Uma
sexta-feira como tantas outras, se não fossem os políticos os dias seriam
sempre iguais aos anteriores, onde o azul por vezes se esconde e outras vezes o
sol abre deixando-nos radiantes com a sua luminosidade como com o seu calor.
Pilotando
esta Barcaça em água mansas, deslizando até à foz, e como sem pressa contempla
estes arrozais e por vezes o peixe a saltitar bem perto de nós.
Aqui
e ali o pescador com as suas nassas esperando que as enguias tenham dado com o
isco que escondido espera por elas.
Mas
os nossos colaboradores apressam-se em fazer chegar os seus textos sempre com Interligação
a nossa terra, Mário Silva fala-nos “MANLIANENSES ILUSTRES” desta vez traz-nos “Dr.
José Augusto de Almeida Ferreira Galvão. Já Carla Henriques, um texto muito atual
e que o faz com muita sensibilidade na abordagem “A Mulher como objeto”. Pela
Figueira da Foz, Fernando Curado não deixando por mãos alheias as suas crónicas
“históricas” aborda ele também um ilustre Figueirense “João Gaspar Simões”
“A
Importância de Estar Presente” é com tremenda doçura que Isabel Rama nos toca
no coração com as suas belas palavras entre a menina e sua avó.
Já
na Poesia Garça Real nos seus sonhos consegue que a palavra moldada com uma
mistura de sentimentos nos faça refletir. Isabel Capinha descreve-nos a sua tão
típica forma de ver o mundo, das suas diferenças, dos seus sotaques...
Os
nossos colaboradores são empenhados trazem-nos os seus melhores poemas que sentem
como ninguém, mais uma Isabel desta vez Tavares com o seu poema “Agora Eu Paro
Par Escutar” a sua palavra leva-nos para janela e sentimos a chuva a bater o
chilrear da passarada e se fecharmos depois os nossos olhos voamos por esse
quadro belo que descreve na sua poesia. Mara Kopke entre um cruzar de palavras nas
decisões e incertezas atravessando a dor e o choro leva-nos pela saudade...
Na
nossa Livraria a saudade de Maria Teresa Horta que nos deixou faz pouco tempo.
Pela música vamos até 1974 “Aguas de Março” com Elis Regina e Tom Jobim. Já na
Pintura escolhi Paulo Rego uma das artistas mais influentes de Portugal.
Desejo a todos boas leituras
Todos
iguais todos diferentes.
A
notícia que tarda em aparecer nas capas dos jornais ou na abertura dos
telejornais: - “A GUERRA ACABOU”
Quem
nestes últimos dias tem acompanhado as notícias não ficou indiferente as
guerras que assolam a Europa, Israel e Ucrânia.
As
imagens que nos entraram em direto de um espectáculo na troca de prisioneiros pelo
Hamas não podia ter sido pior. Ultrapassou todo o bom senso que estes atos
merecem pelo seu significado e pela sua imensa dor.
Já
do outro lado a guerra de gabinete onde todos os dias são lançados centenas de
drones que incutem destruição a um povo que teve simplesmente o azar de ter
nascido junto à Rússia.
Mas
o melhor estava para vir, a receção ao presidente da Ucrânia pelo presidente
dos E.U. não podia ser pior, onde todos berravam e o interesse de Trump é só económico
seja para obter “Terras Raras” petróleo ou gás grátis e tentar vender aos
Europeus o seu armamento como fosse o salvador da pátria e com arrogância já conhecida
colocou fora da Casa Branca o convidado presidente da Ucrânia só visto porque
contado ninguém vai acreditar.
Mas
como tudo estava a correr mal, o nosso primeiro-ministro juntou-se à festa no
mesmo dia que recebeu o presidente da França para deixar o País à beira de um ataque
de nervos ou no final da linha amanhã pelas 20h00 dizer que vamos a eleições.
Como
disse, pior não podia ter sido este mês curto mas cheio de “Casas e casinhas”.
MANLIANENSES ILUSTRES
Dr. José Augusto Peixoto de Almeida Ferreira Galvão
(1835-1905)
PARTE II
A 5 de abril de 1846,
voltamos a ter notícias de José Augusto Galvão, quando este e sua irmã D. Maria
da Glória Ferreira Galvão, “desta villa freguezia da Magdalena”, surgem como
padrinhos de batizado de uma criança de nome José, natural da Quintã, freguesia
da Carapinheira, mas a residir com os seus pais, certamente trabalhadores, na
quinta do Fojo Lobal.
