Antes
de embarcar na Barcaça, alguns assuntos nacionais / internacionais.
A
guerra que tarda em terminar e que a todos nós afeta seja na subida dos
preços, como na maré de insegurança que dia após dia verificamos que pode ainda escalar mais.
Outro
assunto são as trapalhadas seja na forma como comunicam, seja no tardar
em vermos os efeitos de uma investigação sobre “crimes da igreja”. Do que veio
a lume muitos dos prevaricadores já faleceram e os que estão (poucos) no ativo
a diocese a que pertencem não tem agido porventura da melhor forma para que não
houvesse uma debanda de fiéis.
O
número 44 está associado ao PS seja no número da cela do ex.: primeiro-ministro
e agora nos produtos com Iva 0%, a medida apresentada com pompa e circunstância por três
ministros mas que o seu efeito só se verá daqui a quinze dias, veremos depois
se as superfícies comerciais não absorvem essa baixa com o aumento dos mesmos
produtos antes de entrar em vigor como aconteceu com a nossa vizinha Espanha.
O
atentado desta semana, por um imigrante iraniano, onde duas pessoas
faleceram e outros duas ficaram feridas, coloca em alvoroço uma população que
necessita de saber se o Estado está ou não a fazer o seu trabalho na defesa dos
seus cidadãos?
Ficamos
a saber ontem que o PAPA foi internado de urgência, por isso as rápidas
melhoras. Sabendo que o mesmo, já tenha entregado no final do ano passado uma
carta onde pede a rescisão do cargo em caso de doença prolongada.
Agora
a bordo da Barcaça, em águas calmas, com os nossos passageiros bem
acomodados, falaremos de vários temas, as dificuldades que atravessam algumas
associações em remodelarem o elenco diretivo, o do trabalho efetuado por muitos
jovens dentro das suas colectividades. Como estamos em tempo de Quaresma, Mário
Silva apresenta-nos mais uma descrição de uma Igreja do nosso concelho neste
caso a CAPELA DE NOSSA SENHORA DO PRANTO [PEREIRA]. Carla
[Os Meus Olhares] recorda-nos as histórias e os seus começos com uma certa
ironia mas que estão dentro de nós mesmos desde miúdos…adormecíamos com os
contos da mãe/avó “era uma vez”. O Repórter Mabor no seu longo legado
como artífice na arte da tesoura, como na pena, as suas descrições foram
durante muitos anos o relato do seu olhar sobre o futebol regional e dando voz
nas rádios às colectividades e de tudo o que de bom se fazia nos concelhos da
Figueira e de Montemor, apresenta aqui o seu olhar com saudade.
Fernando
Curado como já nos habituou um apaixonado pela história do
seu Concelho e não só, traz-nos a “Marcha do Vapor” a sua origem e o seu
simbolismo.
Aldo
Aveiro no contexto da época “pascoal” dá-nos uma panorâmica
como eram as festividades de outros tempos no Concelho de Montemor-o-Velho e
enquadra-nos nos seus rituais ao longo do tempo.
Dília
Brandão recorda-nos tempos idos da sua
mocidade por terras de Montemor, uma nostalgia sempre agradável de recordar.
Na
poesia várias pontos de vista, que as nossas colaboradores nos trazem nesta
trigésima edição da Barcaça. Um sol de inverno luminoso e brilhante mas sempre
deslumbrante, como pessoas especiais que preenchem o nosso coração e vagueando
entre o azedume e ódio entre marés e humores saltitando para “O nosso perfeito
coração” entre abraços e beijos e a procura…
Já
na opinião política, os temas são diversificados, mas acutilantes Daniel dos
Reis Nunes (nova entrada PCP) aborda-nos as opções políticas que de
tempos em tempos se aprovam tendo perdido tempo e dinheiro pelas opções que
vetaram e que agora aprovam.
Victor
pelo PS, aborda a troca de agradecimentos ou a troca implícita de cadeiras seja
da Região Turismo Centro VS Câmara Municipal de Montemor-o-Velho. Já na AFMP no
despotismo reinante como são eleitos os dirigentes sem cumprir o que está
emanado nos estatutos, e com algumas irregularidades sobre o recebimento de
vencimentos, e a entrada pela primeira vez de um vereador do PSD nesta
associação.
Pelo
PSD uma nova entrada Maria João Sobreiro, nesta 30ª Edição da Barcaça e nada
melhor que abordar o Dia Internacional da Mulher com um poema de Martha Rivera
Garrido.
Na
secção da Livraria “Dom Casmurro” de Machado de Assis e na Música Ana Moura com
“Mázia” terminamos como sempre com Direitos Humanos neste caso com o Artigo 30º
coincidente com a nossa publicação.
Boas leituras e boa Páscoa.
Momentos…
Longe vão os tempos que reunia na rua Conselheiro Mendes Pinheiro, casa em
madeira de paredes caiadas e salas que rangiam à passagem. De quando em quando
lá se fazia um embelezamento ou algum amigo doava alguma mobília que com
carinho o saudoso (betinho) lhe dava um ar de obra de arte.
Os tempos foram passando, recordo que o antigo dono sempre nos emprestou o
(palacete) que veio a ser alterado após a sua morte em que os herdeiros
decidiram cobrar uma renda que muito peculiar que fosse veio alterar as contas
já por si difíceis nesses tempos.
Fazíamos um pouco de tudo para conseguir amealhar uns escudos para fazer face às despesas que já eram avultadas em virtude do nosso clube estar a discutir o campeonato da Divisão de Honra da A.F. Coimbra, também tínhamos todas as camadas jovens e mais tarde o Futebol de Cinco.
Todos os anos fazíamos um leilão no Largo da Senhora do Desterro, Concurso
Vestidos de Chita, Concurso de Pesca, jantar de aniversário…
E assim lá íamos caminhando até às eleições momento que se dava o “assalto”
nas eleições do clube por parte dos candidatos à CMMV. Hoje à distância podemos dizer
que demos três presidentes de Câmara diretos e um indiretamente como alguns vereadores e lugares de destaque na A.F.C.
Numa terra que vai crescendo à sombra do seu castelo, com uma população ainda
interessada no associativismo tem ao longo dos tempos dado ar da sua graça com
a garra, empenho e dedicação de alguns que não deixam cair em saco roto, com o seu amadorismo mas com responsabilidade e por isso podemos ver algumas
colectividades com as suas diferentes dificuldades mas conseguem ter as portas abertas.
Falo dos Bombeiros, Atlético, Filarmónica, Xadrez, CITEC, Centro Equestre, Centro de Alto Rendimento, ACRD Quinhendros, Casa do Benfica… tem dado vida a uma Vila que tarda em sair de um marasmo que mete dó a partir das 17h00.
A Câmara Municipal e AFMP os maiores empregadores da Vila após o horário
laboral despem a vila de carros e de gente. Ficando vazias as vielas e uma
praça outrora o centro dos acontecimentos fria e esquecida.
Recordo com saudade, alguns dos mecenas que pela "janela" nos faziam chegar
os seus donativos e que muitos deles nem recibo pediam para que não tivessem problemas familiares.
Os dedos de uma mão chegavam para os que apoiavam todas as colectividades e que recordamos com saudade, Dionisio, Chico...
Nesse tempo as festas da Vila estavam a cargo das colectividades e rodavam ciclicamente entre Bombeiros, ACM, Filarmónica. Era uma forma de conseguir equilibrar a tesouraria das Associações mas a CMMV veio a tomar conta das festividades que ainda hoje é assim. (dá votos).
Hoje, ainda bem que houve modernização no associativismo e muitos jovens
tem aderido a essa manifestação de participar, dando vida a estas
colectividades que tão bem fazem à juventude e à população em geral que se reveem
nas suas actividades e como referi anteriormente bem diversificada.
São estes movimentos que dão alma a uma comunidade e fazem dela um bem
maior no seu coletivo não deixando cair o Associativismo.
A todos aqueles que encontram dificuldades em conseguirem direções, de terem
de permanecer alongando os seus mandatos o meu apreço por não deixarem cair os
seus sonhos.
Em Servir a Comunidade.
CAPELA DE NOSSA
SENHORA DO PRANTO [PEREIRA]
Localizada ao cimo da vila de Pereira, no Bairro do Pranto, a Capela de Nossa Senhora do Pranto está orientada no sentido nascente-poente, com frontaria principal virada a poente. Constituída por corpo, capela-mor e sacristia, possui alpendre de colunas a anteceder a porta principal, com abóbada de tijolo, curva.
