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sábado, novembro 30

BARCAÇA_50

 


Cinquenta como seria possível que um dia poderia dizer que mês a mês com toda a colaboração dos amigos que dedicam algum tempo a esta pequena revista que nasceu para informar, para divulgar, não só a nossa monumentalidade, os nossos sonhos, a nossa terra.

Neste momento que se aproxima o Dia da Família das nossas crenças nada melhor que iniciar com a Monumentalidade vinda por parte do nosso colaborador Mário Silva que mais uma vez nos oferece uma visita guiada à Capela de São Jorge em Tentúgal datada do século XVII. Depois nada melhor que entrar no silêncio através de uma viagem maravilhosa narrada pela Carla que entre os mármores e tantas histórias que se encontram dentro destas Igrejas nos diz “Cada dor que carrego, acolho nesse momento de calma, sem pressa de a abandonar”.

E como as nossas histórias cheias de amor, carinho e o interesse de informar o nosso património viajamos até à descrição sempre cheia de história sobre os monumentos da Figueira da Foz e Fernando Curado que já nos habituou desta vez descreve uma história fabulosa sobre o Monumento de Homenagem aos Mortos da 1ª Grande Guerra. Já Olímpio Fernandes num texto de ondulações e de fortes batidas do seu Mar Revolto.

José Craveiro “Contador de Histórias” traz-nos um vídeo do seu já longo trajeto nestas “Palavras Andarilhas” e dando continuidade chega-nos também a arte de bem ajudar o próximo numa manifestação de amor pelos mais desprotegidos de António Girão e nas suas pedaladas por essa Europa fora.

A poesia é uma das nossas rúbricas mais antigas pois desde o nº1 que entrou na Barcaça e por cá continua, são palavras com sentimentos, com visões e com sonhos que Garça Real, Isabel Capinha, Isabel Tavares, Isabel Rama e Mara Kopke mês a mês nos deliciam com os seus poemas.

Já se acostumaram também à nossa rúbrica “LIVROS” e “MÚSICA”

Desejo a todos os nossos colaboradores e seguidores um Santo Natal porque o nº51 irá sair como sempre em final de mês.


Hoje ao chegarmos onde estamos nada melhor que me orgulhar do prazer que me tem dado tentar chegar dia após dia aos homens e mulheres dos concelhos de Montemor-o-velho e Figueira da Foz.

Mas nada disto não seria possível sem os nossos colaboradores os que se mantêm e os que noutros tempos fizeram parte desta família.

Mas também não somos alheios a todos os tropeços que alguns que se sentem acima disto tudo tem feito para coagir seus trabalhadores a não participar na Barcaça, mas seja em águas calmas ou revoltas seguimos o nosso caminho e por isso felicito todos os que permanecem.

A nossa terra entra mais uma vez em festa e de festa iremos estar até às Autárquicas. Veremos todos a prometer o que depois não cumprem, a saúde está de rastos, os caminhos mais esburacados, as bolsas mais lisas, mas independentemente vamos de festa.

Pergunta-se porque tanta festa onde se gastam rios de dinheiro quando o Concelho necessita de tantos apoios que tardam em chegar e os que aparecem, são cirurgicamente colocados na rua com datas bem estudadas. Hoje vemos no parlamento os antigos dirigentes a pedir o que não fizeram em oito anos e os concelhos vão no mesmo caminho e nada melhor que adjudicar obras de campanha e nisso estou de acordo as autárquicas deveriam ser anuais para que as obras não levassem três anos para se iniciarem.

Festa é festa....

Capela de São Jorge [Tentúgal]

A Capela de São Jorge, de Tentúgal, foi mandada construir em 1687 pelo Dr. Manuel Lopes Gavicho, com licença do Bispo-Conde, D. João de Mello. A primeira missa realizou-se a 25 de junho de 1687. Desconhece-se em que altura foi desmantelada, bem como o paradeiro das imagens e retábulo que aí existiam.

Em dia do Corpo de Deus, fazia-se, às custas do morgado, uma procissão com S. Jorge a cavalo. Um único membro da família foi batizado nesta capela, segundo os livros paroquiais da vila. Efetuou-se o batismo a 20 de fevereiro de 1786 e celebrou o ato o reverendo padre Frei António de S. Tiago Botelho, monge de S. Jerónimo. A criança recebeu o nome de Jorge, santo padroeiro da casa, e era filho primogénito de João António Lopes Gavicho de Amorim Pessoa, senhor do morgado, e de sua mulher D. Maria Isabel de Moura Ravasco Manuel, senhora de outro morgado.

Contígua ao Solar dos Gavichos, tem corpo quadrado de pequenas dimensões, com sacristia. Tinha campanário com sino, desparecidos. Tinha entrada pelo interior e pelo exterior, apenas esta última se mantém porque foi colocada uma parede pelo lado interior. Encontra-se totalmente vazia, sem qualquer elemento artístico.

Tinha um retábulo de talha dourada muito rica com quatro painéis pintados e uma imagem de S. Jorge matando o dragão. Para além disso, possuía ainda várias imagens de pedra do século XVII. Para a capela davam duas janelas interiores, uma na parede poente, com cercadura de pedra sem balcão, e outra na parede norte, com varanda de madeira, que serviam para os senhores da casa ouvirem missa. Estas janelas encontram-se atualmente tapadas por uma parede que impede o acesso interior à capela. Na sacristia existia um lavabo de pedra, também do século XVII, que foi colocado na parede de uma das salas da casa.

Fonte: https://www.cm-montemorvelho.pt/index.php/component/k2/item/189-capela-de-s-jorge 


Há dias em que o silêncio é tudo o que preciso. Sentir esse vazio que se alonga, sem pressa, sem exigências, e que, ainda assim, me enche de uma estranha sensação de paz. Fico ali, quieta, como se qualquer movimento pudesse afastar o que procuro: esse espaço vazio que me acolhe.

