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sábado, agosto 31

BARCAÇA_47

 


Montemor-o-velho das águas límpidas, do peixe à toca, da roupa a corar, da sirene a tocar anunciando ao Domingo o meio-dia.

A praça (maior) da Républica centro nevrálgico de todos os encontros com a preparação para noites na Figueira da Foz ou Coimbra. Nos bancos discutia-se um pouco de tudo, seja desporto (ACM)-(Sporting) (Benfica) (Porto) e ali ou acolá outro grupo embrenhado na política seja local como nacional. 

No centro e defronte da Câmara Municipal o (Ti Baldaque) com as suas deliciosas espigas doces.

Os mais velhos de camisa branca e gravata fina negra (penteadinhos com brilhantina) esperavam o carro que os levasse até aos bailaricos da Figueira enquanto os mais novos de bicicleta ficam por mais perto, Granja do Ulmeiro, /Ereira/Gatões/Maiorca...

Por estes lados os saudosos irmãos Sousa (com Hotel Califórnia) não podíamos ficar distraídos caso contrário lá se ia o pare que tínhamos sempre de pedir autorização à mãe ou avó que não tiravam os olhos vigilantes de cima de nós.

Outros tempos onde o telefone quem o tinha bastava três dígitos e a televisão só nas associações e em casa dos mais abastados.

Hoje aqui na Barcaça recordamos esses tempos utilizando as novas tecnologias onde os trabalhos dos nossos colaboradores veem de diversos lugares chegam via (net).

A riqueza de um Povo são as suas raízes, os seus monumentos a sua história e a sua língua, pautamos em dar a conhecer em várias vertentes o que a nós tanto nos diz, na monumentalidade através Mário Silva, Aldo Aveiro e Fernando Curado, nos acasos da vida com Carla M. Henriques e António Girão e José Craveiro. Já na delicadeza das rimas ou não de Garça Real, Isabel Capinha, Isabel Tavares, Mara Kopke e de histórias reais das pagaiadas com João Amaral.

De vez em quando sempre que justifique temos o nosso painel político com Daniel Nunes dos Reis, Victor Camarneiro, João Mendes (PCP-PS-BE) que nos fazem chegar os seus (eus) seja local como nacional.

Finalizamos sempre com Música e Livraria.

Boas Leituras 

Um dia serei apenas uma lembrança de alguém!

É uma certeza que paira silenciosamente sobre nós, como uma brisa suave que toca o nosso rosto antes de se dissipar. Às vezes, é somente um pensamento desconfortável, mas também uma lembrança poética da efemeridade da vida. Somos passageiros num fio de narrativas entrelaçadas, e, em algum momento, a nossa história transformar-se-á em apenas isso: uma lembrança!

Um dia serei apenas as memórias de momentos passados!

O riso compartilhado numa mesa, as conversas de madrugada sob o brilho das estrelas, os abraços que aquecem a alma em dias frios. O que somos agora tornar-se-á em vestígios que outros manterão nos seus corações, como delicados pedaços de um quebra-cabeça que nunca mais serão montados da mesma maneira.

Um dia serei o retrato escondido no canto da sala, coberto por uma leve camada de pó, mas que, quando olhado com atenção, revelará uma história cheia de vida, alegrias e lutas. É muitas vezes mais fácil esquecer do que recordar, mas essa imagem, que em algum momento foi o centro das atenções, permitirá que aqueles que amei voltem a encontrar-me, mesmo que por um breve instante. Num canto da memória, eu estarei lá, uma lembrança do que fui.

Serei uma frase proferida milhões de vezes. Um trecho de amor, uma sabedoria compartilhada, uma música, um eco de risadas ou um lamento de saudade. Essas palavras continuarão a flutuar nas conversas, tornando-se parte do tecido da vida dos outros. Elas carregarão a essência de quem fui, e, mesmo que eu não esteja mais, a minha presença ecoará nas vozes de quem amei e que me amaram.

Um dia não serei mais do que uma bonita recordação para aqueles com quem partilhei a vida. Ser lembrado é, na verdade, uma forma de imortalidade. É saber que, de alguma maneira, ainda estarei por aqui, nas histórias contadas à mesa, nas lembranças que surgem, como um perfume antigo que evoca um momento especial. E isso, de certa forma, é um ato de amor.

No entanto, enquanto tiver a oportunidade de viver e amar, viverei plenamente, criarei memórias que não serão facilmente esquecidas. Que cada interação seja um presente, cada riso, uma nota na canção da vida que toco. Porque, no fundo, a verdadeira beleza está em saber que, mesmo que um dia eu me torne apenas uma lembrança, essa lembrança será um reflexo do impacto que causei.

Então faço uma promessa a mim mesma: valorizar cada momento, amar intensamente e aceitar que, embora a vida seja efémera, as memórias que crio nunca morrerão. Viverão pulsando nas histórias contadas, nas risadas compartilhadas e no carinho genuíno que dedico aos outros.

Afinal, somos todos apenas um conjunto de histórias e memórias e, no final, isso é o que realmente importa! 

Hospital Novo de Nossa Senhora de Campos e Misericórdia

Situado na atual avenida dos Bombeiros Voluntários, tratava-se de um edifício de quatro corpos, enquadrado num aprazível recinto ajardinado, amplas enfermarias, salas de operações, urgências, capela e exames complementares de diagnóstico.

Devido à falta de espaço do antigo Hospital de Nossa Senhora de Campos e Misericórdia, localizado na Praça da República, decidiu-se a construção de um novo edifício, concluído em 1932. Posteriormente, foi Centro de Saúde e atualmente voltou de novo para a alçada da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho.

A 20 de abril de 1911 foram aprovados os novos estatutos da Confraria de Nossa Senhora de Campos e Misericórdia, após a introdução de alterações na Lei. O regulamento de 1913 finalmente permitiu avançar para a edificação de um novo hospital (a nascente da vila), concluído em 1932. Nos primeiros anos foi instituição modelo, apesar das dificuldades, até à Revolução de Abril de 1974 que o transformou em Centro de Saúde e Centro de Atendimento Permanente. Em 1995, entrou em funcionamento o novo Centro de Saúde e este edifício foi novamente entregue à Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho que o viria a transformar no atual Centro de Acolhimento de Nossa Senhora de Campos

 Fonte: AQUI

 

Era uma vez um pobre homem já muito idoso, viúvo e que tinha um filho que nunca o visitava, não queria saber dele, mas dizia a toda a gente ser muito amigo do pai e querer o melhor para ele, mas o que é certo é que o pobre pai continuava sempre só e abandonado.

Mal conhecia os netos pois " casa de pais, escola de filhos", e os meninos faziam tal e qual o pai, não queriam saber do avô, e o pobre homem sofria muito com isso.

Um dia, o pai como sabia que o filho sem uma lição não mudaria, ao encontrar o filho num caminho, chamou por ele e convidou - o a passar lá por casa, pois há muito tempo que não se viam.

O filho lá disse que sim.  Á noite passaria por lá.

O ancião fez uma fogueira com lenha ainda mal seca de salgueiro branco.
Aquilo é pau que parece papel e ainda por cima não estava bem seco, estar á fogueira era o mesmo que estar na rua ao frio.

Depois de uma pequena conversa diz o filho:

Ó meu pai, a fogueira está muito fraca, a lenha não vale nada.

O bom homem olhou para o filho com as lágrimas nos olhos e disse:

Amigo que mal nos fala, podem crer que até parece lenha de salgueiro branco nem dá chama nem aquece.

O filho olhou para o pai, abraçou-o e disse que a partir daquele momento o pai iria para casa dele e ali viveria.

Assim aconteceu e graças á sabedoria do pobre pai ele passou a ser um filho amigo, que até ali não tinha sido.

Seja Deus louvado, que o conto está contado.

Repórter Mabor, (1960) Vou resistindo

 

"Morreram todos. Morrerem todos”.

O excelente apresentador da RTP, o Sr. José Rodrigues dos Santos, também escritor, ao anunciar a morte dos que pretendiam ver os restos do Titanic, marcou a viva expressão do imprevisto noticioso, exclamando numa surpreendente emoção a tragédia dos que se aventuraram num submarino no desconhecido nas profundezas do mar imenso.

Para os leitores da Barcaça, parece-me pouco relevante neste meu baú de memória, trazer-vos a noção do imprevisto sobre a morte dos passageiros, que desaparecem numa trágica implosão. No entanto, será que o imprevisto entre a vida e a morte não faz parte da infinita incerteza, na qual vivemos "inocentemente", convencidos no domínio de todas as galanterias do homem destemido e audaz, julgando-nos absolutos sobre toda a natureza perdendo-nos no labirinto dos sonhos a realizar?

É que às vezes - e são tantas! - estamos mesmo a paredes meias com a finitude.

Podemos carregar com essa psicose do imprevisto? Claro que não podemos viver com essa arma sobre a cabeça, o que nos tornaria inaptos e medrosos, mas temos, isso sim e apenas, a reflexão dos perigos por terra ou mar, por vezes insuficientes para evitar as quedas da vida. 

