Barcaça diferente ou igual a si
mesma? Pela liberdade dos seus conteúdos e pela sua diversidade de assuntos.
Damos voz a
todos os quadrantes aos que continuam a escrever e aqueles que por motivos
alheios o deixaram de fazer aguardam-se novas entradas.
Mantemos a
nossa linha desde o início e já passaram trinta e uma edições, onde a
monumentalidade, a cultura, o desporto, a política, poesia as nossas sugestões
de música e leitura fazem da Barcaça um olhar sobre a nossa terra.
Atentos ao que
nos rodeia seja nacional ou internacional damos destaque essencialmente ao
concelho de Montemor-o-Velho e Figueira da Foz. Os nossos colaboradores na
Liberdade dos seus artigos falam-nos um pouco de tudo encadeiam as suas
palavras na arte de divulgar os seus pontos de vista e que são bem diferentes.
Neste dia que
se comemora a Liberdade não existe “Lápis Azul”.
Em vésperas
das comemorações não poderia deixar passar a controvérsia em volta da chegada a
Portugal do Presidente Brasileiro.
O músico e
escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recebeu esta segunda-feira o
Prémio Camões, quatro anos depois de ter sido distinguido, numa cerimónia em
Sintra, que simboliza o regresso do Brasil aos valores democráticos.
No Palácio
Nacional de Queluz, a cerimónia está integrada na visita oficial de cinco dias
a Portugal do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que
começou na passada sexta-feira e termina no dia 25. Esta sessão será presidida
pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal.
No Twitter, o
1º ministro As relações comerciais entre #Portugal e #Brasil têm espaço para crescer. Os acordos
assinados no Fórum Empresarial traduzem o empenho dos dois países e o enorme
potencial existente. Com a transição verde e digital, as empresas têm novas
oportunidades para estreitar esses laços.
Mas hoje o
Chega prevê "um barril de pólvora" em torno da Assembleia da
República. André Ventura diz que a culpa é da Câmara de Lisboa, que permitiu as
manifestações contra e pró-Lula da Silva na mesma área, ao mesmo tempo.
Um pouco de
história: responda nos comentários a sua resposta.
Até 1973, os
deputados da “Ala Liberal” apresentaram um conjunto de projetos de carácter
reformista. Acabaram todos chumbados pela maioria. Em traços gerais, o que
propunha o projeto de revisão constitucional que a Ala Liberal apresentou em
1972?
A “Ala liberal” foi um grupo informal de deputados eleitos em
1969 nas listas da União Nacional. Até 1973, os deputados identificados com
este grupo apresentaram um conjunto de projetos de carácter reformista, como um
projeto de revisão constitucional, de lei de imprensa e de lei de liberdade de
associação. Acabaram todos chumbados pela maioria (a lei de imprensa passou,
mas alterada com o objetivo de a tornar inócua). Desiludidos, alguns destes
deputados renunciaram ao lugar no início de 1973. Sá Carneiro foi o primeiro a
fazê-lo.
"Tourada” foi a canção vencedora do Festival RTP da Canção
de 1973. A música desta canção foi composta por Fernando Tordo. Quem compôs a
letra?
O que ocorreu no Porto entre 1 e 3 e de junho de 1973?
O Partido Socialista, sucessor da Ação Socialista Portuguesa,
foi fundado a 19 de abril de 1973 em Bad Münstereifel, Alemanha. Qual destes
pontos foi objetivo essencial do novo partido?
O decreto de lei 353/73 foi publicado a 13 de julho de 1973.
Este diploma gerou grande indignação no Exército, sobretudo entre os capitães.
Em traços gerais, o que dizia?
A Ação Revolucionária Armada (ARA), formada em 1970, foi o
braço armado de qual destas organizações?
A 25 de agosto de 1973 ocorreu uma importante reunião em
Bissau, ponto de partida para:
O que aconteceu a 24 de setembro de 1973 na Guiné-Bissau?
Em finais de 1973, uma discreta remodelação governamental
criou expectativa no Movimento dos Capitães. Quem foi então nomeado para
subsecretário de Estado do Exército?
O comunicado do "posto de comando do Movimento das
Forças Armadas" foi transmitido pelo Rádio Clube Português às 4h da
madrugada do dia 25 de abril. Quem leu este comunicado?
No Terreiro do Paço, Salgueiro Maia intimou um dos oficiais leais ao regime a render-se ou a juntar-se ao movimento. Este respondeu que não faria uma coisa nem outra, que o prendessem se quisessem. Qual o nome deste oficial?
Respostas serão dadas no próximo número da Barcaça.
Barcaça agradece a todos os nossos colaboradores e seguidores.
Bom dia dos Cravos e boas leituras.
A BARCAÇA foi até terras da Carapinheira
e conversar com Ana Mafalda que é praticante de Halterofilismo que desde já
agradeço a sua disponibilidade por nos ter respondido algumas questões e que
brevemente a vamos encontrar numa entrevista On-Line na Miragem logo que as
Viagens pelas Freguesias entre na Vila da Carapinheira do Concelho de
Montemor-o-Velho.
Questionário da Barcaça
Barcaça - Ana Mafalda dando início à nossa conversa, perguntava-te como nasceu esse bichinho do Halterofilismo sendo uma modalidade que não está muito divulgada pelo concelho de Montemor-o-Velho, mas que tão bem está representada na tua pessoa?
Ana Mafalda - O Halterofilismo apareceu na minha vida por ser a área que mais gostava de praticar quando fazia Crossfit. Sempre gostei de trabalhar com pesos e este é um desporto onde o faço de forma habilidosa.
Barcaça - Como foi a tua chegada à Associação Académica de Coimbra (AAC)?
Ana Mafalda - Entrei para a secção após convite do meu atual treinador (que chegou até mim pelas redes sociais) e acabei por ficar para me especificar na área que gostava. Atualmente é onde passo grande parte do meu dia.
Barcaça - Um ano mais ou menos do teu iniciou tens logo um grande no prémio que foi teres sido Campeã Nacional no escalão de Juvenis na categoria de 76 kg, batendo alguns recordes, como te sentiste e que pensamentos tiveste nesse momento?
Ana Mafalda - Foi um momento importante para me ajudar a ser mais decidir que era este o caminho certo e que com trabalho poderia chegar a objetivos maiores.
Barcaça - Como surgiu o convite para fazeres parte da AAC na modalidade de Halterofilismo?
Ana Mafalda - O meu treinador viu vídeos meus através das redes sociais, convidou-me para ir treinar uma vez à AAC para me ver presencialmente e no final desse treino acabou por fazer o convite para me juntar à equipa.
Barcaça - Em 2022 estás ao mais alto nível, seja em provas nacionais como internacionais, pergunto-te como foi ser chamada à seleção Nacional para representar o País em torneios internacionais?
Ana Mafalda - Foram experiências marcantes. Desde o momento em que recebi a notícia de que representaria a seleção até ao regresso da prova em si sempre esteve bastante presente um espírito de luta, conquista e muito orgulho no trabalho que estava a ser feito.