Na parte sul,
rasga-se uma porta travessa que dá acesso à rua pública. Na parede nascente do
lado exterior, observam-se restos de duas cruzes de azulejos azuis,
setecentistas, provavelmente pertencentes a um conjunto da Via Sacra. Sobre o
alpendre frontal, rasga-se uma janela e no fecho situa-se o campanário com a
respetiva sineta. A sacristia localiza-se a norte da capela-mor. Construção
forte em alvenaria, apoiada em contrafortes e muro de suporte a norte e
nascente. Iluminação natural do corpo e capela-mor através de várias janelas e
postigos. Telhado de duas águas com telha de cano, pináculos nas extremidades e
nas empenas das paredes com cruzes apontadas. Plano retangular de uma só nave,
arco cruzeiro, corpo, capela-mor e coro. Na capela-mor encontra-se um retábulo maneirista
de colunas torsas, com a Virgem entronizada. Nossa Senhora do Pranto é uma
escultura de calcário, do século XV, atribuída ao Mestre João Afonso e veio da
capela arruinada. No corpo, junto ao arco cruzeiro, do lado norte, o nicho com
a escultura maneirista processional da Senhora do Pranto. No coro, encontra-se
o púlpito de pedra, apoiado em duas consolas.
A primitiva
capela localizava-se a norte da atual e encontrava-se em ruína no século XVI
devido às enchentes do Rio Mondego. A construção atual deve-se à doação
testamentária de 1674 do licenciado Manuel Soares de Oliveira, natural de
Pereira. Este exerceu os cargos de assessor e auditor geral do governador e
capitão geral em Manila (Filipinas). No testamento mandava que se comprassem
três aguilhadas de terra na costa do monte fronteiro à velha Ermida de Nossa
Senhora do Pranto que se encontrava arruinada e que se construísse nesse
terreno, que ficava ao pé da estrada, uma capela para onde fosse transferida a
Imagem de Nossa Senhora do Pranto. Mandava ainda que se instituísse nesta
capela uma Colegiada com seis capelães e que se dissesse missa todos os
sábados. Esta colegiada existiu até 1849, data em que morreu o seu último
capelão. A dotação era grande e, por isso, a sua fábrica era rica: paramentos
de veludo, castiçais e lâmpadas de prata. Estas estariam sempre acesas, para o
que havia 400$000 réis anuais, estabelecendo-se ainda uma colegiada de seis
capelães com vários encargos espirituais. Toda esta opulência foi desaparecendo
com o passar dos tempos.
[Era uma vez…]
Todas as histórias começam assim “era uma vez”.
Ouvimos esta expressão e criamos, internamente, uma enorme expectativa do
que poderá acontecer a seguir. Por norma, depois do “era uma vez” há sempre um
“viveram felizes para sempre”.
Nem todas as histórias que viveremos, ao longo da nossa vida, terão um
final feliz.
Nem todas as histórias, que viveremos, nos darão oportunidade de voltar
atrás e apagar ou mudar alguma coisa.
Mas, também, nem todas as histórias, que viveremos, terão de ser um verdadeiro drama como os que, muitas vezes, vemos no cinema.
Era uma vez… crescemos a ouvir esta expressão, nos filmes, nas novelas, nas
séries, nas histórias encantadas que ouvíamos as avós contarem, naquelas tardes
que passámos juntas.
Voltar a ouvi-la, uma e outra vez, faz-nos recuar no tempo e voltar a
acreditar em algo. Talvez no poder do amor, na magia da fé, na esperança da
amizade.
Voltar a ouvi-la, uma e outra vez, leva-nos de volta à fantasia. E de
repente, no meio de tanta azáfama que é a nossa realidade somos, por momentos,
transportados para a magia e para a crença de melhores dias e de mais finais
felizes.
Os finais felizes, vão-se criando, dia-a-dia. São pequenos momentos, que
passamos a vida a ignorar. Estão no poder que, coisas simples, têm na nossa
vida. Talvez porque sempre acreditámos que, apenas, as grandes coisas têm
importância e devem ser valorizadas. Nada mais errado.
Não importa o tamanho das coisas. Não importa o tempo que duram.
Ao longo da vida, por esta ou aquela razão, infelizmente, perdemos a
curiosidade pelas coisas simples, aquilo que fazia e faz parte da nossa
verdadeira essência. Deixamos de lhes dar a importância devida e talvez
tenhamos chegado, de novo, ao momento em que devemos voltar a olhar para elas e
para o seu valor, o seu poder.
Na verdade, o poder, o nosso, está em saber apreciar as pequenas-grandes
coisas que a vida nos dá, como apreciar uma sombra, algo que se move, o verde
de uma árvore, uma planta seca, um copo de água, como uma simples flor, colhida
à porta de casa, o sorriso de um desconhecido, uma mensagem, um telefonema, um
abraço demorado.
As “coisas mais simples” só podem ser desconsideradas por aqueles que não
apreciam verdadeiramente a vida e, nelas, não veem a verdadeira felicidade.
As "coisas mais simples" são um presente, e por isso,
valorizá-las é fundamental. Estão presentes em toda a nossa vida, em cada
cantinho por onde passamos, basta-nos prestar atenção e ter boa vontade de as
apreciar e delas usufruir.
Na verdade, tudo o que é simples e “pequeno” é, precisamente, o que mais
abunda nas nossas vidas. Não é verdade?!
São aquelas conversas de fim de tarde, aquelas mensagens de bom dia, as
flores que todos os dias encontramos quando saímos de casa, um café com um
amigo, um abraço apertado, o sol a tocar-nos no rosto, o vento que nos faz
arrepiar, o mar que nos molha os pés.
São a simplicidade. A magia. A felicidade. A verdadeira.
As escolhas inconscientes.
São o que dá sentido à vida.
São… o TUDO.
Estas, pequenas-grandes coisas, a que devemos dar cada vez mais
importância, são muitas vezes os nossos finais felizes, da história “era uma
vez”.
Carla M. Henriques
O CASAMENTO DO SOL E DA LUA
O Sol, nos seus passeios pelo céu, reparou que a Lua
era linda de morrer e por isso começou a pensar em namorar e casar com ela.
A Lua era, em boa verdade, linda a valer e o seu
brilho era maravilhoso. Quanto mais o Sol olhava para ela, mais se acendia o fogo
do amor a ponto de já pensar em casamento.
Escolheu um dia sem nuvens e, mostrando os seus raios
quentes, brilhantes e mais luminosos, ia dirigir-lhe a palavra quando reparou
que ela era demasiado nova, mal se via. E então disse que crescesse, pois, era
nova demais para casar:
― Cresce e aparece que depois casaremos.
O Sol andou pelo céu à conversa com as Estrelas, os
Planetas… E assim andou tanto tempo que quando foi para casar com a Lua ficou
muito triste porque ela estava cheia e, como não acreditou que era dele, já não
quis casar, anulou o casamento e nunca mais lhe falou. Era o que faltava,
estava cheia sem ele saber de quem!
E por isso o Sol nunca mais quis casar com a Lua.
Cheia, sem ele saber de quem....
O sol não casou e o conto acabou.
José Craveiro
Revejo-me nos costumes.
Sendo certo que o Repórter Mabor, sente prazer em contemplar os costumes desportivos por Terras de Montemor, que remontam a 1957, do século passado,
Revejo-me sim, sem a azia do velho do restelo, no modo de vida
possível das nossas gentes de sol ou com chuva, protegidos por um capote
enfiado na cabeça feito de um saco de batatas, também descalços e no melhor os
tamancos…
Podemos ter vestido fatos vincados, sapatos de fino recorte, viajado por
aí e conhecido outras sociedades ditas altivas e convencidas, mas se
perdermos a noção do que somos e de onde viemos, somos num saco de gatos,
espalhados pelos campos, acabando por morrer de fome espiritual, porque nos
faltou a aprendizagem e a luta da nossa sobrevivência, roubando pedaços
de pão no soalho das velhas casas dos seus donos.
Os costumes que ainda se preservam a viver em nós, a meu ver e a
fazer deles a noção existencial, são a nossa estrutura social pela vida fora, validando
o antes e depois, se pelo trabalho duro de roer como se fosse um corno, soubemos
conquistar outras modernices e exagerados bens de consumo, mas nunca perdendo o
norte e a base segura das nossas realidades.
Por estas considerações tidas por alguém que perdeu a essência da sua humilde origem, pretendo apenas rever-me nos costumes que me tornaram sóbrio neles próprios na escola das minhas vivências, quando se aproxima o domingo de Pascoela, no casal Novo do Rio, a Barca, qual festa e costumes das minhas gentes, esperando um ano por um novo evento que lhes transmitia o pulsar da vida e de todas as alegrias.
As casas eram limpas e caiadas, procuravam na salgadeira, quem a tinha, os melhores pedaços de carne de porco, as roupas eram novas ou passadas a ferro com brasas, os foguetes estoiravam, se durante um ano o único estrondo, eram as medonhas trovoadas num lugar em que os trabalhos se mantinham de sol a sol, cavando a terra do seu ganha pão…
O jovem padre João Direito, fundador da juventude Radiosa, numa bolsa
guardava as ofertas, mas o costume de uma laranja, cravada com uma moeda, ainda
hoje pode ser recordada pelos que vivem a felicidade em recordar no
presente a heroica gente do Casal Novo do Rio a Barca, de
princípios meus e nunca esquecidos, apesar de outros costumes me terem
batido á porta, aqueles antigos são o respeito que devo á minha longa existência...
Olímpio Fernandes
A “MARCHA DO VAPOR” É O HINO DA FIGUEIRA DA FOZ.