Até nisso somos pequenos- mas sonhadores, sim, - se quisermos pensar duas vezes ou mais na nossa importância por vezes soberba e infundada.     

(republicada por Olímpio Fernandes 01set)

https://www.facebook.com/photo/?fbid=3933472663539344&set=gm.1606802670243270&idorvanity=792226898367522


PARA QUEM TEM FILHOS QUE IRÃO FREQUENTAR O 5º ANO

As 10 Regras Para o Êxito e a Tranquilidade (da criança e dos pais)

Numa pausa do trabalho de investigação que estou a fazer nesta área para uma universidade, "tirei uns minutos" para partilhar informação aos EE que irão ter crianças no 5º ano daqui a duas semanas. São indicações muito fáceis e simples de cumprir, mas que poderão fazer a diferença!

1. Na posse dos livros, encapá-los e identificar com o nome, turma e número da criança (de modo a não marcar o livro);

2. Organizar o estojo com 1 caneta azul ou preta, 1 caneta encarnada, um lápis HB (nas papelarias conhecem), para ser mais fácil escrever e apagar, uma borracha macia (para lápis) e meia dúzia de marcadores (não mais) (cada disciplina indicará, depois o que necessita);

3. No horário, sublinhar com caneta fluorescente cada disciplina (fazer, em baixo a legenda). Assim, a criança verificará melhor quando tem Educação Física, Português...);

4. Escrever, na Caderneta do Aluno, o dia em que terá que marcar refeições e para que dias;

5. Fazer, com a criança, a pé (se for caso disso) ou de carro, o trajecto que fará de autocarro (repetir duas ou três vezes);

6. Fazer uma pequena lista de comportamentos que terá que ter e dos que não poderá ter, na escola e nas imediações;

7. Escrever, na Caderneta do Aluno, um horário semanal de estudo, indicando as horas, as disciplinas e actividades que a criança tenha (na CA para não dispersar informação);

8. Conversar com a criança sobre a utilização do telemóvel durante os intervalos: incidir na necessidade de brincar, de partilhar momentos com os colegas e, se entender, compensar a criança sobre o "feedback" que esta der diariamente sobre esta matéria;

9. Consciencializar para os momentos de estudo com atenção e concentração (a criança poderá dar "feedback" ao jantar, por exemplo);

10. Reforçar positivamente (com recompensa) as prestações da criança. Por exemplo: zero recados negativos na caderneta, durante cada período, valem X pontos; cada teste Suf; Bom ou MB valerá Y, K ou Z pontos. Estabelecer metas de pontos e compensações por período lectivo, consoante os pontos alcançados (uma ida ao cinema, uma bola de futebol, um brinquedo pretendido e acessível monetariamente...).

Simples!...

(estarei pronto para ajudar, basta ligarem-me 938360205) (esta proposta está assente na LBSE - Lei de Bases do Sistema Educativo, preconizando a ligação escola-família)

TENTÚGAL

Da pré-nacionalidade ao foral de 1108

Tentúgal, na pré-nacionalidade, já era terra importante. Este facto é comprovado por documentos pertencentes aos Arquivos do Mosteiro de Lorvão, conservados no Livro Preto da Sé de Coimbra. Estes diplomas, publicados no séc. XIX, por Alexandre Herculano, nos seus “Portugaliae Monumenta Historica, Diplomata et Chartae”, são testemunhos que nos ilustram interessantes momentos da história pré-nacional, e onde se encontram provas da ancestralidade de Tentúgal.

Neste acervo histórico constam várias doações feitas ao mosteiro, destacando-se a seguinte, que tudo indica tratar-se da mais antiga referência documental sobre Tentúgal, datada do séc. X: “Rodorigus Abudmundar et uxor ejus testamento legant Monasterio Laurbanensi uillas Tentugal, Cendelgas, Oleastrelo et alia bona mobilia et immobilia. Liber Testamentorum ejusdem monasterii textum nobis praebuit./...rodoricus cognomento abulmundar et uxor mea coraxia... rodorigus in ac testamento manu mea + - coraxia in ac testamenti manu mea + - petrus abba conf. - eronius test. - valid test. - hadella test. - iubarius presbiter. - habdelmek test. - abobadella test. - neuridius test. - zahdon test. - menendo test. - azakri test. - egriz test.” (DC 68, de 954).

Nos mesmos documentos, testemunha-se que “Os fâmulos de Deus - Bahri e Trunquilli, doaram a este mosteiro, no ano de 980, uma herdade em Taveiro e duas igrejas, uma de S. Pedro e S. Miguel, em Tentúgal e outra em Santa Eulália, na vila do Arquanio”.

Reputados historiadores escrevem que, nos séculos X e XI, esta povoação, como outras da região, foi dominada ora por muçulmanos ora por cristãos, mencionando que foi reconquistada aos mouros, por Gonçalo Trastamires, em 1034, aquando da tomada das “terras de Montemor”. Porém, só em 1064, Fernando Magno, rei de Leão e Castela, conquistou definitivamente a linha do Mondego, tendo criado um “novo” condado em Coimbra, cujo governo foi doado a D. Sisnando.

Sesnandus, Sisnandus, Sisnande, Sizinando ou Sisnando Davides, atestado em 1064, falecido cerca de 1092 (Mattoso, “Nobreza Medieval...”) era filho de um David e de uma Susana. A Monarchia Lusitana (livro VIII) também dedica algumas páginas ao “Conde e Governador de Coimbra Dõ Sisnando”. Sabe-se que num seu testamento - feito antes da batalha que, ao lado do Rei Afonso VI, travou contra os Mouros em Badajoz – Sisnando deixa à igreja de Mirlaos “a metade da villa de Tentuguel, a qual diz lhe viera por herança de seus paes”(in Mon. Lusitana). Nascido em Tentúgal, foi raptado por uma razia de mouros que o levaram (como escravo?) para Sevilha, onde se converteu ao islão. Apesar da sua condição, fez uma carreira fulgurante chegando a Vizir de Sevilha. (José Hermano Saraiva “História Concisa de Portugal”, 1978).

Todavia, por razões desconhecidas, mudou de novo de religião, convertendo-se (ou reconvertendo-se?) ao Cristianismo e pôs-se ao serviço de Fernando Magno (1029-1065), rei de Leão e Castela. Terá então proposto ao rei cristão que reconquistasse Coimbra, ocupada pelos muçulmanos desde 997, a qual foi efectivamente tomada após um cerco de cerca de seis meses (1064?). Por mercê de soberano, a cidade passou então a ser governada por Sisnando, durante quase 30 anos, até à sua morte em 1091 ou 1092.

Entretanto, casou com Loba Nunes “Aurovelido” (atestado 1071-1074), filha do conde de Portucale (Nuno Mendes), o qual chefiou uma revolta contra o rei Garcia da Galiza em 1071, tendo morrido durante uma batalha (em Pedroso, entre Braga e o rio Cávado). O Rei Afonso VI de Leão (herdeiro do Rei Garcia), concedeu uma parte dos bens confiscados ao (falecido) Nuno Mendes, à sua filha Loba Nunes e seu marido, aumentando assim o património governado por Sisnando. Segundo Mattoso (Ricos Homens, Infanções..., p.34) e a Monarchia Lusitana (citando uma venda que está no livro fidei de Braga), Sisnando terá doado ou vendido em 1074 a um nobre de segunda categoria (Eita Gosendis) a maior parte dos bens que tinham sido de Nuno Mendes (os quais acabaram por ser doados à Sé de Braga em 1103), por não estar disposto a sofrer qualquer oposição das famílias do Norte.

Afonso VI de Leão parece ter tido um bom conselheiro em Sisnando, e recompensou-o por diversas vezes. Assim, vemos Sisnando (acompanhado por Soeiro Mendes da Maia) a caminho de Toledo, nomeado pelo Rei governador desta cidade (Ricos Homens, Infanções..., p. 52).

O governo de Sisnando Davides (Consul Domni Sisnandi) em Coimbra, e terras do “condado colimbricense”, deve ter sido notável. Repovoou as terras do interior (que se estendiam desde o Sul do Douro até ao Sul de Coimbra, e desde o mar até Seia, Lousã e Soure), reconstruiu as muralhas, restaurou a diocese para a qual nomeou um bispo (o qual esteve na origem da lenda do “bispo negro” de Afonso Henriques, por ter sido nomeado à revelia de Roma). Resistiu às incursões almorávidas nas fronteiras do Mondego (1085), utilizando na defesa apenas os recursos regionais e locais (Ricos Homens, Infanções,..., p.181). Segundo Mattoso, Sisnando seria um conciliador, com grande capacidade política, pelo que não teria tido necessidade de um grande potencial bélico para fazer frente às pequenas “taifas” que ameaçavam o seu condado.

