
Boa noite, a Barcaça larga amarras para navegar ao
longo deste rio que na sua mansidão não nos traduz a preocupação das populações
dos concelhos de Montemor-o-velho e da Figueira da Foz.
Mas antes dar uma panorâmica do mundo que nos rodeia e
que aqui bem perto e em direto assistimos a duas guerras que tanto nos tem
afetado. Pelo menos fazem-nos crer que assim é.
Se os grandes oportunistas da subida de preços são as grandes
multinacionais da distribuição, podemos também culpar o Governo que todos os
anos beneficia e isenta as mesmas com truques de malvadez, onde ex. ministros
depois prestam assessoria com mordomias chorudas. Ao revés o português
contribuinte alimenta uma máquina pesadíssima ano após ano e verifica que nas
questões básicas do bem comum, educação, saúde, justiça, transportes...
caminhamos para o colapso total.
Mas um mal não vem só, o País atravessa um dos piores
momentos da sua história em que a corrupção se instalou na “família” política e
esse polvo está a dar cabo do nosso País.
Vivemos com bolhas de oxigénio de festas e festarolas
e assim vai o trabalho desenvolvido pelo Governo, Autarquias e Freguesias.
Olhando para Educação falta de professores, no SNS falta de médicos, na justiça
falta de meios e um controlo nunca visto deste último. Nomeações de cor
política para ajudar em processos que se arrastam durante décadas e
recentemente já com o Governo retirado mais nomeações “à lá carte”. Vamos assistindo
a ajustes diretos de última hora beneficiando sempre os mesmos e vêm aí as
nomeações na administração pública. Outros fazem as malas para privada
possivelmente com ligações ministérios que tutelaram.
O “zé” que para matar a fome rapinou uma lata de
salsichas é o grande ladrão do nosso País, quando do outro lado “donos disto
tudo” afundam a economia, roubando por dentro dos Bancos e que alguns foram
montados com essa intenção caso do BPN/BES.
Por isso a Barcaça na sua 38 edição mantem-se firme
nas suas crónicas que de uma forma ou de outra tenta levar até si o que de
melhor podemos oferecer na monumentalidade porque é a nossa história e raízes,
na divulgação de acontecimentos históricos seja no Concelho da Figueira como de
Montemor-o-velho e com um toque de poesia que nos alimenta a alma.
Mas nunca esquecendo o ponto de vista dos nossos
colaboradores seja do PCP como do PS e esporadicamente do BE. Já o convite
efetuado ao PSD tem caído em saco roto. A Barcaça desejava que todos tivessem voz,
mas até agora não nos foi possível.
Deixamos sempre na parte final algumas dicas e
homenagem a gente boa, nesta não fugimos à regra, a partida de uma cantora
talentosa que precocemente nos deixou, Sara Tavares e na
pintura também já desaparecido Júlio Martins Resende da Silva Dias o nortenho do Porto que nos deixou
em 2011 com uma extensa obra.
Morreu Henry Kissinger, controverso e influente ex-chefe da diplomacia dos Estados Unidos
Ex-secretário de Estado norte-americano, elogiado pelo descongelamento do diálogo diplomático com Pequim e Moscovo, e condenado pelo apoio a ditaduras e golpes militares, morreu aos 100 anos.
Desejo a todos os nossos leitores
um mês cheio de momentos únicos de paz e saúde...Boas Leituras
Orçamento de Estado - Guerra – Inflação – Pobreza –
Corrupção
Ontem verificamos como esperado a aprovação por parte
da maioria (demissionária) do PS do Orçamento de Estado (OE) com os votos contra
de quase todos os partidos da oposição se não fossem os dois deputados (1) do
PAN e (1) do LIVRE que se abstiveram-se.
Assembleia da República (AR) teve um misto de sério,
de ovação e muitas críticas porque o PS colocou-se a jeito neste último ano com
tantos casos e casinhos que a meu ver caiu por dentro pela podridão da
corrupção. Mas com o aproximar das eleições e já que estamos na quadra natalícia
os partidos preparam os rebuçados para adocicar e cativar o eleitorado.
Mas ficamos a saber que a idade de reforma subiu como
a penalização dos que desejam reformar-se mais cedo. Diria será que estamos com
melhor esperança de vida? Mas é aqui que não se deslumbra o entendimento com os
sindicatos dos médicos e o povo esse vê uma das grandes batalhas do 25 Abril
quando vamos cumprir 50 anos a degradar-se dia após dias com listas de espera intermináveis,
falta de médicos de família para mais de 2.000.000 de portugueses. Não obstante
uma das maiores cargas fiscais da Europa e fica a pergunta para onde vão os
nossos descontos?
Mas como sempre os orçamentos são aprovados, mas não
são cumpridos e claro uma ficção sobre onde se gasta os dinheiros públicos a
título de exemplo milhões para hospitais de animais, não tenho nada contra, se
os hospitais (em crise) para humanos estivesse a funcionar normalmente o que
não acontece. Depois mais uns milhões para aprendizagem do Mirandês quando o
ensino publico atravessa uma das maiores crises e por aí fora até ao aplauso da
bancada do PS com maioria e por isso a sua aprovação.
GUERRA - Não muito longe daqui vamos assistindo em
tempo real duas guerras que nos afligem e nos afetam directamente porque os
oportunistas estão sempre atentos para a subida dos preços dos bens essenciais,
senão vejamos dois exemplos:
1. Azeite
- a maior subida nos últimos anos sendo azeite do ano anterior, mas que se
reflete em 2023 com subidas de 100%.
2. Combustíveis
em que o barril de brent desce e os preços sobem e como todos podemos verificar
a subida de 10 e descida de 2. Poderia dar muitos mais exemplos como o pão,
cereais, peixe, verduras e a lista não termina...e vem aí novamente o pagamento
do iva que estava isento e só beneficiou as grandes superfícies porque o comum
dos portugueses nem deu por isso.
Inflação -
No comunicado do Banco de Portugal (BdP) A economia portuguesa cresce 2,1% em
2023. Após o dinamismo do início do ano, a atividade estagnou no segundo e
terceiro trimestres e deverá manter um crescimento baixo até ao final do ano. O
abrandamento económico reflete o menor dinamismo nos principais parceiros
comerciais, os efeitos da inflação e a maior restritividade da política
monetária. Para 2024 e 2025, projetam-se crescimentos de 1,5% e 2,1%. A
economia portuguesa continuará a apresentar um crescimento baseado no
investimento e nas exportações, convergindo com a área do euro.
A inflação diminuiu nos últimos meses. A tendência
descendente irá manter-se, com o índice harmonizado de preços no consumidor
(IHPC) a crescer 5,4% em 2023, 3,6% em 2024 e 2,1% em 2025, um valor
consistente com o objetivo de estabilidade de preços do Banco Central Europeu
(BCE).
Mas na bolsa dos portugueses com a carga fiscal uma
das maiores da Zona Euro (ZE) as dificuldades são mais que muitas e o aumento
de desalojados, devido à dificuldade de pagarem as prestações dos seus
empréstimos, o desemprego cavalgante com a entrada de milhares de emigrantes
sem regra e a trabalharem para redes e a preços muito baixos colocam o nosso
país sem rei nem roque e a contestação social aumenta. Ajudando os partidos
extremistas e racistas a terem um aumento substancial do seu eleitorado e todos
sabemos como aparecem as ditaduras.
Pobreza -
A pobreza sempre existiu estava escondida, talvez por vergonha, hoje basta sair
de casa e verificar pelas ruas quantos dormem nos bancos, nas entradas dos
estabelecimentos ou nas gares de comboios e de autocarros.
O Banco Alimentar está a arrebentar pelas costuras sem
mãos a medir e sendo os portugueses muito solidários.
Portugal está em cima de um barril de pólvora iremos
ver quem acende o rastinho e o Povo irá para rua na fase que não aguentar mais.