Sento-me e deixo que o tempo passe, apenas a conversar contigo, sem que uma única palavra, na verdade, seja proferida. Não é exatamente uma conversa, é um tipo de entendimento, quase como um segredo partilhado entre o que sou e o que poderia ser, entre os meus medos e as minhas esperanças. No silêncio, é como se um outro lado de mim, mais sábio e mais calmo, aparecesse. Alguém que escuta os meus segredos sem nunca cobrar. Alguém que sabe a minha história toda, mas ainda assim fica.

Sentada ali, espero que os meus fantasmas encontrem o caminho para longe. Alguns deles são antigos e teimosos, presos a uma memória ou a uma dor que persiste, e há dias em que se tornam especialmente ruidosos. São esses fantasmas que, no meio da vida acelerada, acabam por encontrar um canto para se esconder. Mas no silêncio, expostos e desarmados, eles finalmente começam a se dissipar. Pouco a pouco, vão-se desvanecendo como neblina ao sol, e é então que percebo o poder de uma quietude que os dissolve, que os leva para longe, sem esforço.

Cada dor que carrego, acolho nesse momento de calma, sem pressa de a abandonar. Sento-me com ela e olho-a de frente, como se fosse um pedaço de mim que precisa de atenção. Talvez nunca desapareça por completo, mas, no mínimo, posso torná-la leve, permitir que exista sem me oprimir, até que esteja pronta para partir.

Porque, por vezes, é na aceitação que a dor se dissolve, é no respeito pelo seu peso que se permite finalmente descansar.

Talvez seja isto que encontro no silêncio: a compreensão de que nem tudo precisa de ser resolvido, nem todos os fantasmas precisam de ser vencidos. Algumas dores, algumas partes, só precisam de um lugar para existir e de um pouco de compaixão.

É isso que o silêncio me oferece — um abrigo onde a alma respira e onde, aos poucos, eu me torno mais leve, até sentir que posso, enfim, seguir em frente!

 

FIGUEIRA DA FOZ - O MONUMENTO DE HOMENAGEM AOS MORTOS DA 1ª GRANDE GUERRA

O Dia do Armistício, 11 de novembro de 1918, comemora o fim da 1ª Guerra Mundial, a assinatura de um Tratado de Paz entre os Aliados e o Império Alemão, em Compiègne, em França.

Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos e mais de 20 milhões ficaram mutilados. Foi o 6º conflito mais mortal na história da humanidade.

Portugal participou declaradamente nesta Grande Guerra a partir de 1917, em França, ainda que a partir de 1914 tenham ocorrido combates em Angola e Moçambique, igualmente contra as tropas alemãs.

Portugal enviou um total de 105.542 militares, mais de 18.000 para Angola, cerca de 30.000 para Moçambique e mais de 56.000 para França.

Os soldados portugueses lutaram com bravura em Angola de 1914 a 1915, em Moçambique de 1914 a 1918, e em França de 1917 a 1918.

No dia 9 de abril de 1918 ocorreu a Batalha de La Lys, a mais sangrenta das batalhas, em França, na Flandres. Em 4 horas de luta, morreram 7.760 militares portugueses, 16.000 ficaram feridos e mais de 13.000 ficaram prisioneiros e desaparecidos.

Uma tragédia para milhares de famílias portuguesas, uma tragédia idêntica à que aconteceu durante 13 longos anos de guerra colonial (1961-1974), na qual morreram 8.289 militares, e só comparável à batalha de Alcácer Quibir em 1578 onde cerca de 7.000 portugueses morreram e aproximadamente 15.000 foram capturados e vendidos como escravos.

Em março de 1919 regressaram a Portugal os últimos expedicionários portugueses, alguns feitos prisioneiros durante a guerra, doentes e estropiados, com saudades da família e da sua terra natal.

Todos foram heróis, os que morreram e os que sobreviveram, e o “figueirense” António Gonçalves Curado foi só o primeiro soldado português a tombar.

Em glória dos mortos da 1ª Grande Guerra foi erigido no ano de 1928 um monumento no Largo Luís de Camões e, bem próximo, foi inaugurado no dia 3 de abril de 1932 um monumento de homenagem a António Gonçalves Curado.

O monumento aos Mortos da 1ª Grande Guerra foi projetado por António Augusto Gonçalves e foi inaugurado em 9 de setembro de 1928 com a presença do então presidente da República Portuguesa, General Óscar Carmona, que presidiu à cerimónia.

A Comissão Administrativa municipal, então liderada por Abel de Vasconcelos Gonçalves e tendo como vogais Argel de Melo, Mário Barraca e outros, deliberou em 2 de agosto de 1928 consignar no 1º orçamento suplementar uma verba de 10.000$00 para “ocorrer às despesas com a recepção do Presidente da República”.

Não obstante, Óscar Carmona ficou hospedado na habitação dos figueirenses Fernando da Costa Mendes (1891-1964) e esposa, valendo-lhes um voto de reconhecimento e louvor da Câmara em 12 de setembro de 1928, "pelo cativante agasalho e delicadas atenções com que acompanharam em sua casa o Exmº Senhor Presidente da República".

Fernando da Costa Mendes era filho de Henrique Gonçalves Mendes, fundador em 12 de março de 1891 da Sociedade Bancária Mendes, Irmãos & Comanditários, na Praça Nova, a qual se transformaria em 1918 na filial figueirense do Banco Nacional Ultramarino, instalada num edifício imponente já demolido.

Fernando da Costa Mendes, que sendo figura saliente após a ditadura instaurada em 28 de maio de 1926, presidente da União Nacional e da Associação Comercial figueirenses, sócio honorário da Naval 1º de Maio em 26 de abril de 1928, agente consular da França e gerente do BNU local, não deixou de perder quase toda a sua fortuna pessoal por atos de humanismo e generosos serviços prestados à comunidade figueirense.


Viajar no mar revolto de vez em quando, vivemos novas emoções e outros receios nas fortes e batidas ondulações no mar imenso das nossas vidas.

Desta simulação à realidade de todos os cotidianos que nos remetem para novos circuitos de agir e pensar, novos espaços, quer sejam no mar ou em terra...

