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sexta-feira, janeiro 31

BARCAÇA_52

 

A primeira tiragem de 2025 da nossa Barcaça.

Como o mundo mudou!

Desde que iniciamos estas viagens pelo rio Mondego, umas vezes calmas outras turbulentas, conseguimos sempre chegar ao nosso porto de abrigo e já lá vão 52 viagens nesta Barcaça com os seus conteúdos da exclusividade dos seus autores e que como em qualquer equipa com saídas e entradas de novos colaboradores.

Dirigindo em primeiro lugar aos que saíram por razões várias, um abraço pelo trabalho apresentado que em muito dignificou esta mensagem passageira nas nossas vidas. Claro outro abraço ao que chegaram e que se mantêm mensalmente a enviar os seus textos que são colocados neste pequeno jornal online da nossa terra.

Todos os que entraram a bordo nunca serão esquecidos e muito menos apagados, porque sem eles nada disto existia.

A multiplicidade dos conteúdos como disse uma mais-valia não só para Barcaça, mas para todos os nossos seguidores.

Nesta Edição 52º como em todas as outras percorremos vários campos desde a monumentalidade, os contos, os olhares, os sentimentos a arte, a pólis e terminamos sempre da mesma forma com música/leitura e arte.

Nesta edição e porque vai sair no dia do Sargento 31 Janeiro fazemos um pequeno comentário ao acontecimento.

Mas navegando neste 52º deparamo-nos com uma visão não só do nosso Burgo como umas pequenas palavras sobre o que a televisão nos traz no dia a dia deste mundo em guerra.

Depois com uma arte muito própria Carla deixa-nos um texto onde o encontro do salgado e o seu nome leva-nos a navegar nos sentimentos, nos cheiros e nos seus “murmúrios” redescobrindo os seus silêncios. Já António Girão “O que eu tenho sofrido” é uma mescla de frustração e de revolta que se encontram bem conotadas nas palavras escolhidas pelo autor. Fernando Curado como sempre, com alegria da sua escrita de investigação sobre a sua terra que mesmo longe está sempre perto. Olímpio Fernandes com seus como ele gosta de frisar 84 a caminho dos 85, traz uma lágrima no canto do olho porque voltar às suas origens é uma forma de se sentir vivo. Já Isabel Rama um pequeno texto cheio de maresia não fossemos nós gentes ligadas ao mar.

Entramos depois na poesia e Garça Real, fala-nos das ilusões e do seu maior amor que chegou em pleno maio, que tudo transformou e que iluminou o seu coração dando um alento maior ao sentido da vida. E como estamos a falar de sentimentos de pessoas, Isabel Capinha escreve-nos sobre pessoas especiais e com seu carinho alinha palavras com sentimentos bem presente.

Isabel Tavares poetiza da Figueira da Foz mais um poema “MILAGRES” onde nos diz que é preciso acreditar neste mundo confuso, que devemos procurar as saídas para dias melhores onde o sorriso tem o seu lugar.

Já na nossa LIVRARIA três livros com o aproximar do 25 de Abril que tantas embrulhadas tem causado ao longo de mais de 50 anos.

Na rúbrica da música escolhi uma artista feminina da guitarra portuguesa Marta Pereira da Costa numa interpretação lindíssima “Verdes Anos & Summertime”

E porque de norte a sul estamos cheios de lindíssimos quadros de autores portugueses quem não conhece a “Ultima Ceia” de Grão Vasco.

Boas Leituras e 2025 cheio de alegrias.



Porque ligas a televisão?

Para saber como vai o mundo fora de portas e entre portas, mas sempre que o faço entro em depressão, alguns canais são 24 horas de assaltos e depois vejo-me sem saber se estão a falar de Portugal ou de algum país em guerra.

Outros com comentaristas com cartinha até dá dó ouvir o esforço que fazem para defenderem o dono obrigando-os a engolirem tantos sapos vivos.

Nos canais de desporto onde a banalidade dos comentários proferidos de alguns é de bradar aos céus, falam de tudo como especialistas da matéria, mas que deixam muito a desejar.

Noticiários colocam-nos diariamente e várias vezes em repetição os problemas da guerra, e bem, mas convidem quem perceba da poda e deixem-se de fazer favores a “boys” da farinha amparo.

A nossa terra vai de vento em popa em ano de eleições, festas e festarolas pagas pelo contribuinte estão na moda, a descrição dos contratos em alguns casos muito duvidosos e as passeatas por esse Portugal e além-fronteiras para vender pedras do nosso castelo deixa-nos a pensar onde está o seguimento das promessas eleitorais que agora para alguns vai terminar?