A "Marcha do Vapor", com música de Manuel Dias Soares e com letra
de António Pereira Correia, é o hino da Figueira da Foz.
Manuel Dias Soares, também conhecido por Manuel Rola, nasceu na Figueira da
Foz em 9 de novembro de 1867 na Rua dos Ferreiros.
Exerceu a profissão de gravador de pratas e foi um dos mais brilhantes
músicos figueirenses e abnegado regente da Filarmónica Dez de Agosto.
Aprendeu música com Manuel Fernandes Mesquita, seu padrasto, com Alzamora e com Augusto Symaria, este último regente da “Filarmónica Dez de Agosto”.
Manuel Dias Soares foi regente da “Filarmónica Dez de Agosto”, colaborador da “Tuna Figueirense", fundou e dirigiu a "Fanfarra”, cujo primeiro ensaio teve lugar no Teatro-Circo Saraiva de Carvalho (atual Casino da Figueira) em 14 de janeiro de 1893. Foi ainda organizador e regente do "Grupo Musical Clara".
A Figueira de então recebia frequentemente as companhias de ópera do Teatro
S. Carlos e Manuel Dias Soares relacionava-se com os seus músicos, e com eles
tocava.
Fez parte da "Tuna Figueirense" que se apresentou em público,
pela primeira vez, nas festas de S. João de 1889.
Em fevereiro de 1890 tomou parte como violinista num concerto organizado
por artistas do Teatro S. Carlos.
Em 1892, com apenas 25 anos, começou a dirigir a “Fanfarra” que integrava vários músicos figueirenses.
Em 10 de agosto de 1902 obteve grandes triunfos em Salamanca.
Em 1907 Dias Soares assumiu a direção do "Rancho do Vapor", tendo musicado a Marcha do Vapor, com letra de António Pereira Correia, hoje o hino oficial da Figueira da Foz.
Em 1908 dirigiu a "Filarmónica Dez de Agosto" num concerto dado
no convento da Batalha para o rei D. Carlos e, face ao êxito obtido, foi
galardoada com o título de Real.
Em 1915 organizou uma orquestra sinfónica, embora de curta duração,
tendo-se esta apresentado, no concerto inaugural, numa das salas da Casa do
Paço.
Em 1935, no dia 1 de junho, Manuel Dias Soares foi homenageado no Casino Peninsular, festa a que não faltou o "Rancho do Vapor", então extinto, mas reconstituído para esta merecida consagração.
Três anos depois, no dia 7 de agosto de 1938, faleceu na sua terra natal.
As suas obras mais significativas são: A Marcha do Vapor, O Privado Sultão,
A Filha do Negreiro, Canção dos Ventos, Canção das Velas Soltas, Canção de
Maria, Marcha Maruja e Devaneio.
António Pereira Correia foi o feliz autor da letra da "Marcha do Vapor", brilhantemente cantada por Maria Clara (mãe do Prof. Júlio Machado Vaz):
“A bordo ninguém se teme/Ninguém aqui se receia/Que o homem que vai ao leme/Ouça o canto da sereia/Sereias de marinhagem/Emudeceram aquela/Soltando à branda aragem/A sua canção mais bela/ Olé...Olé...Olé.../Oh! Noites d’amor/Que a alma seduz/Envolve “O Vapor” /Em ondas de luz/É cantar sem medo/Ó minha beldade/O Mar é de rosas/Viv’a mocidade. /Se nos acharmos em guerra/A nossa infantaria/Atira beijos p’ra terra/Um primor de pontaria! /Lindos olhos do meu par/Vão fazer um servição/Rutilando sobre o mar/Em tempo de cerração".
António Pereira Correia nasceu na Figueira da Foz, em 4 de novembro de
1860, e faleceu a 15 de novembro de 1929. Em 17 de setembro de 2011 foi
homenageado, a título póstumo, pela Confraria Gastronómica do Arroz e do Mar,
da Figueira da Foz.
Maria Clara - Marcha do Vapor
ASSIM COMO PORTUGAL DEU NOVOS MUNDOS AO MUNDO , TAMBÉM A VILA DA CARAPINHEIRA, ESPALHOU POR TODA A BORDA D'ÁGUA OS SEUS FILHOS QUE, COM O SEU ENGENHO E ARTE ESPALHARAM A SUA SABEDORIA POR TERRAS NUNCA CALCORREADAS.
Histórias verdadeiras vividas por Carapinheirenses.
Às vezes vou ao passado e sou confrontado com histórias reais de gente humilde, daquela que comeu o pão que o diabo amassou (quando havia pão!), passadas e vividas por Gentes da Carapinheira. Estamos na década de 50/60 do século passado.
Carapinheira é uma bonita e simpática Vila, situada em plena Beira Litoral e é uma das 11 freguesias que compõem o Concelho de Montemor-o-Velho. Que, no período entre o início dos anos cinquenta até finais dos anos sessenta, por necessidade premente da sua condição económica, motivou a que houvesse uma grande onda de migração (embora sazonal), para a chamada Borda D'Água.
Porque é recuando no tempo e indo
ao baú de recordações, recorrendo também a quem por esses episódios passou e
de mente ainda bem viva, que são os nossos Avós, que ainda hoje recordam com
uma pontinha de emoção os factos que eles próprios viveram e aqui fica o nosso
pequeno contributo, a fim de dar às gerações futuras, as amarguras da vida,
vividas por alguns Carapinheirenses.
Senão os mais jovens, pelo menos,
aqueles que já possuem uma idade mais avançada, ainda se recordarão que naquele
período, muitos dos naturais desta bonita aldeia (agora Vila), tiveram por
condição da sua precária vida económica de se ausentarem para a chamada Borda D'Água,
ou seja para a zona do Ribatejo, a fim de ali trabalharem (e muitos foram os
que por lá ficaram e por lá constituíram família).
Já Soeiro Pereira Gomes, no seu
livro "Os Esteiros", fazia referência aos naturais desta terra que,
eramos Valadores que, embarcavam em Alfarelos no Comboio Correio que os levavam
para essas longínquas paragens da lezíria Ribatejana, ou seja, para a Borda
D'Água.
Esta é a primeira parte do que foi
a vida atribulada de alguma gente da Carapinheira.
Outras se seguirão ainda sobre o
mesmo tema.
Autor António Matos
Solenidade dos Passos do Senhor no concelho de Montemor-o-Velho
No concelho de Montemor-o-Velho, particularmente nas paróquias de Santa Susana da Carapinheira, Santo Estêvão de Pereira, Nossa Senhora da Assunção de Tentúgal e Santa Maria d’Alcáçova e São Martinho de Montemor-o-Velho (pela ordem atual de realização), a Solenidade de Procissão dos Passos constitui um dos grandes eventos religiosos que atrai grande número de fiéis, da população local e visitantes.
A Procissão do Senhor dos Passos,
reconstituindo o caminho do sofrimento, crucificação e morte de Cristo, é uma
maneira de proclamar o Mistério da Paixão e Morte de Jesus Cristo, constituindo
um momento marcante para a população cristã deste
concelho. Mas também as celebrações do Lausperene Quaresmal, as vias-sacras, outras procissões e expressões da fé, os mistérios da Paixão da Morte e da Ressurreição de Cristo se destacam no panorama da religiosidade popular em terras do Baixo Mondego.
A Quaresma, tempo litúrgico que vai da Quarta-Feira de Cinzas à Quinta-Feira Santa, é um período de abstinência, reflexão, reconciliação e penitência, que se retrata nos quarenta dias de oração que Jesus Cristo viveu antes de começar a sua pregação, sendo, por isso, um tempo de preparação para a Páscoa. Este período reveste-se de um cariz religioso muito peculiar, em cada comunidade cristã, onde existe a tradição de celebrar os Passos do Senhor.
Nestas freguesias, a origem desta procissão perde-se nos tempos, podendo arriscar-se ter começado em finais da Idade Média.
Na comunidade cristã da Carapinheira, o cortejo processional é incorporado pela nova Irmandade de Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário e Almas, e em Pereira, Tentúgal e Montemor pelas respetivas Irmandades da Santa Casa da Misericórdia, e outras Irmandades, e por figuras bíblicas: Maria-Mãe, Maria Madalena, S. João Evangelista, Verónica, Cireneu, anjos e, ainda, o pálio e por um grande número de populares.
A figura central da procissão é Imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo a caminho do Calvário, com o joelho esquerdo colocado no chão, suportando uma cruz no ombro esquerdo, que segura com ambas as mãos. Na cabeça, sobre os seus cabelos longos suporta uma coroa de espinhos que lhe faz escorrer “suor e sangue” pelo rosto, e lhe expressa uma profunda angústia e sofrimento. Esta procissão inicia-se com o guião, onde se pode observar inscrito “S.P.Q.R” – “Senatos Populorum Quórum Romanos” (Assembleia de Todo o Povo Romano).
Este ato litúrgico tem como momentos auge: Celebração da Eucaristia, Sermão do Pretório, Cantar da Verónica, Procissão, Sermão do Encontro, Sermão do Calvário.
Apresentamos, pela ordem de realização, uma súmula e características de cada solenidade.