Afinal, penso eu, não somos ditadores do que nos acontece nas circunstâncias e no imprevisto, se de repente somos outros na realidade escondida no baú das memórias. Por mim homem de sonhos e com poucos pulmões de solidariedade, faço das pequenas coisitas, agora pisando os passeios na cidade da Figueira da Foz, depois de ter aportado ali na barra da Foz do Mondego, que considero a partilha da vida no seu mais intenso pulsar.

O sol quentíssimo, neste estranho Outono, proporciona a todas as pessoas a leveza das roupas, caminhando apressadamente como se fossem formigas numa longa fila à procura de comida.

Sentia-me bem em mangas de camisa, boa tarde ali e por aqui.

As ruas da cidade, nos seus passeios, acreditem ou não tem vida e proximidade, as tais emoções repentinas que nos animam a viver, pese embora algumas pessoas que olham apenas para o chão, tal a pressa de chegar a casa, ao comboio, se não tiver o seu carro no estacionamento.

De repente sou abraçado pela antiga colaboradora de nome Helena, tão velha como eu como estou de velho, fiquei atordoado, sem saber o que dizer, não me lembrava de nenhuma Helena, na minha longa carreira de cabeleireiro.

Conforme podia fui argumentando no sentido de não desiludir aquela simpatia tendo ficado com a certeza de que a Helena, não mentiu, abraçando-me outra vez, que bom saber de si, que bom, enquanto eu sem recordações da Helena, contínuo a sentir nas ruas desta cidade o pulsar de agradáveis memórias tão saborosas como foram os dois abraços que me aconchegaram a alma no reviver de outros tempos.    



Uma VIDA...!

Quase aos sessenta anos, e um quarto de século depois, ao fazer esta descida (Castelo do Germanelo, Rabaçal, Penela), continuo a sonhar como um puto! Sonho que vou a pilotar e que consigo pilotar...uma bicicleta! Sonho que sei pilotar! Sonhos...!

Uma das fotografias que mais me impressionaram, de todas as que por aqui passaram. É algo muito intrínseco, muito próprio!

Muito mesmo!

1. Há 25 anos que a Serra de Sicó faz parte da minha vida! Passei aqui grandes momentos, com os Meus Grandes Amigos de há quase 50 anos. Amizades iniciadas, simultaneamente, no Liceu D. Duarte (Coimbra) e no Estádio Universitário. Morrerei com eles como Amigos.

2. Fiz esta perigosa e alucinante descida...centenas de vezes! Incentivei muita gente a descê-la sem medo.

3. E, não consigo escrever sem ficar de olhos (muito) humedecidos. Esta minha companheira (bicicleta) tem...22 anos de Sicó. É a máquina com mais quilómetros nesta, para mim, mítica serra. Quase um quarto de século depois, com a sempre excelente actualização da Valdemiro Cardoso CicloValdemiro, é única no mundo, tais as transformações que tem.

É a minha imagem de marca!

Alguém me dizia, na partida:

-"Ó Velho, trazes a Menina dos Teus Olhos!"

Claro, em Sicó, sempre a Corratec!

Amo-te!


Do céu cinzento

caem cordas de água

que amarram ao cais

vontades de distância…

Nos céus, súbito um clarão,

revolta surda,

grito mudo há tanto sufocado…

desejo de partir para longe…

Agora é o sol poente

num céu imensamente azul,

apelo de uma partida adiada.

Amanhã, será o sol,

a luz intensa,

a viagem com hora marcada

rumo à lonjura.

Amanhã, o sol

e o azul das promessas…

Tempo de infinito sem limites.


O Mundo

O mundo é uma roda gigante cheia de pessoas,

todas elas diferentes…

de diferentes lugares

de diferentes línguas

e muitas vezes a mesma língua,

mas com diferentes sotaques,

de diferentes razões de pensar, falar e agir,

de diferentes raças

e até de diferentes tamanhos.

Perante todas estas diferenças pensamos que tudo vai ser diferente,

que no meio de toda esta diversidade,

esta incrível variedade de gente,

alguém se destaque pela diferença!

E sim, é verdade,

encontramos a diferença que tanto queremos

na maneira de pensar ou de agir,

seja certa ou errada,

esta será peculiar a cada um de nós

o que faz com que todos sejamos diferentes

mas que todos estejamos em sintonia

desejando o melhor para o MUNDO.



NÓS

Nesta vida todos temos a nossa matriz

a nossa identidade

o espírito e a alma que nos veste

a nossa verdade!…


Não há ninguém igual a nós

DEUS fez-nos assim, singulares

com as nossas idiossincrasias

os nossos humores, sonhos,

desamores, manias…


É a nossa singularidade

a nossa personalidade

nem sempre compreendida

nem sempre assimilada

mas profundamente cravada

em nós, que nos define!


Nós somos as páginas de um livro inacabado

foi assim que escolhemos o caminho.

A mim preocupa-me não pisar ninguém

andar, cada vez mais, devagarinho

cumprir o meu destino

não machucar e não ser ferida…


A vida é tão difícil

que não vale a pena perder tempo,

energias, subtilezas, simpatia

por quem não nos aceita

nos bons e nos maus momentos.

Quem não caminha na nossa estrada

não nos ouve, não nos afaga…

A alma!


Às vezes nós somos tudo

outras vezes não somos nada!

Mas que importa?

Se somos única e simplesmente

tudo o que carregamos

no nosso espírito, na nossa alma,

se somos unicamente… Nós!

ENTRE O SONO E O SONHO

 

Entre o sono e o sonho

sonho acordada.

Tenho um sonho alucinado

de raios e luz.

Fervilham imagens

de tudo e de nada.

Entro o sonho e o sonho

sonho acordada.

Paz.

Guerra.

Crianças.

Mulheres e Homens.

Gritos de alegria e tristeza.

Amor e ódio.

Entre o sonho e sono

acordo.

Acordo numa paisagem celestial,

num sonho de Amor

Tornado realidade.



Comboios de Lisboa

Esta viagem
Que me leva o dia a dia
Numa Lisboa
Que levanta na asa da gaivota
Os comboios que choram
toda a solidão
E a noite vazia
Por detrás desta porta...