A população debate-se com a falta de transportes entre as freguesias, o centro de saúde com a falta de médicos as escolas desde que foram entregues às autarquias só gerou mais quadros (directores gerais) que como dizia num programa do António Feio, são gerais não sabem fazer nada. Pelas freguesias trabalhos de grande qualidade como é o caso da Abrunheira como não são da cor política ficam-se pelas migalhas. A CMMV já não tem cadeiras para todos os seus empregados e o problema da água continua na ordem do dia com nomeações políticas e não técnicas e o contribuinte a pagar água de fraca qualidade.

Já na Figueira nesta altura do ano a questão dos molhos é o mesmo de sempre se coloca areia que o mar leva duma assentada. Passadiços de verão que no inverno desaparecem e o Zé paga. Depois festivais que sempre animam o povo sem dinheiro para ir ao supermercado.

Desliga a televisão... senta-te no sofá conversa com a família e sejam felizes.

MANLIANENSES ILUSTRES

Dr. José Augusto Peixoto de Almeida Ferreira Galvão

 (1835-1905)

PARTE I

“Foi durante alguns anos presidente da Câmara, onde se revelou um lutador invencível, austero, enérgico e de arrojada iniciativa, a êle se devendo os Paços do Concelho e o novo Hospital. Sacrificava a sua saúde e não raras vezes o seu dinheiro em prol da terra natal – Montemor-o-Vélho.” [CONCEIÇÃO, 1992, p. 171]

 

Dr. José Augusto Peixoto de Almeida Ferreira Galvão

 (1835-1905)

A 18 de maio de 1835, nasce na quinta do Fojo Lobal, freguesia de S. Miguel, uma das cinco freguesias que então constituíam a vila de Montemor-o-Velho, José Augusto Peixoto de Almeida Ferreira Galvão.

Filho legítimo do capitão Luís Galvão Peixoto Lobato (n. 11.03.1779, b. 19.03.1779, na igreja de S. Miguel, m. 27.10.1841), natural da quinta do Fojo Lobal, e de sua prima D. Beatriz Augusta Ferreira Couceiro Galvão (c. 14.05.1829, na igreja matriz de Pereira, “precedendo despença do parentesco que entre si tem e a competente licença de seus superiores”, após a morte do marido, casa com o Dr. Maximiano de Freitas Mascarenhas Leal, da freguesia da Madalena, m. 03.01.1859, sendo sepultada, no dia seguinte, no “cemitério d’Alcaçova, depois de feito um solemne officio de corpo presente na egreja dos Anjos”), natural da freguesia de Pereira, o pequeno José Augusto Galvão foi batizado, a 17 de junho do mesmo ano, na igreja paroquial de S. Miguel, pelo padre “encomendado” Joaquim Custódio Nogueira, tendo como padrinhos o avô materno e a bisavó D. Micaela Pessoa, sendo esta representada na cerimónia, mediante procuração, por seu marido.

Neto paterno do capitão José Caetano Peixoto Lobato (m. 09.04.1801, sendo sepultado na sua caneira na igreja de Santa Maria Madalena, era filho de José Luís Gomes Lobato, natural da freguesia de Santa Cruz de Albergaria-a-Velha, senhor e possuidor do morgado e prazo de Albergaria, assim como da quinta do Fojo Lobal, e de sua mulher D. Maria Clara Galvoa ou, como também por vezes surge grafado, D. Maria Clara Nogueira Galvão Peixoto [m. 15.12.1780], natural da freguesia de Santo Varão, e, por isso mesmo, neto paterno de João Gomes Lobato, natural da referida freguesia de Santa Cruz de Albergaria-a-Velha, senhor e possuidor do morgado e prazo de Albergaria, e de D. Maria João Gomes, natural da freguesia de Alquerubim, e neto materno de Bernardo Peixoto Godinho, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e familiar do Santo Ofício, e de D. Isabel Nogueira Ribeiro, do lugar de Formoselha, freguesia de Santo Varão), natural e residente na sua quinta do Fojo Lobal, e de D. Luísa Mascarenhas de Figueiredo e Melo (n. 20.06.1753, b. 01.07.1753 e c. 17.07.1774, na igreja paroquial de Ferreira-a-Nova, era filha do capitão Bernardo António Mascarenhas, natural da freguesia de Ferreira-a-Nova e de Angélica Maria Joaquina de Figueiredo e Oliveira, natural do Casal do Mato, freguesia de S. Pedro das Alhadas), do lugar do Tromelgo, freguesia de Santa Eulália de Ferreira-a-Nova, e materno de Henrique Ferreira Couceiro, da freguesia de Pereira, e D. Maria Vitória Pinheiro Galvão, da freguesia de Santo Varão, José Augusto Galvão teve ainda as seguintes irmãs, todas nascidas na quinta do Fojo Lobal e batizadas na igreja de S. Miguel pelo prior João Maria Soares da Cunha:

