, no qual os desafios vão surgindo quotidianamente, em paralelo com a evolução da sociedade na globalidade.



Elis Regina & Tom Jobim - "Aguas de Março" - 1974


Paula Rego

Sem dúvida, uma das artistas mais influentes de Portugal, de reconhecido talento em todo o mundo. O seu estilo tem sido um espectro que tem desfrutado do abstrato para o representativo, onde a figura feminina e a denúncia feminista têm sido temas centrais de sua obra. 





BARCAÇA_54

  Final de mês é dia de mais uma viagem pelo nosso Mondego que agora tenta galgar as margens devido à quantidade de água que leva o seu leit...