Barcaça - Recuemos um pouco no tempo e vamos até 2021 estavas a disputar o Campeonato Nacional de Juniores e Juvenis na Baixa da Banheira, e obténs 3 recordes, Arranco/Arremesso/Total o que sentiste nesse momento e se abriram as portas finalmente ao teu sonho na prática do halterofilismo?
Ana Mafalda - Senti que finalmente tinha encontrado o desporto onde devia apostar as minhas cartas e fazer por chegar mais longe porque tinha os meus gostos a encontrarem-se com as minhas capacidades, fazendo assim o halterofilismo tornar-se o “desporto ideal” a seguir.
Barcaça - Depois desse ano foram só boas notícias, Teams Cup Litoff (Lisboa) mais 3 recordes, em dezembro de 2021, para se seguirem 2022 na Baixa da Banheira com mais 3 recordes, pergunto-te até onde vamos ver a Ana Mafalda neste desporto que requer muito treino e que não é muito acarinhado?
Ana Mafalda - Espero que a futura Mafalda se venha a encontrar em voos grandes de grande reconhecimento e a fazer história neste mundo desportivo. De certa forma tornar o Halterofilismo um desporto mais reconhecido.
Barcaça - Vais representar a seleção nacional em julho de 2022 no XXV Troféu Internacional da Cidade da Corunha, sabendo que dia a após dia a tarefa torna-se mais difícil, agora como sénior, que apoios tens tido para que possas levar a tua modalidade aos grandes palcos internacionais?
Ana Mafalda - Cada vez mais tem sido notório o apoio de quem me gosta de acompanhar e de quem me quer ver em voos maiores. Eu encaro sempre as provas da mesma maneira, como uma prova onde tenho de ir e fazer o melhor que consigo, seja com juvenil ou como sénior.
Barcaça - Em 17 de julho de 2022 no BASQUE CONTRY International Cup em Representação da Seleção Nacional no escalão sénior bates novamente os recordes de Arranco/Arremesso/Total temos Ana para levar o Halterofilismo até ao mais alto patamar desportivo? Que sonhos tens?
Ana Mafalda - Espero bem que sim! Sonho um dia encontrar-me em grandes palcos e vir a participar nas principais competições do mundo do Halterofilismo como Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos.
Barcaça - Para uma atleta estar a este nível que treinos diários tens de fazer, melhor como está dividida a tua atividade estudantil com os treinos que devem ser muito exigentes?
Ana Mafalda - O meu dia divide-se entre a escola e os treinos. Treino de segunda a sábado e quando necessário aumento a carga de treinos para duas vezes ao dia. Para além do tempo de treinos o tempo que resta uso para aplicar-me nos estudos e alcançar também bons resultados no campo escolar. Coisas como saídas à noite, por exemplo, são situações que tenho de abdicar pela falta de tempo.
Barcaça - Como vês o novo parceiro que a AAC arranjou com (AGH Gândia) e que novos horizontes te podem abrir?
Ana Mafalda - A minha entrada na equipa do clube de Halterofilismo de Gândia vem trazer-me uma grande oportunidade de aumentar ainda mais a minha experiência em provas internacionais e permite-me também aprender com profissionais e atletas que têm um dia a dia e uma preparação diferente da que nós seguimos. Para além disto permite-me ainda a nível competitivo experienciar outro tipo de competição e partilhar estrado com outro nível de atletas.
Barcaça - Sei que estás para ir até à MOLDÁVIA para participar no Europeu de SUB-17. Nas redes sociais está a decorrer um pedido para que possas estar presente, devido ao alto custo tanto da deslocação como à permanência nos dias das provas, sentes que o halterofilismo é um parente pobre e que o Estado devia olhar com outros olhos para esta modalidade?
Ana Mafalda - Sinto que não tendo, neste momento, apoios possíveis da parte das entidades responsáveis resta-me a mim fazer por conseguir angariar o que preciso para que a minha presença no Europeu se torne possível. Por isto, decidi avançar com iniciativas onde as pessoas me consigam ajudar com o que desejam e angariar assim o montante que necessito para esta participação.
Barcaça - A minha última pergunta é que mensagem deixarias para todos os atores sejam eles autárquicos, municipais, federação, secretaria do desporto para que olhassem para esta modalidade onde leva na camisola a Bandeira Nacional?
Ana Mafalda - Deixaria a mensagem de que este desporto que pratico requer muito trabalho e muita dedicação e no futuro poderá a vir dar que falar. Neste momento necessita de maiores apoios e de maior divulgação.
Quiçá não haja muitos halterofilistas por aí perdidos.
Foram as respostas rápidas que nos deu Ana Mafalda e quem sabe se a Barcaça tenha ajudado não só na divulgação de uma modalidade ainda esquecida pelas entidades competentes e que surjam apoios suficientes para que Ana Mafalda possa estar presente nos Europeu de SUB-17 em representação de Portugal.
Desejamos-te a Maior sorte do
Mundo.
A chegada do 25 de Abril.
Longe vão os tempos, mas muita coisa
ainda falta com esse sonho da Liberdade.
Encontrava-me em terras transmontanas
onde recordo que o 25 de Abril só chegou no dia 26, quem sabe por ser uma sexta-feira.
Mas lembro-me perfeitamente da azafama que o povo tinha nesse dia, recordo nesse dia de uma senhora
da minha rua, que o seu marido trabalhava em Lisboa corria rua acima gritando “correm
rios de sangue na capital” não sabia ao certo o que queria dizer, pois a
televisão já por si só chegava mal e só havia o 1º Canal e nesse dia nem o primeiro. Telefone
era coisa de ricos e muito poucos tinham esse objeto negro com disco de 10
algarismos e que era necessário (por favor podia-me ligar ao 231 obrigado).
Bragança não tinha mais de 300 telefones efetivos e as senhoras telefonistas
mesmo assim não tinham mãos a medir.
Na sexta-feira não houve aulas mas na verificação no caminho da escola sempre passávamos junto ao Batalhão Cavalaria nº3 (BC3) algo
de anormal se passava porque a tropa estava entrincheirada junto à rede por
onde passávamos e nos diziam: - Afastem-se antes que levem um tiro…
Regressamos a casa e como todos do
bairro dirigimo-nos ao centro do universo, o Cruzeiro da cidade para sentir aí
sim as manifestações que começavam a surgir.
Depois de alguns dias tudo já calmo
lá regressamos à escola e muita coisa mudou, apareceram as Reuniões Gerais de Alunos (RGA)
eram umas atrás das outras, saneamentos de professores que antes do 25 tratavam
à bengalada e outros tratos, foram saneados.
O Reitor foi substituído por Director,
as aulas mistas apareceram os manuais foram alterados tudo andavam em roda-viva.
Comissão de alunos, aparecimento de listas conotadas com partidos políticos, canções
de protesto nas tertúlias estudantis. Mas a Liberdade essa levou mais alguns
anos, porque os partidos de direita tinham o poder e os de esquerda eram alvo
de assaltos e represálias (tema que falarei mais a diante noutro artigo da
Barcaça).