Maria da Glória Ferreira Galvão (n. 13.07.1830, b. 27.07.1830, tendo por padrinhos João Maria Mendes Pinheiro, de Montemor, e a avó materna da batizada D. Maria Vitória Pinheiro Galvão, por quem tocou António Mendes Barreto de Aguiar, desta vila). Também grafada como Maria da Glória Peixoto Lobato, casou com José Ferreira de Oliveira de quem teve Rodrigo Alberto Galvão Peixoto de Oliveira (c. c. Ema Amélia Costa), pai de Rodrigo Alberto Pereira Quaresma Galvão e avô de José Manuel Neto Galvão;

Maria Vitória (n. 03.11.1832, b. 20.11.1832, tendo por padrinhos Francisco Ferreira Girão, da vila de Pereira, e a avó materna D. Maria Vitória Pinheiro Galvão, por quem tocou o Dr. Abílio Maria Mendes Pinheiro, m. 13.03.1915 (?);

Maria da Piedade Ferreira Galvão Peixoto Lobato (n. 18.11.1833, b. 16.12.1833, tendo por padrinhos Manuel Ferreira Girão, tio da batizada, invocando-se por madrinha Nossa Senhora da Piedade, “tocando por devoção, com huma fita de ornar a sua imagem”, Abílio Ferreira Couceiro. Anos mais tarde casa com o Dr. Francisco Luís Coutinho da Silva Carvalho, da freguesia de S. Martinho, bacharel em Direito, administrador do concelho de Montemor-o-Velho, primeiro conservador do registo predial do concelho e presidente da câmara municipal, passando a escrever o seu nome como D. Maria da Piedade Ferreira Galvão Peixoto Lobato de Carvalho.


[Carla]

Escrevi o meu nome na areia enquanto ouvia o mar ao fundo. Carla. O meu nome. As ondas vinham e iam, como se sussurrassem histórias antigas, apagando lentamente as letras que desenhei. Fiquei a olhar, imóvel, até que o meu nome desaparecesse, levado pelas ondas, como se o mar quisesse guardá-lo para si.

Senti o vento tocar-me no rosto, trazendo o cheiro salgado da água e o murmúrio das ondas. Era como se o mar falasse comigo, numa linguagem que eu não compreendia, mas que, de alguma forma, me parecia tão familiar. O meu nome, por breves instantes, foi parte daquele lugar!

O silêncio ao meu redor não era vazio, mas pleno de memórias, de sonhos que nunca disse a ninguém, de coisas que o mar parecia entender melhor do que eu própria. Quando a última onda apagou completamente o meu nome, senti uma estranha paz. Talvez o mar não quisesse apenas guardá-lo, mas devolver-me algo em troca: uma sensação de pertença, como se também eu fosse feita de água, areia e vento!


O QUE EU TENHO SOFRIDO

SAÚDE MENTAL - Síndroma do Impostor

(um sofrimento atroz - um dia falarei sobre isto)

Eis algumas razões que me levaram a sofrer, na visão de uma médica.

A síndrome do impostor é uma sensação de que não merecemos os nossos sucessos, como se estivéssemos a viver uma mentira. Quando esta sensação é alimentada por alguém que nos queria mal, o sofrimento torna-se ainda mais profundo. Uma pessoa que nos critica constantemente, que nos diminui ou que faz comentários desmoralizantes, faz-nos duvidar de tudo o que alcançámos. Sentimos que estamos sempre a falhar, mesmo quando os outros reconhecem as nossas capacidades. O medo de ser descobertos como "fraudes" toma conta de nós e começamos a evitar oportunidades por receio de não estarmos à altura.

A ansiedade cresce, e muitas vezes perdemos a autoconfiança, sentindo-nos incapazes de dar o nosso melhor.

Essa manipulação externa leva-nos a acreditar que nunca seremos bons o suficiente, o que prejudica a nossa saúde mental e a nossa evolução.


FIGUEIRA DA FOZ - O PECADO ORIGINAL DA CASA DAS CONCHAS

A Casa das Conchas situa-se na Esplanada António da Silva Guimarães, na Figueira da Foz.

Faz parte de um conjunto arquitetónico de rara beleza, constituído por 3 edifícios, o Castelo Engenheiro Silva, o Edifício do Antigo Turismo e a Casa das Conchas, conjunto classificado de Interesse Municipal na reunião de Câmara de 23-5-2016 (Edital nº 682/2016 de 19-7-2016).

O conjunto dos 3 edifícios foi construído em 4 fases, aproximadamente durante 50 anos, cerca de 1865 a 1915.