Em outubro de 1849,
tinha então apenas 14 anos, matricula-se no 1.º ano da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra e fixa residência na “Couraça dos Apóstolos”, tendo
feito parte “desse curso distincto” em que se salientaram, entre outros, Augusto
César Barjona de Freitas, José Luciano de Castro Pereira Corte-Real e Henrique
da Gama Barros, figuras marcantes da história política e cultural do Portugal
da segunda metade de “oitocentos”.
Aí vai fazendo
sucessivamente, sempre com um aproveitamento exemplar, o 2.º ano (1850/51), o
3.º ano (1851/52), ano em que passa a residir na rua da Esperança, o 4.º ano
(1852/53), ano em que regressa à “Couraça do Apóstolos” e em que obtém o grau
de bacharel, aprovado Nemine Discrepante
(22.06.1853), e o 5.º ano (1853/54), ano em que fixa residência na rua do
Sub-Ripas, alcançando o grau de formatura, aprovado Simpliciter (20.06.1854).
Concluída a formatura,
“não procurou, como fez a maior parte dos seus condiscipulos, talher á mesa do
orçamento; veio fixar a sua residencia nesta villa que tanto engrandeceu,
procurando sempre ser util a este concelho que tanto lhe deve.
O unico cargo
remunerado que exerceu, se remuneração pode chamar-se aos magros emolumentos
que lhe pertenciam quando o exercia, foi o de 1.º substituto dos Juizes de
Direito, que foi sempre, quasi desde a creação desta comarca; e esse cargo
acceitava-o para prestar serviços á sua terra. Por muitas e repetidas vezes, e
em algumas por mezes successivos, assumiu a jurisdicção, tendo sempre
administrado justiça com são criterio e nobre independencia; e esses magros
proventos eram, pelos seus subalternos, divididos pelos pobres mais
necessitados desta villa, segundo as suas indicações.”
A 28 de Agosto de 1863,
desposa, na vila, freguesia e concelho de S. João de Areias (hoje integrado no
concelho de Santa Comba Dão), na diocese de Viseu, D. Maria Clara Correia da
Silva Carvalho Galvão, filha de Francisco Esteves Correia e D. Maria Ludovina
da Silva Carvalho, naturais da freguesia da Sé Patriarcal da cidade de Lisboa.
Deste casamento nasceram:
Henrique Ferreira
Galvão (n. 11.11.1864, pelas 4 horas da manhã, na freguesia de Santa Maria de
Alcáçova, b. 03.12.1864, na igreja dos Anjos, tendo por padrinhos Maximiano de
Freitas Mascarenhas Leal, viúvo, proprietário e advogado desta vila, e D. Maria
da Piedade Ferreira Galvão de Carvalho, tia do Henrique). Formado em Direito,
pela Universidade de Coimbra (1881-1888), foi administrador do concelho de
Montemor-o-Velho, entre 1887 e 1889, tendo falecido em Angola, em abril ou maio
de 1901, onde trabalhava “como auditor de guerra de marinha”;
José Luís Ferreira
Galvão (n. 28.10.1868, pelas 10 horas da manhã, na freguesia de Santa Maria de
Alcáçova, b. 22.12.1868, na igreja dos Anjos, tendo por padrinhos o comendador
Maximiano de Freitas Mascarenhas Leal e D. Berarda Polidora das Neves
Mascarenhas e Melo, solteira, de Reveles, representada por sua procuradora D.