Este conde moçárabe e governador do território de Coimbra, levantou da completa ruína vários castelos da região, fazendo simultaneamente o repovoamento de muitas terras, entre elas a da sua naturalidade – Tentúgal, reconstruindo também a referida igreja de S. Pedro e S. Miguel. (É tradição oral que havia no largo das Olaias, ainda no século XIX, um edifício muito velho, mas modificado na sua arquitectura, com uma janela manuelina, semelhante a outra da casa dos Forjaz de Sampaio, que teria sido o palácio de D. Sesnando).

A filha (única?) de Sisnando, Elvira Sisnandes (1087 e seguintes), casou com Martim Moniz (atestado em 1092-1111), desconhecendo-se se houve filhos. Herdando o governo de Coimbra, este Martim Moniz, então genro de Sisnando, também teve uma vida aventurosa (afastado pelos francos - trazidos com Raimundo e Henrique - esteve com o Cid Campeador em Valência pelos anos 1090, depois, em 1111, com Afonso I de Aragão contra a rainha D Urraca, e tentou regressar, sem sucesso, a Coimbra em 1115).

Sisnando usou, na qualidade de senhor do território conimbricense, o título árabe de “alvasil” ou “wasir”, ao lado dos títulos de “conde”, que era o mais elevado, abaixo de rei, e de “cônsul”, equivalente ao de regente. Rodeou-se de pessoal administrativo mozárabe, senão mesmo árabe, e podia facilmente recrutá-lo na própria cidade. O estilo dos documentos da sua chancelaria, nota Herculano, reflecte a influência dos documentos muçulmanos congéneres.

Como se depreende, durante o governo de Sisnando, Coimbra foi um governo separado de Portugal e da Galiza. Tendo governado até cerca de 1091, foi o responsável não apenas pela pacificação e defesa do território, mas principalmente pela sua reorganização, tornando Coimbra um centro florescente, onde a cultura moçárabe viria a conhecer o seu canto de cisne. O seu túmulo, na Sé Velha de Coimbra, tem o seguinte epitáfio: “AQUY. JAZ. HUUM. QUE. EM. OUTRO. TENPO. FOY. GRANDE. BAROM / SABEDOR. E. MUITO. ELOQUENTE. AVOJNDADO. E. RICO. E, AGORA / HE, PEQUENA. CINZA ENCARADA. EM; ESTE MOIMENTO / E. COM. EL. JAZ. HUUM. SEU.SOBRINHO.DOZ. QUAEZ. HUU / ERA. JA. VELHO. E. OUTRO. MANCEBO. E. O NOME. DO. TIO / SESNANDO. E. PEDB.O. AVIA. NOME. O. SOBRINHO...”

D. Sisnando está perpetuado numa rua de Tentúgal, sua terra natal, e numa outra em Coimbra, na freguesia de Santo António dos Olivais.

Dois anos depois da morte de Sisnando, Raimundo de Borgonha, genro de Afonso VI, intitula-se “senhor de Coimbra e toda a Galiza”, o que parece mostrar a separação do território de Coimbra de todo o outro além Douro, incluído, sem distinção, na expressão “Galiza”. Porém, as terras a sul do Douro passam, entretanto, ao senhorio do Conde D. Henrique, pelo seu casamento com D. Teresa, filha de Afonso VI. O primeiro título usado pelo conde D. Henrique, pai de Afonso Henriques, parece ter sido o de “conde de Coimbra” (1095). Mas, pouco depois, obteve também o governo da Galiza ao Sul do Minho, já então conhecida por “terra de Portucale”. Este conde e sua mulher, por testamento de Afonso VI, empreenderam a reconstrução e repovoamento do território, incluindo, entre outras povoações, a “villae de Tentugal”, tudo indicando que esta povoação foi privilegiada com uma das primeiras “cartas de povoamento” ou “carta de foral”, documento concedido pelos condes D. Henrique e D. Tereza, em 1108 (17 de Fevereiro), privilégio confirmado por esta condessa no ano de 1124.

Em Tentúgal, das obras henriquinas, resta apenas, diz-se, a velha torre, conhecida pela Torre do Relógio que, provavelmente, devia ter sido a torre de menagem. Acerca desta, diz-nos, em 1721, o Padre Luiz Cardoso: “(…) que mostra a torre haver sido de observação, antigamente, e segundo a tradição vulgar foi fabricada”pelos mouros”.

É admirável a dureza do seu material porque sendo muito delgadas as paredes e a uma altura considerável se acha sem o menor sinal de ruína, sustentando dois sinos, um da Câmara a outro do relógio”. Na verdade, a torre continua a desafiar o tempo e a dominar o casario da antiga pátria de D. Sesnando. A porta da torre é gótica, no género das portas laterais da Igreja Matriz a duma outra da igreja da Povoa.

 

Em 2024, assinalam-se 916 anos da carta de foral

Não sendo pioneira, mas das primitivas, a povoação de Tentúgal usufruiu da sua primeira carta de foral, no início do séc. XII, não só pela zona estratégica de povoamento, mas também pela fidalguia dos seus donatários.

Os senhores do condado portucalense - conde D. Henrique e D. Teresa - por doação de D. Afonso VI, rei de Leão, na sequência do casamento de D. Teresa, sua filha, com D. Henrique de Borgonha, outorgaram, a 17 de Fevereiro de 1808, em Sahagún (?), aquele documento de privilégio e de suma importância para a povoação e seus habitantes.

“Diz-se foral ou carta de foral, o diploma concedido pelo rei, ou por um senhorio laico ou eclesiástico, a determinada terra, contendo normas que disciplinam as relações dos seus povoadores ou habitantes entre si e destes com a entidade outorgante.” (Serrão, Joel, in“Dicionário de História de Portugal” Vol III, Porto 1979).

Concedendo terras baldias para uso colectivo da comunidade, visando incentivar o povoamento de terras, a carta de foral estabelecia hierarquias sociais, regulava impostos, portagens, taxas, multas, direitos de protecção e obrigação militares.

Eis a “carta de foral de Tentúgal” de 1108, na sua escrita primitiva e num traslado:

 

TENTUGAL

1108

 

Charta autographa, ex tabularío Coambricensís sedis, nunc in Archivo Publico asservata.

Sub imperio omnipotentis dei qui uerbo creans omnia recte conposuit atque utiliter in suo congadet regno qui cum eodem filio et spiritu sancto unus et quoequalis permanet per numquam finienda seculonum secula. Audiant presentes et futuri uerba relationis huiusmodi. Constittutum est inter uiuentes ul qnidam ex illis sint maiores quidam mediocres alii uero minores alii sint domni alii subiecti et necesse est ut domni prestent hominibus qui sibi seruiunt el qui melius seruierint melins proficiant et magis sustententur de beneficio dominorum suorum. Ego comes Hanricus una cum uxore mea formosíssima tarasia comitissa filia regis domni adcfonsi f…mus uobis homines populatores quos uultis populare tentugal uillam iussu regis domni adefonsi qui iussit eam nobis hedificare el construere, facimus uobis cartam stabilitatis ad habitandum et ad plantandum et ad colendum tali modo ut omnis miles qui ibi fucrit et balestaiis atque montariis uel ceteris hominibus habeant talem licentiam ut faciant de suis rebus ad seniorem que illa imperauerit sicut faciunt omnes homines qui habitant in colimbrie ciuitatem et similiter habeant omnes foros quos in colimbrie currerint. Est confirmatam istud in tempore dominus noster ihesus christus post ressurrectionem suam quo ascendit in maiestatis sue preterito mille centuque XXXX. a VI. es . Regnante pascasio rome papa, bragare Giraldo archiepiscopo, tolete bernardo probissimo archiepiscopo. El quisquis post nos rex hanc comos regina uel comitissa quinquin uir uel mulier de nostris propinquis uel de extrancis hanc stabilitatis cartam uiolarc uelucrimus uel uolucrit et contra hoc quod nos sponte facere iussimus dcstructores esse uoluerimus uel noluerit qnisquis fuerit propinquos aut extraneus segregetur a corpore et sanguine domini et cum iuda traditore demersus in profundum inferni lugeat penam. Hec carta stabilitatis fuit scripta. + Ego hanricus comes uel consul hanc stabilitatis, cartam scribere iussi et manu propria roboraui. Similiter et ego supradicta + dulcissima tarasia predicti regis filia manu propria quicquid supra scriptum est confirmo.

Qui presentes fuerunt, Annaia test. —Menendus guudisaluiz test. —Saluador recamondiz test, —Midus za-karias test. —Johannes aurifex test. —Petrus zerac test.

—Petrus petriz test. —Petrus presbiter scripsit. (in Portugaliae Monumenta)

 

Carta de Foral concedida a Tentúgal em 1108

(Traslado)

 

“Pelo poder de Deus omnipotente, o qual, com a sua palavra, ordenadamente criou todas as coisas e nelas se compraz e que, uno e coigual, com o Filho e Espírito Santo, vivepelos séculos dos séculos.