Este conjunto arquitetónico, edificado em épocas distintas, reflete as novidades arquitetónicas, ecléticas e revivalistas, da segunda metade do seculo XIX e inícios do século XX, que chegaram à Figueira da Foz pela mão dos seus proprietários, Francisco Maria Pereira da Silva (1813-1891) e António Artur Baldaque da Silva (1852-1915), seu filho.

Numa 1ª fase, e na área correspondente aos 3 edifícios classificados, foi construído um único prédio, de rés-do-chão, com uma torre circular no alçado norte, que ainda hoje existe, e duas torres retangulares no alçado oposto. Entre as torres existia um extenso muro encimado por ameias.

Esta 1ª fase terá sido iniciada cerca de 1865 e vem representada na figura 1 anexa.

Três décadas depois foram construídos os chalés do Conde de Caria e de João José da Silva Costa, cujos requerimentos foram apresentados na reunião de Câmara de 25 de outubro de 1893, pedindo “alinhamento” para os seus prédios “sitos no Bairro Novo”, mais propriamente na Esplanada.

Numa 2ª fase foi construído um edifício de 1º andar, no local onde está hoje a Casa das Conchas, mantendo-se o muro com ameias, agora menos extenso.

Esta 2ª fase foi iniciada em 1903 e corresponde à figura 2 anexa.

Numa 3ª fase foi demolido o muro remanescente e em toda a sua extensão foi construída uma casa de 1º andar, o edifício onde funcionou o Turismo. Nesta fase passou a existir, de Norte para Sul: o Castelo Eng.º Silva (ainda de rés-do-chão e com a atual torre circular), o edifício que foi Turismo e uma casa de 1º andar no local da atual Casa das Conchas.

Esta 3ª fase foi iniciada em 1910 e vem representada na figura 3 anexa.

Numa 4ª fase foi ampliado o Castelo Eng.º Silva, que sendo de rés-do-chão foi aumentado com 1º e 2º andares, mantendo-se a torre circular, a qual ficou a um nível inferior ao 2º andar. O edifício do meio (Turismo) manteve-se. A casa de 1º andar, na extremidade Sul, foi também ampliada, tendo-se construído o 2º e 3º andares, originando a atual Casa das Conchas.

Esta 4ª fase foi iniciada em 1912 com a ampliação do Castelo Engenheiro Silva, ficando com o aspeto atual, e em 1914 com a construção da Casa das Conchas, conforme figura 4 anexa.

É sobre a Casa das Conchas que iremos refletir, porque a mesma parece ter nascido ilegal, apesar da sua beleza!

A legalidade da construção da Casa das Conchas foi levantada em sessão de Câmara de 6 de abril de 1914, porque apresentava “corpos avançados para a Esplanada António da Silva Guimarães e para o Largo do Coronel Galhardo, o que tem suscitado os reparos de vários munícipes, por não existirem nesta cidade construções daquela forma”, referiu o presidente Dr. João Rebelo.

Na verdade, o projeto da Casa das Conchas tinha sido aprovado pela Câmara do Dr. José Carlos de Barros (filho do visconde), que a dirigiu no exíguo período de 12 a 29 de janeiro de 1914, em resultado de uma sentença do Juiz Auditor do Distrito, de 9 de janeiro, a qual demitiu a Câmara do Dr. João Rebelo.

A 25 de fevereiro de 1914 o Dr. João Rebelo regressou à Câmara, por ter sido revogada a decisão do Juiz Auditor, em resultado do recurso interposto junto do Supremo Tribunal Administrativo pelos advogados Dr. João Rebelo e Dr. Lino Pinto.

Logo na sessão do dia 6 de abril seguinte o Dr. João Rebelo apresentou para discussão a ilegalidade da Casa das Conchas.

Informou que a Casa das Conchas tinha sido licenciada pela Câmara do Dr. José Carlos de Barros sem os Pareceres da Repartição Técnica e da Comissão de Estética, como era praxe em casos idênticos.

Por meios conciliatórios, o Dr. João Rebelo ainda tentou que o proprietário da Casa das Conchas eliminasse os “corpos” (varandas) que avançavam sobre o domínio público, mas não foi possível uma solução amigável, porque o Eng.º Baldaque da Silva lhe exigiu uma indemnização não inferior a 5.000 escudos, sem a qual não se dispunha a “modificar o risco”.