Corrupção -
O Estado está podre, a corrupção alastrou-se de tal forma que diria se a
Polícia Judiciária e as restantes entidades tivessem mais meios, não seria só o
Governo ministerial, autarquias, instituições públicas, IPSS, ... teríamos de
ativar Prisão de Alcatraz.
(...)
Capela de Nossa Senhora do Pranto [Pereira]

Localizada na
vila de Pereira, a edificação desta capela surge na sequência de uma doação
testamentária realizada, em 1674, pelo licenciado Manuel Soares de Oliveira,
natural daquela vila, para substituição de uma outra que se encontrava em
ruínas desde o século XVI devido às enchentes do rio Mondego. Este exerceu os
cargos de assessor e auditor geral do governador e capitão geral em Manila
(Filipinas). No testamento mandava que se comprassem 3 aguilhadas de terra na
costa do monte fronteiro à velha ermida de Nossa Senhora do Pranto que se
encontrava arruinada e que se construísse nesse terreno, que ficava ao pé da
estrada, uma capela para onde fosse transferida a imagem de Nossa Senhora do
Pranto. Mandava ainda que se instituísse nesta capela uma colegiada com seis
capelães e que se dissesse missa todos os sábados. Esta colegiada existiu até
1849, data em que morreu o seu último capelão. A dotação era grande e, por
isso, a sua fábrica era rica: paramentos de veludo; castiçais; e lâmpadas de
prata que estariam sempre acesas, para o que havia 400$000 réis anuais. Toda
esta opulência foi desaparecendo com o passar dos anos.
A primitiva
capela, localizava-se a norte da atual, tendo passado para a posse da Santa
Casa da Misericórdia de Pereira em data incerta.
Edifício
orientado no sentido nascente-poente, com frontaria principal a poente. Possui
alpendre de colunas que antecede a porta principal, com abóbada de tijolo,
curva. Na parte sul, rasga-se uma porta travessa que dá acesso à rua pública.
Na parede nascente do lado exterior, observam-se restos de duas cruzes de
azulejos azuis, setecentistas, provavelmente pertencentes a um conjunto da Via
Sacra. Sobre o alpendre frontal, rasga-se uma janela e no fecho situa-se o
campanário com a respetiva sineta. A sacristia localiza-se a norte da
capela-mor. Construção forte em alvenaria, apoiada em contrafortes e muro de
suporte a norte e nascente. Iluminação natural do corpo e capela-mor através de
várias janelas e postigos. Telhado de duas águas com telha de cano, pináculos
nas extremidades e nas empenas das paredes com cruzes apontadas.
De planta retangular,
apresenta uma só nave, arco cruzeiro, corpo, capela-mor e coro. Na capela-mor
encontra-se um retábulo maneirista, com a Virgem entronizada. A imagem de Nossa
Senhora do Pranto é uma escultura de calcário, do século XV, atribuída ao
Mestre João Afonso, proveniente da capela arruinada. No corpo da capela, junto
ao arco cruzeiro, do lado norte, emerge o nicho com a escultura maneirista
processional da Senhora do Pranto. No coro, encontra-se o púlpito de pedra,
apoiado em duas consolas.
Possui ainda alpendre
de colunas que antecede a porta principal, com abóbada de tijolo. Na parede
nascente, do lado exterior, ainda se observam restos de duas cruzes de azulejos
azuis, setecentistas, provavelmente pertencentes a um conjunto da Via Sacra. Sobre
o alpendre frontal, rasga-se uma janela e no fecho situa-se o campanário com a
respetiva sineta.
Mário Silva
[rugas que contam histórias ]
E ali fiquei, perdida em pensamentos, enquanto
contemplava aquela cena tão simples quanto singela e encantadora.
Sentado no banco, lá estava aquele "velho"
de semblante sereno, a dedicar o seu tempo a algo tão simples, mas cheio de
significado.
A quietude que envolvia o ambiente era interrompida
apenas pelo suave som das asas daqueles pombos, que, confiantes, se aproximavam
daquele homem. Com mãos sábias e cuidadosas, ele despejava pequenos punhados de
“alimento”, como se fossem diamantes aos seus olhos. Os pombos, com os seus
movimentos graciosos, aproximavam-se aos poucos como se já tivessem acostumados
à sua presença acolhedora.
Na sua expressão, cheia de rugas e histórias, era
possível ver a paz que emanava da sua alma. A sabedoria e a paciência
acompanhavam-no, tornando-o um verdadeiro guardião daquele pequeno pedaço de
natureza e daqueles animais. Era como se aquele momento fosse um pequeno
“escape” para ele, uma forma de encontrar equilíbrio no meio da “agitação” da
sua vida.
Enquanto o mundo ao redor seguia o seu ritmo
frenético, ali, naquele banco, o tempo parecia desacelerar. Era um convite à
contemplação, uma lembrança de que a simplicidade pode ser tão poderosa e
enriquecedora quanto os momentos podem ser grandiosos.
Aquela “cena” não era mais que uma tentativa de
mostrar que nós, seres humanos, tão imersos em todos os nossos afazeres e
preocupações, podemos encontrar conforto nas coisas mais simples da vida. O
acto de alimentar os pombos transformava-se, aos meus olhos, ali parada em
silêncio e contemplação, num gesto de harmonia e conexão, num elo entre a alma
daquele homem e toda a natureza ao seu redor.
Um exemplo de reverência e respeito pela vida em todas
as suas formas mais humildes. O respeito pelos pombos, tão comuns e muitas
vezes negligenciados, demonstrava a empatia e o cuidado que aquele
"velho" nutria por cada criatura que se aproximava de si e, ali,
permanecia sem medos.
E, eu, discretamente, ali fiquei, observando e
absorvendo aquela lição silenciosa, a dádiva daquele encontro matinal. Aquele
momento simples tornou-se, para mim, uma recordação de que a beleza pode ser
encontrada em qualquer canto, mesmo nos lugares mais improváveis, como um banco
de uma praça qualquer.
A sabedoria emana de onde menos esperamos, e momentos de paz e reflexão podem estar presentes até mesmo num simples banco!
LÁPIS de CARVÃO – do nascimento à morte
Um lápis de carvão e uma folha branca. Nada mais necessitamos perceber a vida. Um risco aqui, uma letra acolá, o esboço de frases mal pensadas, compostas por palavras, muitas vezes sem significado.
Esta é a vida, quando a vida avança. Perdemos dicionários, esquecemos livros, vamos escrevendo com mão trémula, numa mesa que foi sólida e, agora, é de madeira de árvores que deram fruto. A vida nunca será um risco! É, tão só e apenas, a escrita do que aproveitámos na escola que é ela própria: vida e escola e escola e vida. A vida é ambivalente, enquanto nos ensina para viver é escola e, enquanto aproveita os ensinamentos da escola é vida.
Chegados à idade da sujeição à vida, da sujeição a quem nos preste amparo de vida, percebemos que vivemos já muito, mas não o suficiente para ter percebido e sabido tudo o que nos ensinaram e que deveríamos ter aprendido. Deparamos com gerações que abandonaram o lápis, a caneta e a borracha, para utilizar o computador, essa coisa que não sabemos muito bem o que é, mas que as novas gerações entendem como o máximo expoente do saber, quando serão o máximo exemplo do esconder.
Gerações que não utilizam papel, que não utilizam lápis, nem borracha, nem esferográfica, nunca saberão o que é viver no limiar do rasgar, na destreza do escrever e apagar, quando está errado e de escrever com firmeza e para durar, quando está certo.
Repórter Mabor. (1940)
A realidade dos poetas e o conceito da
eternidade.
Já consultei uma
vidente em Montemor para saber o que de boa verdade também não sabia o motivo
social que me acompanha desde sempre como se fosse um filme da minha meninice e
juventude num estado rural que já não existe, mostrando na Casa do Sal, os hábitos
e uma cultura popular que nos motiva na humildade de sermos agora na sua índole
o que fomos e de onde viemos, apesar de uma longa caminhada por onde aprendi o
que foi possível.