Ouçam, presentes e futuros, o conteúdo desta relação. Está estabelecido que, entre os viventes, uns sejam maiores, outros médios e, ainda outros, mínimos; que haja senhores e súbditos e que, necessariamente, os senhores presidam aos homens que os servem e que, quanto melhor forem servidos, mais auxiliem e mais benefícios prestem aos que bem os servirem.

Eu, Conde Henrique, juntamente com minha mulher, a formosíssima Condessa Teresa, filha do Rei Dom Afonso, damos a todos os que queiram povoar a vila de Tentúgal que o dito Dom Afonso nos mandou edificar e construir, carta de estabilidade, para a habitarem, plantarem e cultivarem de tal forma que todo o cavaleiro, besteiro e monteiro ou qualquer outro homem que nela morar, tenha, quanto ao senhor da terra, direitos iguais aos dos habitantes de Coimbra e gozem dos mesmos foros que nela correrem. Foi esta confirmada no tempo em que N. S. Jesus Cristo subiu ao Céu, na sua primeira majestade, na era de 1146 (ano de 1108) governando a Igreja de Deus, em Roma, Pascoal II, em Braga o arcebispo Geraldo e em Toledo o probíssimo arcebispo Bernardo.

E todo aquele, rei ou conde, rainha ou condessa, homem ou mulher dos nossos ou dos estranhos, depois de nós, seja quem for, ou nós mesmos, que tentar quebrar qualquer destas determinações que espontaneamente mandámos seja separado do corpo e do sangue do Senhor e, com Judas traidor, sofra o castigo nas profundas do inferno.

Foi escrita esta carta de estabilidade. Eu, Conde ou Cônsul Henrique mandei escrever esta carta de estabilidade e a roborei por minha própria mão. Igualmente eu, acima referida, a dulcíssima Teresa, filha do dito Rei, confirmo, por minha própria mão, tudo o supra escrito.

Estiveram presentes: Annaia, testemunha.- Mendo Gonçalves, test.- Salvador Recamondiz, test. - Mido Zacarias, test.-João Ourives, test.- Pedro Zerac, test.- Pedro Pires, test.- Pedro, presbítero a escreveu.”

Recordando a importância social de Tentúgal ao longo da história, a Junta de Freguesia de Tentúgal e a Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal prestaram homenagem ao Conde D. Henrique e D. Teresa, dia 8 de Dezembro de 2008, ano em que se assinalou os 900 anos da “carta de foral” de Tentúgal, com a celebração de uma missa evocativa, na Sé de Braga, e deposição de coroa de flores junto dos seus túmulos. Tratou-se do início de um ciclo de iniciativas, que se prolongaram por 2009, que pretenderam evocar a primeira carta de foral concedida a Tentúgal.

Um dos momentos altos do “ciclo das comemorações da carta de foral de Tentúgal” teve lugar no âmbito do II Grande Capítulo da Confraria realizado nos dias 23 e 24 de Maio de 2009, e por outro momento marcante da iniciativa em Outubro de 2009, com uma palestra proferida pela docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Maria Helena Cruz Coelho, sobre a “História da primeira carta de foral de Tentúgal”, com uma publicação alusiva, e “A importância de Tentúgal na Idade Média”.

Aldo Aveiro, “Tentúgal da pré-nacionalidade...e 900 anos de carta de foral”, escrito originariamente em 2008, publicado na imprensa e na “Revista Monte Mayor”, em 2009, adaptada e revista para a Jornal online “A Barcaça”, em 2024.

FIGUEIRA DA FOZ - A INAUGURAÇÃO DAS PONTES PELO INFANTE D. MANUEL EM 29-8-1907

Foi por concurso público de 30 de julho de 1900 que a empresa francesa Levallois-Perret ganhou a empreitada de construção das duas primeiras pontes sobre a foz do Mondego.

Entre 4 concorrentes, a construção da ponte de madeira sobre o denominado rio de Lavos foi adjudicada por 19.000:000 reis e a construção da ponte de ferro sobre o braço principal do Mondego por 208.000:000 reis.

A conclusão das duas pontes demorou 6 anos.


No dia 15 de dezembro de 1906 foram abertas aos peões e no dia 22 de dezembro seguinte veio a autorização superior “para também poderem transitar pelas pontes sobre o Mondego veículos de qualquer espécie”.

As pontes funcionavam há aproximadamente 8 meses quando foram visitadas pelo infante D. Manuel, futuro e último rei de Portugal, em representação de seu pai D. Carlos I.


A comitiva de D. Manuel veio a cavalo, partindo de Sintra, passando por Torres Vedras, Caldas da Rainha e Leiria.

O infante saiu de Leiria pelas 5 horas da madrugada, chegou à Figueira da Foz no dia 29 de agosto de 1907, eram 10 horas da manhã, sendo o número dois da comitiva Salvador Correia de Sá e Benevides Velasco da Câmara, oficial-mor da casa real, Par do Reino, 9º Visconde de Asseca desde 25 de julho de 1903.


A Gazeta da Figueira noticiou esta importante visita:

"Pelas dez horas da manhã de quinta-feira, chegou a esta cidade, vindo de Leiria como previamente anunciámos, o infante D. Manuel, que viajava a cavallo acompanhado do seu ajudante o sr. Visconde de Asseca. Sua Alteza era esperada na ponte, à entrada da cidade pelo sr. administrador do concelho (...) que o acompanharam em automóveis trens e bicycletas até ao Hotel Lisbonense, onde se hospedou. Depois do almoço, dirigiu-se o sr. D. Manuel ao Grande Club Peninsular, assistindo ao concerto que lhe foi dedicado pelo magnífico sextetto que ali funciona. Sua Alteza visitou as differentes instalações do sumptuoso edifício, ficando agradavelmente impressionado. O grande salão do casino achava-se lindamente engalanado, pendendo da galeria que o circunda colchas de seda artisticamente dispostas. O Salão de baile, onde se realizam os concertos, estava completamente apinhado de damas e cavalheiros, tanto da cidade como da colónia balnear. À noite, o Senhor Infante assistiu a parte do espectáculo do Casino Mondego, demorando-se também algum tempo no Peninsular. Retirou hontem em direcção ao Bussaco, sendo acompanhado até próximo de Maiorca".


A revista Ilustração Portuguesa de 9 de setembro de 1907 também noticiou esta visita real, publicando quatro fotos da mesma.

Na primeira foto, o infante atravessa a nova ponte sobre o Mondego, na segunda foto mostra-se a chegada à Figueira da Foz, na terceira foto a Real Filarmónica Dez de Agosto saúda o Infante à porta do Hotel Lisbonense e na quarta foto o futuro rei cumprimenta o Administrador do Concelho.


(O Hotel Lisbonense abriu em julho de 1898, no primeiro edifício a ser construído no Bairro Novo, situado no gaveto da Rua da Boa Recordação (atualmente Rua Cândido dos Reis) com a Rua da Inauguração (atualmente Rua da Liberdade). Pertenceu a Vicente Paramos, galego, que 8 anos antes, em 1890, tinha fundado nas Caldas da Rainha um Hotel com o mesmo nome, onde D. Carlos I ficava com a sua família quando ia a termas).

D. Manuel tinha então 17 anos de idade e estudava na Escola Naval, o Presidente da Câmara era o Dr. Joaquim Jardim, o Administrador do Concelho era o Dr. João Martins Pamplona Corte-Real, José Félix Lobo do Amaral o Governador Civil e João Franco o Presidente do Conselho de Ministros.


O dia 29 de agosto de 1907 foi um dia de festa para os figueirenses, e também para o Infante D. Manuel, mas o futuro próximo seria agreste para a Câmara Municipal e trágico para a família real.

Viviam-se tempos de forte instabilidade política quando em reunião de Câmara de 5 de junho de 1907 o presidente Dr. Joaquim Jardim expôs a situação em que se encontrava o país em resultado do Decreto da ditadura de João Franco, o qual dissolvera a Câmara dos Deputados e suspendera o exercício do sistema parlamentar.

O Dr. Joaquim Jardim propôs então que a Câmara reclamasse junto do Chefe de Estado “o imediato restabelecimento do regime parlamentar a que está indissoluvelmente ligado o destino da pátria e a sorte das instituições".


Alguns dias depois, em sessão de 21 de agosto de 1907, a Câmara deliberou chamar de Avenida José Luciano de Castro à nova avenida que se iniciava no final da Avenida Saraiva de Carvalho e terminava na ponte em fase de conclusão.

A Câmara do Dr. Joaquim Jardim homenageava assim o advogado e jornalista, o político fundador do Partido Progressista, o Deputado e Par do Reino, Conselheiro de Estado, Diretor-Geral dos Próprios Nacionais, Vogal do Supremo Tribunal Administrativo, Governador da Companhia Geral do Crédito Predial Português, Ministro e Presidente do Conselho de Ministros por 3 vezes, a última de 20-10-1904 a 20-3-1906.