Onde estão os sorrisos?
os choros e as vozes?
Onde está a lareira
Que acende a nossa vida...

Tudo se apagou, tudo se finda!
Não há esperança, nem sonho
Apenas os gestos
da inútil despedida.
E uma raiva cega
que seca as lágrimas e a vida.

LIVROS

A Revolução antes da Revolução

Luís de Freitas Branco

 

Histórias inéditas. Documentação rigorosa. Um livro surpreendente.

As senhas da Revolução, é sabido, foram duas canções que fazem hoje parte do cancioneiro da Música Popular Portuguesa. O papel da música no derrube da ditadura não começou apenas, no entanto, na madrugada de 25 de Abril de 1974. 

Antes da revolução política, uma revolução cultural antecipou o fim da ditadura. O regime estava por um fio e o sopro inspirado da música popular portuguesa foi a banda sonora para transformações decisivas. 1971 foi o ano do golpe musical, com protagonismo de publicação de discos emblemáticos de José Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira e Carlos Paredes, mas também de Duo Ouro Negro, Tonicha, Amália Rodrigues ou Marco Paulo; o ano do primeiro Cascais Jazz e do mítico Festival de Vilar de Mouros; o ano que deu à música portuguesa e ao movimento dos capitães a canção-senha “Grândola, Vila Morena”.

Neste trabalho de investigação é feito um levantamento rigoroso, exaustivo e em grande parte surpreendente que documenta o modo como a música popular portuguesa abriu as portas para o clima cultural, social e político que desencadeou o dia “inicial inteiro e limpo” e que mudou Portugal há 50 anos.
Para este livro foram entrevistadas 45 personalidades da música portuguesa, dos mais diversos géneros e quadrantes; protagonistas como Sérgio Godinho, Manuel Alegre, Marco Paulo, José Cid, Manuel Freire, Fernando Tordo, José Jorge Letria, Bonga, Quim Barreiros, Maria da Fé, Francisco Fanhais, Rão Kyao, entre outros, incluindo os familiares de José Mário Branco, Duo Ouro Negro, Charlie Haden, ou Carlos Paredes, tendo algumas das histórias recolhidas sido publicadas parcialmente no Observador. Foi também analisada uma extensa bibliografia, foram consultados mais de 700 jornais e cerca de duas centenas e meia de revistas.


As histórias recolhidas e a análise desta vasta documentação – tratadas simultaneamente com o rigor de um estudo aprofundado e com a desenvoltura da linguagem jornalística – lançam pistas novas e um olhar inédito sobre o momento em que a música popular portuguesa iniciou uma revolução antes revolução.

MÚSICA

“Queixa das Almas Jovens Censuradas”, José Mário Branco



quinta-feira, outubro 31

BARCAÇA_49

 

Boa noite

Na 49º Edição da Barcaça agradece todos os nossos colaboradores e ao público que ultrapassou as 10.000 entradas nestas viagens por este nosso rio.

Ao longo deste nosso percurso com início em 25/08/202, uma palavra de agradecimento a todos os colaboradores que partiram e dar as boas-vindas aos que entraram, parar é morrer e a Barcaça amiga do ambiente vai vareando este rio da mesma forma com que começou.

Nesta edição e não fugindo ao alcance do seu barqueiro, analisa o dia a dia de Portugal com as suas dificuldades as suas mudanças e percorre de uma forma agradável os nossos Concelhos seja de Montemor-o-Velho como da Figueira da Foz.

Na monumentalidade do Concelho de Montemor-o-Velho, Mário Silva traz-nos "Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó".

Fernando Curado já nos habituou as belíssimas descrições de tempos idos das gentes e das ruas da Figueira da Foz, Carla sempre acutilante nas suas abordagens da vida fala-nos dos seus amores maiores. José Craveiro um contador de histórias impressionante. Olímpio Fernandes nas vestes do Repórter Mabor vai trilhando hoje os caminhos alcatroados da sua “Barca” recordando como tanto gosta dos candeeiros a petróleo e das suas raízes. Já António Girão desta vez uma crónica de viagem, (história de muito amor). Já na Poesia, com uma nova entrada Isabel Rama, depois Garça Real "Foi longa a caminhada.",  Isabel Capinha (Velha, eu?) e com a entrada de mais uma Isabel, desta vez Isabel Rama que desde já agradeço o seu contributo para valorização das viagens da Barcaça. A Poetiza Isabel Tavares (Para Lá Dos Sonhos) “...há um mundo de magia...”, Mara Kopke o seu “Refúgio” “...Até que o silêncio entorne a minha alma...”

A minha escolha na rúbrica dos livros vai para Manuel Alegre “Memórias Minhas”. Já a escolha de Ary dos Santos, “Estrela da Tarde” termina esta nossa viagem da Edição 49º

Boas Leituras.


Portugal a "ferro e fogo".

Este final de mês ficou bem assinalado que o Estado não está a cumprir com a sua missão “defender todos os portugueses”.

As causas poderão ser mais que muitas, mas não nos podemos deixar confundir com a comunicação social que só procura abertura de telejornais e unicamente vai a trás do seu lucro. Seja rebeliões ou incêndios...onde haja sangue aparecem, mas pergunto há quantos anos não entram nestes bairros problemáticos e descobrem o que por lá se passa?

Escola, associações, limpeza, transportes, droga, saúde...

Aparecem só na desgraça e claro como alguns partidos de extrema-direita “oportunistas” para chamar atenção da sua própria desgraça interna que perante as sondagens vai de mal a pior.

Vejamos, um acto que está em investigação, muitos já condenaram sem saber as causas que levaram a ceifar uma vida. Um condutor de cor diferente, que está nos cuidados intensivos, mas que ninguém sabe quem é ...

Afinal estamos a falar de pobreza. Onde todos ralham e ninguém tem razão.

   A palavra Pobreza foi usada e abusada até perder o seu verdadeiro significado. E, num certo sentido, a perversão semântica é bem-vinda: já ninguém é pobre como antigamente e, acima de tudo, a memória da miséria dos nossos pais e avós está guardada em baús que não se abrem.