Já consultei uma
vidente em Montemor para saber a minha sina, confirmando na minha visita o que
pensava, a vidente nos seus palpites não sabia nada a meu respeito no passado e
no presente pagando pelo trabalho enganador, sobre o condicionalismo das
minhas origens, oriundas e para lá do por do sol.
Foi possível,
mas nunca esqueci o que não deve ser esquecido, as origens e a ordem porque existimos.
Era ainda rapaz. no Casal Novo do Rio, a Mãe e o Pai, os
irmãos, todos trabalhavam as terras de sol a sol, mas o rapaz que fui
não tinha condições físicas para suportar o calor e o frio pelos campos, seria
mais indicado aprender um ofício em Montemor. Barbeiro, sapateiro, nas várias
mercearias, no Sr, Tobias, o latoeiro, ao lado do posto da G.N.R, por onde os
cidadãos desobedientes, eram empurrados para o miserável calabouço.
As crianças corriam para ver o espaço,
desde que a porta estivesse aberta, enquanto o meu destino profissional, como
barbeiro, ficou vinculado até aos vinte anos de idade. Por este pormenor se
percebe que a minha escolaridade se formou na faculdade da barbearia do meu
padrinho Júlio Medina, o montemorense que me marcou até aos dias de hoje pela
sua educação, que resulta desta verdade social?
Fui obrigado a correr atrás do que me
faltava o caminho do autodidatismo, não tive outra escola em tocar as músicas
da vida sem saber o solfejo, por isso mesmo tenho, como dizia um amigo deste
tempo. Sempre tiveste a mania de gostar dos poetas já na Rádio Maiorca, quando
eu me preparava para dizer um poema, tu como realizador do programa, numa
estranha antecipação, lá foi o poema para o éter com a tua voz. Resumindo, os
poetas são pensadores maravilhosos, escrevem as palavras que eu não sei
escrever, pois não, mas sinto-as como minhas fossem, procurando viver tanto
quanto possível com a realidade e os sentimentos das suas poesias, não os
traindo pelo respeito que lhe tenho, eruditos ou populares, ensinam-me a estar
de bem comigo e com os que me rodeiam.
FRANCISCO MARIA PEREIRA DA SILVA (1813-1891) – UM ILUSTRE FIGUEIRENSE
Francisco Maria Pereira da Silva nasceu em Lisboa, em Belém, na rua do Bom Sucesso, em 16 de março de 1814, filho de Manuel Pereira da Silva e de Gertrudes Magna da Conceição.
Celebrizou-se no campo da hidrografia, especialmente no desassoreamento da barra do rio Mondego e do porto da Figueira da Foz, e como um dos autores do mais antigo plano hidrográfico do séc. XIX conhecido na Europa, o da Barra e Porto de Lisboa, datado de 1842.
Foi Francisco Maria Pereira da Silva que em 1854 salvou da destruição total o Castelo de Redondos, em Buarcos, atualmente somente com torreão em cunhal, mas que serviu durante muito tempo de referência à navegação e aos trabalhos de geodesia e topografia.
À época o engenheiro Silva foi o grande impulsionador da dinamização da Figueira, onde construiu o Farol Velho de 1855 a 1858 e fundou em 1861 a Companhia Edificadora Figueirense que projetou e construiu o Bairro Novo (de Santa Catarina) a partir de 1869.
Foi na Esplanada que o engenheiro Silva adquiriu um terreno em 1860, onde construiu um único prédio, de rés-do-chão, com uma torre circular, a Noroeste, que fazia lembrar o antigo farol do Cabo Mondego.
Foi este primeiro edifício da Esplanada que veio a originar o fantástico conjunto arquitetónico constituído pelo Castelo Eng.º Silva, a antiga Casa do Turismo e a Casa das Conchas onde viveu o seu filho António Artur Baldaque da Silva.
Em março de 1825, com 11 anos, Pereira da Silva frequentou a Aula de Latim do Real Mosteiro de Santa Maria de Belém (Mosteiro dos Jerónimos), do Instituto de S. Jerónimo, onde, com brilhantismo, concluiu os estudos em agosto de 1827.
Frequentou depois os 3 anos do curso da Academia Real de Marinha, instituição do ensino superior criada pela Rainha D. Maria I em 1779, onde se ministrava um curso de matemática destinado à formação dos oficiais e pilotos da Marinha Real e da Marinha Mercante, bem como à preparação científica para o acesso ao curso de engenharia militar.
Na Academia Real de Marinha obteve as mais altas distinções, obtendo a carta de curso em 1831.
Em 11 de janeiro de 1833 foi nomeado Guarda-Marinha da Armada e, 2 dias depois, assentou praça no Porto, quando as tropas liberais de D. Pedro se encontravam cercadas pelas tropas absolutistas de D. Miguel, cerco que durou de julho de 1832 a agosto de 1833.
Com ideias liberais, em 28 de maio de 1833, com apenas 19 anos, Francisco Maria Pereira da Silva assumiu o comando do iate «Sousa e Bastos» na viagem dos Açores até ao Porto.
Fez serviço nos canhoneiros que na barra do Porto combatiam os absolutistas e em terra bateu-se com valentia no forte de Nossa Senhora da Luz e na Quinta da China.
Integrou o Corpo da Armada Libertadora e recebeu dois louvores em julho de 1833, uma pela valentia ao serviço na «Canhoneira de Quebrantões», no Douro, e outra por ter participado na expulsão do exército absolutista.
Em outubro de 1833, ao comando da «Canhoneira nº 4», lutou no rio Tejo contra as tropas de D. Miguel e em 1834 esteve ao comando do iate «Feliz Pensamento», no rio Sado.
Em 8 de maio de 1834 a Figueira era o único porto de mar em poder das tropas fiéis a D. Miguel, em número aproximado de mil, que ocupariam toda a vila e especialmente o Forte de Santa Catarina, o Fortim de Palheiros e a Praça-Forte de Buarcos.
Na véspera desse dia, o almirante Charles Napier fundeou a sua esquadra na enseada de Buarcos, composta por 5 navios de guerra, maioritariamente constituídas por marinheiros ingleses, preparando-se para atacar as tropas miguelistas que tinham em sua posse a vila da Figueira.
Horas mais tarde, as tropas comandadas por Charles Napier desembarcam na enseada de Buarcos e avançam sobre terra, mas a luta foi desnecessária porque na manhã desse dia 8 o exército Miguelista tinha fugido da Figueira.
Apavorado pela esquadra de Napier, temendo ficar cercado pelas tropas liberais que provinham de Leiria, o exército Miguelista encrava a artilharia das baterias da Praça de Buarcos, inutiliza munições e “effeitos de guerra” e põe-se “em retirada sobre a estrada da Figueira”.
As tropas de Napier seguiram da Figueira da Foz para Leiria, Ourém e Torres Novas e o general espanhol José Ramón Rodil y Campillo entrou em Portugal através da Beira e Alto Alentejo com uma expedição de 15 mil homens também em apoio de D. Pedro.
A 16 de maio de 1834 dá-se a derradeira batalha entre as tropas fiéis aos irmãos desavindos, D. Miguel e D. Pedro, exatamente na Asseiceira, próximo de Tomar.
As tropas liberais de D. Pedro saem vitoriosas, a paz é assinada em Évoramonte e D. Miguel parte de Sines para o exílio no dia 1 de junho de 1834.
Terminada a guerra civil, com a vitória dos liberais, Francisco Maria Pereira da Silva foi louvado pelos seus relevantes feitos, continuou os seus estudos de marinha e em 1835 concluiu os estudos da Companhia e Real Academia dos Guarda-Marinha.
Depois ter efetuado 4 embarques em diversos navios, com a duração de 2 anos, 5 meses e 18 dias, foi promovido a 2º Tenente em 21 de agosto de 1835.
Em 1839 terminou o curso de Geodesia, iniciou a carreira de engenheiro e ao serviço do Ministério das Obras Públicas fez o levantamento do pinhal de Leiria em 1841 e o plano hidrográfico do porto de Lisboa de 1842 a 1845.