Maria da Piedade Ferreira Galvão de Carvalho, tia do José Luís). Casou com Eugénia
Cândida Alves de Sousa de quem teve Maria Clara de Sousa Galvão que casou com o
Dr. António Afonso Lucas, 2.º assistente da faculdade de Medicina. Estes, por
sua vez, foram pais de: António Afonso Lucas e José Manuel Lucas. Ao longo da
sua vida ocuparia cargos de enorme destaque no quotidiano da vila montemorense,
como sejam, entre outros, os de vereador e presidente da câmara municipal,
provedor da Confraria de Nossa Senhora de Campos e Misericórdia ou o de juiz de
paz do “distrito de Montemor-o-Velho, comarca do mesmo nome”, sendo ainda uma
das figuras mais proeminentes do republicanismo em Montemor, onde chegou a
liderar a comissão municipal do poderoso Partido Democrático, mudando mais
tarde para o Partido Evolucionista. Faleceria, com perto de 51 anos, a 23 de
junho de 1919;
D. Maria do Carmo da
Silva Carvalho Galvão (n. 30.06.1870, na freguesia de Santa Maria de Alcáçova,
b. 16.08.1870, na igreja dos Anjos). Casou, a 1 de outubro de 1894, tinha então
24 anos, na igreja dos Anjos, com António Joaquim Simões, 25 anos, solteiro,
proprietário, natural, baptizado e morador nesta vila, filho de António Joaquim
Simões, natural “do lugar da Abrunheira, freguesia de Verride” e de Ana
Ferreira Palhais, natural do lugar e freguesia de Alfarelos, no concelho de
Soure, e sobrinho de Joaquim António Simões, casado, da cidade da Figueira da
Foz, cidade, aliás, para onde o casal iria viver mais tarde. Deste casamento
nasceram: Maria Amélia Galvão (casou com António de Ornelas e Vasconcelos,
nascido em Ponte da Barca, de quem teve Maria de Lourdes Vasconcelos) e Carlos
Alberto Galvão.
A
Mulher como objeto: O reflexo das redes sociais
Hoje
quero falar-vos de um tema que me preocupa, que nos devia preocupar a todas, na
verdade.
Vivemos
numa era paradoxal, onde a liberdade de expressão de cada um de nós convive com
a superficialidade e a objetificação. As redes sociais, que poderiam ser vistas
como um espaço de conexão autêntica e partilha genuína, tornaram-se, para
muitas de nós, um campo minado. Um local onde a exposição se confunde com
permissão e onde a nossa autonomia e liberdade sobre a própria imagem é
frequentemente usurpada pelo olhar alheio e julgada.
Uma
mulher publicou uma fotografia. Porque sim. Talvez porque gostou do ângulo,
porque se sentiu confiante, porque quis partilhar um momento de bem-estar
consigo mesma, porque se sentiu bonita ou simplesmente porque lhe apeteceu. Sem
precisar de se justificar, sem ter de dar explicações. Mas num instante, essa
escolha pessoal pode ser distorcida. Multiplicam-se as mensagens inapropriadas,
os comentários invasivos, as insinuações que nunca foram pedidas. Para alguns,
o simples facto de uma mulher se mostrar significa que está disponível. Que
procura um caso. Que quer atenção.
É
como se a sociedade tivesse reaproveitado os antigos padrões de objetificação
feminina, os tivesse adaptado ao mundo digital e os amplificasse através de
algoritmos, agora protegidos pelo véu do anonimato. O corpo da mulher continua
a ser visto como um domínio público, algo passível de avaliação, julgamento e,
demasiadas vezes, desrespeito sem consequências.
Pode
parecer um exagero para alguns, mas a verdade é que isto continua a acontecer –
todos os dias, em diferentes formas, perante o silêncio ou a normalização de
muitos.
E
a pergunta que se impõe é: porquê?
Porque
é que a confiança de uma mulher é tantas vezes interpretada como um apelo?
Porque é que a sua autoestima incomoda? Porque é que ainda persiste a ideia de
que a exibição do próprio corpo equivale a um convite?
Desenganem-se.
O problema não está na fotografia partilhada. O problema está no olhar de quem
a vê. A cultura patriarcal, ainda profundamente enraizada, apenas encontrou
novas formas de se perpetuar no espaço digital. Se antes a vigilância do corpo
feminino era feita por normas sociais e regras implícitas, agora exerce-se
através de comentários, mensagens e julgamentos instantâneos, legitimados pelo
distanciamento, anonimato e impunidade que a tecnologia tem proporcionado.
Mas
uma mulher não é um objeto! Não é um corpo à disposição do desejo alheio, nem
uma tela em branco onde se projetam interpretações deturpadas. Publicar uma
fotografia não significa procurar validação, muito menos abrir portas ao
assédio. É um ato de expressão pessoal que devia ser entendido como tal – e
nada mais.