Se é difícil perceber claramente o conceito de pobreza, digamos que em Portugal a situação já foi muito pior.

Tenho um amigo da minha geração que conta, divertido, que só percebeu que era pobre já na adolescência. Toda a sua família e todas as pessoas com quem convivia, amigos, vizinhos e parentes viviam da mesma forma. Portanto, somente no liceu, ao conhecer meninos de famílias mais abastadas, pôde comparar a maneira como vivia e tudo o que não tivera e que até então fizera falta nenhuma. Sua avó materna até mesmo era apontada como uma mulher " de posses" porque possuía uma vaca e vendia leite na vizinhança; leite que ela acrescentava água para render mais. O marido da leiteira, seu avô, tinha um chapéu e um fato já muito usado e mesmo assim era considerado um senhor elegante.

Longe de sermos ricos estávamos, porém, bastante acima da dita linha da pobreza. Nunca faltou comida e a ideia que tenho é que vivíamos com conforto e alguns pequenos luxos, como ter criadas em casa.

Porém, a ideia de poupança sempre esteve presente. Nada era deitado fora sem que houvesse hipótese de ser aproveitado.

A minha tia costureira talentosa, sabia cerzir as meias e peúgas na perfeição, sempre com a ajuda de um ovo de madeira e um dedal. Colarinho e punhos puídos ganhavam nova vida ao serem virados e costurados novamente.

Calças demasiado curtas viravam calções para o verão. Lençóis velhos se transformavam em trapos para a limpeza. Restos de sabão azul e branco eram guardados até atingir a quantidade necessária para fazer uma boa barrela.

Na alimentação havia verdadeiros milagres gastronómicos. Restos de carne assada surgiam em aproveitamentos como empadão ou massa de croquetes. O cozido à portuguesa servia mais de uma refeição e terminava como sopa com o restinho das carnes desfiada. E como era bom! Sobras de arroz invariavelmente voltavam à mesa sob a forma de bolinhos de arroz.

Juntavam ovos, muita salsa picada, cebola bem fininha e um pouco de farinha e eram fritos. O pão velho ganhava vida em açordas ou rabanadas. O tio do meu pai, Carpinteiro fez bancos em madeira para pequenada para conseguirem estar à mesa com os crescidos. Já na escola primária os piões eram pequenas maravilhas. Já os botões da minha tia costureira nunca tive problemas com os botões das calças nem das camisas. Apagar as luzes ao sair da divisão da casa é uma mania. Cresci assim. Fui educado assim. No poupar está o ganho.

Em pequeno lembro-me de sair com a tia velha e dizer que tinha sede e propunha comprar uma garrafa de água num café. Ela dizia sempre: bebes quando chegares à casa. É mais barato...

Cito um texto de Maria Filomena Mónica, no seu livro " Os Pobres" :

" No meu caso, como na maioria das famílias de classe média urbana, os contactos com os pobres resumiam-se às relações com as criadas que viviam em casa dos nossos pais. De uniforme preto e avental branco com rendas, serviam os pratos do dia como a patroa lhes tinha ensinado. Ouviam conversas íntimas, sem que ninguém se preocupasse. Era como se não existissem. "

Conheci uma família em que as senhoras a meio da conversa mudavam do português para o francês. A primeira vez que presenciei a cena achei bizarro. Era em casa de um colega de escola. E indaguei a razão; Ah, é para as criadas não perceberem...essa gente é muito curiosa...

ESSA GENTE...foi quando me dei conta que havia eles e os outros. E os outros geralmente eram " essa gente".

Sempre achei curioso o verdadeiro sistema de classes sociais em Portugal.

E confesso que existem tantos "códigos" de postura, etiqueta e linguagem que para um estrangeiro deve soar estranho.

Como saber se deve dizer prenda ou presente? Vermelho ou encarnado? Magoar-se ou aleijar-se? E se deve ou pode cumprimentar com um ou dois beijinhos?

Não sei se estas filigranas de comportamento ou indicadores de estatuto social são normais em todo o país ou são um fenómeno lisboeta.

A diferença de situação económica na mesma família, por vezes, ainda podia ser mais complicada que em outro tipo de relações humanas.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó [Reveles]

A atual igreja matriz é dedicada a Nossa Senhora do Ó, avista-se dos campos do Mondego e do alto mar. É costume antigo os marinheiros de Buarcos, aquando da atividade piscatória no mar alto, orientarem-se pela brancura e altivez desta igreja e daí as promessas e pagamento após o regresso a terra.

A paróquia foi vigariaria do Bispado, termo de Montemor, e pertence à diocese de Coimbra, no arciprestado de Alfarelos-Soure (outrora arcediago de Penela).

É obra antiquíssima, reedificada em 1638, incendiada em 1865 e restaurada em 1871, num momento em que foi pedido ao Seminário de Coimbra um altar livre.

A primitiva matriz de Reveles foi a ermida de Nossa Senhora da Saúde, alada à estrada Reveles-Quinta da Goleta (dos monges de Santa Cruz de Coimbra) e denominada de “Nossa Senhora Velha”.

A Senhora do Ó que, no dizer de Frei Agostinho, “é de peregrina escultura, e mediana estatura, em forma nazarena, mas em tudo admirável que atrai a si os corações de quantos nela põem os olhos”, foi “raptada” do seu altar há muitos anos, havendo quem afirme que a mesma imagem existe na Igreja de Santa Maria da Alcáçova de Montemor-o-Velho, o que é crível, pois Reveles “em tempos remotos pertenceu à freguesia de Nossa Senhora da Alcáçova”, segundo nos informa Pinho Leal.

AS ANTIGAS LOJAS DA FIGUEIRA DA FOZ

Hoje apeteceu-me recordar o antigo comércio da Figueira da Foz, as lojas da minha juventude!