Viver em Bragança era exactamente
igual do que viver em Beja só mudava a cor dos partidos.
Hoje com as devidas distâncias desse
tempo pergunto para que serviu a Liberdade?
O Serviço Nacional de Saúde está
caótico, a Escola Pública em reboliço, a Justiça em dois andamentos
ricos/pobres as empresas públicas prestam mau serviço e saem muito caras aos
contribuintes, a corrupção alastra dentro do próprio Estado, tudo o que dava
lucro entregue aos privados com pensões a cinquenta anos, surgem novas Parcerias
Público Privadas (PPP) sempre a lesar o mesmo o contribuinte, habitação a
preços que a classe média não consegue pagar, falta de professores de médicos
enfermeiros e tratam a tropa como não necessitassem dela… é o País que temos.
Na vida política com tantas
desigualdades surge quem espera um dia vir atingir o poder, partido de estrema
direita que já vimos noutros tempos e noutros países como fizeram para atingir
os seus objetivos, populistas esperando uma depressão quem sabe?
“A Paz, o pão, saúde, educação!"… como nos cantava Sérgio Godinho são temas bem atuais que afetam milhares de portugueses.
A PARTICIPAÇÃO DA FIGUEIRA DA FOZ NA REVOLUÇÃO DE 25
DE ABRIL DE 1974
Tudo aconteceu há 49 anos, na longínqua madrugada do dia 25 de abril de 1974, quando uma heroica revolução nos permitiu viver num país democrático, num país finalmente aceite numa europa mais desenvolvida.
Um novo país, com eleições livres, com liberdade de
expressão e de reunião, com partidos políticos, com liberdade sindical, com
direito à greve, sem censura, sem presos políticos, sem tortura, sem guerra
colonial, com igualdade de direitos entre homens e mulheres, com o acesso das
mulheres às carreiras da magistratura, diplomática, militar e policial, com
salário mínimo estabelecido, com subsídio de desemprego, com licença de
maternidade, com subsídio de férias e de Natal, com a redução do horário de
trabalho de 48 para 40 horas semanais e com acesso universal ao serviço
nacional de saúde e ao sistema de ensino.
A Figueira da Foz teve um papel importante nesta revolução, porque daqui partiu a “caravana da liberdade”, comandada pelos capitães Dinis de Almeida e Fausto Pereira, a qual teria um papel de relevo no sucesso da implantação de um regime democrático em Portugal.
Na Figueira da Foz havia então dois quartéis, o CICA 2 e o RAP 3, mas poucos estariam a par da revolução que há muito se preparava.
Só três militares pertenciam ao Movimento das Forças
Armadas (MFA), os capitães Diniz de Almeida e Fausto Almeida Pereira do RAP 3 e
Sousa Ferreira do CICA 2.
A “caravana da liberdade” era constituída por uma coluna militar proveniente do RI 10 de Aveiro, uma coluna militar originária do RI 14 de Viseu, uma companhia do CICA 2 e uma bateria do RAP 3 e ainda alguns oficiais provenientes da Escola de Sargentos de Águeda (ECS).
Foi este contingente militar, denominado de
Agrupamento Militar Norte “November”, que, pelo alvorecer do dia 25 de abril de
1974, se deslocou da Figueira da Foz para tomar o Forte de Peniche e a Região
Aérea de Monsanto.
Pela 1 hora da madrugada, os capitães Ferreira da Cal,
Góis Moço, David Martelo e Lucena Coutinho e o tenente Garcia, vindos da Escola
Central de Sargentos de Águeda (ECS), aproximam-se do quartel do RAP 3, onde
ainda quase nada tinha acontecido.
Uma hora depois, o RI 14 de Viseu segue para a
Figueira da Foz, onde se juntará ao CICA 2, RAP 3 e RI 10 com vista a
constituir o agrupamento «November».
Pelas 2 horas e 30 minutos, os capitães Diniz de
Almeida e Fausto Almeida Pereira abrem o portão do RAP 3 aos oficiais da ECS
que no exterior do quartel aguardavam há mais de 2 horas a oportunidade para
entrar.
Iniciam de imediato o plano de controlo do RAP 3, detendo os seus oficiais subalternos milicianos. O comandante da unidade, coronel Sílvio Aires de Figueiredo, não se encontrava no quartel, mas seria detido mais tarde.
O capitão Fausto Pereira foi chamar os soldados às
casernas, o armeiro estava renitente e não queria fornecer armamento, mas uma Berliet
rebentou a porta do depósito de armas e munições.
Pelas 3 horas da madrugada, no CICA 2, o capitão Sousa
Ferreira assumiu o comando da unidade.
Pelas 3 horas e 40 minutos, chega ao RAP 3 a coluna do
RI 10 de Aveiro, comandada pelo capitão Pizarro.
A coluna do RI 10 chegou antes da hora prevista, o que
veio alterar os planos anteriormente definidos. O movimento gerado só não
acordou o coronel Aires de Figueiredo e o major Malaquias porque não se
encontravam no quartel.
Entretanto, o comandante do RAP 3, coronel Sílvio Aires de Figueiredo, soube das manobras no RAP 3 e dirigiu-se a este quartel, onde foi detido pelo capitão Dinis de Almeida.
Decorrerá ainda algum tempo até que se constitua o
Agrupamento Norte. A coluna do RAP3 demora a formar, é preciso municiar as
tropas chegadas de Aveiro (RI 10) e aguarda-se que cheguem as forças do CICA 2
e do RI 14.
O comando do RAP 3 passa a ser assumido pelo capitão
Ferreira da Cal, como oficial mais antigo, provindo da ECS de Águeda,
coadjuvado pelo capitão Fausto de Almeida Pereira do RAP 3.
Entretanto, os capitães Diamantino Gertrudes da Silva,
Arnaldo da Silveira Costeira, Aprígio Ramalho, António Ferreira do Amaral e
Amândio Augusto assumem o comando do RI 14 de Viseu, preparando a companhia que
se dirigirá à Figueira da Foz.
Pelas 3 horas e 55 minutos, sai de Viseu a companhia auto transportada do RI 14, comandada pelo capitão Silveira Costeira,
constituída por 4 viaturas pesadas, 1 ambulância e 1 viatura de exploração civil. Passa por Tondela, Santa Comba Dão, Luso, Anadia e Cantanhede, dirigindo-se para a Figueira da Foz.
Pelas 6 horas, entra no quartel do RAP 3 uma coluna do CICA 2 onde estava o oficial miliciano Jaime Gama
(futuro ministro e presidente da assembleia da república) que, de pistola à cinta, ficou à porta do RAP 3.Jaime Gama recordou, mais tarde, que “tomámos as
medidas adequadas para controlar o quartel e fomos para a Serra da Boa Viagem
ouvir os códigos das rádios para iniciar as operações. A Figueira foi a grande
plataforma de ação do 25 de Abril na Região Centro”.