Somos
livres. Devíamos poder ser quem queremos, fazer o que querermos, sem medo de
julgamentos ou de comentários ofensivos.
Se
algo precisa de mudar, não somos nós, nem a forma como escolhemos
apresentarmo-nos ao mundo. O que precisa de mudar é o olhar sobre nós, a forma
como continuamos a ser vistas. O olhar masculino, condicionado por séculos de
apropriação do corpo feminino, precisa de ser desconstruído para dar lugar a
uma nova perspetiva – uma que reconheça que a nossa liberdade de ser não é
sinónimo de disponibilidade para servir.
Mas
a verdade é que não é apenas o olhar masculino que precisa de mudar. Também
nós, mulheres, muitas vezes nos julgamos entre nós. Infelizmente, é uma
realidade.
O
machismo não se manifesta apenas nas atitudes dos homens, mas também se
infiltra nos nossos próprios pensamentos e comportamentos. Crescemos a ouvir
frases como "as mulheres são as piores inimigas umas das outras" ou
"uma mulher bonita não pode ser inteligente", e, sem nos
apercebermos, essas crenças enraízam-se e tornam-se mecanismos de validação
social.
O
machismo internalizado leva-nos a criticar e rotularmo-nos umas às outras,
perpetuando estereótipos que, ironicamente, tanto combatemos. Quando julgamos
uma mulher pela forma como se veste, pelo modo como se expressa ou pelas suas
escolhas pessoais, estamos, sem querer, a reforçar a mesma mentalidade que nos
limita. Frases como "está a pedir atenção", "é uma
exibicionista", "devia ter mais juízo", são pequenos exemplos de
como replicamos, entre nós, o discurso que nos oprime.
Esta
cultura de julgamento alimenta a divisão entre mulheres, o que acaba por ser um
dos maiores obstáculos para a mudança social. A falta de solidariedade
enfraquece-nos como coletivo e dá mais força a um sistema que beneficia dessa
desunião. Quando estamos demasiado ocupadas a competir entre nós, esquecemo-nos
do verdadeiro adversário: a estrutura patriarcal que nos ensinou a desconfiar
umas das outras.
Mas
a verdade é que não temos de ser rivais. Não temos de olhar para outras
mulheres como ameaças, mas sim como aliadas. A mudança começa quando passamos a
reconhecer que cada mulher tem o direito de ser e agir como quiser, sem ser
rotulada ou atacada por outras mulheres. Quando compreendemos que a liberdade
da outra não limita a nossa, mas sim fortalece um caminho que podemos trilhar
juntas, damos um passo essencial rumo à verdadeira solidariedade feminina.
Se
queremos que o mundo nos veja de forma diferente, temos primeiro de mudar a
forma como nos vemos a nós mesmas e umas às outras. O empoderamento feminino
não se trata apenas de exigir respeito dos homens, mas também de construir um
espaço onde todas as mulheres se sintam livres para serem quem são, quem querem
ser, sem medo de serem julgadas ou criticadas.
A
verdadeira revolução começa na nossa forma de pensar e na maneira como
escolhemos apoiar, em vez de criticar, as mulheres à nossa volta.
Até
que isso aconteça, continuaremos a viver num ciclo onde a nossa autonomia e
liberdade é confundida com um aval implícito para a invasão e o desrespeito.
É
imperativo que, coletivamente, homens e mulheres, reflitam sobre as suas
atitudes e perceções, promovendo uma mudança cultural que valorize a
individualidade e a liberdade de cada mulher, livre de julgamentos e
imposições.
Afinal,
no fim das contas, isso revela muito mais sobre quem observa do que sobre quem
se expressa!
JOÃO GASPAR SIMÕES – UM
ILUSTRE FIGUEIRENSE
João Gaspar Simões foi
uma das mais relevantes figuras da literatura portuguesa, enquanto crítico
literário, ensaísta, historiador da cultura, biógrafo, polemista, antologista,
romancista e dramaturgo.
É considerado o mais
influente crítico literário português do século XX, mas também um dos mais
controversos.