José Luciano de Castro agradeceria tamanha gentileza da Câmara em carta que lhe enviou em 4 de setembro de 1907.

Por sua vez, os seus correligionários e amigos figueirenses ofereceram as duas lápides em mármore que identificavam a nova avenida, estando por trás desta oferta o Dr. Joaquim Jardim, o Visconde da Marinha Grande, António Lopes Guimarães Pedrosa, Francisco Lopes Guimarães, José da Costa Monsanto, Conde de Felgueiras, João Alfredo Antunes de Macedo Santos, Joaquim Saraiva d’Oliveira Baptista, Conde de Verride, sucessores de Joaquim António Simões, Francisco Correia da Cruz, sucessores de Ignácio Augusto Carrisso, Ricardo João Pimentel Baptista, Visconde de Sousa Prego, Luiz Xavier de Meirelles Vasconcellos, José Augusto Esteves de Carvalho, Elísio Eleutério Gaspar de Lemos, Victor da Silva Feitor, Pedro Doria Nazareth, António Alexandre Ferreira Fontes e José Maria d’Oliveira Mattos.

Acontece que José Luciano de Castro era militante e fundador do Partido Progressista e João Franco militante do Partido Regenerador e depois criador do Partido Regenerador Liberal.


Apesar do Dr. Joaquim Jardim ser do Partido Regenerador, por revanchismo político a Câmara Municipal da Figueira foi dissolvida por Decreto de João Franco de 19 de dezembro de 1907.

Poucos dias depois aconteceria o regicídio de 1 de fevereiro de 1908, quando D. Carlos I e o filho D. Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do Paço e D. Manuel ficou ferido num braço.

De imediato, D. Manuel foi aclamado Rei de Portugal, na Assembleia de Cortes de 6 de maio de 1908, mas o seu reinado foi curto, porque seria deposto a 5 de outubro de 1910, aquando da implantação da República.

Curioso é saber que no dia 20 de novembro de 1908 uma delegação da Comissão Administrativa Municipal, chefiada pelo Dr. Joaquim Jardim, deslocou-se a Coimbra, onde pelas 11 horas da manhã entregou ao rei D. Manuel II o seguinte convite:

“Vimos respeitosa e convictamente saudar Vossa Majestade, Chefe deste Portugal tão digno de ser bem governado, tão digno de que um Rei jovem, bom e inteligente como Vossa Majestade a ele se dedique. Permita Vossa Majestade que a municipalidade da Figueira da Foz manifeste a grande satisfação com que receberia a honra da visita de Vossa Majestade no próximo Verão! O afecto com que Vos havemos de receber há de mostrar a Vossa Majestade que se encontra no meio d’uma população leal e dedicada à Sua Augustas Pessoa”.


A segunda visita de D. Manuel I à Figueira não chegou a concretizar-se porque a monarquia cairia em 5 de outubro de 1910, e sendo o Palácio das Necessidades bombardeado, o monarca refugiou-se no Palácio Nacional de Mafra, embarcando no dia seguinte na Ericeira, donde seguiu para Gibraltar e depois para o Reino Unido, onde residiu até à sua morte em 2 de julho de 1932.

A primeira ponte da Figueira era, à época, uma obra de grande dimensão, assentando em 16 pilares de alvenaria e cantaria, e projetada no gabinete do engenheiro Eiffel.

Uma ponte imponente, não fosse o seu “pai” o Eng.º Gustavo Eiffel, o mesmo que construiu 25 pontes em Portugal, a Torre Eiffel em Paris e a Estátua da Liberdade em Nova Iorque, e que, curiosamente, tinha vivido em Barcelos, de 1875 a 1877, aquando da construção da ponte D. Maria, no Porto, também de sua autoria.

A ponte férrea da Figueira ligou as duas margens do Mondego durante 75 anos, de 1907 a 1982, do restaurante O Covil do Caçador ao posto da Brigada de Trânsito.

Foi demolida em 1982, após a inauguração da Ponte Eng.º Edgar Cardoso, no dia 12 de março, quando a Figueira da Foz comemorava os 211 anos de elevação a vila (12 de março de 1771) e os 100 anos de elevação a cidade (20 de setembro de 1882).

Foi longa a caminhada.

Sinuoso o caminho,

cada vez mais distante,

inacessível o fim da estrada.

Ao longe era o céu,

o infinito, azulando meu ser perdido na jornada.

Brumosas, as manhãs

ocultavam as promessas

radiosas … onde o limite

era o infinito.

Envoltos em densa névoa,

soavam agora

perdidos os meus sonhos,

perdidamente distantes,

perdidos de mim

perdida eu deles também …

Cada vez mais distante,

hesitante ainda,

avisto, rompendo a névoa,

o acenar frouxo

de um tempo que não foi,

dos momentos perdidos,

dos enganos aceites

leviana e confiadamente

desse amor traiçoeiro …

Ainda sorridente dos sonhos, à espera da luz

desta vida que foge

e escurece entristecida

no alvorecer de cada manhã promissora.

Velha, eu?

Sim… já com alguma idade...

Sinto-me grata por envelhecer, sentindo-me em cada segundo da vida a mulher mais incrível, maravilhosa e única!

Sim, única, porque me respeito e amo, não tendo vergonha do que sou e como sou; tenha os anos que tiver, esses anos irão sempre abraçar-me e fazer de mim a mulher mais rica do mundo!

Há duas maneiras de se ser rico: uma é ter tudo o que sequer, a outra é estar satisfeito com o que se tem e uma linda família

Por tal sou grata à minha filha Joana Capinha, ao meu filho João Capinha & Vanessa e minha netinha Helena,

E um obrigado ao meu companheiro de viagem, meu marido Capinha Lopes.

Vos amo!

Hoje, faço 61 anos!

Velha, eu?

RECORDAÇÕES DE UMA VIDA

O passado não tem tempo, nem hora e nem lugar.

Aparece em qualquer sítio…E ali se deixa ficar!…

Vem do nada… sorrateiro!…Sem esperarmos a chegada.

Às vezes por um dia inteiro…. Só parte de madrugada!

Abraça-nos com tal força…Toma-nos de tal maneira…

Em ondas avassaladoras.... Que trazem algas e conchas…

…E a nossa vida inteira!

Povoa a nossa cabeça…. De frases e cenas vivas,

De cheiros e de momentos…. Das nossas vidas

…Perdidas!

Lavei o corpo e as memórias…com sabonete de amoras.

Deixei que a água escorresse…pelo meu corpo saudoso

…Nem senti passar as horas!

Voltará num outro dia, a bater à minha porta…

A saudade e a nostalgia…que há tanto tempo eu não via

E que pensava já morta…

São doces recordações, que todos temos na vida…

São momentos, ilusões, são tantas as emoções…

Recordações de uma vida!...

            AUTORIA: ISABEL TAVARES 

A Estátua

Taparam-me a janela
Tiraram toda a luz,
Perdi algo, caiu ao chão,
Já nem sei onde o pus…
Cem anos se passaram,
Cem anos de partida,
Cem anos de solidão…
Onde ficou a minha vida?

Um tempo borboleta
Um tempo de ternura
Um tempo só de sonho
Um tempo que perdura…
Um tempo primavera
Um tempo só contigo
Um tempo de aconchego
Um tempo já perdido…

Retorna o choro
tão pesado
De lágrimas cheias
de partida
Estilhaça a alma
em pedaços
Derrama pelo chão
a doce vida
Mas foi à tanto,
mas foi à tanto
Que o tempo de água
só fez sal
A rubra carne
fez em pedra
E o sorriso
se desfez em cal…



FESTAS&FESTAROLAS

A câmara municipal de Montemor-o-Velho, com políticos e funcionários arregimentados para a foto, anunciaram o programa das Festas antes designadas de feira de ano e agora mais parecidas com um festival, no entanto sem nos dizer quantos milhões vai gastar em mais esta edição gratuita, bem como com as mordomias dos amigos do costume que desfalcam o erário público e impedem que o mesmo seja investido naquilo que faz realmente falta no concelho!

Aliás, para perceber quanto estes gastos com as festas do arroz e da lampreia, do castelo mágico e agora das festas da Vila prejudicam a edilidade, bastará olhar à volta e verificar o que não foi feito em prol da população e do desenvolvimento de todas as freguesias.

Uma autêntica vergonha!


MÚSICA

Os Demónios Negros - Coimbra (1965)


LIVROS

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken bei Lützen, um pequeno povo na Prússia (parte da Alemanha de hoje). Seu pai, Carl Ludwig Nietzsche, era um pregador luterano; ele morreu quando Nietzsche tinha quatro anos de idade. Nietzsche e sua irmã mais nova, Elisabeth, foram criados pela sua mãe, Franziska.

Nietzsche frequentou uma escola preparatória privada em Naumburg e depois recebeu uma educação clássica na prestigiosa escola Schulpforta. Após graduar-se em 1864, ele foi a Universidade de Bonn por dois semestres. Ele se mudou para a Universidade de Leipzig, onde estudou filologia, uma combinação de literatura, linguística e história.