Pelas 7 horas, o Agrupamento Norte, envolvendo nesta
altura forças do RAP 3 e do CICA 2, ambos da Figueira da Foz, e do RI 10 de
Aveiro, sai do quartel do RAP 3 e dirige-se em direção a Leiria com 6
bocas-de-fogo de 105 mm e cerca de 300 homens transportados em 40 viaturas.
Pelas 7 horas e 30 minutos, os militares do RI 14 de
Viseu chegam à Figueira da Foz. Avançam em direção a Leiria, juntando-se no
percurso aos restantes militares que tinham saído às 7 horas.
O Agrupamento Norte tem agora cerca de 60 viaturas e mais de 500 homens e é comandado pelo capitão Gertrudes da Silva do RI 14 de Viseu.
Pelas 10 horas e 30 minutos, o Agrupamento Norte
atinge Peniche, comandado pelo capitão Gertrudes da Silva e integrando os
capitães Dinis de Almeida, Góis Moço, Pizarro e Rocha Santos e o tenente
Garcia.
Após a recusa do diretor da cadeia de Peniche, António Leal de Oliveira, em aceder à rendição e entrega do estabelecimento prisional, a companhia do CICA 2, duas secções de obuses do RAP 3, Infantaria de Aveiro e Infantaria de Viseu, sob comando do capitão Gertrudes da Silva, cercam a prisão e apontam obuses de forma a fazer fogo sobre a Fortaleza de Peniche, caso fosse necessário.
O grosso da coluna do Agrupamento Norte segue para
Lisboa. Fica em Peniche o capitão Rocha dos Santos, com uma companhia de infantaria
reforçada com duas secções de obuses comandadas pelo aspirante Monteiro.
O Agrupamento Norte chega a Lisboa pelas 18 horas e 45
minutos, assiste à adesão do RAL 1, e avança pelas ruas sem encontrar qualquer
resistência.
Pelas 21 horas, os militares do RAP 3 e da EPI
deslocam-se ao Comando da 1ª Região Aérea, em Monsanto, prendem os ministros da
Defesa, do Exército e da Marinha, e de outras altas patentes militares que ali
se haviam refugiado desde a tarde, conduzindo-os ao RE 1.
Entretanto, à mesma hora, a PIDE/DGS, na rua António Maria Cardoso, abre fogo sobre a multidão causando 5 mortos e mais de 45 feridos.
O adiantado da hora, a chuva, a falta de cobertores e
de comida e o cansaço, levam os militares do RAP 3 a aquartelarem-se no RAL 1,
mas a maioria regressa à Figueira da Foz, onde fazia falta. Os que ficam em
Lisboa, no dia seguinte, ainda ocupam o quartel da Legião Portuguesa.
Será apenas na madrugada do dia 27 de abril que os 36
presos detidos em Peniche e os 82 detidos em Caxias serão libertados, para
júbilo da multidão que longamente os aguardou no exterior das prisões.
Havia quase 4.400 prisioneiros políticos: 128 nos
cárceres de Portugal continental e mais de 4.200 nas cadeias e campos de
Angola, Cabo Verde, Guiné e Moçambique. Quatro eram figueirenses, Fernando
Iglésias (recentemente falecido), José Iglésias, José Lamego e Ernesto Pereira.
Na Figueira da Foz, no dia 27 de abril, à tarde,
organizou-se uma manifestação que percorreu as principais ruas da cidade.
Adagildo Carvalho adquiriu uma Bandeira Nacional na Casa Guimarães e Joaquim
Monteiro foi ao número 11 da Travessa de S. Lourenço, a casa do “Chico
Padeiro”, donde trouxe uma cana de pesca.
Amarraram a bandeira à cana de pesca, e entregaram-na
a Cristina Torres, figura simbólica da democracia e da liberdade, que, já muito
debilitada, assim ficaria registada numa foto memorável.
O coronel Carlos Galvão de Melo, nascido em Buarcos a 4 de agosto de 1921, integraria a Junta de Salvação Nacional no dia 26 de abril de 1974, onde permaneceu até 28 de setembro do mesmo ano.
Igreja da Misericórdia de Tentúgal
A Santa Casa da Misericórdia de Tentúgal
deve a sua fundação a D. Filipe I, por alvará datado de 1583. Por este
documento estipulava-se a anexação da Irmandade de S. Pedro e S. Domingos, e o
hospital que esta administrava, à Misericórdia. Foi este mesmo monarca que
mandou edificar a igreja. Seguia assim a corrente que desde D. Manuel I vinha
sendo adotada.
É curioso notar que Tentúgal foi das
poucas vilas, em cuja câmara, em 1580, se proclamou rei a D. António Prior do
Crato, apesar de D. Filipe I ter mandado construir a Misericórdia e ter concedido
grandes privilégios ao convento. As obras da igreja começaram pela fachada por
volta de 1583, data dos primeiros pagamentos a pedreiros para abrirem os
alicerces, bem como carregamentos de pedra de Portunhos e de Ançã. Estas obras
prolongaram-se por algum tempo e, ainda em 1587/88, Manuel Fernandes trabalhava
na empena do portal (esta foi posteriormente alterada, sofrendo remodelações no
século XVIII). Em 1592, foi paga a Francisco Rodrigues a pia de água benta e em
1595 despesas com a construção da sacristia.
O retábulo principal, também da autoria
de Tomé Velho, estava concluído em 1600. Em 1687/94 foi construída a tribuna
dos mesários, obra de Francisco Rodrigues e em 1722 foi renovada a torre e
certamente o alto da frontaria. Em 1914, ocorreram obras na igreja, ficando
profanada e daí a necessidade de a benzer. A licença e provisão de bênção foi
concedida a 24 de março de 1914, assinada pelo cónego Rui de Andrade.
O arco existente entre a igreja e a casa
do despacho (entaipado) é anterior à extinção dos vínculos (1863) e dava
serventia para os edifícios do beco. Os Monumentos Nacionais intervieram na igreja
por diversas vezes: em 1979, reconstruíram a cobertura em pré-esforçado; em
1981, repararam o teto e fachadas; e em 1986/87, realizaram obras de
beneficiação (conclusão do restauro).
A 5 de Janeiro de 1950, o Dec. Lei n.º
37728, classificou esta igreja como imóvel de interesse público.
Mário Silva
Andava
Jesus com os discípulos a pregar, correndo, pois em breve a Sua missão chegaria
ao fim.
Chegaram
perto da casa de Pedro e o Mestre disse-lhe que mandasse assar uma galinha pois
iam cansados e com muito apetite.
O
apóstolo assim fez e quando a galinha estava já assada cheirava que era um
regalo.
Com
estava com fome e cheiro era provocador pensou que se comesse uma perna de
galinha o seu Mestre não daria pela falta.
Para
que ninguém percebesse, desmanchou a ave aos bocados e assim que chegaram, vá
de comer.
Diz
Jesus: - Pedro, falta uma perna à galinha.
O
que se passou aqui?
-Nada
Neste. Passa sim, falta uma perna à galinha.