Nasceu a 25 de fevereiro de 1903, na Rua do Príncipe, na Figueira da Foz, filho de João Simões, comerciante, natural de Santa Maria da Arrifana, em Vila Nova de Poiares, e de Constança Neto Gaspar, doméstica, natural da Figueira da Foz.
Era neto paterno de
Marta de Jesus e de avô incógnito, e neto materno de Domingos Lino Gaspar e de
Constança Gaspar Neto.
Fez a instrução
primária na Figueira da Foz, num colégio dirigido por Eloy do Amaral, e a
partir dos 11 anos frequentou como interno o Colégio Lyceu Figueirense (que lhe
motivaria a escrita do romance “Internato” em 1946).
Terminou o ensino
liceal em Coimbra, no Liceu José Falcão, onde foi colega e amigo de Branquinho
da Fonseca.
Em 1921 matriculou-se
em Direito, curso que viria a detestar, vindo só a concluí-lo em 1932, depois
de muita boémia e outros afazeres de cariz intelectual.
Em 1924 fundou a
revista «Tríptico», com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca,
Campos de Figueiredo e Vitorino Nemésio, e na qual colaboraram Aquilino
Ribeiro, Augusto Casimiro, José Régio, Alberto de Serpa, Raul Brandão e
Teixeira de Pascoaes, entre outros.
Em 1926, com 23 anos,
casou, em Coimbra, com Mécia de Vasconcelos Gonçalves, com quem, mais tarde
(1941), traduzirá o romance «Jane Eyre», de Charlotte Brontë.
Em 1927, ainda
estudante de Direito, fundou a revista «Presença», com José Régio e Branquinho
da Fonseca. Residia, nessa altura, na Figueira da Foz, mas encontrava-se todas
as semanas com José Régio, no Café Central, em Coimbra.
Em 1930, Branquinho da
Fonseca sai da direção da revista «Presença», tendo sido substituído por Adolfo
Casais Monteiro.
O nº 1 da revista «Presença» saiu em 10 de março de 1927 e o último (nº 56) foi publicado em 1940.
De 1930 a 1931, João
Gaspar Simões foi Presidente da Associação Académica de Coimbra.
Colaborou nas revistas
«Princípio» (1930), «Sudoeste » (1935) e «Mundo Literário » (1946-1948), com
ensaios, contos e críticas literárias.
Fez tirocínio para
Conservador do Museu Machado de Castro, em Coimbra, e nessa qualidade
transferiu para este Museu a valiosa coleção de antiguidades chinesas doada
pelo poeta Camilo Pessanha, que se encontrava em depósito no Museu das Janelas
Verdes em Lisboa.
A partir de 1935 foi revisor da Imprensa Nacional, passando para a Biblioteca desta instituição em 1940.
Entre 1942 e 1945
dirigiu o programa de traduções da casa editora «Portugália», em Lisboa.
A partir de 1946
finalizou a sua carreira de romancista para iniciar a sua produção
dramatúrgica.
Entre 1954 e 1968 foi sua companheira de vida e de trabalhos literários a escritora Isabel da Nóbrega, certamente a Albertina, personagem principal do seu romance «As Mãos e as Luvas», apresentando-a como uma espécie de Madame Bovary: “sim, essa arma, digo bem, que ela sabia constituir, no arsenal das suas seduções, a mais mortífera das suas armas: os olhos, precisamente”.
João Gaspar Simões
publicou «As Mãos e as Luvas» em 1975, provavelmente por revanchismo, algum
tempo depois de Isabel da Nóbrega o ter abandonado e ter ido viver com José
Saramago, à data um desconhecido jornalista e tradutor.
Isabel da Nóbrega viveu
com Saramago de 1970 a 1986, à qual dedicou no «Memorial do Convento»,
publicado em 1982, a seguinte frase: “À Isabel, porque nada perde ou repete,
porque tudo cria e renova”.
Dedicatória que
Saramago não repetiria noutros livros, pois conheceu Pilar del Rio em 1986 e
com ela casou em 1988.
João Gaspar Simões faleceu 1987, Saramago recebeu o Nobel em 1998 e faleceu em 2010, e a relação entre ambos não foram as melhores.
João Gaspar Simões
desafiou sempre a moral vigente, ora através da sua obra ficcional, ora através
das obras que elegia para a sua crítica.