Em 15 de fevereiro de 1844 foi promovido a 1º Tenente e a Capitão-tenente em 6 de novembro de 1851.
Em 26 de maio de 1852, o regente D. Fernando II, e o seu filho D. Pedro (futuro rei D. Pedro V), visitou a Figueira da Foz, onde verificou o grave assoreamento do porto.
De imediato, a 21 de julho de 1852, uma Portaria governamental incumbe o Eng.º Francisco Maria Pereira da Silva de estudar o modo de resolver o assoreamento do porto da Figueira.
Afinal, a visita real de 26 de maio começava a ter efeitos práticos.
Em 29 de agosto de 1853, então com o posto de capitão-tenente, o engenheiro hidrógrafo Pereira da Silva foi nomeado para elaborar a carta hidrográfica do porto e barra da Figueira da Foz e propor soluções que resolvessem o seu deplorável assoreamento.
Num relatório que apresentou, assinalava que “toda esta grande bacia se acha actualmente fechada pela frente por uma restinga de areia que parte do forte de Santa Catarina, que as águas entram e saem por um estreito e extenso canal ao longo da costa do Sul, que está tão entulhado de areias que no baixa mar é atravessado por um homem a pé”.
A barra estava tão assoreada que a 2 de dezembro de 1853 um iate não entrou no porto, mesmo quando “foram cavar na barra 200 homens, tentando por este estúpido meio abrir o canal”.
(Muito mais tarde, a 25 de janeiro de 1903, o capitão do porto João Quadros ordenaria, em desespero, uma intervenção semelhante e igualmente sem sucesso).
A 24 de dezembro de 1853 alguns figueirenses ilustres enviaram a D. Fernando II uma missiva na qual davam contam do declínio comercial da Figueira, especialmente de 1840 a 1850, em resultado do estado lastimável do porto, referindo:
“O comércio, Senhor, é o mais poderoso veículo da riqueza das nações, e pelo que respeita a esta vila, dele derivou a sua fundação, e opulência tal, que já foi considerada a terceira terra comercial do Reino; hoje, porém, Senhor, a sua bússola é a decadência, o seu fim é o estrago, e a sorte dos seus infelizes habitantes é exalar o último alento, estreitados pelo creposo círculo que lhes vão traçando os mirrados braços da miséria”.
Em 29 de agosto de 1854, o engenheiro Pereira da Silva, então Capitão-tenente da Armada, foi nomeado para executar o levantamento da carta hidrográfica do porto e barra da Figueira, trabalho que concluiu em 1860.
Foi nesta altura que veio viver para a Figueira da Foz, onde chegou com a sua família a 14 de julho de 1854.
Por despacho de Fontes Pereira de Melo, datado de 11 de setembro de 1854, publicado no Diário do Governo do dia 15 seguinte, o engenheiro Pereira da Silva ficou responsável pela resolução do assoreamento da barra e porto da Figueira, colocando-se como alternativa a construção de um porto de mar em Buarcos:
“Convindo examinar se será mais fácil, para remover os obstáculos que se oferecem à navegação no porto da Figueira, melhorar a barra do Mondego, ou proceder à construção de um porto artificial na baía de Buarcos, que comunique, pela maneira mais apropriada, com a dita vila; e achando-se atualmente encarregado o Capitão-tenente da armada, Francisco Maria Pereira da Silva, de proceder ao levantamento da carta hidrográfica da referida barra; Manda Sua Majestade El-Rei, Regente, em Nome do Rei, que o mesmo Oficial trate com preferência de levantar a planta, e fazer as competentes sondagens na dita baía, na conformidade das instruções que lhe foram enviadas em 25 de agosto do ano passado; devendo apresentar neste Ministério o resultado dos seus trabalhos, acompanhado das considerações que se lhe oferecerem a semelhante respeito, a fim de que se possa resolver esta importante questão. O que se comunica ao sobredito Capitão-tenente para seu conhecimento e devidos efeitos. Paço, 11 de setembro de 1854. = António Maria de Fontes Pereira de Melo. Para o Capitão-tenente da armada, Francisco Maria Pereira da Silva”.
Em fevereiro de 1855 apresentou um plano de desassoreamento, cujos trabalhos se realizariam de maio de 1857 a final de 1859.
Também por despacho de Fontes Pereira de Melo, de 12 setembro de 1854, publicado no Diário do Governo do dia 15 sequente, o engenheiro Pereira da Silva ficou responsável por encontrar um local para um farol a instalar no Cabo Mondego, farol que foi construído de 1855 a 1858:
“Há por bem o Mesmo Augusto Senhor Ordenar que o Capitão-tenente da armada Francisco Maria Pereira da Silva, que se acha encarregado do levantamento da carta hidrográfica do porto e barra da Figueira, trate de proceder às competentes observações no alto mar para determinar o local mais próprio no Cabo Mondego para a construção do mesmo farol; devendo-se enviar, quanto antes, a este Ministério, o resultado desta incumbência, a fim de se mandar proceder com brevidade à execução de semelhante obra”.
Em 1856 foi nomeado chefe da secção de Hidrografia da Marinha.
Em 1857, o estado do porto e da barra era muito mau, o mar comunicava diretamente com o rio de Lavos e o cabedelo assumira grande altura e comprimento a norte, progredindo diariamente, o que fazia a barra deslocar-se 5 a 6 metros para sul.
Perante esta situação, Pereira da Silva propôs reabrir a barra Norte utilizando um processo semelhante ao que se tinha usado, com sucesso, em Aveiro, ou seja, represar as águas do estuário e aproveitar a altura de marés baixas vivas, quando o desnível entre o interior e o mar fosse máximo, para cavar um canal no cabedelo, provocando uma torrente de águas estuarinas para o oceano, cuja força seria suficiente para de novo abrir a barra a norte.
Em 6 de maio de 1857 Pereira da Silva assume a direção das obras da barra e no dia 11 seguinte inicia os trabalhos por si propostos:
1. Foi tapada a barra que se formara em direção a sul, de modo que o rio seguisse o antigo curso;
2. Foi construído um paredão assente em estacaria, com 1200 metros, no lado meridional (Sul) do rio;
3. Destruíram-se as rochas existentes em volta da Praia da Fonte, no local do atual Mercado Municipal, e com elas se fez cal;
4. Abriu-se uma estrada do centro à rua dos Banhos, marginal ao rio.
O porto da Figueira estava “salvo da terrível catástrofe que o ameaçava, e fora afastada pela execução de importantes obras encetadas depois de 11 de maio de 1857, e novamente aberta a barra, acontecimento que, inaugurado com grande júbilo no dia 25 de outubro de 1859, teve o seu complemento em igual dia de novembro de 1859, achando-se o mesmo porto acessível e franco à navegação da maneira a mais satisfatória” (documento de 10-12-1859, publicado no Boletim das Obras Públicas de 1860).
Depois de árduos trabalhos, Pereira da Silva conseguiu levar a barra ao seu antigo leito do Norte, o que deu lugar a ruidosos festejos na Figueira da Foz e a louvores da Câmara Municipal, do Governo Civil, da Junta Geral do Distrito e do Governo.
Foi louvado pela Junta Geral do Distrito em sessão de 12 de março de 1859, por unanimidade, “e no meio de vivos aplausos de todos os Procuradores”.
Depois foi louvado pela Câmara da Figueira, em reunião extraordinária de 11 de maio de 1859, onde se votou, por unanimidade, “um profundo agradecimento e louvor a V. S.ª por tão distintos serviços que revelam o quanto V. S.ª sabe compreender a alta missão de que está encarregue…
tendo atenção os relevantes serviços que V. Exa. como Director de Obras da Barra e parte desta vila tem prestado aos povos cujos interesse estão ligados …. para evitar a total ruína da dita barra, e porto, obstando a destruição do Cabedelo do Sul, e das marinhas da Murraceira, e de Lavos, o que se se verificasse tornaria se não impossíveis, pelo menos dificultosíssimas, e muito dispendiosas quaisquer obras para remediar tão grave mal”.