Ele foi fortemente influenciado pelos escritos do filósofo Arthur Schopenhauer. Durante seu tempo em Leipzig, ele iniciou uma amizade com o compositor Richard Wagner, cuja música ele admirava muito.

Aqui deixamos o link para acessar nossa coleção completa dos livros de Friedrich Nietzsche.

Assim falava Zaratustra

Autor: Friedrich Nietzsche


*Aguarde alguns segundos para o documento carregar, o tempo pode variar dependendo da sua conexão com a internet.



https://www.infolivros.org/pdfview/1690-assim-falava-zaratustra-friedrich-nietzsche/


quinta-feira, agosto 1

BARCAÇA_46

EDITORIAL

Boa tarde, hoje com início do mês de Agosto docemente e sem grande agitação pela nossa terra já o mesmo não se pode dizer fora de portas, Venezuela está em vias de guerra civil, já a guerra seja da Ucrânia como da Palestina sem fim à vista.

O timoneiro da Barcaça como de costume tráz alguns assuntos do concelho e os nossos colaboradores nas suas rúbricas habituais descrevem-nos seja a história do concelho de Montemor-o-velho como da Figueira da Foz.

Já na música e na literatura as escolhas recaem em autores consagrados da divulgação da escrita de Camões.

Agosto mês de férias das rúbricas políticas, já a pagaiadas de João Amaral seguem com as suas façanhas por terras de Portugal.

Vejamos então: 

Monumentalidade

Mário Silva/Montemor, Fernando Curado/Figueira da Foz e Aldo Aveiro/Carapinheira transporta-nos para outros tempos e factos históricos do nosso património.

Olhares

Carla Henriques vai até ao centro da terra neste caso (espelho meu espelho meu...) “...a força, a paixão, o carinho, a amizade, o amor, a coragem e a luz...)

Crónicas de Viagem

Uma reflexão de António Girão entre o Poder/Arrogância /Lambe botas nas nossas autarquias...

Poesia

Garça Real um poema onde se encontra o amor pelo teatro o amor pelas gentes do CITEC e um obrigado a dois emblemas dos nosso CITEC Carlitos Cunha e Deolindo Pessoa.

Em dia de aniversário Isabel Capinha trouxe-nos (UMA VIDA) onde reflete o que lhe vai na alma.

Já Isabel Tavares em (Há em Nós) diria o “fluir de um rio calmo) como a nossa barcaça.

Mara Kopke entre o sonho e a realidade fala-nos da sua criança que queria ver o mar. 

Música e Livros

Finalizamos como sempre com livros e música esperando sempre que o leitor se delicie com as viagens da Barcaça.

PONTOS SEM FIM

Que diriam os nossos autores consagrados com os estrangeirismos utilizados vezes sem conta pelo estado/autarquias na comunicação simples que deveria ser para que todos entendessem do que se trata, mas em vez disso usam e abusam como letrados para que, mas confuso seja a comunicação e por sua vez se sintam no paraíso como deuses com alguns dos munícipes a bater palmas.

Montemor-o-Velho inaugurou projecto de Birdwatching no Paul do Taipal um investimento superior a 188 mil euros.

Não teria sido mais eficaz se tivessem dito ”Observação de pássaros” Montemor-o-Velho viu esta terça-feira, dia 30 de julho, mais um sonho materializado com a inauguração do projeto "Birdwatching no Paul do Taipal". "Hoje, o concelho de Montemor-o-Velho ganha uma nova infraestrutura que valoriza e preserva o nosso património natural, que proporciona condições únicas para a observação de aves e que vai criar uma nova oferta de turismo de natureza." Para o presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, "este é provavelmente um dos espaços europeus com melhores condições para a observação das aves que aqui habitam, nidificam ou descansam".

Mas também temos boas notícias:

Portugal, Polónia e Dinamarca escolhem Montemor-o-Velho para treinar para os Jogos Olímpicos

As seleções olímpicas de canoagem de Portugal, Polónia e Dinamarca estiveram em Montemor-o-Velho em preparação para os Jogos Olímpicos.

O Centro Náutico de Montemor-o-Velho continua a afirmar-se no panorama desportivo internacional e a ser reconhecido como uma das melhores pistas europeias para a prática de canoagem e de outros desportos náuticos.

Recorde-se que o Centro Náutico de Montemor-o-Velho dispõe de excelentes condições para a prática de canoagem, natação em águas livres, remo e triatlo, oferecendo uma versatilidade excecional para o acolhimento de outras modalidades, como pesca desportiva, ciclismo, automobilismo, motociclismo, aeromodelismo, entre outras. 

Torneio Aberto de Petanca foi um sucesso.

A terceira edição do Torneio Aberto de Petanca voltou a ser um sucesso. Realizada este sábado, dia 27 de julho, no Parque Verde da Ereira, a iniciativa promovida pelo Município de Montemor-o-Velho, em parceria com a Junta de Freguesia da Ereira, voltou a bater o recorde de inscrições, com um total de 15 equipas.

Mas voltemos à realidade, que benefícios o munícipe tem tido nestes três mandatos de PS? Iremos verificar e na próxima Barcaça será divulgado com ajuda da informação disponível. Mas fica aqui alguma informação: Em cumprimento do disposto no Regulamento (CE) n.º 1828/2006, de 08 de dezembro, com as alterações introduzidas pelo Regulamento (CE) n.º 846/2009, de 01 de setembro, pelo Regulamento (UE) n.º 832/2010, de 17 de setembro e pelo Regulamento (UE) n.º 1236/2011, de 29 de novembro, informa-se a todos os interessados, quais os montantes co-financiados, pelos respectivos Programas Operacionais e fundos comunitários associados, dos projectos do Município de Montemor-o-Velho. aqui

Em breve (festas & festarolas) 

[somos muito mais que o que o espelho reflete. muito mais.]

 

Nunca tenhas medo do que o espelho reflete. Muitas vezes, somos os nossos piores críticos, apontando as falhas e as inseguranças que, na verdade, são apenas sombras distorcidas da nossa essência. Tens defeitos. Qualidades. És teimosa. Orgulhosa. Mas ninguém tem um coração como o TEU!

O espelho reflete não só a nossa aparência, mas também a nossa história, as nossas conquistas e os desafios que já superámos. Os medos que vencemos. Cada marca, cada linha, cada ruga conta um capítulo da nossa vida, e é isso que nos torna únicos e especiais.

Orgulha-te de ti! Sempre.

Celebra as tuas vitórias, por menores que sejam, e aprende com as batalhas que travaste. Ri dos teus erros. Chora as tuas alegrias. Cai. Levanta.

A verdadeira beleza está na aceitação e na valorização da tua autenticidade. Do que, verdadeiramente, és.

Para o mundo, poderás ser apenas mais uma pessoa, e és.

Mas para ti mesma, para ti serás sempre uma obra-prima em constante evolução. A mais bonita de todas.

Lembra-te: o reflexo no espelho é só uma parte da tua identidade. Uma parte do que és. O que importa de verdade é o que está dentro de ti – a força, a paixão, o carinho, a amizade, o amor, a coragem e a luz que só tu podes dar e iluminar a quem contigo se cruza!
Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso [Tojal - Pereira]
Localizada no Tojal, na vila de Pereira, passou de cruzeiro a capela em data incerta, pelo que os moradores colocaram a escultura de Nossa Senhora do Bom Sucesso e passou a ser alvo de devoção dos fiéis. A data que se encontra numa lápide (1147) não nos permite saber se será do cruzeiro ou da capela.

Inicialmente, encontrava-se neste local um oratório onde só cabia a imagem do Santo Cristo, com a frente sempre aberta, para veneração dos fiéis. Era todo de pedra, em forma de nicho, com degraus.

Como o oratório se encontrava em ruína, a população mandou construir uma pequena capela fechada para albergar a dita imagem. Foi assim construído um pequeno edifício, quadrado, com alpendre exterior. Posteriormente, colocaram também nesta capela a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, passando a ser esta a sua invocação. 

Fonte:


Crónicas de Viagem

A VERDADE e a MENTIRA de MUITOS AUTARCAS

Um dia, conseguiremos entender a verdade sobre o comportamento de uma elevada percentagem de pessoas com cargos de poder: desde as juntas de freguesia às presidências de república.

Instaurou-se, em Portugal uma estranha (ou não) mania de dois sentidos: o povo que venera estranhamente um autarca e um autarca que olha arrogantemente para o povo. Quando esta situação for anulada, seremos um país civilizado e sério!

Nos países civilizados, é o estado que presta contas: na Suécia, por exemplo, o estado é que envia um documento anual aos cidadãos, a explicar como usa o seu dinheiro.