Em 1965, João Gaspar
Simões foi preso pela PIDE, por ter pertencido, juntamente com Fernanda
Botelho, Augusto Abelaira, Alexandre Pinheiro Torres e Manuel da Fonseca, ao
júri do Prémio Literário da Sociedade Portuguesa de Autores, que resolveu
atribuir o galardão ao escritor Luandino Vieira.
Uma das facetas mais
importantes da sua obra de crítico e de editor foi a de ter sido o primeiro
biógrafo e também o primeiro editor (com Luís de Montalvor) de Fernando Pessoa,
de quem tinha sido amigo e correspondente.
Foi autor de vários
romances e peças de teatro, colaborou em diversas publicações nacionais e
brasileiras e foi crítico literário do «Diário de Notícias» durante mais de 50
anos.
Romancista, novelista, contista, dramaturgo, ensaísta, memorialista, editor, diretor literário e tradutor, celebrizou-se, principalmente, como crítico, teórico da literatura, historiador da literatura portuguesa dos séculos XIX e XX e biógrafo de escritores, com especial relevo para os seus trabalhos sobre Eça de Queirós (1945) e Fernando Pessoa (1950).
No domínio da literatura estrangeira divulgou e traduziu vários autores russos e anglófonos, entre eles Dostoiévski,
Liev Tolstói, George Eliot, Jane Austen e Elizabeth Gaskell.
Manteve sempre fortes
ligações ao mundo da imprensa, tendo colaborado no «Diário de Lisboa», «Diário
de Notícias», «Diário Popular», «O Primeiro de Janeiro», «Mundo Literário» e «O
Século», do qual foi o último diretor.
Proferiu numerosas conferências sobre literatura em Portugal e no Brasil e em várias cidades europeias, tendo participado como orador convidado no «First International Symposium on Fernando Pessoa» realizado em 1977 na «Brown University», Providence, USA, e no «Second International Symposium on Fernando Pessoa» em 1983, na «Vanderbilt University», Nashville, USA.
Foi sócio
correspondente da Academia Brasileira de Letras e colaborador da Enciclopédia
Britânica.
João Gaspar Simões
morreu a 6 de janeiro de 1987, em Lisboa.
Foi uma das mais
marcantes figuras da cena literária portuguesa do século XX.
No domínio do romance,
do conto e da novela, deixou obras significativas, tais como: «Elói ou Romance
numa Cabeça» (1932), «Pântano» (1940), «Amigos Sinceros» (1941), «A Unha
Quebrada» (1941) e «Internato» (1946).
No setor da biografia
deixou-nos duas obras que são, ainda hoje, de referência obrigatória: «Eça de
Queirós, o Homem e o Artista» (1945) e «Vida e Obra de Fernando Pessoa» (1950).
Em 2009, a Câmara Municipal da Figueira da Foz homenageou-o, criando o Prémio Literário João Gaspar Simões, pretendendo incentivar a criação literária e dar a conhecer novas obras e autores.
Em homenagem à
importância da sua obra foi o seu nome atribuído a diversas ruas: na Figueira
da Foz, em Foros de Amora (Seixal), na Aldeia de Juzo (Cascais), em Leça da
Palmeira (Matosinhos), em Albufeira (Algarve) e ainda no Brasil, no Bairro
Diadema, distrito de Jabaquara, cidade de São Paulo.
A Importância de Estar
Presente
Era uma vez uma menina
chamada Doçura. Todos os dias, logo pela manhã ela visitava a sua avó Maria,
para ela se sentir menos só. Os seus olhos azuis como o céu num dia claro
refletiam toda a pureza da sua alma.
Ao caminhar, todo o
espaço envolvente sorria-lhe. Ardente de ansiedade a avó esperava por ela como
se fosse a sua última conversa.
As conversas de ambas
eram grandes momentos de cumplicidade, e partilha de histórias sem fim.
— Sabes Doçura sempre
que me levanto e deito-me penso neste nosso momento. — diz a avó Maria. — É o
melhor momento da minha Vida – conclui.
Comovida Doçura não
sabe o que dizer, e aperta a avó num abraço emotivo e comovente.
A manhã voa rapidamente
e Doçura despede-se da avó. Caminha cabisbaixa e vagarosamente com medo de
fracassar no seu compromisso para com a sua querida avó.