Foi promovido a Capitão de fragata em 13 de julho de 1859 e a engenheiro hidrógrafo de 1ª classe e chefe da 3ª Secção do Instituto Geográfico em 1865.
Num despacho de António de Serpa Pimentel de 28 de outubro de 1859, publicado no dia imediato no Diário do Governo, o engenheiro Pereira da Silva, então Capitão de fragata e Diretor das obras da barra da Figueira, foi louvado pelo feito de ter conseguido abrir a barra à navegação.
Em 25 de novembro de 1859 abriu definitivamente a nova barra, após a execução das obras atrás referidas, com se tornou público no «Diário de Lisboa» de 7 de dezembro de 1859:
“Tendo-se aberto definitivamente a nova barra da Figueira, próximo ao Forte de Santa Catarina, no dia 25 de novembro último, e apresentando já esta, em tão pouco tempo, um fundo superior, e outras circunstâncias mais favoráveis aos marítimos, do que há muitos anos se ofereciam, previne-se assim o comércio e a navegação, de que existe de novo aberto este porto; e declara-se que as sondas tomadas no dia 3 do corrente pela manhã, próximo ao preamar, deram 3 metros ou 13 palmos dos Pilotos na pancada do mar, e 4 metros ou 18 palmos em todo o canal interior até ao fundeadouro; advertindo que as marés podem aumentar mais de 1 metro ou 5 palmos este fundo. Quartel da Direção das obras para melhoramento da barra e porto da Figueira, 3 de dezembro de 1859. Francisco Maria Pereira da Silva, Chefe da Secção Hidrográfica. Está conforme. =Repartição do Comércio e Indústria, em 6 de dezembro de 1859. =João Palha de Faria Lacerda".
Na realidade, as obras realizadas pelo engenheiro Silva resultaram razoavelmente até 1865, sobretudo para as embarcações de pequeno porte, mas não se resolveu o problema da direção da barra, que continuou a oscilar.
De 1863 a 1869 foram realizados mais estudos com o objetivo de regularizar as margens do Mondego e dirigir a corrente para o canal da barra norte.
Destes estudos resultaram obras de pouco vulto: foi prolongado o quebra-mar, com o que se conseguiu abrir a barra permanentemente a norte, mas que não resolveu os problemas da instabilidade interna das correntes nem os de assoreamento.
Continuaram-se a efetuar dragagens, sem grandes resultados, e a margem norte do canal principal, junto à Figueira, foi sendo sucessivamente regularizada com a construção de vários cais e molhes para ancoragem.
Em 12 de agosto de 1864, então capitão de fragata e chefe da secção hidrográfica, foi nomeado “inspetor dos pharoes do Reino”, lugar que exercerá conjuntamente com o de chefe da referida secção, conforme publicação no Diário de Lisboa de 17 de agosto de 1864.
Em março de 1869 foi nomeado chefe da 5ª Secção do Departamento Geral de Guerra, tendo sido nomeado engenheiro hidrógrafo de mar em maio do mesmo ano.
Em 1872 já a barra estava já completamente obstruída, quando ocorreu um naufrágio de um navio que chegava carregado de bacalhau.
Entretanto, em 1874 faleceu o Eng.º Filipe Folque, e o engenheiro Silva assumiu a Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino, que manteve até 1879.
A breve trecho as areias invadiram o estuário do Mondego e teve então muitos críticos, como foi o caso do engenheiro Adolfo Loureiro (1836-1911), militar e político, que esteve ligado às obras da barra e do porto da Figueira desde 1860, diretor interino das obras a partir de 1865 e diretor de 1872 a 1888.
Adolfo Loureiro imputou ao engenheiro Silva “desperdícios e irregularidades”, facilitismos na fiscalização das obras, e muita vaidade e pouca eficácia, acusando-o de aquando das “festas por ocasião da abertura da barra, em que S.S.ª autorizou, senão ordenou, a construção de arcos triunfais em seu louvor; em que consentiu a colocação do seu retrato iluminado no sítio do Barracão, em lugar superior ao do retrato do nosso sempre lembrado Rei, o Senhor D. Pedro V”.
Pereira da Silva pertenceu ao Conselho de Sua Majestade e recebeu as seguintes condecorações: Cavaleiro da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição (ordem da armada de 1843), Cavaleiro da Ordem Militar de S. Bento de Aviz (ordem da armada de 1853) e Comendador da Ordem Militar de Cristo (Decreto de 21-09-1859).
Em 1866 foi agraciado com o título do Conselho de Sua Majestade e em 1887 foi condecorado com a Medalha Militar de Ouro da classe de comportamento exemplar.
Pereira da Silva foi promovido a Capitão de mar e guerra em 16 de março de 1866, a Contra-almirante em 25 de outubro de 1877, a Vice-almirante em 25 de julho de 1889, reformando-se em 27 de fevereiro de 1890.
Faleceu na Figueira da Foz, no posto de Vice-Almirante reformado, em 1 de dezembro de 1891, com 77 anos de idade.
Em 13 de janeiro de 1892 a Companhia de Progresso Figueirense solicitou que a Câmara deliberasse o nome do mercado em construção, e a Câmara deliberou que teria o nome de “Mercado Engenheiro Silva”, atendendo aos “relevantes serviços prestados a esta cidade por este ilustre falecido, e se oficiasse a viúva dando-lhe conhecimento desta deliberação”.
No dia 24 de junho de 1892, dia de S. João, por volta das sete horas da manhã, foi inaugurado o Mercado Municipal, no aterro criado na antiga Praia da Fonte, junto do Jardim Municipal construído no ano anterior.
Em 12 de outubro de 1894 a Câmara Municipal deliberou ceder gratuitamente a Isabel Maria Baldaque Pereira da Silva o terreno por si requerido para construção do jazigo do seu falecido marido, o Vice-Almirante Conselheiro Francisco Maria Pereira da Silva, em atenção aos serviços prestados por este à Figueira.
A
QUINHENTISTA RIBEIRA DE MOINHOS
A antiga povoação da Ribeira de Moinhos, no termo de Montemor-o-Velho, foi uma comunidade antiquíssima, remontando ao séc. XV.
Comprova este facto, o testamento de instituição do vínculo de morgadio da Ribeira de Moinhos, outorgado por Fernão da Fonseca, escudeiro, de Montemor-o-Velho, a seu filho Lopo da Fonseca, aos três dias do mês de Março de 1453, na presença do tabelião Vasco Vides: “(…) faço e ordeno, e tomo por minha terça, os meus oito moinhos que tenho na Ribeira de Moinhos, e terras e matos maninhos, que começam desde a fonte do Calado e acabam na oitava azenha, tudo águas vertentes de estrada a estrada, da que vem para S. Pedro da Zujara à carreira dos Almocreves (…)”, e cujo território, mais tarde, também ficou conhecido por morgadio da Quinta do Cabral ou Quinta de Nossa Senhora da Penha de França, em virtude de, aqui, ter sido construído o solar brasonado dos proprietários do morgadio.
A
povoação é citada também no numeramento de D. João III, em 1527, e tinha 69
vizinhos. A sua igreja, dedicada a Santa Susana (a Velha) estava edificada no
sítio das Bócas, na Ribeira de Moinhos, sendo sufragânea de paróquias medievais
de Montemor-o-Velho.
Uma
informação eclesiástica, anotada por Francisco Correia Lopes, na sua publicação
“Memória Descriptiva da Freguezia da Carapinheira, 1899”, refere que, em 1575,
esta igreja estava edificada junto ao Aido, no vale chamado as Bócas, referindo
que “(…) veio o vizitador á egreja no sítio das Bócas, no dia 13 de Dezembro de
1575, o reverendo padre André Gomes, sendo Bispo Conde o reverendíssimo D.
Manuel de Menezes (…)”.