Carapinheira - IV Domingo da Quaresma
A Procissão do Senhor dos Passos da Carapinheira é, pela sua história e sobretudo pelo seu vincado cunho espiritual, um dos acontecimentos mais importantes do panorama religioso da paróquia. A realização deste cerimonial, à semelhança de outros na região e no País, representa um momento de profunda piedade popular, particularmente visível nos símbolos e rituais da preparação e celebração.
A devoção ao Senhor dos Passos é comprovada pela penitente procissão, no caminho do sofrimento, crucificação e morte de Cristo, em que os paroquianos acompanham o Salvador desde o momento da condenação até ao “Monte do Calvário”.
Também acompanham o cortejo pessoas “pagadoras de promessas”, numa impressionante manifestação de fé e esperança no Senhor dos Passos.
O ritual da reconstituição da Solenidade e
Procissão dos Passos inicia-se na Igreja Matriz, no sábado à noite, anterior ao
IV Domingo da Quaresma, com a celebração da Eucaristia, seguindo-se uma
procissão de velas (antigamente usavam-se archotes, que ainda hoje existem),
conduzindo a Imagem de Nossa Senhora das Dores para a capela de Santo Amaro, no
Alhastro, onde fica até domingo, regressando a procissão à Igreja. No domingo,
ao início da tarde, na Igreja Matriz, é celebrada a Eucaristia, na qual um
ministro sagrado, especialmente convidado para o efeito, faz o “Sermão do
Pretório”, aludindo aos diferentes momentos que culminaram com a condenação de
Jesus.
Após o Sermão do Pretório, que é a primeira
“Estação dos Passos”, a Verónica entoa, pela primeira vez, a sua antífona, em
latim, “O vos omnes, qui transitis per viam, attendite, et videte si est dolor
imilis sicut dolor meus. (Ó vós todos que passais por este caminho, vede se há
dor igual à minha dor)”. Esta expressão, atribuída a Jesus, está no Livro das
Lamentações de Jeremias 1.12. Enquanto canta, a Verónica vai desdobrando uma
réplica do sudário, onde está pintado o doloroso rosto de Jesus que será enrolado
e recolocado em suas mãos pelo “Anjo”. Antigamente, o canto da Verónica era respondido
pelo lamento das Três-Marias, “carpideiras”, que acompanham o Séquito.
De imediato, organiza-se a procissão. Atualmente, o cortejo é aberto pelo Grupo de Escuteiros com um Guião, onde se lê a sigla SPQR - Senado do Povo Romano - seguido da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, com seu guião, dirigida pelo seu Juiz com veste e vara, e os irmãos com opas branco/azul, da Confraria do Santíssimo, com seu guião, também orientada pelo Juiz, com veste e vara e os irmãos com opas roxas, onde se integra o andor do Senhor dos Passos, seguindo-se o Palio, sob o qual, o presbítero (presidente da celebração) transporta o Relicário com o Santo Lenho (um pequeno fragmento da Cruz Verdadeira, retirado no século XI), encerrando a Banda Filarmónica que, nos momentos apropriados, toca “os motetos”.
À frente da Imagem do Senhor dos Passos vai a Padeirinha,
simbolizando a Verónica, a mulher que limpou a cara de Jesus ao seu lenço, e
que leva consigo o pano pintado com o rosto de Cristo, simbolizando o Santo
sudário, integrando também o cortejo pessoas da comunidade, normalmente
crianças e adolescentes, representando as figuras de Nossa Senhora, Maria Madalena,
São João, Simão Cirineu, José de Arimateia, o Anjo do Cálice, o “Anjo do Pano”,
os “Anjos da escada” e as Três Marias (Beús) que acompanharam Cristo ao Monte
Calvário.
A procissão, reconstituindo a “Via Crucis”, em sete “estações”, e saindo da Igreja, segue em direcção à capela de Santo Cristo, circundando-a, e onde se retrata mais um dos Passos do Senhor, simbolizado num painel pintado, cantando a Verónica pela segunda vez. O préstito continua voltando a parar para celebrar outra “estação”, também simbolizada num painel pintado colocado próximo da sede da Junta de Freguesia, cantando a Verónica pela terceira vez. Continuando o percurso, a procissão segue até ao Largo do Alhastro, onde a Confraria de Nossa Senhora do Rosário se aparta, processionalmente, em direção à capela de Santo Amaro para conceber uma segunda procissão, conduzindo a Imagem de Nossa Senhora das Dores, que marcha em direção ao Largo do Alhastro.
Entretanto, num púlpito preparado para o
efeito, o pregador inicia o “Sermão do Encontro”. E, sublinhando “a grande dor
de uma mãe” ao ver Seu filho a caminho do suplício, exorta todas as mães a
contemplarem a imagem sofredora da Mãe de Cristo, sendo normal verem-se algumas
lágrimas a brotar e a resvalarem pelos rostos das pessoas mais sensíveis,
exprimindo o mais exímio sentimento de dor, fé e esperança. O sermão culmina
com o comovente Encontro de Maria com Jesus, que simboliza mais uma “estação”,
cantando a Verónica pela quarta vez, respondendo um grupo da Filarmónica com o
“Misere Mai Deus secondu magnam Misericordiem tuam”.
Reconstituída a procissão, integrando agora a Imagem do Senhor dos Passos seguida da Imagem de Nossa Senhora das Dores, o préstito segue em direção à capela de Santo Amaro, circundando-a, e onde se representa mais um dos Passos do Senhor, simbolizado num painel pintado, cantando a Verónica pela quinta vez. O cortejo prossegue, passando novamente pelo Largo do Alhastro (em direção à Igreja) e, parando frente à Casa Paroquial, é reconstituída mais uma “estação” dos Passos do Senhor, simbolizada também num painel pintado, cantando a Verónica pela sexta vez.
Prosseguindo, a procissão entra na Igreja
onde se reconstitui o Calvário, com as figuras bíblicas que integraram a
procissão. Aqui culmina a “Via Crucis”, com a última “estação”, representada
pelo cenário do Calvário (Cristo Crucificado), com o Sermão do Calvário alusivo
aos momentos que culminam com a Crucificação e Morte de Cristo.
Segue-se o último canto da Verónica,
encerrando-se, assim, a Procissão dos Passos que reconstitui a Paixão de
Cristo, descrita numa passagem Bíblica, narrando os últimos dias de Jesus na
Terra, onde após a Última Ceia com os Discípulos, vive o maior de
todos os sofrimentos, humilhações e rejeições, jamais sofridos por outro ser humano, levando à sua Crucificação e morte. Este ritual constitui um comovente testemunho de fé e devoção, que se transmite de geração a geração.
No final de todo este cerimonial, o andor com a Imagem do Senhor dos Passos é colocado na Capela das Almas, na ala lateral esquerda da Igreja (antigamente ficava na capela de Santo Cristo) e a Imagem de Nossa Senhora das Dores é colocada no seu altar, na Igreja.
Da Procissão do Enterro à Procissão dos Passos
Ao que tudo indica, a Procissão dos Passos da Carapinheira será sucedânea da antiga “Procissão do Enterro” que se realizou nesta paróquia durante dezenas de anos, facto que se depreende da leitura de uma acta que integra os (antigos) Estatutos da Confraria das Almas da Paróquia de Santa Suzana da Carapinheira, instituída em 1724, que se trancreve: “Imagem do Senhor Morto - Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oito sentos e cincoenta e sinco aos dezanove dias do mês de Março, estando a Irmandade da Confraria das Almas reunida nesta egreja da Freguesia de Santa Suzana da Carapinheira na prezença do Reverendíssimo Prior e Juiz e Mordomo e Escrivão e mais Irmandade, deliberamos comprar huma Imagem do Senhor Morto – colocada em um Aratorio no Altar da Cappella da mesma Confraria, e de ahi se não pode tirar senão no dia de sexta-feira da Paixão para a Purcissão do Enterro, em a Irmandade delibera fazer-se a dita Purcissão à custa da dita Confraria, podendo-se gastar athé a quantia de treze mil réis, terá a Direcção desta Confraria obrigação de fazer além desta despeza algúa mais para o bem ornato da mesma Imagem, e também será senhora a mesma Direcção das Esmollas e promessas que derem ao mesmo Senhor; e para o que todos nós irmãos prezentes por bem feitas estas obrigaçõens para que cada um de nós que o for nomeado, juiz e mordomo e escrivão senão poderá escuzar as obrigaçõens e trabalhos pertencentes ao dia da Purcissão do Enterro feita nesta freguesia em sexta-feira da Paixão em cada hum dos annos; constam as obrigaçõens do seguinte: terá o juíz obrigação de comparecer com sua veste e vara e dirigir a Purcissão, mandará o Thezoureiro que compareça naquele acto para levar o pendão e com o que arbitrarem entre elles, três mezarios que veja para convidarem as figuras que serão a Padeirinha, Magdalena, Sam Joam, três Marias e dous Profetas; pelo convite destas figuras deliberamos a quantia de treze mil réis; e o escrivão deverá comparecer para o que pelo juiz lhe for determinado, damos por bem feito este estatuto e eu escrivão da Confraria o escrevi, hoje 19 de Março de 1855.