Em Portugal, temos de preencher um documento sobre o dinheiro que ganhámos nesse ano, sobre os descontos e…ficamos sem saber o que lhe fizeram. Em Portugal, parece haver uma “lei esotérica” que confere a um mero cidadão a divina capacidade de saber tudo, mal entra pela porta de uma junta de freguesia ou de uma câmara municipal, como autarca. Passa a dominar tudo e mais alguma coisa, todos passam a ter a obrigação de o bajular, de lhe lamber as botas, como se tivesse adquirido dons divinos quando, muitas vezes, todos sabemos, nem a sua casa conseguiu governar até aí.

Esses/essas cidadãos/cidadãs é que terão de nos respeitar e tratar de acordo com o grau de exigência que lhes “colocámos às costas” quando os elegemos. Quem pensam eles/elas que são?!... “Cá fora” há pedreiros, há médicos e professores, carpinteiros e enfermeiros, canalizadores e engenheiros, economistas e empregados fabris que desempenham a sua profissão com honra e mérito há dezenas de anos. Eles/elas, quem pensam que são?!... Quem pensam que são, não me importa! Trato-os com educação, como tenho de fazer com toda a gente. Medo deles…isso é o que mais faltava!

Tenho mais do que idade para não ter medo! São eles que têm de me cumprimentar com todo o respeito e estar atento ao que eu possa pensar deles, pois foram eleitos para desempenhar uma função que não se aprende especificamente nas escolas, aprende-se em todo o lado, sobretudo na e com a vida.

Essa prepotência advém do princípio camuflado da incompetência, da arrogância e da mentira. Ou então, vejamos: - “Estou aqui na vossa aldeia, têm de fazer de mim um deus, estou inchado que nem um sapo. Se se portarem bem, faço-vos a vontade de mandar pintar o muro do cemitério! Caso contrário…na aldeia ao lado, lambem-me o cu!”

Honestidade e competência, pois claro!

E, cidadania da melhor!

Vamos lá meter as coisas no seu lugar! Respeito, educação e nada de subserviência!

Ah…e competência, sobretudo! Obviamente, com todo o respeito pelos bons autarcas, que também os haverá!

António Girão

Montemor-o-Velho - 150.º aniversário da Paróquia de Santa Maria d’Alcáçova e S. Martinho 

Igreja de Santa Maria d’Alcáçova no Castelo.

A atual Paróquia Montemor-o-Velho assinalou o 150.º aniversário da sua criação. Por decreto de 30 de Julho de 1874, o então bispo de Coimbra, Dom Manuel Correia de Bastos Pina, unificou as Paróquias de Santa Maria de Alcáçova e São Martinho, constituindo apenas uma paróquia, com a designação de Santa Maria d’Alcáçova e S. Martinho.

Igreja de S. Martinho

Até finais do terceiro quartel do séc. XIX, no foro canónico e, paralelamente, no civil, em diferentes períodos, a vila de Montemor-o-Velho teve cinco paróquias: Santa Maria d’Alcáçova, S. Martinho, São Salvador, São Miguel e Santa Maria Madalena. No séc. XVII, contou ainda com a paróquia de São João do Castelo. Até ao terceiro quartel do séc. XIX sobreviveram, independentes, as paróquias de Santa Maria d’Alcáçova e S. Martinho, embora pastoreadas pelo mesmo presbítero de 1861 a março de 1901.

Frontaria da igreja de S. Martinho com lápide

Dom Frei Álvaro de São Boaventura, 48.º Bispo de Coimbra e 13.º conde de Arganil (1672.08.16-1683.01.19), deslocou-se a Roma, em 1675, numa visita ad sacra Ad limina, naquela veneranda prática que, de cinco em cinco anos, os Bispos residenciais devem efetuar ao Papa, dando-lhe conta da respetiva diocese na perspetiva pastoral, também mediante pormenorizados elementos descritivos.

Lápide

No âmbito do documento apresentado ao Papa Clemente X (Clemens Decimus), inserto no processo “Relationes Ad Limina, 1675”, depositado na Sagrada Congregação do Concílio, no Vaticano, o ordinário diocesano informa que “a paróquia de Santa Maria d’Alcáçova, reitoria de Nossa Senhora da Assunção, é colegiada, sendo reitor Francisco da Silva de Carvalho. O rendimento anual cifrava cento e oitenta cruzados. Tinha sete padres beneficiários e uma população de trezentas pessoas de comunhão e trinta e três de confissão; São Salvador rendia seiscentos cruzados e constava de cento e setenta e uma pessoas de comunhão e dezassete de confissão, e dois sacerdotes; Santa Maria Madalena contava cem cruzados, dois sacerdotes e duzentas e oitenta pessoas de comunhão e vinte e nove de confissão; São João somava duzentos e setenta e cinco cruzados e dezasseis paroquianos; São Miguel recebia duzentos e cinquenta cruzados, cento e noventa e quatro pessoas de comunhão e trinta e nove de confissão; São Martinho dava mil e quinhentos cruzados, tinha treze sacerdotes, mil e trinta e sete pessoas de comunhão e cento e quarenta e cinco de confissão.”

Bispo Dom Frei Álvaro de São Boaventura

Perante as assimetrias desta natureza, que se mantiveram até ao terceiro quartel do séc. XIX, e após a extinção das paróquias de São João do Castelo, em data não apurada e, provavelmente, anexada a Santa Maria de Alcáçova; de São Salvador, em 1841, anexada a S. Martinho; e de Santa Maria Madalena e São Miguel, em 1859, anexadas a Santa Maria d’Alcáçova, Dom Manuel Correia de Bastos Pina, 57.º Bispo de Coimbra e 22.º Conde de Arganil (1872.05.19-1913.11.19), por decreto de 30 de Julho de 1874, criou uma só paróquia para Montemor-o-Velho, aglutinando a de Santa Maria d’Alcáçova, a principal, e a de S. Martinho, a maior do arrabalde, facto atestado na lápide colocada, para tal, na frontaria da igreja de S. Martinho.

Na sua obra “Comemoração dos Novecentos Anos da Igreja de Santa Maria da Alcáçova”, editada em 1995, o Padre Dr. José dos Reis Coutinho refere que “(...) Ambas (as igrejas) têm igual personalidade canónica desde aquele decreto. Na função paroquial e na prestação de serviços pastorais à comunidade nenhuma diferença as separa porque formam um só unificado, que nem o decreto de classificação como monumento nacional - de 16 de Junho de 1911 - pode alterar, porque acima está a Concordata celebrada com o Estado português em 7 de Maio de 1940 (substituída em 2004) e as estipulações acerca do serviço pastoral”.

Dom Manuel Correia de Bastos Pina

E acrescenta no seu livro: "1874, Julho, 30, Montemor - Em cumprimento do decreto do Bispo-Conde, Dom Manuel Correia de Bastos Pina, é executada esta determinação com a colocação de uma lápide de mármore na frontaria da igreja de São Martinho, dizendo que constitui uma só paróquia com a igreja de Santa Maria d’Alcáçova”.

Na data do decreto do Bispo-conde, as duas paróquias aglutinadas já eram acompanhadas pastoralmente pelo presbítero Augusto Pereira Cardote, com o epíteto de reitor, em Alcáçova, e prior em S. Martinho. Este pároco iniciou o seu múnus em 1851 na paróquia de Alcáçova, acumulando S. Martinho a partir de 1861, e continuando nesta nova paróquia de Santa Maria d’Alcáçova e S. Martinho, de 1875 até 1901, exercendo o seu múnus, em terras de Montemor, durante quase 50 anos. O Padre Augusto Pereira Cardote é natural da paróquia do Botão (Coimbra), onde foi batizado a 19 de outubro de 1827 (nascera a 12.10.1827), falecendo com 73 anos de idade, a 5 de Abril de 1901, em Montemor-o-Velho, onde jaz sepultado. 

Registo batismo de Augusto Pereira Cardote

A dupla titularidade no nome da paróquia - Santa Maria d’Alcáçova e S. Martinho - ponderada e decretada por Dom Manuel Correia de Bastos Pina uniu a comunidade paroquial de Montemor-o-Velho e consolidou, ainda mais, a identidade e o simbolismo da instituição, enfatizando a devoção aos padroeiros.

Registo óbito do Padre Augusto Pereira Cardote

A história da paróquia é repleta de momentos de união comunitária, celebrações festivas e um compromisso inabalável com os ensinamentos de Cristo. Não se realizam festejos de destaque em honra de qualquer dos padroeiros, mas a realização de outros momentos litúrgicos realça uma expressão vibrante da cultura local, demonstrando a contínua vivacidade do espírito religioso e comunitário.

Atualmente, a Paróquia não só serve como um centro de fé e esperança para os fiéis, mas também como um testemunho da linhagem espiritual da comunidade paroquial, perpetuando a devoção a Santa Maria d’Alcáçova e S. Martinho e mantendo viva a história de uma sociedade que construiu a sua identidade espiritual entrelaçada com os valores do cristianismo.