Nas
Informações Paroquiais de “outo de Mayo de mil sete centos e vinte e humanos”,
o Cura da Carapinheira, licenciado André Roiz Carreira, ao proceder à descrição
das ermidas existentes na paróquia, refere que “(…) a que se segue na antiguidade
he de Sam Giraldo, cuja fábrica he particular (…) está situada na Ribeyra dos
Moinhos (…)”.
A ancestralidade e invocação desta igreja no sítio ou vale das Bócas, na Ribeira de Moinhos, são ainda inegavelmente testemunhadas por diferentes registos públicos, entre os quais, o assento de óbito: “Beatriz (…) faleceo a sete de dezembro de mil quinhentos e outenta, não fez testamento, jaz na igreja de Santa Susana a Velha que hagora he Sam paio da Ribeira de moinhos”. Na margem deste registo, o pároco que o redigiu anotou: “Santa Susana a Velha ou Sam paio novo” (Registo de Óbitos, Paróquia de Alcáçova-1580). Neste mesmo livro, em 1581, está o seguinte registo:
“Francisco
Dias, morador no casal de Francisco de Pina da Lavariz ou Alhastro, faleceo a
cinco de janeiro de mil quinhentos e outenta e um lançou-se em Santa Susana a
velha que agora he Sam paio (…).”
Conclui-se,
assim, que esta igreja, edificada no sítio das Bócas, junto ao Aido e Quinta da
Malta, na medieval comunidade de Ribeira de Moinhos, termo de Montemor-o-Velho,
dedicada a Santa Susana, seria muito anterior a 1580.
Até
porque, como nos dizem as Informações Paroquiais de 8 de Maio de 1721 que a igreja
da Carapinheira teria sido construída em 1571: “A igreja paroquial hepadroeyra
Santa Suzana, edificada no lugar da Carapinheyra (h)a sento e cinquenta anos
(…)”, dando origem à actual paróquia da Carapinheira, aglutinando outros lugares,
sob a protecção da padroeira Santa Susana, “muito milagrosa”, e cuja imagem,
que ainda hoje existe, veio da primitiva igreja da Ribeira de Moinhos, a qual,
ao perder a sua primitiva padroeira, recebeu São Paio como novo patrono.
Assim
se interpreta a descrição do assento de óbito “(…) jaz na igreja de Santa Susana
a Velha que hagora he de Sam paio da Ribeira de moinhos”, reforçada com a anotação,
à margem do assento, “Santa Susana a Velha ou Sam paio novo”. Ou seja, embora
perdendo a primitiva padroeira, em 1571, transferida para a nova e actual igreja
na Carapinheira, este templo no Vale das Bócas, na Ribeira de Moinhos, passou a
ter São Paio como novo patrono, sendo referido, por tradição, como igreja de “Santa
Susana a Velha” ou “Sam paio o novo”.
Estes
factos indicam que, a par de outros lugares, o agregado populacional da Ribeira
de Moinhos passou a integrar a paróquia e freguesia da Carapinheira, como revelam
os diferentes assentos de batismo, casamentos e óbitos.
Atendendo
à necessidade de mão de obra para a exploração agrícola desse imenso e fértil
território da Ribeira de Moinhos, o senhorio dava pequenos lotes de terreno
para construção de habitações desses trabalhadores originando a criação de diferentes
casais e lugares à sombra do Morgadio do Cabral, como Casal da Areia, Estrada,
Bolêta, Vale do Forno, Vale Canosa, Chãs, São Geraldo, Casal dos Nobres, Além
do Porto, Fontainhas e Porto Luzio.
Na
verdade, o atual território administrativo e paroquial da Carapinheira integra
povoações, de longeva ancestralidade, que pertenceram a outras circunscrições
vizinhas, nomeadamente os vastos territórios do Alhastro (Olastro), Bandorreira,
Lavariz, Ribeira de Moinhos (…).
A
carta de foro da póvoa de Fonte de Lobo (Forum de popula de Fonte de Lupo),
concedida a 7 de junho de 1254; a carta de foro de Póvoa de Santa Cristina e de
Alhastro (Karta de foro de popula de sancta Cristina e de Olastro), concedida a
26 de setembro de 1265; o vínculo da Ribeira de Moinhos, outorgado a 3 de março
de 1453; o Numeramento ou Cadastro Geral do Reino, de D. João III, de 1527;
cartas de doações, aforamentos e de emprazamentos; os registos paroquiais das
paróquias de Alcáçova, São Martinho, S. Salvador, Madalena e São Miguel, de
Montemor-o-Velho, referem lugares e casais que pertenceram a diferentes
territórios administrativos, e que, atualmente, integram a área territorial da
Carapinheira. De referir que, em tempos idos, as circunscrições, paróquias ou
freguesias não eram contínuas, isto é, a circunscrição e a administração dos
territórios eram descontinuadas, de acordo com seus possuidores ou donatários.
A
Carapinheira, desde os seus primórdios, como paróquia e freguesia, pertenceu ao
termo/concelho de Montemor-o-Velho. Vários testemunhos atestam que a paróquia e
freguesia da Carapinheira emergiu da aglutinação de vários lugares ao antiquíssimo
morgadio da Ribeira de Moinhos.
Ainda
hoje, este teritório é conhecido por “Ribeiras”, pois é uma das zonas criadas,
em tempos idos, com o propósito de facilitar o voluntariado dos mordomos para a
recolha de peditórios para eventos de solidariedade, comunitários e festivos,
na paróquia/freguesia da Carapinheira. Com nomenclatura idêntica, nos estatutos
da Confraria das Almas, em 9 de dezembro de 1782, aparecem descritos espaços territoriais
(ou esquadras), nos quais os irmãos (da confraria) residentes nas respetivas
zonas se obrigavam a acompanhar os falecidos à sepultura. Esta diretiva caiu em
desuso há algum tempo. No entanto, e relativamente a peditórios ou outros fins,
mantêm-se as esquadras: Bandorreira Sul, Bandorreira Norte, Carapinheira, Casal
do Mato Sul, Casal do Mato Norte, Ribeiras Nascente e Ribeiras Poente.
As
Esquadras das Ribeiras englobam, precisamente, os lugares, casais e quintas que
pertenciam ao Morgadio da Ribeira de Moinhos (ou Quinta do Cabral), isto é, território
da medieval paróquia da Ribeira de Moinhos.
Aldo
Aveiro
A
minha pagaiada no PASSADO depois de organizados e a treinar diariamente,
na água e num ginásio improvisado, com muita corrida pelas ruas mais difíceis
de Montemor, os jovens atletas iam evoluindo a cada treino e estavam cada vez
mais próximos de lutarem pelas medalhas na Final Nacional das Primeiras
Pagaiadas.
Assim,
o Infantário Jardim de Infância de Montemor candidata-se a organização da Fase
Final Nacional das Primeiras Pagaiadas, era um grande projeto para um evento
que ia juntar centenas de atletas, dezenas de reboques e centenas de barcos.
A
Federação Portuguesa de Canoagem acabou por entregar a organização deste evento
á melhor candidatura e essa foi mesmo a da nossa Associação. Todos sabíamos das
dificuldades enormes que iríamos encontrar pela frente, até porque a nossa
experiência nessa matéria era quase nula.
Como
o rio velho aqui aos pés de Montemor, mas estavam entupidos por limos, esta
importante competição do calendário desportivo Nacional, teve de ser realizada
em Formoselha.
Um
enorme evento que só foi possível com o envolvimento de todas as Entidades
Locais, refiro-me a Câmara Municipal e Junta de Freguesia, Bombeiros
voluntários, GNR, Governo Civil de Coimbra, Federação Portuguesa de Canoagem e
toda a logística foi estudada e efetuada pela Direção do Infantário Jardim de
Infância onde o seu Presidente Vítor Camarneiro teve um papel fundamental e só
assim foi possível chegar ao fim deste evento com o estatuto de ter sido a
melhor organização até aquela data. Tratou-se de um evento destinado a jovens
atletas que nunca tivessem participado em provas do campeonato Nacional.