-A
galinha estava completa. O resto já não sei.
-
Vamos ao galinheiro. Lá foram e o Mestre olhou e Pedro disse:
-
Também ali vejo a todas só com uma perna. Pois as galinhas dormem em cima duma
perna só. O Mestre bateu as palmas e logo todas foram de pé com duas pernas á
vista.
-
Vês, duas pernas. Então que dizes?
Porque
não bateu as palmas à outra antes de a comer?
Bendito
é louvado , já está contado.
[Guarda-me
em ti. Sempre.]
Guarda-me
em ti.
Hoje
e sempre.
Guarda-me
no coração e na memória.
Guarda
o que fomos, o que somos.
O
que podemos e queremos ser.
Guarda
a partilha.
A
cumplicidade. Intimidade.
A
serenidade que nos caracteriza, juntos.
Guarda
a nossa história.
Guarda-me
em ti.
Sim,
guarda.
Guarda
o meu amor que não precisa de palavras. De juras. De promessas.
Guarda
a verdade. A certeza.
A
pureza.
O
inexplicável.
Guarda
os nossos momentos e sentimentos.
Guarda
os nossos segredos.
Guarda-me,
para sempre.
Guarda-me
como o amor mais puro e sincero que viveste.
O
amor que aconteceu sem pedires mas que procuraste.
O
amor que não queria. Não procurei.
Mas
talvez tenha pedido.
O
amor que desafiou conceitos e preconceitos.
Guarda-me
em ti.
Guarda
as recordações.
Os
abraços.
Os
sorrisos.
Os
sussurros ao ouvido.
Os
“amo-te” que dissemos.
Guarda
a troca de olhares.
Os
beijos demorados e inacabados.
Guarda,
principalmente, o que fui contigo.
Para
ti.
Guarda
as certezas.
As
promessas reais.
Os
sonhos e os desejos.
Guarda
o amor.
Guarda,
sempre, o amor…
…porque
talvez, um dia, chegue a hora dele!
Escrevendo sobre o 25 de Abril de 1974, do século passado.
Entendo a ideia motivadora, sobretudo para aqueles sonhavam com a queda do
salazarismo, respeitando neste quadro os que sofreram e morreram pelo sublime
causa da liberdade de todos nós.
Eu não sofri, mas fugi no Rossio, das botas cardadas, mas esses pormenores
mais adiante.
O titulo desta minha opinião, dos caminhos de cabras no Casal Novo do
Rio, tem uma relação direta com a minha chegada à Figueira da Foz, apenas com
15 anos de idade, estávamos em1955 do século passado, já oficial de barbearia
da escola montemorenses, cujo ordenado de 300 escudos por mês, apoiado ainda
com a cama e mesa. Nessa época não se falava nas lutas de classe, mas foi
naquela mudança de hábitos sociais entre o meu querido Casal Novo do Rio, iluminado
a petróleo, do caldo na panela de ferro e a broa com sardinha, que a cidade
iluminada a eletricidade, de praças e ruas arejadas, se iniciou a minha
revolução ao escutar os discursos de Salazar, ficava revoltado e solidário para
sempre com as gentes que eu tinha abandonado.
A cidade ao proporcionar-me conhecimentos e conforto produziu em mim alguma
inquietação social, interrogando-me em choque a minha contestação, interroga-ma
também como e quando a brigada do reumático, como então se dizia, deixavam de
apoiar a criminosa P.I.D.E., tudo isto antes dos 20 anos de idade.
Em Montemor, os republicanos assinavam o jornal Republica no
café Mondego, do saudoso democrata Henrique Flórido, podíamos ler o
Jornal.
Devorava os jornais, enquanto os irmãos Costa Alves, meus amigos no Casal
Novo do Rio, mas estudantes na Figueira da Foz, já politizados, me emprestavam
alguns livros para que pudesse abrir os meus horizontes no escrutínio das
melhores valias sociais.
Recordo do assalto ao Santa Maria, fomos para a esplanada Silva Guimarães,
os irmãos Costa Alves, comentavam com pormenores o que tudo isto
provocava no regime fascista, estavam politizados, enquanto eu iniciava a
minha aprendizagem revolucionária no sentido cívico do termo.
Sonhador e aventureiro, desejoso em deixar o Casal Novo do rio e Montemor,
o meu alistamento na Policia Militar, em Belém, 1960 foi o melhor que me
aconteceu numa altura em que Salazar e um regime a cair de velho, enviava par África
a nossa juventude para sofre e morrer.
Como cabo na Polícia Militar faço rondas nos embarques do jovens soldados
Guardo ainda hoje as cenas e os gritos da multidão numa cruel despedida dos
familiares. Apenas com 18 meses de Polícia Militar (PM), passo á “peluda” e
fico por Lisboa, não como barbeiro, mas com cabeleireiros de senhoras, de novo
os irmãos Costa Alves, agora já empregados e ativos contestatórios, tal com eu
ao regime, no Rossio juntavam centenas de pessoas contra o regime.
A nossa presença era fatal, mas num fim de tarde a carga de cavalaria sobre
a multidão, os tiros pró ar metiam o horror do medo, cada qual fugiu como podia.
O meu quarto era na Bica Duarte Belo, no Calhariz, corri como louco e no outro
dia não trabalhava, venho a encontrar o Dias, mais tarde o Costa Alves, o mais
velho dos irmãos, perguntei-lhe o teu irmão? Foi preso, está em Caxias. - Vais
a Caxias? Nem pensar.
Ainda sinto a minha covardia de não ter visitado o amigo na prisão de
Caxias, nunca mais tive contacto com o jovem presidiário, quanto ao Costa
Alves, o mais velho, empregado na Robbialac, em Lisboa, já faleceu.
Ambos os valores da democracia e da minha rebeldia social, tudo isto
por ter tido a sorte de ter nascido no Casal Novo do Rio ao qual devo a noção
que os homens para serem homens não devem ser lobos, mas partilhar e justificar
o humanismo das melhores causas, competindo aos governos regularizar e proteger
os mais fracos, coisa complexa no presente e nos sonhos quando vindo dos
caminhos de cabras, julgava encontrar pelas cidades depois do histórico
25 de Abril de 1974 a justiça social que tarda, quando sabemos agora
da pobreza que por ai continua sem abrigo…
Dando
seguimento ao artigo anterior sobre a ida de muitos Carapinheirenses na década
dos anos 50/60 do séc. passado, aquando do estado novo de Salazar, em que o
Povo por todo o País vivia muitos em miséria estrema. Pelo que obrigou
muitos á migração para as terras da Borda D'Água.
Já sabemos que a ida de muitos naturais, desta agora Vila, nomeadamente Valadores, que embarcavam no comboio que, os levariam para as longínquas paragens Ribatejanas. Mas, muita gente, arrimou, ainda que sazonal também, para várias grandes Quintas agrícolas quer, no Ribatejo, quer no Oeste, zona de Torres Vedras. Em alternativa ao comboio, havia aqueles homens que angariavam pessoas que, em chamados Ranchos, rumavam agora em camionetas de carreira, hoje chamados de (autocarro), da Empresa Moisés Correia de Oliveira que os levavam para essas zonas. Dizem que esse veículo, era uma Dodge de 35 lugares,
conduzida por um motorista Sr. Ferreira.