A Casa Havanesa, a Casa Guimarães, a Mercearia Encarnação, a Tabacaria Africana, o Gracindo, a Tabacaria Pessoa, a Foto Brandão, a Mercearia Primorosa, a Somaro, o Johny Ringo, o Bazar 101, a Casa das Meias, a Foto Cruz, o Café Nau, a Ourivesaria Campos, a Singer, o Café Oceano, a Brasileira, o Café Caravela, a Sacor, a Casa das Meias, a Tabacaria Guedes, o Café Nicola, o Oculista Morais, a Casa Rádio e a Tulmar!

Lembro ainda a Remacol, a Casa Oriental, a Sofico, a tabacaria Carvalheiro, a Vidraria Figueirense, os Armazéns Rodriguez, a Casa Baiana, o Moreno, a Casa que vendia loiças ao lado da casa Baiana e a Ourivesaria Álvaro Artur, hoje Ourivesaria Vaz.

Tínhamos a rua da República cheia de lojas, como a tasca do Zé da Cabaça, a Mercantil, as lojas dos irmãos Quaresma, os Armazéns de fazendas por baixo da antiga Naval e o Gracindo que foi empregado do Rodriguez e se estabeleceu na Rua da República e mais tarde teve uma sucursal na Rua Cândido dos Reis.

A barbearia Académica, do Sr. Santos, junto da Casa Rádio, a barbearia Adelino Pinto na Rua da Restauração, e outros barbeiros como o Albano, o Esteves, o Morais, o Coelho, o Guerra, o Godinho, o Evangelista, o João Ribeiro, o Matos, o Moutinho, o Salão Azul, o Silva, o Medina e o Cachulo na Praça Nova, o Morais e o Esteves na Praça Velha, e a barbearia Moderna, de António Clemente, junto do Casino.

Recordo também os cabeleireiros Moreno, Egídio, Mário Bertô, a Cecília, o Fernando, a Alice, o Né e a Olímpia.

Os vinhos e os petiscos do Gato Preto, na Rua da Alfândega, do Carvalheiro, próximo do rio, na Praça Velha, as sandes do Feteira, junto da praia da sardinha, os petiscos da Casa Papagaio, unida ao mercado, os bilhares do Café Brasil, na paragem dos autocarros, a mercearia fina do Adriano Lucas, na Praça Nova, os matraquilhos e os bilhares do Lino, junto do Casino, e a Chapelaria Moderna na esquina da Rua Direita do Monte.

A casa Nally, a Ótica Morais, a sapataria Olegna, o Bazar do Porto, o restaurante Aquário em frente ao casino, a velha pensão Europa e os seus bilhares, a pensão Paris, os bilhares do Guedes na rua Fresca, o snack bar da Sacor, a sapataria ao pé da casa Realce e eu sei lá quantas mais….

Junto do Jardim Público o Rodriguez e o Moreno cujo empregado Henrique se estabeleceu mais tarde na Rua das Flores. A seguir era a loja do Sr. Peixoto, a "Flor do Jardim", na esquina a papelaria Carvalheiro, depois, virada ao rio, a sapataria Quaresma, a Casa Baiana e logo a seguir a loja Tiago, a primeira a vender blue jeans...

Na Rua das Rosas havia a mercearia do Sr. Alfredo, na Rua Direita do Monte a Pensão Sãozinha, os supermercados OVO nas Abadias, a mercearia Evaristo na Rua da Providência, a sapataria A Elegante, a ourivesaria Campos, e eu sei lá quantas mais!

Havia muito comércio na Praça Nova, na Rua da República, na Praça Velha e no Bairro Novo, mas a casa que nunca esquecerei é a Casa Rádio, porque aqui comprei, a crédito, todos os meus livros escolares, os livros abençoados que me ajudaram a crescer e a fazer de mim quem fui e quem sou!

Por detrás dos balcões havia gente educada e simpática, que fidelizava clientes, como os senhores Ângelo, Valdemar e Joaquim, os três da Casa Rádio, o Sr. Lino do Nicola e da casa de bilhares, a dona da Casa Guimarães, a Ana da Tabacaria Africana, a Maria Helena da Casa Havanesa, o Sr. Cardoso e a Lidinha da Nally, o Sr. Carlos Antunes da mercearia Flor do Mondego, os manos Cordeiro da Casa Salgueiro e tantos outros que não me recordo ou não conheci.




FOI EM SETEMBRO

[19 anos?! Sério?! Parabéns, amores da minha vida]

Meninos de olhos bonitos, sorrisos rasgados e abraços apertados. De amor sem medida.

Meninos de olhar doce, meigo e palavras carinhosas. De sentimentos puros. De paixão pela vida.

Mais um ano que se completa. E o meu coração aperta. O medo aumenta. Desde o momento em que nasceram o mundo ganhou novas cores e sabores. Tornou-se mais bonito e brilhante.

O vosso olhar curioso e cheio de vida revelou desde sempre uma alma destemida, sempre disposta a explorar o mundo e a enfrentar cada obstáculo.

O vosso sorriso rasgado, aquele que ilumina até os meus dias mais sombrios, tem o poder de transformar qualquer instante num momento mágico. A forma como sorriem, me abraçam e me dizem “gosto de ti”, “amo-te” ou me chamam apenas “amor da minha vida” enche-me de esperança. De ternura. De amor.

Meninos apaixonados pela vida, com um coração que transborda carinho. Com um amor que me enche de vida. Que me dá forças e me faz continuar quando me apetece desistir.

Tão diferentes. Tão iguais. Quem vos vê apenas notará as diferenças. Cabelo louro ou castanho. Olhos azuis ou castanhos. Mais alto ou mais baixo. Jamais verão o que eu vejo. Jamais saberão o que eu sei. O que eu sinto. E sinto tanto.

Meninos de olhos bonitos, sorrisos rasgados e abraços apertados, que continuem a crescer e a me ajudar a ver a vida com outros olhos. Permitam-me continuar ao vosso lado a ver-vos crescer. Ver-vos continuar a lutar pelos vossos sonhos. A amparar-vos a cada e a ajudar a levantar.

Que nunca falte no vosso coração o carinho que compartilham com todos e a coragem para serem autênticos, para lutarem pelos vossos sonhos e vencerem os obstáculos.