(seguem-se 14 assinaturas).
Esta obrigação foi aprovada em Coimbra a 3
de março de 1857.”
Segundo o testemunho de Anacleto Fernandes
Vaz (já falecido), a Procissão dos Passos não se realizou por um período de
cerca de 20 anos, entre 1924 e 1944, ano em que uma comissão de paroquianos,
presidida pelo prior José Augusto dos Reis, retomou
a tradição, representando, ele próprio
(Anacleto), com 12 anos, a figura de São João (com a cabeleira de Nossa Senhora
do Rosário), e cuja realização se verifica até à atualidade, sendo organizada
por uma comissão de paroquianos, livremente constituída, com o aval e
presidência do pároco, e que faz um peditório pelos paroquianos “de boa vontade,
cuja receita, revertendo para o Conselho Económico, assiste nos custos com algumas
despesas com a realização da festividade - filarmónica, pregador e coadjutores,
aluguer de fatos de Maria, S. João, Madalena e Verónica (e outros), ornatos dos
andores, lanche às crianças (anjos), Verónica. Antigamente, e por tradição, a
Verónica era presenteada com o valor de um par de sapatos.
Esta festividade litúrgica, atualmente, realiza-se no fim-de-semana que integra o IV Domingo da Quaresma - Domingo Laetare ou Domingo da Alegria.
Pereira – IV Domingo da Quaresma
A manifestação religiosa dos Passos do Senhor ou Função dos Passos, marcada pelo sacrifício e penitência, é concebida e realizada pelo povo de Pereira, anualmente, no 4.º fim-de-semana da Quaresma, presumindo-se que tenha sido iniciada por volta de 1724, altura da Igreja Misericórdia.
A começar pela véspera - sábado, em que
decorre a celebração, à noite, na Igreja da Misericórdia para apresentar a
Verónica à Comunidade, que faz o seu último ensaio frente aos fiéis e
visitantes, entoando “O vós omnes qui transitis per viam atendite et videte si
est dolor sicut dolor meus” (Ó Vós todos que passais pela via. Olhai e vede! Se
há dor igual à minha).
Seguidamente, a imagem de Nossa Senhora da
Soledade é conduzida processionalmente para a Capela de Nossa Senhora do
Bom-Sucesso, onde aguarda o momento de sair, no domingo, também em cortejo
processional para o Encontro com seu Filho, no Largo da Feira, local do Sermão
do Encontro.
No domingo seguem-se as comemorações religiosas com a celebração de missa (por volta das 15h30, na Igreja da Misericórdia), onde decorrerá o Sermão do Pretório e o canto da Verónica em latim, que será entoado em todas as paragens previamente acenadas no percurso do cortejo processional, respondendo, de seguida, a Banda Filarmónica com o Miserere (com música de fundo): “Misere Mai Deus secondu magnam Misericordiem tuam”. A Verónica faz-se acompanhar por um pequeno pano branco onde está retratado o doloroso rosto de Jesus.
No final desta liturgia, é organizada e
composta a procissão: Pendão com os dizeres: “S.P.Q.R.”, Apostolado da Oração,
Anjos e seus acompanhantes, Guião e Irmandade da Santa Casa da Misericórdia
(que levam opas pretas e capuz), Bandeira/Guião da Misericórdia (atualmente,
esta é substituída por uma idêntica, pois a inicial já se encontra em avançado
estado de deterioração), Verónica e seus Anjos, Imagem de Nosso Senhor dos
Passos, Imagem de Nossa Senhora da Soledade (após o Sermão do Encontro), Cruz
Paroquial, Pálio (onde vai o Padre com o Santo “Lenho” (fragmento da cruz de
Cristo dentro de um frasquinho), Banda Musical e Público. Este cortejo
processional inicia-se na Igreja da Misericórdia e segue pelo Largo Dr. Abílio Mexia,
Rua Dr. João Mexia, Largo da Feira.
No final do Sermão do Encontro e do Canto
da Verónica, reorganizam-se as procissões numa só, com as Imagens do Senhor dos
Passos e Nossa Senhora da Soledade, que vai passar pela rua Dr. João Mexia e,
atravessando a passagem de nível, segue pela Rua do Tojal, junto à Capela de
Nossa Senhora do Bom-Sucesso, contornando-a (pela rua de Cristo), seguindo pela
Rua do Tojal, Rua do Pedrão, Largo Francisco Lopes Bontempo (Largo do
Terreirito) e Rua Nova e atravessa o Largo de Santo Estêvão em direção à Igreja
Matriz.
De realçar, no percurso da procissão, a
existência de quadros alusivos em todas as paragens realizadas, momentos em que
a Verónica executa o ato de limpar o rosto de Cristo, ouvindo-se de seguida o
canto, em latim.
O cortejo processional termina na Igreja Matriz de Santo Estêvão, onde tem lugar o Sermão do Calvário. Atualmente, é preparado um calvário “ao vivo” pelo Grupo de Teatro ' O Celeiro', representando, entre outras, as figuras de Maria, Maria Madalena e S. João Evangelista.
Findo este penitente ato - Sermão do
Calvário, reconstituição do Calvário e canto da Verónica – regressa-se, em
procissão, à Igreja da Misericórdia (com marchas fúnebres), em que a imagem do
Senhor dos Passos vai envolta num “túmulo” e a imagem de Nossa Senhora da
Soledade vai coberta com um véu preto.
A Função dos Passos em Pereira é organizada pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia com a colaboração de outras Irmandades e da Comissão da Paróquia, no fim-de-semana que integra o IV Domingo da Quaresma - Domingo Laetare ou Domingo da Alegria.
Tentúgal -V Domingo da Quaresma
A origem da Procissão dos Passos em Tentúgal perde-se na bruma dos tempos, referindo-se que terá tido origem provável nos séculos XIV/XV. Segundo um testemunho de José Craveiro, conservador de memórias de Tentúgal, esta “terá proveniência a partir de uma lenda, tendo o povo prometido que se a peste assolasse, celebrava os martírios do Senhor. Também, neste modo, a imagem do Senhor dos Passos foi levada em procissão até aos campos, devido à ocorrência de cheias que impedia o desenvolvimento das culturas, provocando fome aos que delas dependiam”.
1968-04-01RTPTentúgal mantém a tradição do Senhor dos
Passos, caracterizado por orações, sacrifícios, jejum e remissão dos pecados
que se realiza no fim-de-semana que integra o V Domingo da Quaresma.
Meses antes da Procissão dos Passos,
procede-se a um peditório pelas diversas localidades de Tentúgal.
Anteriormente, este procedimento era apenas realizado pela direcção da Santa
Casa da Misericórdia, sendo que, na atualidade, são convidados também os Irmãos
da Misericórdia para o realizarem. Para as pessoas que não eram abordadas nesta
altura do peditório, no domingo em que decorre a procissão, é colocada uma mesa
que permite a essas pessoas darem um donativo. Este peditório reverte para as
despesas ligadas a este acto religioso.
Antigamente, decorria o terço e no fim era o Sermão do Cenáculo (era Cristo que estava com os amigos e depois iam para o jardim das Oliveiras).
1968-04-01RTPOutra tradição deixada no tempo, refere-se
ao sino que tocava aos cotos, ou seja, na tarde de sábado os sinos tocavam e as
crianças dirigiam-se para a Igreja Matriz, onde procuravam (ou, eram dados pelo
sacristão) pedaços de cera que sobravam dos anos anteriores para serem levados
nas lanternas.
A procissão da noite simboliza Cristo que
vai do Cenáculo, depois da ceia, para o Horto das Oliveiras, para a agonia, ou
Oração da Agonia. Por tal motivo, o andor do “Senhor dos Passos” vai velado por
um “véu” de tecido roxo, no sentido de ir oculto.
1968-04-01RTP
No sábado à noite ocorre a Celebração na
Igreja Matriz e Sermão do Pretório, seguindo-se a Procissão dos Candeeiros,
particularidade que apenas se verifica em Tentúgal. Nesta Procissão destacam-se
as crianças que levam lanternas de papel, com feitios de igrejas, casas, entre
outros.
A lanterna de papel na mão das crianças tem
uma simbologia muito própria, significando os soldados do centurião que iam
prender Cristo.
A acompanhar esta procissão existe outra
peculiaridade, que reside no facto das mulheres, em vez de levarem velas de
cera, apresentam candeeiros de três bicos, os quais, eram muito utilizados no
velório dos defuntos. Esta tradição apresenta uma simbologia que deriva do
enxoval das raparigas pois, quando se recebia alguém, este candeeiro era a peça
melhor que se poderia apresentar para acalorar e iluminar a casa.
Os candeeiros eram sempre os mesmos, pelo que iam ficando de pais para filhos, fazendo-se acompanhar de um por família, simbolizando os amigos de Cristo, pois, as mulheres foram as únicas que não o abandonaram e representa, também, uma das luzes da casa, que ilumina os caminhos.