O
Infantário Jardim de Infância apresentou uma equipa composta por cerca de 20
atletas, em vários escalões, femininos e masculinos em K1 e K2.
Estivemos
a grande nível nesta prova, acabando por obter várias medalhas e vários títulos
nacionais incluindo por clubes. Começou ali a Canoagem a sério no Infantário de
Montemor.
A
Região Centro de Portugal tinha agora um clube capaz de disputar os lugares
cimeiros da canoagem nos escalões de formação. Começamos de certa maneira a
encarar mais a sério a Canoagem na vertente competitiva a partir desta prova
organizada por nós. Também foi graças a esta organização e aos bons resultados
que obtivemos, que a própria Federação começou a olhar mais para nós, também o
nosso Presidente Vítor Camarneiro, começou ele próprio a acompanhar mais a
modalidade e sabendo das dificuldades que tínhamos em treinar por falta de um
lençol de água aberto, começa o seu sonho em conseguir construir em Montemor
uma "Pista Olímpica" para canoagem.
Quem
conhece o Vítor Camarneiro, sabe que ele é de ideias fixas e dificilmente iria
desistir de lutar por esse sonho...
O
PRESENTE ...da canoagem em Montemor está mais simplificado,
quer seja pelas enormes condições de treino, quer seja pela escolha do clube
onde se queira treinar.
Neste
momento existe em Montemor e a residir no Centro de Alto Rendimento, três
clubes de canoagem em atividade regular. É sem dúvida clubes a mais para um
meio tão pequeno. Por outro lado, temos a vantagem de estarem no CAR quase
diariamente, antigos atletas e treinadores com enorme historial na modalidade e
isso leva que haja troca de métodos de treino, alguns conselhos e aspectos
técnicos sempre com o objetivo de que a modalidade evolua em Montemor e seja
digna das condições que aqui temos. Estamos já em pleno inverno, as
temperaturas frias não são um incentivo a aparecerem novos praticantes, mas os
que já fazem competição treinam regularmente como se...só houvesse verão na
canoagem.
Nós
atletas e treinadores sabemos que o Centro de Alto Rendimento tem lacunas e é
agora no Inverno que damos mais conta delas. A grande altura dos hangares e a
falta de paredes entre cada um, faz com que o frio e o vento se sintam por todo
o edifício. Isto também acontece nas casas de banho e balneários o que por
vezes torna mais difícil o banho, mesmo com água quente, do que o treino no
frio da pista. Sabemos que os responsáveis sabem disso e certamente mais tarde
ou mais cedo isto se irá resolver...
FUTURO...
Penso que o futuro da canoagem em Montemor passa por juntar os três clubes e
assim formar um clube forte para ir buscar a cada um deles o que melhor têm. Só
assim será possível fazer frente às grandes potências da canoagem nacional. Não
será fácil, até porque cada clube tem um nome e, então, qual seria o nome a
escolher para esse clube único. CLUBE CANOAGEM DE MONTEMOR (?) por exemplo...
Também para um futuro próximo acho que a tal lacuna das condições dos hangares
e balneários deveria ser corrigido, embora saiba das dificuldades das
autarquias, dando assim melhores condições para que a Canoagem seja praticada
com prazer durante todo o ano. Apostar na formação dos funcionários que venham
no futuro a trabalhar no CAR na vertente de desportos náuticos, para que estes
estejam sempre prontos a intervir e a resolver situações que vão surgindo no
lençol de água ao longo do ano... (Continua...)
Do céu cinzento
caem cordas de água
que amarram ao cais
vontades de distância…
Nos céus, súbito um clarão,
revolta surda,
grito mudo há tanto
sufocado…
desejo de partir para longe…
Agora é o sol poente
num céu imensamente azul,
apelo de uma partida adiada.
Amanhã, será o sol,
a luz intensa,
a viagem com hora marcada
rumo à lonjura.
Amanhã, o sol
e o azul das promessas…
Tempo de infinito sem
limites.
PESSOAS
O mundo está cheio de pessoas...
Há pessoas caladas
que precisam de alguém para
conversar...
Há pessoas tristes
que precisam de alguém para
confortá-las...
Há pessoas tímidas
que precisam de alguém para
ajudá-las a vencer a sua timidez...
Há pessoas com medo
que precisam de alguém para
dar-lhes a mão...
Há pessoas fortes
que precisam de alguém
para fazê-las pensar na melhor
maneira de usarem suas forças...
Há pessoas habilidosas
que precisam de alguém para
ajudar-lhes a descobrir a melhor maneira de usarem suas
habilidades...
Há pessoas que não sabem fazer nada
e precisam de alguém que as ajude a descobrir as
diversas coisas que final sabem
fazer...
Há pessoas apressadas que precisam
de alguém para mostrar-lhes tudo o que não têm tempo
para ver...
Há pessoas que se sentem do lado de
fora e precisam de alguém para lhes mostrar o caminho
da entrada...
Há pessoas que dizem que não servem
para nada e precisam de alguém para ajudá-las a
descobrir como são importantes.
Essas pessoas,
Somos NÓS...
Esse ALGUÉM
És TU!
A VIDA É TUDO
A vida é um fugaz pôr do sol
É escorregadia, como areia
entre os dedos.... É como a luz de um farol...
É magia, são degredos...
A vida é Tudo!
É que ela vai de fugida...
Nunca é completamente feliz
E comprida...
Porque que deixa para trás
Tudo que amámos na vida
A vida é um abraço apertado
É um beijo demorado
São as cores do arco-íris
É o barulho do mar
Com as ondas de encantar
Namorando o nosso olhar!
É o sol a acariciar-nos
É a lua que vem beijar-nos
É um regato de água pura
São uns olhos de ternura
Que aquecem o coração
É a mais forte emoção
De quem ama e é amado...
São os acordes de um fado
Numa guitarra portuguesa
A vida é feita de tudo
De alegria e de tristeza...
É também pura beleza
De quem ama e é amado
Dorme connosco na cama
E come connosco à mesa
Com franqueza...
A vida É Tudo!
Pedi para ficar
Onde o vento não ousa,
Onde o verde repousa,
Onde o ar acaricia…
Pedi para ficar
Longe do clamor do mar
Num céu de azul sem par
Onde o sol alicia…
E nesta paragem ficarei
Até que seque a semente do medo
Lastro inútil que carrego há anos,
Noite eterna do meu degredo
E nesta paragem ficarei
Até que o verde, faça verde o meu olhar
Até que o silêncio entorne a minha alma
Na falta de
comunicação, a intervenção!
Devido ao estudo
mensalmente divulgado, é publico que. o PCP é o partido político com menos
tempo de antena na televisão pública. A maior parte das vezes, este tempo de
antena é dado a ministros, deputados únicos de partidos, entre outros.
Também é publico que
o PCP é o partido com menos tempo nos programas de comentário político, penso
que apenas Bernardino Soares participa neste momento no programa Crossfire da
CNN.
Esta seria uma
questão de somenos se tudo isto não implicasse uma regressão democrática, uma
perseguição constante a um partido que é o terceiro maior na gestão autárquica,
o terceiro com mais eurodeputados e o quinto com mais deputados no parlamento e
do qual, no entanto, não se fala.
Um estudo do jornal
Publico vem confirmar o que já se sabia, que as sondagens influenciam em grande
parte os resultados eleitorais, e não é por isso que as encomendas que chegam
de tantos lados e com resultados tão dispares só se tocam em dois pontos ao longo
dos últimos actos eleitorais (e que não foram poucos); em primeiro lugar a CDU
ter nas sondagens percentagens reduzidíssimas tendo em conta a sua intervenção
e em segundo as sondagens estarem sempre, sempre erradas, por defeito, no que à
CDU diz respeito.,
E repito SEMPRE!