Meninos de olhar ternurento e coração bonito, que o ano que agora começa seja o ano da vossa vida. Que vos dê tudo o que desejam. Eu vou estar, sempre, aqui a torcer por vocês até ao meu último suspiro!

Muitos parabéns, amores da minha vida, sejam felizes.

“Só vivemos uma vez não vivam em vão!” - este seria o único conselho que vos daria se me pedissem, não deixem a vida passar sem que tenha significado!

Vocês são, sem dúvida, o melhor de mim.

17ª Edição das Palavras Andarilhas

Noite de contos no Auditório do Coreto

José Craveiro (PT)

Beja, cidade dos contos

30 de Agosto a 1 de Setembro

A festa da palavra contada



Repórter Mabor (1960) Vai resistindo como se fosse uma criança que brincava com a bexiga do porco, qual bola que só rebentava nas silvas do caminho de carros de vacas, no Casal Novo do Rio, já lã vão70 anos!

Demasiado belo ao sentir essa leveza, quando perante a morte do Carlos Simão, esta manhã na Cova Gala, reconheci que a "besta "por mim suportada nas mesquinhices da vida, não tem comparação com aquela inocência perdida e de repente ressuscitada como se fosse milagre em que não acredito.  

Remorsos e medo da morte?

Muitos se enganam nas vossas cogitações, não é por aí a minha inquietação. O que lamento no meu longo caminho da vida, foi ter-me iludido e desvalorizado a essência e o brilho de vivermos em paz com os outros, chutando na bexiga de porco como se continuasse a ser criança, quando esta manhã fiz uma viagem ao passado na Cova Gala, tão doce e tranquila, pese embora a morte do Carlos Simão, se reconheço que na lei da natureza será sempre dor e necessária.


DEDICO AOS MEUS MENINOS DO 5º ANO

Crónicas de Viagem

O VELHO CHAPÉU DO TI ARISTIDES

(história de muito amor)

Aristides era um velhote da minha infância. Na aldeia era conhecido pelo Tistides. A grande recordação que tenho dele, entre muitas, era beber uns copos na loja do Ti Alma de Deus e andar com um velho chapéu roto que não era só um chapéu. Mais ou menos pelo tempo das sementeiras, era um chapéu roto pequeno. Pelo S. João era outro chapéu roto um bocadito maior. No pino do verão, o chapéu era roto, mas grande. Mas, era sempre um chapéu roto.

Nunca vi a parte de cima da cabeça do Tistides. Nem eu, nem ninguém na minha aldeia. Era o nosso enigma de cachopos desalmados para as tropelias. Chegámos a dar um empurrão no velhote, no meio das nossas brincadeiras, enquanto ele passava pela Cheira (o nosso estádio com balizas entre as árvores e a barroca como linha final). Eu empurrei o Zé Alberto e o Toné Pinto, que fingiram desequilibrar-se e ir de encontro à criatura.

Nada! O chapéu parecia colado à cabeça. Os chapéus, pois ciclicamente iam mudando.

Adivinhas daqui hipóteses dali, apostas dacolá, ninguém sabia porque mudava o velho o artefacto que lhe cobria a cabeça que não via água desde que nascera. E, sempre a mesma ordem na troca: chapéu pequeno, chapéu médio e chapéu grande. Sempre sebentos, a pobreza era assim: pobres, mas honrados!

O Tistides, para nós era um velhote muito velho. Hoje, falamos disso e pensamos que ele teria a idade que temos hoje. Sempre quisemos saber para que nos pedia os restos do pão com manteiga ou de marmelada que cada um levava. Claro, chegámos a levar um ou dois pães a mais, pois pensávamos que seria para lhe matar a fome.

Claro, a pobreza, a miséria e as desgraças da vida levaram o Tistides. Nós, os cachopos, é que descobrimos. Ele há três dias que não parava, meio afastado, na Cheira para ver as nossas jogatanas, Gostávamos dele!

Naquela tarde, após reunião geral da cachopada, éramos oito, decidimos que iriamos entrar pelas traseiras do casebre daquela alma. Deitadas as sortes, lá fui eu com o Mi Primo Berto, enquanto os outros se esconderam atrás da silveira, por detrás da casa do pobre homem. Com a coragem que os oito anos nos dá, entrámos, com muito medo, não fora aquela personagem enigmática, mas na qual percebíamos carinho, amor e ternura, dar-nos uma bordoada.

Entrámos como raposas à caça e saímos como um cão danado a quem todos apedrejam: a correr e a gritar.

O Tistides estava quieto e calado para sempre na cama. Virou uma estrelinha, como diziam as nossas avós.

Com muito medo mascarado de coragem, lá fomos todos. Há momentos que ninguém consegue explicar. O Tonho Botelho, mais corajoso, com o medo que todos tínhamos de mexer em quem não se movimenta, tirou o chapéu todo cheio de nódoas do nosso amigo. Naquela altura, era a versão mais pequena dos três que usava.

Lá dentro, meio adormecidos pela fome de já três dias, estavam três gatinhos que já nem miar conseguiam. Alguns foram buscar pão com manteiga a casa, outro foi buscar água e eu e o Zé Alberto fomos avisar o Doutor Martins.

No quintal do Tistides, lugar inacessível para qualquer ser humano, estavam a miar, como quem chora, sete gatos. Eram os que decidiram ficar por ali. Os outros, muitos, que o Tistides ia criando e transportando nos seus velhos chapéus enquanto cresciam, andavam à solta.

Hoje, tenho sete gatos e tenho recordações profundas dos meus grandes amigos, destes meus grandes amigos, e da pobreza que havia há sessenta anos, no meio de muita honra, trabalho e solidariedade entre gente “pobre, mas honesta”, como dizia Meu Avô Santiago!

Foi longa a caminhada.

Sinuoso o caminho,

cada vez mais distante,

inacessível o fim da estrada.

Ao longe era o céu,

o infinito, azulando meu ser perdido na jornada.

Brumosas, as manhãs

ocultavam as promessas

radiosas … onde o limite

era o infinito.