O que Doçura não sabia
era que, de forma irónica, enquanto temia falhar, já fazia exatamente o que a
sua avó mais precisava: estar presente, com amor e dedicação.
Voltou a surgir
aos meus olhos
deslumbrados
a moldura de há tempos…
A mesma, exatamente a
mesma…
moldura sem retrato
com contornos
invisíveis,
traços vagos
que só a alma
vê e sente …
Trouxe-a a brisa gélida
deste janeiro tão frio
que o sol luminoso e
brilhante
mal consegue aquecer.
E o retrato lá está,
sorrindo
ao sol de inverno,
a aquecer-se risonho,
sorrindo nesse
encantamento
sempre deslumbrado
sorrindo só para mim …
Porquê?!
O Mundo
O mundo é uma roda
gigante cheia de pessoas,
todas elas diferentes…
de diferentes lugares
de diferentes línguas
e muitas vezes a mesma
língua,
mas com diferentes
sotaques,
de diferentes razões de
pensar, falar e agir,
de diferentes raças
e até de diferentes
tamanhos.
Perante todas estas
diferenças pensamos que tudo vai ser diferente,
que no meio de toda
esta diversidade,
esta incrível variedade
de gente,
alguém se destaque pela
diferença!
E sim, é verdade,
encontramos a diferença
que tanto queremos
na maneira de pensar ou
de agir,
seja certa ou errada,
esta será peculiar a
cada um de nós
o que faz com que todos
sejamos diferentes
mas que todos estejamos
em sintonia
desejando o melhor para
o MUNDO.
AGORA EU PARO PAR
ESCUTAR…
Trago dentro de mim…
algures... em mim…
no meio de uns
poemas...
de uma estrofe…
algumas histórias…
dilemas…
Muita força,
muita paz,
muita Luz.
Porque não fui sempre
assim?
O que é que mudou em
mim?
Que calma é esta que me
abala
a correria… e me faz
pensar
que…no dia-a-dia, tudo
muda?
Não permanecemos iguais
nada menos, nada mais!…
Ficamos diferentes…
Com o passar do tempo,
percebemos…
Agora eu paro para
escutar…
O som da chuva na
vidraça
ouvir um passarito que
passa
quando ele tão solto e
alegre
voa junto à minha
janela…
E penso… Que imagem
terna!
Agora eu olho a
natureza bela
e deixo-me embalar por
ela
olho fundo nos olhos
das pessoas
para saber se elas são
puras e
belas… por dentro!…
Agora eu esqueço
agravos
eu não sinto rancores…
nem abalos… com a
maldade
humana que me tenta
ferir…
Eu hoje sinto mais paz!
Eu hoje gosto muito de
sorrir
de ajudar, de me
preocupar,
com tudo o que me
rodeia.
Gosto de sentir amor
por
tudo e por nada…
Agora eu paro para
escutar…
"Trago em minha
alma a dualidade de dois seres:
Uma parte de mim é
permanência, a outra, distância, desapego.
Uma sorri, gargalha, é
criança ainda, a outra madura, quase anciã.
Uma é decisão, firmeza,
a outra, inconstância,
incerteza.
Uma sempre diz sim, a
outra, não ou talvez.
Uma acredita que vive
plenamente, a outra, parece até que nem nasceu.
Uma superou as
angústias,
a outra, ainda chora de
dor.
Uma desacreditou de
tudo,
a outra, vive a sonhar.
Uma decidiu esquecer,
a outra é só saudade.
Se a minha alma é
dueto,
faço dela então uma
bela obra de arte:
Uma é composição
A outra só
canção."
Lu Prado
Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno. Três Marias, uma obra. As “Novas Cartas Portuguesas” marcaram o declínio do Estado Novo em Portugal, tendo sido lançadas em 1972. A revelação de muitas das situações discriminatórias e lesivas para a mulher em Portugal deram um passo inaugural numa caminhada que tem sido feita até aos dias de hoje, naquilo que é a igualdade de género nas diversas circunstâncias sociais, culturais, laborais e económicas. Desta feita, são três rostos providenciais na construção de um estado crescentemente equitativo, no qual os desafios vão surgindo quotidianamente, em paralelo com a evolução da sociedade na globalidade.
Paula Rego