De comboio o
desembarque desses homens e mulheres que formavam os ditos Ranchos, era feito
nas estações do Carregado ou de Vila Franca de Xira.
Quando levados
por camioneta de carreira, então aí era uma festa, sorridentes, esqueciam-se
nesse dia das agruras da vida e a falta de tostão no bolso e até que iam
trabalhar no duro. A viagem demorava um dia e como era uma espécie de entrega
ao domicílio, pois que era um parar aqui, um parar acolá, e já era de noite
quando chegavam ao local onde se iriam instalar. Era um espaço muito grande e
amplo, chamado barracão, onde cada um ocupava um e a pernoitar, para seu
descanso, enquanto nessa Quinta trabalha-se. O mesmo era comunitário. Este
ritual, da viagem de camioneta, bem que era um dia de festa.
Pois alguns
nunca tinham andado nesse meio de transporte, porque nessa época, a miséria era
muita e o dinheiro não chegava para se andar de camioneta.
Pois até para
se ir á feira a Montemor-o-Velho, fazia-se todo o percurso de ida e volta a pé.
Quando nessas viagens á Borda D'Água e quando iam de comboio, já não podia ser
assim, porque o mesmo também não era tao cómodo quanto isso. Pois até os seus
bancos eram de madeira e dentro do mesmo compartimento, tinham de ir as
pessoas, os sacos com todo o tipo de roupa e utensílios para o seu dia a dia.
Com o vinte e cinco de abril, essas grandes quintas, deixaram de procurar toda
essa espécie de trabalhares, porque as mesmas se começaram a mecanizar com
maquinaria agrícola e ou começaram a fragmentarem-se, devido a serem repartidas
pelos vários e muitos herdeiros e também com o nascimento do Vinte e Cinco de
Abril. Com a morte do estado novo, a pobreza ficou mais atenuada.
Assim, acabaram esses grandes ranchos (Os Antigos Filhos da Carapinheira)
de se ausentarem desta bonita Vila.
Chegou o Vinte e Cinco de Abril e com ele a DEMOCRACIA e REVOLUÇÃO DOS
CRAVOS.
Autênticos
marcos de religiosidade popular
As Alminhas da Carapinheira
No âmbito da religiosidade popular, a devoção às Almas do Purgatório é manifestada pelos crentes através de diversas maneiras e atitudes: orações, cumprimento de promessas, esmolas, cantar das almas, missas e outros actos litúrgicos. Todas estas expressões de religiosidade pretendem, no seu mais puro sentimento de fé e esperança, aliviar as almas à sua passagem pelo purgatório.
Na sua XXV sessão, ocorrida em 1563, quando a Igreja procurava reencontrar-se (Contra-Reforma), o Concílio de Trento definiu, dogmaticamente, a existência do Purgatório (“Purgatoriun esse”, isto é, purgatório existe), confiando e incumbindo os bispos de espalhar a doutrina inerente ao dogma.
A partir deste Concílio a devoção às almas do Purgatório conhece relevante preponderância, com o dinamismo dos monges da Ordem do Carmo e da Sociedade de Jesus. Mais tarde, as Confrarias das Almas, criadas para o efeito, ocuparam-se desta extraordinária missão, dinamizando a realização de diferentes actos litúrgicos destinados a sufragar as almas dos que haviam partido da vida terrena. Ao mesmo tempo era incentivado o aparecimento de símbolos representativos do Purgatório e de toda uma iconografia alusiva a este dogma.
Entre
outros símbolos, surgem as Alminhas, simples e humildes “monumentos” de
religiosa piedade e devoção que, na paróquia da Carapinheira, como em muitas outras,
constituem autênticos padrões de culto aos nossos antepassados, erguidos em encruzilhadas,
muros, paredes, na beira de estradas e caminhos, etc.
Estas Alminhas (ou oratórios) transmitem-nos a mais fervorosa religiosidade popular pelas figurações que ostentam, esculpidas na pedra ou pintadas na madeira, no estuque ou no pano (painel) e abrigadas e protegidas pela reentrância do muro ou colocadas em pedestal. Assumem a sua forma e valor artístico através da crença deste dogma, do grau de imaginação, de fé e criatividade e habilidade do artista.
Estes
oratórios apresentam, vulgarmente, três partes: painel ou retábulo, abrigo escavado
na rocha ou no muro ou capelinha construída em pedra ou tijolo e caixa de esmolas;
este conjunto é encimado por uma cruz.
O painel, representando o Purgatório, mostra-nos os padecentes, candidatos ao Paraíso Celeste, envoltos nas labaredas vermelho-amareladas, nus da cintura para cima, desgrenhados, olhos de clemência, mãos erguidas ao céu em gesto de súplica e de oração, encimados por figuras celestiais que os procuram aliviar e proteger: Cristo crucificado, Anjos, a Virgem, N. S. do Carmo com ou sem escapulário, S. Miguel com a balança, Santo António, Santa Teresinha, S. Bartolomeu e outros Santos.
Na
base do painel, por vezes, encontram-se expressões literárias convidativas à oração:
“Ó vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando” ou “P.N./A.M.”.
O painel, quando não há nicho ou capelinha, está protegido por grade de ferro ou, estando desprotegido, está assente no alto de uma coluna ou pedestal.
Enraizado
no nosso país o culto às Almas, como religiosidade popular, desde tempos muito
recuados, também é notória a devoção às Almas na Carapinheira, não só através
das tradicionais Alminhas, como pequenas capelas, nichos, cruzeiros, pedestais e
azulejaria com figuras de Santos, nas vedações ou fachadas das habitações.
Aldo
Aveiro
Raiou ao sol
risonho de luz
aquela madrugada…
Depois, floriu em cada rosto,
em cada esquina,
em cada praça,
em cada rosto
ganhou vida e esperança …
Foi tempo de beijos
e de abraços…
Foi tempo de partilha,
tempo de ideais,
tempo de sonhos,
tempo de olhar em frente
sem medos,
com a confiança de quem
acredita na força
dos homens e
no poder da liberdade…
Foi tempo de sorrir
abertamente com olhos
deslumbrados para esse mundo
novo,
agora nosso,
agora devolvido aos donos do
tempo e da verdade …
Não mais o medo,
não mais o silêncio
nem a dor …
Sem fugas e deslumbrados,
vivemos cada instante
essa conquista única,
cantando a alegria
de sermos livres.
Garça Real
SER…
O HOMEM não é nada mais do que aquilo que faz de si mesmo….
de que vale a vida
se nada fazemos para a viver da melhor maneira
de que vale sonhar
se nada fazemos para que os sonhos se realizem
de que vale acreditar
se nada fazemos para que tal aconteça
de que vale existir confiança
se nada fazemos para que ela exista
mais do que confiar em quem nos rodeia
é crucial confiar em nós próprios.