O Dr. João Rebelo tinha em sua posse um Parecer que solicitara, à posteriori, à Comissão de Estética, o qual expunha:

“Objeção alguma tem a fazer com relação à parte estética do edifício em si e com a esplanada e largo que margina, sendo certo, porém, que contendo o mesmo edifício secções avançadas sobre aquelas vias públicas, nos seus andares superiores, conveniente seria que as posturas municipais nos permitissem, de futuro, em arruamentos, a construção de edifícios desta natureza, não só por obstruírem os mesmos arruamentos, mas ainda por lhes reduzir a luz e prejudicarem os que estão atualmente, ou venham a estar no futuro, em desigualdade de condições”.

Serviu este Parecer da Comissão de Estética para que o Dr. João Rebelo manifestasse o seu veemente protesto contra a licença conferida pelo anterior executivo, “que ofende o domínio público, visto o proprietário ter alargado a sua propriedade à custa e com sacrifício daquele, patenteando assim aos seus munícipes que nenhuma responsabilidade lhe cabe por semelhante ilegalidade da irregularidade”.

O Dr. João Rebelo prometeu “recorrer aos meios judiciais para exigir a modificação da construção, com sacrifício, é claro, dos recursos municipais a fazer com o pleito, mas sem que possa, todavia, ser responsável por tal, pois como disse não foi a atual Câmara que criou a situação a que se chegou com a aprovação de tal planta e consequente licença para a construção”.

Também o vogal José Augusto Mendes da Costa declarou “protestar energicamente contra a licença que para tal construção foi dada ao Sr. Baldaque da Silva, por conter uma manifesta ofensa dos direitos municipais, declinando inteiramente a sua responsabilidade, pois fora dada no intervalo de tempo em que as suas funções de vereador do pelouro das obras se achavam suspensas pela decisão, que foi retificada, da Auditoria Administrativa deste Distrito”.

Então o presidente propôs, e foi aprovado, que “de futuro, nenhum requerimento seja presente à Câmara, quando se tratar de construção ou reconstrução dentro da cidade, sem que traga o parecer da Comissão de Estética e a informação da Repartição Técnica, e que fique assente que se não autorizam construções com ofensa dos direitos do domínio e posse das coisas públicas, cabendo à Repartição Técnica essa fiscalização”, recomendação esta que fazia na presença do condutor de obras, Manuel dos Santos Pinto, para seu inteiro conhecimento e cabal execução.

Seguidamente interveio o Dr. Lino Pinto, vereador da “instrução e assistência”, secretário da Câmara e membro efetivo da sua Comissão Executiva, apresentando a seguinte sugestão, a qual foi aprovada por maioria:

“Proponho que a Comissão Executiva seja autorizada a verificar a legalidade ou ilegalidade desta construção do Sr. Baldaque da Silva e que a mesma seja autorizada a solucionar o assunto pendente como lhe parecer de sua justiça”.

De imediato, o vereador José da Silva Fonseca apresentou a seguinte proposta, que também foi aprovada por maioria:

“A Câmara, reconhecendo que na aprovação da planta e risco da construção urbana na Esplanada António da Silva Guimarães, pertencente ao Sr. Baldaque da Silva, se não seguiram as deliberações anteriores e praxes seguidas, deixando de se ouvir a Repartição de Obras da Câmara e a Comissão Estética sobre essa construção”.

“Reconhecendo ainda que a referida Comissão de Estética no seu parecer, dado posteriormente àquela aprovação, implicitamente reconhece a inconveniência das construções de secções avançadas sobre a via pública, lembrando a conveniência de se regular por postura o assunto, embora declare nada ter que dizer no que respeita à estética da mesma construção”.

“Reconhecendo mais que a mesma Comissão declara serem inconvenientes tais construções por não só obstruírem os arruamentos, mas também por lhes reduzir a luz”.

“Resolve lançar na ata o seu protesto contra a licença dada por aquela construção, independentemente de qualquer resolução que sobre tal assunto a Câmara haja de tomar”.

Por proposta do mesmo José da Silva Fonseca, deliberou a Câmara “recomendar à Comissão de Estética que o seu parecer sobre construções ou reconstruções urbanas dentro da área da cidade deve referir-se não só aos projetos dos edifícios em si, mas também relativamente à sua localização em relação aos prédios vizinhos e à via pública”.

Finalmente, o vereador Francisco da Silva Curado perguntou se todos os requerimentos relativos a construções e reconstruções urbanas dentro da cidade, submetidos à apreciação da Câmara anterior, eram acompanhados do parecer da Comissão de Estética e da informação da Repartição Técnica. Ficou a secretaria da Câmara responsável por lhe responder.

Não obstante toda esta problemática, tão técnica quanto política, não impediu que na Figueira fosse construída em 1914 a Casa das Conchas, apresentando uma arquitetura Arte Nova, revivalista e eclética, surgida em Portugal entre 1905 e 1920.