A formação destes candeeiros segue um modelo mais ou menos uniforme, são peças de vistosas, podendo apresentar tamanhos variados e adotam uma magnífica confecção. São candeeiros de latão, que apresentam uma base de apoio, possui espigão rematado por pega de mão e suporta uma bolsa cilíndrica ao centro (suporte do azeite) apresentando três orifícios de onde saem as torcidas de tecido que são embebidas em azeite (símbolo de Luz Divina), possibilitando produzir a luz e iluminar. Estes candeeiros apresentam ainda como acessórios, a pinça (para puxar o morrão, impedindo que saísse fumo ou cheiro), o protector de vento, o espevitador e o apagador.
Esta tradição é praticada pelas mulheres
que levam os candeeiros na procissão da noite para iluminar o caminho de Jesus.
Os homens que queriam, levavam lanternas de lata que eram de outras procissões
e apresentavam várias formas (apresentam picotados com enfeites: Cruz, Cálice,
Hóstia), e levavam essas lanternas porque era um símbolo já mais sagrado,
símbolo de acompanhar Cristo, contrariamente à significância que apresentavam
as lanternas de papel levadas pelas crianças.
Nesta noite, os candeeiros acompanham todo o cortejo processional, dando luz e brilho ao mesmo, fazendo a trasladação da imagem do Senhor dos Passos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção para a Igreja da Misericórdia, numa lógica que personifica a caminho do Horto no Monte das Oliveiras.
Esta procissão noturna comporta o seguinte
trajeto: Igreja Matriz, Rua da Igreja, Largo do Ribeiro, Largo do
Convento/Rossio, Corga, Rossio e termina na Igreja da Misericórdia, onde se
realiza o Sermão do Horto.
Nesta procissão dos candeeiros, o andor do Senhor dos Passos vai envolto por um tecido roxo, denominado de “pano de encerramento” (constituído por cinco panos diferentes) ou “véu” que, quando já passa da meia-noite esse “véu” é retirado e sendo depois colocado um pano roxo entre as duas paredes, designado pano do pretório (que depois se faz cair em acto teatral).
Normalmente, após o términus do cortejo
processional, as pessoas deixam ficar os candeeiros acesos junto de Cristo, que
vão buscar na manhã de domingo; outras levam para suas casas deixando-os ficar
acesos durante a noite, pois, o azeite já estava oferecido ao Senhor dos
Passos.
Antigamente, havia uma ladainha de Nossa
Senhora, pelo que se chamava a festa da ladainha (em que as pessoas vinham para
ouvir). Era uma música, em que no sábado se cantava a um ritmo muito mais
calmo, e no domingo e sexta-feira santa a um ritmo mais acelerado. A partir dos
anos 70, deixou de se fazer esta ladainha, passando a se acompanhada pela Banda
Filarmónica.
No V domingo da Quaresma, os fiéis juntam-se na Capela de Nossa Senhora das Dores, onde terá lugar a celebração da Eucaristia (15h/16h) e onde decorre o ofício de leituras e Sermão do Pretório.
Eis que, em altura própria, se deixa cair o
pano roxo – “pano do pretório” (em género de peça teatral) deixando a
descoberto a imagem do “Senhor dos Passos”, Verónica, Madalena e S. João
Evangelista. Momento, em que a Verónica canta, em latim, o seguinte versículo
bíblico: “O vós omnes qui transitis per viam atendite et videte si est dolor
sicut dolor meus” (Ó Vós todos que passais pela via – caminho – Olhai e vede se
há dor igual à minha dor), causando uma certa emoção aos mais sensíveis,
seguindo-se o cantar dos “Mutetos” pela Banda Filarmónica.
Concluída a Eucaristia, inicia-se a procissão, numa sequência que começa pela Bandeira da Irmandade (o que, pelo facto das bandeiras da Misericórdia já se encontrarem em avançado estado de degradação, estas deixaram de ir na procissão, estando-se a projetar que sejam preparadas outras para caminhar pela rua). Segue-se o Guião, Cruz e Círios, uma outra Bandeira da Misericórdia, depois o Estandarte, símbolo do poder de Roma, com os dizeres: “SPQR” – “Senatos Populorum Quórum Romanos” – Assembleia de todo o povo romano. Sucedem-se os anjinhos, Verónica, S. João e Madalena, o Andor do Senhor dos Passos, a Irmandade da Misericórdia e os fiéis. A encerrar o cortejo processional, a Filarmónica e muitos outros fiéis.
Antigamente, à frente do Guião (1.ª peça da
Procissão), ia a Matraca, que apelava que se ia seguir a procissão, para se
fizesse silêncio absoluto.
Durante o cortejo religioso a Verónica canta em todos os Passos (onde já se encontram colocados quadros expressivos e alusivos à Estação), desdobrando um pequeno “véu” ou, também designado “pano da Verónica” que traz enrolado na mão, onde está gravado o doloroso rosto de Jesus. Ao mesmo tempo que vai cantando e movendo-se ligeiramente virada para o quadro que se encontra à sua frente. Logo após que a Verónica canta, S. João e Madalena ajudam a enrolar novamente o pano, pelo que o Grupo Filarmónica de Montemor responde com o Miserere. O termo “Verónica” designava esse “véu”, a que depois se passou a chamar Verónica à mulher que limpou o rosto a Cristo (pois, apenas se sabe que era de nome Maria), e significa Vero Ícone, ou seja, o rosto verdadeiro, a fotografia de Cristo.
O cortejo processional de domingo parte da
Igreja da Misericórdia, Rossio – onde tem lugar o Encontro de Jesus com a sua
Mãe, dando-se primordial relevo à relação Mãe-Filho, momento em que a Verónica
executa o gesto de limpar o rosto de Cristo. Segue pela Corga (simboliza o
encontro da Verónica com Cristo) - Largo do Rossio (simboliza o encontro de
Jesus com o Cireneu), junto à Torre do Relógio (simbolizando Jesus e as
mulheres de Jerusalém), Largo da Olaia (3.ª Queda), recolhendo à Igreja de
Nossa Senhora da Assunção, local onde a Verónica canta pela 8.ª vez, voltando a
cantar, pela última vez no fim da Procissão de Retorno da imagem de Nossa
Senhora da Soledade (Nossa Senhora do Encontro) ao Convento de Nossa Senhora da
Natividade.
No Sermão do Calvário, Cristo é apresentado à multidão já na Cruz, seguindo a procissão da “Soledade”. Particularmente, nesta procissão, os Irmãos da Misericórdia, que levam opas pretas, colocam a romeira pela cabeça desde a Igreja Matriz até à Igreja de Nossa Senhora da Natividade (Convento), símbolo de luto e solidariedade para com a Mãe de Jesus.
Em tempos idos, havia a tradição da
Irmandade do Senhor dos Passos usar opa roxa no decorrer do cortejo litúrgico
e, quem não as tinha, alugava-as. Atualmente, só a Irmandade leva opas pretas.
Antigamente, era oferecida uma saia à
Verónica e outra a quem a ensaiava, facto que se deixou de proceder desta forma
por volta dos anos 70/80. A saia era considerada uma peça de extrema
importância, pois era vistosa e, até mesmo necessária. Atualmente, esta
especificidade local tomou outro rumo, oferecendo-se dinheiro ou uma lembrança em
ouro ou prata.
Estes festejos são organizados pela Santa Casa da Misericórdia, colaborando, também, a comissão da Igreja, realizando-se atualmente no fim-de-semana que inclui o V Domingo da Quaresma.
Montemor-o-Velho – Domingo de Ramos da
Paixão
Como a atual paróquia de Santa Maria
d’Alcáçova e São Martinho (30.07.1874) é o resultado da união das antigas
paróquias de Santa Maria Madalena, São Miguel, São Salvador, Santa Maria
d’Alcáçova e São Martinho, podemos inferir que a celebração dos Passos do
Senhor teria começado numa (ou mais) destas paróquias e que a atual paróquia
continuou com a tradição até à atualidade.
De acordo com o padre José Carraco dos Reis
(já falecido), antigo pároco responsável pela paróquia durante cerca de 46 anos,
poder-se-á referir que a extinta procissão que se realizava na quinta-feira
santa terá dado origem à Procissão dos Passos que se observa na atualidade, ou
seja, terá havido um transpor de um dia para outro,
realidade que se explica pelo facto de o
trajeto de ambas ser o mesmo.
A atual solenidade, cuja referência é sempre a Paixão de Cristo, apresenta características próprias e singulares em Montemor e será o resultado da adaptação desta manifestação religiosa pela população local. Em tempos idos, na semana antes desta Procissão Solene, decorria uma “semana de pregação”.
Até cerca do final do séc. XIX, quem
organizava o “Senhor dos Passos” era, normalmente, uma comissão do povo (5 a 7
pessoas - sempre números ímpares), nomeada pelo pároco. Atualmente, é organizada
e orientada pela Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho, em colaboração
com a Comissão da Paróquia e apoiada pela Junta de Freguesia e Câmara
Municipal.
Com alguma antecedência a este festejo
religioso é realizado um peditório à população local que servirá para suportar
algumas despesas, como: a Filarmónica 25 de Setembro, o pregador, aluguer de
fatos de S. João (cabeleira) e Madalena, o ornamento do andor, o lanche às
crianças, à Verónica (à qual se oferecia um par de sapatos, um 1 kg de amêndoas
e ainda uma peça em ouro).