Ter consciência de quem nós somos,
fazer com que no dia a dia sejamos pessoas melhores,
não perfeitas, mas felizes!
Ser feliz
é viver honestamente,
é desejar o bem e congratular-se com o sucesso dos outros,
é usufruir do que é seu e nunca prejudicar ninguém!
é ir à luta com determinação,
é abraçar a vida com paixão
O HOMEM não é nada mais do que aquilo que faz de si mesmo….
Eu Canto...
Eu canto quem parte
Contra o vento, contra tudo
Que reage e não se fica
Neste marasmo absurdo
Eu canto a coragem
De quem vê mais além
E não renega o passado
Pois o passado o sustem
Eu canto quem acredita
Que tem mãos de seiva
Que alimenta os seus filhos
Com a futura colheita
Mas canto quem permanece
Com alma de partir
Carrega o fardo do tempo
Com tempo para sorrir
Eu canto quem rasga a terra
Com jeito de afagar
Se não chove, que importa
Com lágrimas a vai regar
Eu canto quem espera
Pois a espera fortalece
E trás no ventre a certeza
Que amanhã, amanhece
Eu canto o poeta que chora
Que se revolta e implora
Que virem esses caminhos
Para não ter de ir embora
O dia mais bonito que eu não vivi.
Eu não estava lá, mas diz Eugénio de
Andrade que nesse dia as palavras cresciam “sílaba a sílaba” e que cada letra
era a própria construção do sonho que seria daí para a frente a casa que
garantia abrigo, futuro e dignidade a um povo.
Para me sentir mais próximo do dia
mais bonito que não vivi, afinei o coração pelo tom dessas palavras e temos
obedecido ao pedido de tentar cumprir o que ficou por haver.
Diz-se que os poetas sabem mais que
os mortais, o Godinho deve ser um deles. Ainda estava por parir o mais belo
documento do Portugal contemporâneo, a Constituição da República Portuguesa de
1976, e já dois anos antes Godinho a cantava os anseios e justas aspirações dos
que se levantavam da longa noite do fascismo. É talvez a única constituição do
mundo trauteada na nossa memória coletiva. Era a dignidade a erguer-se, a
justiça e o futuro de milhões de pessoas, ali, saídas em verso numa cama de
acordes.
“A paz, o pão, habitação, saúde,
educação!” (À queima-roupa -1974 gravado entre o Canadá e Portugal) e estava
feita, de um só jorro e meia dúzia de acordes, parte da Constituição estava na
rua e era cantada pais fora.
Já Ary deixava uma inquietação para
com essas realizações. A voz rouca e afiada como espada faz-nos tremer o peito
ao ouvir “E só me faltava agora que este Abril não se cumprisse” (em As portas
que Abril abriu, 1974)
Gosto tanto do Ary que gostava de lhe
escrever:
Querido Ary, apesar da distância,
queria dizer-te que por aqui continuamos, muitos de nós a não abdicar do sonho
de um dia sermos todos pessoas sem distinção de tratamento e pessoas que acima
de tudo consigam ser felizes. Não cumprimos ainda os versos do Godinho. Ele
ainda hoje ele canta aquele verso musical da república portuguesa e nós
cantamos sempre com ele.
Temos tido, enquanto país, algum
sangue nas mãos mesmo depois da guerra colonial. O pão lá vamos tendo, mas a
taxa de pobreza ou exclusão social ascendeu a 300 mil pessoas. Com o tempo,
desde que partiste, as casas em Portugal deixaram de ser para portugueses e perdemos
grande parte da dignidade. Deixámos de ter acesso àquilo que é nosso. O Serviço
Nacional de Saúde, a garantia a igualdade e acesso a esses cuidados, tem sido
entregue a privados e descapitalizado dando espaço ao negócio que os de sempre
aproveitam. Por fim, da educação, os professores têm feito da rua o seu campo
de batalha.
Mas Ary, um passo atrás são sempre
dois em frente e continuamos a não querer gente mais gente que outra gente. Tem
valido a pena a travessia e continuamos a fazer o barco andar.
Despeço-me com amizade e admiração.
Um abraço de todos daqui de baixo.
Daniel dos Reis Nunes
DA MAIORIA ABSOLUTA AO
25 DE ABRIL
A história seria
difícil de contar senão vivida. Ao fim e ao cabo, só mais um mau momento da
República Portuguesa. Concentre-se a gente na vida vivida, a ver.
O ponto de partida foi
uma vitória eleitoral do Partido Socialista depois de fazer reféns todos os
partidos à esquerda que garantiram uma maioria estável para, com propósito simples,
reverter uma política económica que empobrecia as pessoas, as pequenas empresas
e as famílias.
O tacticismo e
esclerose política de António Costa virou-se então contra estes, tirou-lhes a voz,
gozando a rodos com o Partido Social Democrata, oferecendo-se como o partido
que desafia o Chega! Portanto, em trocos, trocados, como todos de cebolada.
Pois... a soberba tem
destas coisas.
Que António Costa come
o CH de cebolada. Come. Na verdade, é fácil. O discurso é de ódio e espremido,
o CH, tem malta que esteve bem dentro dos atentados mortíferos de direita no verão
de 1976, recebe umas massas de velhos empresários do Congo e diz-se que disto a
pior. Certo e sabido é que ninguém vai para ali a pensar em democracia: “Salvé
Oh César Ventura”!
Fica então um azar para
o Partido Social Democrata que criou nas suas fimbrias este “partido
securitário e neoliberal”.
O partido conservador -
CDS/PP - foi arrastado neste lume brando feito em fileiras do PSD e acabou
transformado em banha de untar. Nos entretantos os herdeiros ricos da cidade
iam fazendo a Iniciativa Liberal, porque: já que estão todos (PSD, Chega! e CDS/PP)
a serem liberais e neoliberais... nós é que somos mais!
E nós, mês após mês,
fomos assistindo à decadência de uma maioria absoluta PS, enquistada,
arrogante, farta em tremeliques de uma “regionalização” que só tem paralelo na
União Nacional. Dividir e reinar. O tom séptico com que Mário Soares garantia
que não haveria país se o PS não estivesse sempre na charneira.
Esta é a direita
portuguesa. De cacique e enrole.
Ouvi sem cessar os que
dançam sempre sós e sem par (PS, LIVRE, PSD, CH, IL, PAN).
E a gente? E a gente? E
a terra? E a nossa terra?
O país cresceu.
O governo, não.
Pouca ética
republicana, um desastre na ação, descoordenado, acossado pela sua própria má
prática na comunicação social, encostado à parede por casos, sem resposta à
realidade e sem programa estruturante.
Queira-se, ou não se
queira, estamos já viver um regime de gestão com o único intuito de vencer as
próximas autárquicas. O país precisa de muito mais.
O país precisa mais uma
vez de 25 de Abril.
Aquela madrugada de
esperança. O pensar de cada um. A autenticidade que fez da nossa revolução
única. A liberdade que só existe com paz, pão, habitação e saúde.