Não é por acaso que
na última semana Paulo Raimundo interveio em dois comícios com largas centenas
de pessoas, um na Voz do Operário em Lisboa e outro no Barreiro, e nenhum dos
dois passou na televisão publica contrariamente a outras iniciativas de partidos
que apenas contam com umas dezenas. Não houve qualquer destaque para o partido
que mais propostas de alteração apresentou ao orçamento de estado, e foram mais
de 400, mas houve tempo para o diz que disse e a trica política que desvia as
atenções do essencial.
É por isto que mesmo
a alguma distância dos meus camaradas de Montemor-o-Velho, sinto um orgulho
imenso na sua intervenção. Contra a falta de comunicação, a intervenção! E é
vê-los a fazer o que os canais televisivos não fazem. A distribuir propostas do
partido pelas ruas, a distribuir comunicados pela noite dentro, à porta de
empresas, de balde na mão e escada em cima do carro a colar mupis e cartazes,
ou a demonstrar a solidariedade com a causa palestiniana como aconteceu ainda
esta semana.
São pessoas que
empenham o seu tempo e o seu conforto pelas noites e manhãs frias, marcando
presença muitas vezes à chuva com as mãos geladas, a conversar com aqueles que
trabalham e anseiam uma vida melhor, porque se não forem eles, se não for o
trabalho militante parece até que nem existimos.
Estar no PCP,
intervir pela CDU é um trabalho duro, constante e muitas vezes não
compreendido. É um trabalho necessário, urgente e indispensável, não só para o PCP,
mas essencialmente para o país.
Ainda é Tempo
Não poderia escolher outro assunto para esta crónica de novembro que não
fosse o terramoto que atirou abaixo o governo maioritário socialista e
precipitou eleições precipitadas, por um lado para a liderança do PS que ficou
órfão de Secretário-Geral e, por outro, para a liderança do país que ficou
órfão de primeiro-ministro, em minha opinião por obra e arte de Marcelo Rebelo
de Sousa, o verdadeiro estratega de toda esta cilada montada a António Costa
que, das duas uma, ou foi vítima de Marcelo e do Ministério Público, o que
custa a acreditar, ou se deixou ir à boleia da torrente que o levará à
candidatura à Presidência da República que se realizará daqui a nada…!
Claro que não é fácil compreender como é que um partido a menos de meio do
mandato, com maioria absoluta, supostamente com todas a condições para concluir
o ciclo de governação em grande, elogiado na União Europeia e em diversas
instituições internacionais, se deixou consumir e autodestruir, ao ponto de se
ter tornado no elo mais fraco dos pilares do poder e alvo de chalaça,
designadamente, pela cegueira do primeiro ministro que não foi capaz de reagir
aos casos e casinhos que se avolumaram e deram razões ao Presidente para
convocar eleições e acabar com a legislatura.
A acumulação de erros políticos, a insistência em personalidades
irremediavelmente desacreditadas e incompetentes, a nomeação ao jeito português
que não aposta em quadros de todo o país e os reduz ao círculo do poder
lisboeta, a incapacidade de conceber reformar introduzir novas dinâmicas, a
arrogância, o desprezo pelas políticas territoriais, o total desinvestimento do
interior, a teimosia perante os professores e outras classes profissionais, a
subestimação dos militantes e o crescente compadrio das lideranças, entre
outros argumentos que não vale a pena extenuar, ditaram o encerramento de um
ciclo, naturalmente abrindo outro, que se espera possa vir a refrescar o
partido e a introduzir novas dinâmicas, práticas e éticas!
Para tal, acredito que o Camarada José Luis Carneiro, candidato em quem
deposito a maior confiança e em quem votarei nas próximas eleições para
Secretário-geral do Partido e futuro Primeiro-ministro, ganhará e passará a ter
todas as hipóteses de ganhar o País e ser eleito Primeiro-ministro, tal como
muitos estudos de opinião dão a entender, importando então que faça o que tem
de ser feito interna e externamente, a começar pela rede credibilização do
partido e dos militantes, muito especialmente dos que detêm cargos de elevada
responsabilidade, representam o PS enquanto dirigentes, são autarcas, mas não
estão à altura das funções que exercem!
Infelizmente, aqui e acolá o Partido encontra-se refém de interesses que
não deveriam sequer ser conjeturados, como por exemplo na Concelhia de
Montemor-o-Velho onde há anos é presidida pela mesma pessoa e nas últimas
eleições nem sequer foram convocados todos os militantes. Uma concelhia que
contava com secções em todas as 14 freguesias e hoje, tendo perdido três, as
eleições são concentradas em apenas uma secção, não se sabendo neste momento
onde será nas eleições Nacionais de 16 de dezembro. Nem onde será nem quantos
militantes terão direito a voto, embora seja certo que quem determinará o
resultado será a Ereira, onde existem mais de cem militantes que pagam ou
alguém paga por eles as quotas.
De repente, fiquei com vontade de desafiar os verdadeiros militantes que
foram sendo empurrados do PS pelos sujeitos e sujeitas do costume, e
convidá-los a regressar ao Partido! Irrita-me bastante a atitude do CHEGA, CDS,
IL, PSD, CDU a malharem no PS e verificar que ficamos calados e já nem sequer
nos defendemos!
SINOPSE
Esta é a primeira obra escrita
sobre a Guerra da Secessão que não trata o seu tema de forma romântica,
amaneirada, e por isso provocou muita controvérsia e contestação: certos grupos
patrióticos e militaristas condenaram-na como um insulto à reputação do
exército norte-americano; outros colocaram-lhe (injustificadas) objecções de
ordem estilística, clamando contra as suas pretensas transparências temáticas e
deselegância estilística. A tudo isso resistiu com orgulho o romance de Crane,
justamente por ser essa primeira e distintiva abordagem moderna da guerra no
âmbito da literatura norte-americana. Narra a história de tristes realidades de
um campo de batalha na Guerra Civil Americana, do ponto de vista de um
assustado soldado de infantaria. Stephen Crane desvenda, com um génio raro, o
terror, o medo cego e a proximidade da morte num moderno campo de batalha, num
livro que se tornou um estudo clássico da psicologia do medo. Se a obra não
possuísse inúmeros méritos por direito próprio, bastaria a influência que
exerceu para a tornar ímpar.
ÓLEO SOBRE TELA, 1946
Júlio Martins Resende da Silva Dias
Nasceu no número 14 da Rua Actor João
das Regras (antiga Travessa de Sá de Noronha), no Porto, juntamente com o seu
irmão, o maestro Resende Dias.
Diplomou-se em Pintura em 1945 pela Escola Superior
de Belas-Artes do Porto, onde foi discípulo de Dórdio Gomes. Fez a sua primeira aparição
pública em 1944 na I Exposição dos Independentes. Em 1948 partiu
para Paris, recebendo formação de Duco de la Haix e
de Otto Friez.
O trabalho produzido em terras gaulesas é
exposto em Portugal em 1949 e as propostas
actualizadas que Resende demonstra são acusadas pelos artistas portugueses,
definindo a sua vocação de expressionista. Assimilou algum cubismo,
vai construir na sua fase alentejana, e mais tarde no Porto,
uma pintura caracterizada pela plasticidade e dinâmica, de malhas triangulares
ou quadrangulares, aproximando-se de forma progressiva da não figuração. Do
geometrismo ao não figurativismo, do gestualismo ao neofigurativo,
a sua arte desenvolve-se numa encruzilhada de pesquisas, cuja dominante será
sempre expressionista e
lírica. Pintor de transição entre o figurativo e o abstracto, Resende
distingue-se também como professor, trazendo à escola do Porto um novo espírito
aos alunos que a frequentaram na década de 1960.
A obra pictórica de Júlio Resende
revela que ele compreendeu a pintura europeia, porque a observou, experimentou
e soube transmitir aos pintores e aos alunos que ele formou na Escola Superior
de Belas-Artes do Porto.
Cavaco Silva referiu-se a ele como
"grande Mestre da Arte Portuguesa do último século".
Morreu no dia 21 de Setembro de 2011
aos 93 anos.