No sábado, era tradição, a partir das 15h00, o sino dobrar (toque dos finados) na Igreja de São Martinho, durante toda a tarde até ao recolher da procissão na Igreja de Santa Maria de Alcáçova. Este tocar dos sinos volta a ser repetido no domingo na Igreja dos Anjos, desde o momento da saída da procissão da Igreja de Santa Maria de Alcáçova até recolher na Igreja dos Anjos.
A festividade tem vários momentos altos e
peculiares. Na noite, véspera da soleníssima e penitente procissão, a Irmandade
da Santa Casa, acompanhada da Filarmónica de Montemor, parte da Igreja da
Misericórdia, em procissão com a Imagem do Senhor dos Passos, com destino à
Igreja dos Anjos. As indumentárias tradicionais da Irmandade, são opas pretas,
símbolo de luto.
Inicia-se a celebração da missa na Igreja de Santa Maria dos Anjos (21h00), seguindo-se a procissão nocturna (em que os fiéis se fazem acompanhar de velas) pela Rua Dr. José Galvão, Rua Abade João, acompanhada pela filarmónica, em marchas fúnebres, dirigindo-se para a Igreja de Santa Maria de Alcáçova, no Castelo. Destaca-se uma particularidade nesta paróquia que reside no entoar do Miserere por um grupo da Filarmónica (antigamente, cantado apenas por homens – vozes masculinas: símbolo de respeito, a que se juntaram também as mulheres), à saída da Igreja dos Anjos. Outrora, nesta procissão as pessoas que a acompanhavam usavam vestuário preto, símbolo de luto. Neste cortejo religioso, o Senhor dos Passos vai oculto por um “véu” roxo, havendo também quem denomine de “nuvem” roxa.
No domingo, após a Bênção dos Ramos, na
Igreja de Santa Maria de Alcáçova, no Castelo, inicia-se a celebração da Missa
(15h30) alusiva à Morte de Cristo, com Sermão do Pretório. Num dado momento,
abre-se o pano (como numa peça teatral, sendo previamente preparado) e o Senhor
dos Passos fica a descoberto. Após este acto, a Verónica (que se encontra
frente ao Senhor) canta: “O vós omnes qui transitis per viam atendite et videte
si est dolor sicut dolor meus” (Ó Vós todos que passais pela via – caminho –
Olhai e vede se há dor igual à minha) causando alguma emoção ao povo que está
presente.
Existem atualmente, em Montemor, quatro
capelas ligadas à Procissão dos Passos, onde está a imagem de Cristo com
pinturas populares, havendo, em alguns casos, pessoas que, para embelezar,
colocam flores e quadros com cenas da Paixão de Cristo, e junto destas se
celebram os alusivos Passos do Senhor.
Atualmente, na procissão incorporam-se as
irmandades das capelanias de Casal do Raposo, Moinho da Mata, Quinhendros e
Torre, dando maior visibilidade ao cortejo litúrgico.
Nesta Vila, constitui, ainda, tradição o uso de opas roxas pelo grupo de pessoas que acompanham o Senhor dos Passos, ou seja, as que, de forma voluntária, transportam o andor e as que levam velas e vão próximas do andor.
Com a chegada desta procissão à Praça da
República, a Irmandade da Misericórdia, que não integra o percurso iniciado na
Igreja de Santa Maria de Alcáçova, organiza-se na Igreja da Misericórdia com as
suas opas pretas e, em ‘momento-chave’ anunciado pelo pregador, a Irmandade, em
procissão, com a Imagem de Nossa Senhora das Angústias, encaminha-se para a
Praça da República ao Encontro da Imagem de Cristo (fazendo um gesto teatral).
Os portadores dos andores descem os mesmos, proporcionando ao povo assistir a
um cruzamento de olhares entre as duas imagens
(Cristo e sua Mãe-Maria), daí se denominar
de Encontro.
Entretanto, do púlpito da Misericórdia tinha-se iniciado o Sermão do Encontro, em que o pregador faz uma prédica alusiva à dor daquela Mãe e de todas as mães, à dor daquele Filho e de todos os filhos e faz um convite à Unidade. Após o términus do Sermão e do gesto teatral do Encontro, a Verónica volta a cantar (salmo 50), a que se segue o cantar dos Motetos.
Antes de ser realizado neste púlpito, o Sermão do Encontro era feito a partir de um palco que se preparava junto à Galeria Municipal (antigo Mercado Municipal). E, em anos ainda anteriores, era preparado um púlpito na ladeira de Nossa Senhora dos Aflitos (entre a Câmara Municipal e a Misericórdia), episódio que se justifica pelo facto do púlpito da Misericórdia se encontrar num estado degradado, não permitindo que aí se realizasse.
Seguidamente, a procissão prossegue para a Igreja dos Anjos, onde decorre o Sermão do Calvário. Eis que, novamente, em momento-chave (dado pelo pregador: “Rasguei esse véu”), recolhe-se o pano pondo a descoberto uma estrutura em escadaria, estando no alto a Imagem de Nosso Senhor crucificado, a Virgem (de mãos erguidas), S. João (a chorar) e Madalena (aos pés da cruz) e, em posição descendente, todos os Amigos e Santos que acompanharam a procissão. Aquando deste acto, a Verónica volta a cantar. O pregador faz um Sermão de Circunstância olhando para o calvário e invocando o momento trágico que Cristo ali sofreu, a Morte na Cruz. O calvário é a imagem simbólica do céu.
Terminado o Sermão, as crianças (figuras
alusivas) descem do calvário e o povo acompanha a Irmandade que conduz, em
procissão, Nossa Senhora das Angústias até à Capela do Hospital de Nossa
Senhora de Campos. Esta trasladação de Maria para a
Capela tem um significado muito próprio, pois, tendo Cristo morrido no calvário, a sua Mãe é levada para outro local.
Atualmente, realiza-se no fim-de-semana que
inclui o Domingo de Ramos da Paixão.
Aldo Aveiro
Conquistar...mas,
a que preço?
Para ser verdadeira devo dizer que sempre me impressionei desfavoravelmente com
os relatos de violência; mesmo quando ainda na escola aprendia história de
Portugal e a sra. professora nos falava de batalhas, e dizia que nós
portugueses havíamos conquistado muitas terras além-mar, e que muitos rapazes
jovens, e também fidalgos e até um rei morreram nessas guerras, e que eram
homens valorosos, etc.… isso já nessa altura me fazia alguma confusão...
Morreram pela Pátria, e dizia é uma honra!
- Eu ouvia isto e encaixava, mas eu também sabia que morrer era
deixar de existir, e até tinha pena. O tempo foi passando e fui ficando um
pouco mais esclarecida, e finalmente cheguei à conclusão de que a humanidade
passou a maior parte do tempo em batalhas e guerras, com todo o cortejo de
sofrimento e morte que lhes é adjacente, e os motivos eram sempre os interesses.
Não se combatia por uma causa de amor, a carnificina terrível (que já vimos representada em filmes) era sempre para adquirir algo. Afinal algo que pertencia a outrem. Agora que já estou tão longe da escola primária (atual ensino básico), não consigo alhear-me da dualidade; "o respeito que devo aos bravos que povoam a nossa história, e o facto de chamarmos conquistas à apropriação por sofrimento e morte, do que era propriedade desses povos que fomos invadir, e infligir sofrimento".
Dília Brandão Fernandes
Voltou a surgir
aos meus olhos deslumbrados
a moldura de há tempos…
A mesma, exatamente a mesma…
moldura sem retrato
com contornos invisíveis,
traços vagos
que só a alma
vê e sente …
Trouxe-a a brisa gélida
deste janeiro tão frio
que o sol luminoso e brilhante
mal consegue aquecer.
E o retrato lá está, sorrindo
ao sol de inverno,
a aquecer-se risonho,
sorrindo nesse encantamento
sempre deslumbrado
sorrindo só para mim …
Porquê?!
PESSOAS ESPECIAIS
Pessoas especiais são donas de
si,
mas pertencem aos que ama.
Pessoas especiais têm ouvidos
na alma,
sendo puras por natureza.
Pessoas especiais têm braços de
infinito,
abraçando todos sem exceção com
seu sorriso.
Pessoas especiais têm a
essência da amizade,
não se cansando de dizer que é
amigo do seu amigo.
Pessoas especiais estão sempre
presentes,
perto ou longe.
Pessoas especiais têm um
coração do tamanho do mundo!
Tu…
Que
caminhas… cheio de azedume e ódio, para!
Reveste
o teu coração de amor e de flores
E
enche a tua alma da luz do sol…
Tu…
Que
cerras portas e fechas as fronteiras
Do
amor e da paz…. Bebe a água da fonte pura
Que
te limpa de tanta amargura… e te refaz!
Tu…
Que
caminhas vacilante e indiferente…
Como
um sonâmbulo ou alguém que está doente
Do
espírito e da alma… Vê!