Bom 25 de Abril!
Cá estarei para o que
der e vier.
Ali aos Anjos, no redondo do muro branco daquela que foi minha
escola primária, permaneceu durante anos, teimosa e intermitentemente, uma
inscrição de proveniência desconhecida, feita a pincel, onde se lia ABAIXO A GUERRA COLONIAL, e que, à medida que uns a
escreviam e outros apagavam, suscitou curiosidade e funcionou como um dos mais
importantes enigmas pré-revolucionárias do autor destas linhas.
O segundo, embora não por ordem decrescente nem cronológica,
explicou-mo meu pai, e ao meu irmão, quando nos aconselhava a não falar
abertamente, sequer a brincar, das figuras do regime ou das pessoas
proeminentes cá da terra pois, face à quantidade de informadores (vulgo bufos)
e agentes da PIDE existentes, tal atrevimento nos poderia provocar alguns
dissabores, e também a ele.
O terceiro, o embaraço provocado por uma circunstância
inesperada, que consistiu no facto de, para o casamento da minha irmã, estarem
confirmadas as presenças de duas personalidades que por razões opostas se
tornaram subitamente especiais: o sogro do Joaquim Canastreiro, de seu nome
Cidadão, operário fabril da Marinha Grande e ex-preso político no Tarrafal; a
outra, um Chefe da PIDE que não sendo conhecido da família, mas tão só amigo de
um nosso tio de Lisboa, nessa condição o acompanhou e induziu os meus
progenitores a tomar as devidas cautelas no sentido de prevenir quaisquer
deslizes verbais que pudessem ensombrar a cerimónia.
O quarto, um achado surpreendente e totalmente inesperado no parapeito de uma das montras da Renault da Figueira da Foz quando, numa das esperas noturnas por uma prima que recebia explicações nas Abadias, me deparei com um livro abandonado em cuja capa figurava a imagem de um homem barbado, boina com estrela na cabeça, que apenas por intuição guardei muito bem guardado e serviu de referencial para uma nova aprendizagem. Chamava-se Antologia Che Guevara!
O quinto, a última visita oficial do então Presidente daRepública, Américo Tomás, que incluiu Montemor no roteiro e para a qual fomos
empurrados pela escola, para fazer número e enfeitar a receção que a Câmara
organizou no castelo, com pajens, trombetas, bandeiras e tudo o mais, protocolo
que antecederia a inauguração que não se chegou a realizar, nem nesse dia nem
nunca, da nova Ponte da Alagoa, ao lado da qual o referido estadista passou
como cão por vinha vindimada em direcção à praia da claridade. Nessa manhã
bebemos um pouco, eu e alguns colegas, e na impunidade da adolescência
festejámos por antecipação a decrepitude do regime e o fracasso da visita.
O sexto, na manhã do dia 25 de Abril de 1974 quando, já alertado
pelos rumores de um Golpe de Estado em Lisboa, saí à rua como todos os dias
para percorrer a pé o caminho até à escola e, frente à Fonte do Machado,
observei que dois soldados da GNR, invulgarmente agachados e apressados,
recolhiam uns papéis que esvoaçavam pelo chão, que mais tarde soube terem sido
largados por um avião para informar a população das razões que levaram os
militares a protagonizar o dito Golpe. Furtando-me à vigilância dos guardas
consegui agarrar e esconder um deles e, qual conspirador vitorioso, depois de
lê-lo e convencer-me da relevância do seu conteúdo, corri até à escola,
partilhei o meu tesouro com alunos, professores e funcionários, que se
amontoavam nas escadas e entrada do edifício e especulavam sobre o que se
estaria a passar.
O comunicado foi lido em voz alta para todos. Por unanimidade foi decretada greve geral e elegeu-se uma Comissão. E passámos o resto da manhã a tentar adivinhar o que quereria dizer Revolução, Democracia, Socialismo e Liberdade. Tinha quase quinze anos.
Sinopse
A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) organiza, no dia 20 de abril, pelas 17h, no Quartel do Carmo, em Lisboa, deu uma conferência «Cinco décadas de democracia, o que mudou?», com o objetivo de refletir sobre o passado e pensar o futuro da democracia portuguesa. Neste evento, que marcou o início de uma programação alargada que a FFMS vai dedicar, ao longo do ano, ao tema das cinco décadas de democracia em Portugal, foi apresentado o livro O Essencial da Política Portuguesa, a versão traduzida do Oxford Handbook of Portuguese Politics, coordenado por Jorge Fernandes (CSIC, Madrid), Pedro Magalhães (ICS-ULisboa) e António Costa Pinto (ICS-ULisboa), numa parceria editorial entre a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Tinta-da-china.O Essencial da Política Portuguesa aponta também vários aspetos em que o país se distingue, nem sempre pelas melhores razões, de outras democracias liberais avançadas. Para além de ser um dos países mais envelhecidos da Europa e do mundo, Portugal apresenta um declínio populacional acentuado. Os Censos de 2021 mostram que, na última década, apenas 16% dos municípios apresentaram um crescimento de população, e que as áreas predominantemente rurais perderam 11% da sua população. O interior rural português é a região da Europa Ocidental com o maior e mais acelerado declínio populacional. E no entanto:
- Portugal tem uma das estruturas administrativas mais centralizadas da Europa, uma das que mais resistiu às tendências de descentralização política e fiscal que foram seguidas por outros países. Somos um país que praticamente não tocou na sua organização territorial; onde a desproporção entre as competências locais e centrais é quase única; e onde a assimetria entre as competências legalmente atribuídas ao poder local e os recursos disponíveis para as levar a cabo é enorme. Esta confluência entre os níveis de desertificação do interior do país e o grau de centralização política é uma peculiaridade portuguesa;
- Portugal tem também legados persistentes do nosso peculiar processo de democratização. Por um lado, na nossa cultura política, a democracia não é apenas um regime político que garante liberdades e direitos políticos, mas é também visto como devendo garantir direitos económicos e sociais (que são percecionados como indissociáveis dos direitos políticos). Por outro lado, os portugueses continuam a considerar que a nossa pertença à União Europeia é a chave para o desenvolvimento económico e a prosperidade do país. Contudo, desde o início do século, o nosso percurso não tem sido inequivocamente favorável destes pontos de vista. A evolução não foi propriamente negativa: somos um país mais rico e menos desigual do que erámos nos anos 70 e até do que éramos no final do século XX. Contudo, é também certo que deixámos de convergir economicamente com a média europeia, e não conseguimos replicar os percursos da maior parte dos países do centro e leste do continente que se democratizaram apenas nos anos 90, seja em termos de crescimento económico seja em termos de promoção de igualdade de rendimentos e diminuição da pobreza.
Direitos humanos são tudo o que um ser humano deve ter ou ser capaz de fazer para sobreviver, prosperar e alcançar todo o seu potencial. Todos os direitos são igualmente importantes e estão conectados entre si.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece os direitos humanos como um pré-requisito para a paz, a justiça e a democracia.
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