Na sua fachada, de rara beleza, encontram-se azulejos com motivos marinhos, especialmente entre os 2 pisos superiores e os 2 inferiores e sobre as janelas do rés-do-chão.

A Casa das Conchas, atualmente transformada em edifício de apartamentos, é testemunho de uma época dourada da estância balnear que hoje não existe.

Foi residência do engenheiro hidrógrafo ANTÓNIO ARTUR BALDAQUE DA SILVA, que dedicou grande parte da sua vida ao estudo do mar.

António Artur Baldaque da Silva nasceu em Lisboa, em 28 de dezembro de 1852, filho de Francisco Maria Pereira da Silva e de Isabel Maria da Nóbrega Baldaque, 6º filho de um grupo de dez.

A infância de António Baldaque da Silva foi dividida entre Lisboa e a Figueira da Foz. Frequentou um colégio religioso em Quiaios e em 1864 ingressou no Colégio Militar em Lisboa.

Recorda-se que o seu pai, o Eng.º Silva, trabalhava na Figueira da Foz, onde foi o principal obreiro do desenvolvimento da cidade na segunda metade do século XIX.

A 17 de Outubro de 1870, António Baldaque da Silva iniciou a sua carreia na Marinha, onde alcançou o posto de Capitão-de-mar-e-guerra.

Em 1881 concluiu o Curso de Engenheiro Hidrógrafo na Escola Politécnica.

A 6 de Maio de 1885 casou com Júlia Pereira Pestana, que lhe dará três filhos: António, Júlia e Eva.

Distinguiu-se em diversos trabalhos de hidrografia, oceanografia, estudos e trabalhos portuários e sobre biologia marítima e investigação das pescas, tendo publicado "Sondas e Marés", em 1882; "Porto de abrigo na costa do Algarve", em 1885; o 1.º tomo do "Roteiro marítimo da costa ocidental e meridional de Portugal", em 1887; "Uma objecção técnica às obras do porto de Lisboa", em 1888; "Estado actual das pescas em Portugal", em 1892 e um "Estudo histórico-hidrográfico sobre a barra e o porto de Lisboa", em 1895.

Fez parte da Comissão das Obras do Porto de Lisboa para modificar o projeto primitivo, de modo a torná-lo melhor e mais económico.

Em novembro de 1892 foi nomeado para a recém-criada Comissão Central de Piscicultura, onde concebeu a primeira estação aquícola em Portugal: a estação aquícola do Ave (que será construída em 1898).

A 15 de dezembro de 1911 a Junta de Saúde Naval considerou-o incapaz para todo o serviço e a 27 de janeiro de 1912 Baldaque da Silva passou à situação de Reforma no posto Capitão-de-Mar-e-Guerra.

Foi convidado pela delegação do partido Republicano da Figueira da Foz a desenvolver atividade política ativa, o que não fizera antes porque a sua profissão militar e técnico-científica o absorvia completamente.

Em carta de 6 de abril de 1914, Baldaque da Silva pediu à Câmara que o informasse se tencionava fazer alguma receção aos participantes no congresso do Partido Republicano Português (PRP) que iria decorrer na Figueira, no Casino Mondego, lembrando que deveriam estar franqueadas ao público as salas do Museu municipal, e que as ruas, praças e jardins deveriam apresentar o melhor aspeto.

A Câmara respondeu-lhe que se alheava por completo de manifestações político-partidárias, o que não a impediria, todavia, de cumprir com os deveres de cortesia para com todos os visitantes, e que as salas do Museu municipal estariam patentes ao público nos dias do Congresso.

Baldaque da Silva usaria da palavra no congresso do PRP, saudando os congressistas em nome dos republicanos figueirenses, evento que decorreu no Casino Mondego de 16 a 18 de maio de 1914.

Foi Presidente da Comissão Municipal do Partido Republicano Português e enquanto Senador da República pelo distrito de Coimbra apresentou um projeto de construção de um porto oceânico no Cabo Mondego, projeto esse incluído num plano de desenvolvimento integrado da Região Centro.

Passados mais de 100 anos, o projeto do porto oceânico no Cabo Mondego, da autoria do Eng.º Baldaque da Silva, tem muitos e fervorosos adeptos na Figueira da Foz, acreditando ser a solução para os frequentes naufrágios na entrada do porto.

Faleceu em 21 de agosto de 1915, na sua residência de Campolide, o Capitão-de-Mar-e-Guerra e Eng.º Hidrógrafo António Artur Baldaque da Silva, senador da República e uma das mais distintas figuras da sua época, que residiu na CASA DAS CONCHAS, na Figueira da Foz.