Que
o reino dos animais tem uma ordem…
Que
eles se amam e se protegem…
Que
o imenso universo se mantém alinhado
E incansavelmente se refaz todos os dias,
Todos
os entardeceres e todas as noites!
Bem
lá do alto das constelações…
Da
Via Láctea e dos biliões de galáxias.
Cometas,
planetas, asteroides em ordem definida…
Que
o sol nasce todos os dias ainda que o não vejas
E
que a lua e as estrelas te iluminam a noite e a vida!
Tu…
Que
sabes que o mar tem marés e humores…
Que
tem vida, tem tesouros… Que se ilumina
Com
o sol para ser azul… e tem conchas tão lindas
De
várias cores!
Para
e pensa!
Que
esta vida imensa que nos anima…
Também
nos molda e também nos ensina
Que
há uma ordem, um caminho e um destino…
E
que é preciso:
Que
todos os atos da nossa vida sejam de Amor
E
façam sentido!...
O nosso perfeito
coração
Pelas palavras de vento
Em brisa ou ventania
Por esses caminhos verdes
naturalmente percorria...
E lembrei!
Perfeito o nosso coração
Que por vezes sabemos ser
Perdidos e sem razão
loucos por assim viver!
E são abraços e são beijos
doces promessas presentes
ritmos de fado ou de tango
abrasam os corpos quentes
E a saudade quando não estás,
A tua voz a tua mão ausente
Procuro-te bem dentro de mim,
Ai estás sempre presente!
Num concelho dividido por um rio caem pontes constantemente.
A primeira ponte a cair foi a ponte do diálogo, mas já lá vamos.
Foi
há sensivelmente 30 anos que, por falta de manutenção, caiu a ponte de Verride
quando um veículo pesado a atravessava, tendo mesmo existido vítimas mortais.
Já maior de idade, a ponte provisória com três décadas é-nos garantida como
definitiva e, devido ao passar do tempo e à falta de manutenção, apresenta
também níveis de fragilidade e mau estado gritantes.
A CDU levantou a questão por várias vezes e vários munícipes reclamaram legitimamente pela sua segurança e integridade, no entanto, estes têm vindo a ser ignorados pelos órgãos autárquicos, quer seja pelo executivo municipal, que sacode a responsabilidade, quer seja pelo o Presidente da Junta em questão, que mete a cabeça na areia e nem uma intervenção sobre o assunto fez ou defende na Assembleia Municipal.
Caiu
a ponte da Lavariz recentemente, felizmente sem qualquer perda de vida humana.
A Câmara Municipal, sob a pressão do trânsito e de uma das maiores freguesias
do Concelho, remendou a situação alugando uma ponte militar “provisória”, que
certamente passará a definitiva como a ponte acima referida. A ponte em causa
tem já dois anos de vida naquele local, implica uma série de condicionamentos
de transito devido à sua natureza, e tem um custo de mais de 44 mil euros no
seu aluguer até ao dia de hoje.
Mas
deixemos as que já caíram e passemos às que estão só em risco. No que diz
respeito à ponte de entrada em Montemor a situação não se altera, apesar das
várias tentativas da CDU de ver esta situação resolvida, o mau estado do piso é
gritante e as intervenções teimam em não chegar, ficando adiadas para a próxima
campanha autárquica.
Salva-nos
a ponte que liga a Ereira a Santa Olaia que, em caso de queda, tem por baixo um
tapete de amortecimento com milhares de jacintos que a autarquia teima em não
retirar.
Desde
que me conheço que se discutem os acessos e as vias de comunicação no concelho de
Montemor e esta discussão assenta numa única premissa: o atirar de
responsabilidades entre a Camara Municipal e a Agência Portuguesa do Ambiente,
deixando para segundo plano o bem-estar e a segurança dos seus utilizadores.
Se
recuarmos aos tempos em que a governação PS estava à frente dos destinos do
Concelho de Montemor-o-Velho, percebemos também que a ponte do diálogo foi a
primeira a ruir. Os vereadores do Partido Socialista fizeram-no boicotando a
CDU, fazendo-lhe um cerco de votações contra todas as suas propostas muitas
vezes apoiados pela cegueira ideológica de PSD.
Por
fim, caiu a ponte do bom-senso. Foi com enorme surpresa que vi, por parte de vereadores
do PSD de Montemor-o-Velho, o êxtase de comemoração à notícia de uma nova ponte,
contruída pelo Município da Figueira da Foz na zona limite do concelho com Montemor-o-Velho.
Pois bem, a CDU propôs inúmeras vezes a construção dessa mesma ponte, integrada
nas suas grandes opções do plano para Montemor. No entanto, o PSD Montemor que
hoje rejubila com a construção da ponte pelo PSD da Figueira da Foz, foi o mesmo
PSD Montemor que votou contra a construção dessa mesma ponte no nosso concelho
e que tanta ajuda daria ao nosso desenvolvimento.
Post
Sript – Um honesto agradecimento ao tempo que dedicam a este veículo
informativo e único na região de Montemor. Num tempo em que a informação
quebra, A Barcaça tem demonstrado um trabalho exemplar, uma grande firmeza e
determinação para uma melhor informação na nossa região.
Daniel dos Reis Nunes
(COM)SEQUÊNCIAS
1. Apesar do Dia Mundial do Teatro
ter sido há dias, em 27 de março, constou-se nos mentideiros locais que se
encontra em curso a encenação de mais uma farsa política para os lados de
Montemor-o-Velho, abrangendo por um lado o Turismo do Centro e Pedro Machado,
este a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal da vetusta vila, coração
do baixo-mondego, e Emílio Torrão a espalhar glamour e a candidatar-se ao
turismo do centro… afinal, fazendo todo o sentido em abstrato no que respeita
ao carreirismo político vigente em Portugal há décadas e, em concreto, pelos
exemplos conhecidos, aqui, ali, acolá e aqueloutro!
2. Aliás, ainda há pouco tempo em
Montemor-o-Velho, por muito menos, na Associação Fernão Mendes Pinto que se
encontra nitidamente em obsolescência e cada vez mais na mira das entidades de
tutela, do nada saíram não sei quantos novos associados diretamente para o
estrelato dos dirigentes eleitos, sem que algum deles alguma vez tenha
sido visto nas lides da associação ou cumprido a prerrogativa de ser associado
há mais de um ano para poderem eleger ou ser eleitos, conforme disposto nos
estatutos das IPSS – Instituições Particulares de Solidariedade Social, o
que, finalmente, evidencia a razão porque os desditosos presidentes da
assembleia-geral e da direção, durante anos tenham deliberadamente recusado
divulgar o número de associados, fazendo disso quase segredo de estado.
De estado e de fé, pois como agora se viu, o Guerra passou para 4º
vice-presidente, mas continuando a receber indevidamente como
diretor-executivo em vez de presidente de direção, segundo ele porque se quer
reformar e, segundo eu, porque este cargo é mais bem remunerado do que o de
presidente, no que foi ajudado pelo ex-presidente do conselho fiscal, Carlos
Gonçalves, agora presidente da direção, também vereador do PSD, partido que
pela primeira vez entrou em peso na associação, vá-se lá saber porquê… bom, há
quem diga que é para tentar convencer Santana Lopes a não implicar com o
projeto de uma unidade de cuidados continuados na Figueira da Foz!?
3. Falando no mal, voltemos à Associação Diogo de Azambuja, cuja Escola Profissional de Montemor foi extinta, e a outra, a Escola Profissional Agrícola Afonso Duarte, rebatizada como Escola Profissional de Desenvolvimento Rural do Baixo-Mondego, gerida de facto pela câmara municipal, apesar da associação que a tutela, mas mais parecida com uma comissão liquidatária, tal é a sua dinâmica, resultado, frequência, mérito e visibilidade!
Victor Camarneiro
Neste mês de março no qual se comemorou o Dia Internacional
da Mulher, eu dedico a todas as Mulheres do concelho de Montemor uma
maravilhosa poesia de Martha Rivera Garrido.
Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher
que tem sentimentos, por uma mulher que escreve... Não te apaixones por uma
mulher culta, maga, delirante, louca. Não te apaixones por uma mulher que
pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher confiante em si
mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora quando
faz amor, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones
por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia
hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música.
Não te apaixones por uma mulher que está interessada
em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. Não te
apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem de uma mulher
que é bonita, mas, que não se importa com as características de seu rosto e de
seu corpo.
Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona,
lúcida e irreverente. Não queiras te apaixonar por uma mulher assim. Porque
quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou
não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar
livre...
Martha Rivera Garrido.
De todos seus romances, Dom Casmurro é provavelmente a obra que mais possui
influência teológica. Há referências a São Tiago e São Pedro, principalmente pelo fato de o narrador Bentinho ter
estudado em seminário. Além disso, no Capítulo XVII Machado faz alusão a um oráculo pagão do mito de Aquiles e ao pensamento israelita. Também utiliza, no final da obra,
como uma epígrafe, o preceito bíblico de Jesus, filho de Sirach: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se
meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti."
Nenhuma
disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver
para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a
alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e
liberdades aqui enunciados.
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