Nesta data jubilar dos 150 anos da paróquia de Montemor-o-Velho, que culminou no dia 30 de julho, não houve qualquer manifestação celebrativa do douto decreto - definição pastoral e jurídica - do ordinário do lugar, cujo objeto e objetivo que foram construídos em diálogo com o pároco e forças vivas das comunidades que ora foram aglutinadas para unidas numa só, sob a proteção dos primitivos e tradicionais patronos, percorrerem o caminho da fé em Cristo. Embora fora do ‘ano jubilar’ tal falha ainda poderá ser remediada e (porque não?) receber o atual bispo diocesano a presidir a um ato comemorativo de tal sumptuosa efeméride e até lembrar o trabalho meritório dos párocos que, durante 150 anos, pastorearam esta comunidade, com realce para o padre Augusto Cardote. É importante celebrar as “coisas boas” porque as ruins nem sempre são esquecidas.


Aldo Aveiro, texto escrito originariamente em 2004, reproduzido em 2020, retificado em 2024.


 

FIGUEIRA DA FOZ - O CATITINHA

Um velho enorme, de barbas, sempre vestido de preto, sempre rodeado de crianças, de apito na boca, a mandar parar o trânsito, uma personagem estranha aos olhos de hoje, assim era o Catitinha.

No Verão dos anos 40 passeava pelos areais de várias praias, de Norte a Sul, de Vila Praia de Âncora até à Figueira da Foz, “uma espécie de Deus, que estava em toda a parte”.

Não estava muito tempo no mesmo sítio, porque de repente, sem que nada o fizesse prever, anunciava a partida, e lá ia, sempre de comboio.

Aperaltado, de gravata, de bengala de castão de prata, cabelo crescido e espesso, todo branco, assim era o Catitinha.

Muito fotogénico, parecia um Pai Natal, tez queimada pelo sol, com o seu longo apito de metal, que tocava para controlo do trânsito e para anunciar a sua presença.

O Catitinha parecia imponente, mas dos seus olhos irradiava só bondade, motivo pelo qual as crianças corriam para ele, sem qualquer receio, assim que aparecia.

As famílias convidavam-no para comer e dormir, porque era pessoa educada e de bons costumes, mas o seu terreno preferido eram as praias, onde multidões de crianças o seguiam em algazarra feliz, sempre apitando, só parando para a fotografia da praxe.

Mas ouviam-se histórias estranhas sobre o Catitinha!

Que tinha enlouquecido quando a sua filha única morrera atropelada, e que era por isso que trazia sempre o apito no bolso, o qual apitava freneticamente de cada vez que atravessava a rua com as crianças ao lado, para que todos os carros parassem e não houvesse perigo.

Mas quem era, afinal, o Catitinha?

De seu nome próprio António Joaquim Ferreira, o Catitinha nasceu na freguesia de S. Tiago, no concelho de Torres Novas, em 23 de outubro de 1880, e faleceu em Avanca, no concelho de Estarreja, onde foi sepultado em 9 de abril de 1969.

“Formou-se em Direito e exerceu a profissão de Notário até ao dia em que morreu a sua única filha”.

“Das suas palavras, serenas e bem medidas, saíam conceitos cheios de filosofia, que eu não entendia, mas que os sentia nos rostos extasiados de gafanhões iletrados e pouco viajados. Era o Catitinha, que os fotógrafos da região gostavam de registar para a posteridade”.

“E quando nos falava, como qualquer avô extremoso e sábio, mostrava-nos fotografias das localidades por onde passara, viajando sempre de comboio. Dizia-se, então, que tinha livre-trânsito para poder andar de terra em terra.”

Dizem outros que o Catitinha “nunca se formou em Direito ou coisa parecida. Quando muito, teria o equivalente à época da instrução primária. Notário não foi, mas sim padeiro entre outras profissões diversas (até cavaleiro tauromáquico)”.

“É verdade que a sua única filha morreu. Mas de velha, com cerca de 100 anos, no Lar da Misericórdia da Golegã. Tanto ela como a sua mãe, esposa do Catitinha, viveram quase toda a vida em Riachos, terra onde se fixou quando se casou, que fica a 4 km de Meia Via, praticamente abandonadas pelo António Ferreira que, contava-se, até lhes terá deixado um pezito de meia quando morreu”.

“Muitas das coisas que se contavam acerca dele nunca passaram de mitos, que possivelmente até o próprio terá alimentado, a fim de manter aquela áurea de mistério que havia em redor da sua pessoa, o que lhe permitiria manter aquele modo de vida.»

Eis a história do Catitinha, um homem misterioso de que poucos se lembrarão.

E assim, sem darmos conta, já passaram cinquenta anos …
Muita experiência vivida, muito sonho realizado
mesmo em tempos menos bons, com crises ou desenganos,
tudo foi sempre possível e por todos superado.
Quando em nós há o sonho e uma enorme vontade
tudo se torna possível, tudo se pode fazer.
A nossa eterna união é o segredo dessa capacidade
de dar a volta por cima e continuar a vencer.
A história do CITEC tem o sabor de uma incrível aventura
Sonhada maduramente na juventude dos que aqui estão.
Só assim fomos capazes, em tempos de ditadura,
De lutarmos determinados, conseguindo dizer não.
Recordamos quem já partiu e sem esquecermos ninguém,
ergueremos sempre a nossa voz em torno dos ideais,
reconhecendo o valor e orgulhando-nos de quem
soube estar sempre de pé, fazendo por ser iguais
À força que, por dentro, nos anima constantemente.
Queremos continuar o caminho então começado,
ter essa garra de sempre, realizando no presente
Projetos e ideais com um espírito renovado.

Só falta uma palavrinha e, tal como eu supunha,
Sem querer esquecer ninguém, nem dizer coisas à toa
Vou mesmo agradecer ao nosso Carlitos Cunha,
dizendo um muito obrigado ao Deolindo Pessoa.

UMA VIDA...

 

O tempo não pára,

aprende-se a viver, vivendo.

Cada momento da vida é um desafio constante,

sejam eles bons ou menos bons.

É preciso saber ouvir o coração

É viver intensamente

É sorrir perante as adversidades da vida

É chorar de alegria ao sentir que viver cada segundo de todos os dias é um privilégio!

É olhar com atenção ao redor e ser grata(o) por tudo!

É sentir que cada vida é única e é muito para ser insignificante!

HÁ EM NÓS…

Há em nós…

Uma centelha de luz,

Uma sede de infinito,

A procura da felicidade,

A procura de um caminho,

A procura de um amor…

Que não nos deixe sozinho!

Que apazigue nossa alma,

Que segura a nossa mão,

Que nos fale de magia…

E nos preencha de emoção. 

Que caminhe ao nossos lado,

Que nos faça bem felizes…

Que seja a sombra da árvore,

Que prende as nossas raízes!

Há em nós…

O fluir de um rio calmo,

A paz que nós almejamos.

Acordes de uma sonata…

Onde todos nos perdemos,

E onde nos reencontramos!

Um anoitecer de prata,

Uma lua à nossa espera,

A vida que nos escapa…

Quando morre a primavera!

Uma cascata de flores,

Que nos perfume a alma…

Que se prenda e fique em nós,

Como as folhas de uma hera!

Há em nós…

Um alvorecer de esperança,

Um sonho em cada manhã,

Um sorriso de criança…

Um aroma a maçã verde,

O perfume do limão…

Alguém que é o sol da vida!

Alguém que é como um irmão…

Que fale com as lembranças,

Que temos no coração!...

Há em nós…

A fragilidade do tempo,

Que se esvai num fio de água

Que devagar vai escorrendo…

Uma… lonjura tão perto,

Que se toque com a mão…

Um riso contagiante…

Que é levado pelo vento

E se una a algum coração!

Todo um mar de sentimentos,

Que se apoderam de nós

Que limpem a escuridão

Que eu nunca suportarei…

Porque procuro as estrelas…

Dentro do meu coração!...

Ao longo da manhã,
a criança repetia:
- Eu quero ver o mar
E a Mãe sorria e via
o mar no seu olhar…

Ao longo da tarde
a criança repetia:
-Eu quero ver o mar
Os montes ondulavam e brilhavam
Em verde de encantar

Já o soninho chamando…
a criança repetia
-Eu quero ver o mar
E o sol desfez-se em bronze
Para a criança acalmar
E a tarde fez-se mágica
As flores rendilharam
Uma canção de embalar

Mas… eu…quero… ver… o… mar…

MÚSICA 

Centro Cultural de Belém, Lisboa (2007)


LIVRO

Este romance reproduz a mundividência das terras nortenhas e aproxima o texto ficcional da realidade narrada, numa Beira rural e analfabeta ancorada numa sociedade patriarcal. Misturando erudição com a linguagem popular, Aquilino capta esse ambiente arreigado na religiosidade e na crendice e revela o instinto camponês com todas as superstições e todos os subterfúgios associados à obsessão de propriedade.

BARCAÇA_59

  Barcaça_59 mais uma vez deixa o seu porto de abrigo para se aventurar pelo serpentear até à foz. Numa analise que se repete a cada quatr...