A Barcaça das nossas gentes, cujo propósito do fundador, é não perdemos a noção dos nossos aldeões, rústicos e simples, que sabiam olhar as nuvens, sem estudos de meteorologia, garantindo: - amanhã chove e vamos passar um mau bocado com a trovoada.


Não foram filósofos, mas pensavam como eles sem pretensões de nariz empinado, avisando-me… Olha rapaz, tu ainda não nasceste, não sabes nada com esses tamancos nos pés, mas um dia já vais recordar o que hoje te digo. O temporal vem aí logo ou amanhã, mas acredita no velho. 

VAI O MUNDO CADA VEZ PIOR. 


Tu rapaz não sabes nada e se tiveres sorte vais ser testemunha do que hoje penso e não sou adivinho. Julgo as vezes e tenho a certeza depois que muito devo aos aldeões simples do meu cantinho no Casal Novo do Rio, conjugando agora ideias e pensamentos na Barcaça, que vivemos com as velhas lições das nossas gentes, apesar noutro tempo os recordamos como o respeito nas memorias que fazem de mim um velho teimoso de os recordar no Casal Novo do Rio Montemor-o-Velho.

Tu ainda não podes com um gato pelo rabo diziam-me os sábios aldeões, quais filósofos, que sabiam como fossem mestres de meteorologia.

 Amanhã vai chover vamos ter tempo ruim. Eram sábios os aldeões do Casal novo do Rio, avisando-me… Olha rapaz, um dia quando fores velho como nós vais recordar o que te vou dizer. - Aí sim respondi… 

O Mundo vai de mal a pior.

Se assim confirmaram os aldeões que pensavam naquele tempo, hoje mal vai quando despejamos na valeta as nossas origens o que aprendemos com os que não sabiam ler uma palavra. A voltas que o Mundo dá. Afinal passaram 70 anos é o mundo que temos desses anciões, da minha infância, com as suas razões sobre o sol e a chuva, porque a nobreza morava com eles e pensavam como a enxada às costas.

O que revejo são agora as guerras e a morte de velhos e crianças num mundo cheio de ditadores que nos seus gabinetes de luxo fazendo cair mártires como nada fosse com eles. Loucos sem razão toda ela nos sábios aldeões na sua sabedoria construída no analfabetismo do seu tempo, os homens e mulheres que me transmitiram a sua essência e sentimentos.

Um tempo em que vivemos aterrados da bomba atômica basta um louco carregar num botão e a humanidade desaparece num ápice e termino esta mensagem com a frase do escritor José Saramago.

“Estamos no fim de uma Civilização.”

A Barcaça tem uma edição no Museu do Sal na Casal Novo do Rio


VIDA DE PESCADOR

 

Cigarro ao canto da boca, o pescador conserta as redes. Em redor, crianças seminuas perguntam-lhe os segredos do mar. Para este sábio o mar não tem segredos. No seu rosto estão marcadas as horas de tortura, passadas no mar sem fim.

Agora uma mulher, vestida de negro aproxima-se. É a, companheira de há longos anos deste velho e rude pescador. Com ele, ela tem comido alegrias e tristezas. Ela também tem no rosto marcado, as horas amargas e as salgadas noites, passadas á espera daquele que no mar, trabalha duramente. Ajuda-o a consertar as redes, pois dentro em pouco são horas de partir.

Tudo está pronto. Trocam –se abraços, choros por vezes.

Ei-los que partem nas cascas de noz. O velho sábio, de cabelo cor de sal, comanda com ar jovial! As mulheres, essas ficam na praia com a amargura, implorando para que não haja tempestade.

Ao amanhecer regressam á praia, onde as mulheres, as crianças e as gaivotas os esperam.

Hoje a pesca foi boa! Mulheres e crianças correm ao mercado. Os pescadores vão dormir um pouco.


Depois tudo recomeça.

Chegaste no maio das minhas ilusões…

Quando as manhãs brumosas

davam lugar a uma luz dourada

levemente dourada no azul

e as rosas floriam no meu jardim…

Sem aviso entraste na minha vida,

deslumbrado me deslumbraste …

O fascínio desse começo não o apaga o tempo,

nada o transcende e ele permaneceu sempre

longos anos …

Permanece ainda em sons, em gestos,

em molduras, em sonhos …

sorri em cada madrugada, mesmo sem ti …

Entretanto, acho que murcharam flores,

sim, devem ter murchado …

Voaram das árvores as folhas

que o vento louco fez rodopiar …

Raiaram outras manhãs luminosas

e o céu escondeu a luz em escuras e pesadas nuvens …

A flor fascinante que então despontou

nesse maio inolvidável

permanece intacta

à espera de um leve sopro

quando for de novo maio em mim …

PESSOAS ESPECIAIS

  

Pessoas especiais são donas de si,
mas pertencem aos que ama.
Pessoas especiais têm ouvidos na alma,

sendo puras por natureza.
Pessoas especiais têm braços de infinito,

abraçando todos sem exceção com seu sorriso.
Pessoas especiais têm a essência da amizade,

não se cansando de dizer que é amigo do seu amigo.