Envoltos em densa névoa,

soavam agora

perdidos os meus sonhos,

perdidamente distantes,

perdidos de mim

perdida eu deles também …

 

Cada vez mais distante,

hesitante ainda,

avisto, rompendo a névoa,

o acenar frouxo

de um tempo que não foi,

dos momentos perdidos,

dos enganos aceites

leviana e confiadamente

desse amor traiçoeiro …

Ainda sorridente dos sonhos, à espera da luz

desta vida que foge

e escurece entristecida

no alvorecer de cada manhã promissora.

Velha, eu?

Sim… já um pouco velha em idade, mas é a lei natural da vida…!

Sinto-me grata por envelhecer, sentir que os anos vão passando …

Tudo tem a sua idade, o seu tempo…

ser bebé,

ser criança,

ser adolescente,

ser jovem,

ser adulta,

ser trintona,

ser quarentona,

ser cinquentona…

ser sessentona…e o envelhecer não pára!

Velha, eu?

Sim… envelheço cada dia que vai passando, sentindo-me em cada segundo da vida a mulher mais incrível, maravilhosa e única!

Sim, única, porque me respeito e amo, não tenho vergonha, nem de mim, nem do meu corpo.

Sou eu…e só eu… linda, bela, cheirosa, vaidosa, tenha os anos que tiver, esses anos vão abraçar-me…há que viver o dia a dia, desfrutando das qualidades e virtudes, melhorando o que é menos bom!

Viver…e ser FELIZ!

Obrigada aos meus filhos João Capinha e Joana Capinha.

Obrigada ao meu companheiro de viagem, meu marido Capinha Lopes.

Vos amo!❤️❤️❤️

Hoje, faço 60 anos!

Velha, eu?


"Cantinho literário"

Era uma vez…uma notícia

Era uma vez a Humanidade que crescia de forma alucinada e desenfreada num Planeta chamado Terra.

Os primeiros habitantes viveram felizes na sua Vida difícil, mas feliz de busca pela sobrevivência. Avanços da Medicina concretizaram uma maior longevidade e consequentemente um aumento da população Mundial. A busca incessante pela sobrevivência levou certos povos a alimentarem –se de tudo o que é ser vivo. A juntar a esta luta pela sobrevivência, condições económicas desfavoráveis fazem parte da vida quotidiana de vários povos.

O ano de 2019 termina com uma ameaça global de um vírus mortal e contagioso. Há semelhança de tudo, pensa-se sempre que apenas acontece aos outros. Mas não! Essa realidade chega a Portugal no dia 2 de Março. O País fica em estado de alerta e a 17 de Março 2020 é decretado o primeiro estado de emergência.

Com o isolamento social as pessoas reinventam –se: meios de comunicação como a internet que até aqui distraiam e afastavam as pessoas, agora aproximam –nas. Um admirável mundo novo tecnológico ao serviço do trabalho e da comunicação entre as pessoas. Também a família nunca esteve tão próxima e a palavra «solidariedade» deixou de ser uma palavra vã e nunca teve tanto sentido

Os sobreviventes decerto que terão grandes histórias para a História contar.

Ninguém sabe como será o seu final, mas todos /as esperamos que tenha um final feliz!

PARA LÁ DOS SONHOS

Milagres na nossa vida

Acontecem todos os dias

Sempre que abrimos os olhos

Despertamos novamente

De um sono imenso e profundo

Que nos leva para lá de nós

Nos leva para lá do mundo…

 

Que mundos habitaremos?

Quando estamos adormecidos?

Para onde foge a nossa alma?

Para onde vão os sentidos?

 

De onde regressamos?

Às vezes em aflição?

 

Outras vezes tão felizes,

Que nem queremos acordar,

De um sonho profundo e belo

Que nos enche de emoção?

 

Que o encanto perdure,

Bem dentro do coração!...

 

Para lá dessa lonjura…

Onde esteve a nossa alma?

Com quem falou e viveu

Momentos inesquecíveis?

Que doce recordação!…

 

Estava tão bom esse sonho

Mas porque acordar agora?

É que agora regressados

Brota em jorros a emoção

As palavras estranguladas

Sobem pela nossa garganta

Diretas ao coração…

 

Para lá dos nossos sonhos

Há um mundo de magia

Há rostos e sentimentos

Encontros e desencontros

Já repetidos na vida…

E retomados qualquer dia?

Refúgio

Pedi para ficar
Onde o vento não ousa,
Onde o verde repousa,
Onde o ar acaricia….
Pedi para ficar
Longe do clamor do mar
Num céu de azul sem par
Onde o sol alicia…
E nesta paragem ficarei
Até que seque a semente do medo
Lastro inútil que carrego há anos,
Noite eterna do meu degredo
E nesta paragem ficarei
Até que o verde, faça verde o meu olhar
Até que o silêncio entorne a minha alma
E nela me possa deitar…

LIVROS

Há vidas que encerram muitas vidas e, nessa multiplicidade, condensam a História de um país. Eis a marca do percurso cívico, político e literário de Manuel Alegre, sublinhado agora pela publicação das suas memórias. Ao correr da página, sem plano predefinido ou notas acumuladas ao longo dos anos, o poeta, autor de um dos livros mais emblemáticos do século XX, Praça da Canção, viaja pela sua vida, desde a infância até à atualidade, da influência dos seus ascendentes (liberais e republicanos, miguelistas e monárquicos) às suas candidaturas à Presidência da República. Pelo meio, o seu papel ativo (e decisivo) na luta contra o Estado Novo, incluindo em Angola, durante a Guerra Colonial, e em Argel, aos microfones da rádio Voz da Liberdade, assim como a vivência do 25 de Abril e a construção da democracia. Um relato único, também pela simplicidade e pelo apuro da sua composição, feito de inúmeros protagonistas, histórias, ousadias e com uma inquebrantável coragem.

MÚSICA/POEMAS

Estrela Da Tarde | Poema de Ary dos Santos




BARCAÇA_51

Mais um ano que acaba, o mundo anda atribulado com as guerras aqui perto de nós, os supermercados, Galp os Bancos aproveitam o momento para ...