Pessoas especiais estão sempre presentes,

perto ou longe.

Pessoas especiais têm um coração do tamanho do mundo!

MILAGRES

Milagres acontecem

É preciso acreditar

Há tantos sinais divinos

Como de gotas no mar…

 

Quando tudo está confuso

E as saídas são tão poucas

Há uma luz que aparece

E nossa vida floresce

E tudo toma seu rumo…

 

Se eu tivesse alguma dúvida

Ficaria admirada…

Mas como eu tenho muita fé

Sei que há volta na maré

Que dissipa a encruzilhada…

 

Meu DEUS como é bom sentir

Que ESTÁS sempre no comando

E quando menos esperamos

Vem trazido pelo vento

A resposta aos nossos medos…

 

E nós voltamos a sorrir

Há de novo primavera

Não, não é uma quimera

Voltaram as andorinhas

E as flores estão todas a abrir…

25 de Abril

Um deles consiste na versão atualizada de Antes do 25 de Abril era proibido, de António Costa Santos, obra marcada pelo rigor e também pelo humor que caracteriza a escrita do jornalista e de cujo conteúdo, a título de exemplo, se inclui a ausência da marca Coca-Cola do mercado em Portugal. A outra obra intitula-se 50 Anos de Abril no Algarve, no qual o autor, Ramiro Santos, recorda o período conturbado do PREC naquela região, marcada por comícios e ocupações, num contexto de instabilidade política e governativa que marcou todo o país.

Por último, um título assinado por Manuel S. Fonseca, Diretor Editorial da Guerra & Paz, 25 de Abril, no Princípio Era o Verbo, com ilustrações de Nuno Saraiva, e no qual se incluem frases, slogans e pichagens que marcaram o período em causa. Na edição, a cores, incluem-se dezenas de ilustrações e frases que ficaram para a História e que assinalam, antes de mais, a conquista de liberdade de expressão, a mais representativa daquela data.



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A Última Ceia , apesar dos desgastes e dos repintes antigos que lhe desvirtuam valores, é uma obra essencial para identificar a dimensão criativa do Grão Vasco - no modo como descentra os núcleos formais e os ordena em diferentes planos em profundidade, sempre unificados ou articulados pela distribuição rítmica da luz; no rigor que coloca na expressão volumétrica e na plasticidade da forma, através de gradações tonais subtis; na densidade expressiva dos rostos ou no preciosismo com que dá visibilidade aos pormenores mais ínfimos e discretos, do primeiro ao último plano.
A importância desta pintura, uma das últimas obras que teria realizado, passa também pela singularidade e complexidade do programa iconográfico. Considerando que foi encomendada pelo bispo D. Miguel da Silva para a capela do seu paço, localizado nas imediações da cidade, no Fontelo, é de todo provável que o programa seja o resultado da sábia interferência do mecenas, cuja oposição ao estabelecimento da Inquisição em Portugal lhe valeu o ódio de D. João III e a fuga para Roma, em 1540.

HOJE


A revolta tem início na madrugada do dia 31 de Janeiro, quando o Batalhão de Caçadores n.º 9, liderados por sargentos, entre os quais Pedro Amaral Botto Machado, se dirigem para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República, onde se encontra o Regimento de Infantaria 18 (R.I.18). Ainda antes de chegarem, junta-se ao grupo, o alferes Malheiro, perto da Cadeia da Relação; o Regimento de Infantaria 10, liderado pelo tenente Coelho; e uma companhia da Guarda Fiscal. Embora revoltado, o R.I.18, fica retido pelo coronel Meneses de Lencastre, que assim, quis demonstrar a sua neutralidade no movimento revolucionário.

Os revoltosos descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouviram Alves da Veiga proclamar da varanda a Implantação da República. Acompanhavam-no Felizardo Lima, o advogado António Claro, o Dr. Pais Pinto, Abade de São Nicolau, o Actor Verdial, o chapeleiro Santos Silva, e outras figuras. Verdial leu a lista de nomes que comporiam o governo provisório da República e que incluíam: Rodrigues de Freitas, professor; Joaquim Bernardo Soares, desembargador; José Maria Correia da Silva, general de divisão; Joaquim d'Azevedo e Albuquerque, lente da Academia; Morais e Caldas, professor; Pinto Leite, banqueiro; e José Ventura Santos Reis, médico.

Realizou-se:




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