Em primeiro lugar desejo a todos um bom Domingo de Páscoa.
Os momentos que o País atravessa, bem merece uma reflexão sobre o
que fomos, o que somos e para onde vamos!
Ao longo da nossa história relatos de conflitualidade não faltam, Portugal foi fundado em 1143, ano da celebração do Tratado de
Zamora. O Tratado, assinado entre D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, e Afonso VII de Leão e Castela, reconhece o estatuto
jurídico de Portugal como reino independente.
Mas o nome Portugal apareceu entre os anos 930 a 950 da Era Cristã, sendo no final do século X que começou a ser usado com mais frequência.
Mapa anacrónico dos territórios que já
fizeram parte do Império Português
No mapa anterior a (vermelho) podemos verificar por onde andamos e
onde chegamos, mas passados 881 anos muita coisa mudou, mas as lutas devem
estar bem presentes porque os momentos são de grande instabilidade política. Vou
cingir-me unicamente a três pilares essenciais da nossa sociedade, Educação –
Justiça – Saúde.
Educação - A Constituição da
República Portuguesa estabelece que todos têm direito ao ensino, com garantia
do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar, determina
que o Estado criará uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra
as necessidades de toda a população e assegura a liberdade de aprender e de
ensinar. Um Povo culto é um Povo livre.
Justiça - Aristóteles, no livro V da Ética
a Nicómaco, fez um estudo acerca do que seria a justiça corretiva. Em
sua concepção “a justiça corretiva seria o intermediário entre a perda e o
ganho”. Observa-se que a justiça corretiva necessita da intervenção de uma
terceira pessoa que será o responsável por decidir eventuais conflitos que
surgem nas relações interpessoais. Portanto, a figura do juiz, na justiça corretiva, para Aristóteles é de extrema
importância, pois esse passa a personificar o que seria justo.
Saúde - Em 1974, foi criado o
conceito de "campos de saúde", onde o mesmo definiu diversas áreas de
bem-estar, como meio ambiente e estilo de vida por exemplo, o que causou uma
ampliação do conceito de saúde. Essa ampliação gerou insatisfações e críticas
tanto da área política quanto da área técnica, que questionava o fato de a
saúde de tornar dessa forma algo inalcançável, sendo impossibilitado de ser
cobrado apenas dos profissionais de saúde. Com isso, no ano de 1977 foi
sugerido um novo conceito de saúde por Christopher Boorse, o qual denominava
saúde apenas por "ausência de doença", simplificando assim esse conceito.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma estrutura através do qual o Estado Português assegura o direito à saúde (promoção, prevenção e vigilância) a todos os cidadãos de Portugal. A sua criação remonta ao ano de 1979, após se terem reunido as condições políticas e sociais provenientes da reestruturação política portuguesa da década de 1970.
Feita esta pequena introdução de salutar os escritos de todos os
nossos colaboradores que com a sua independência editorial nos trazem os seus
olhares em variadas temáticas que se interligam no facto de todos estarem
ligados aos Concelhos da Figueira da Foz e de Montemor-o-velho e por isso enaltecem
o que de bom se faz e não se faz por estes lados.
Entre Mário Silva, Aldo Aveiro, Fernando Curado e Olímpio
Fernandes, uma mescla da nossa história que nas suas buscas do lado da história
seja na monumentalidade ou e factos de gentes de bem nos transmitem de onde
viemos.
Depois temos três formas de vermos o mundo seja pelo olhar terno da
Carla, pela forma tão própria de um contador de histórias como José Craveiro ou
pela delicadeza das palavras de Isabéis, Garça Real e Mara Kopke que na
musicalidade tão própria nos dão momentos únicos de conforto não necessários
nos dias de hoje.
Já na análise política nas vestes que cada defende do seu
próprio partido seja PS, PCP, BE e de momento na ausência do PSD deixam-nos
isso mesmo o olhar critico, mas audaz nas abordagens dos nossos Concelhos. O
que se faz de bom e o que se poderia fazer com os dinheiros públicos...
Depois nos já tão característicos temas emblemáticos da Barcaça,
falo dos Quadros – Livraria – Música;
1. "A Liberdade Guiando o Povo", de Eugène Delacroix
2. Liberdade - por Mário Caetano
3. Tanto mar – Chico Buarque, Letra original, vetada pela censura;
apenas a versão instrumental foi gravada no Brasil. Gravação com letra editada
apenas em Portugal, em 1975
Mais uma vez uma Boa Páscoa e boas leituras.
O QUE PODEMOS ESPERAR?
Foram
tempos difíceis que viveram os nossos avôs, os nossos pais num país fechado
durante quarenta e oito anos, onde faltava um pouco de tudo, saúde, educação,
justiça e Liberdade. Mas como povo forte e ciente dos seus objectivos lutaram
para que hoje os seus filhos e netos tenham uma vida melhor, esquecendo os
banhos em alguidares, a casa de banho no quintal, o pedido ao vizinho mais
letrado para ler as cartas dos seus familiares, a ida ao fontanário de cântaro
para beber água, as lavadeiras no rio, a televisão a cores e o acesso ao ensino
grátis até ao final do secundário.
Foram
sacrifícios que devemos interiorizar para que não voltem a acontecer. Hoje que
estamos quase a completar os cinquenta anos da democracia, o que temos no horizonte?
Uma sociedade viciada em subsídios, filhos
que ainda sonham com o pai natal e que julgam que o facto de terem MBWAY tudo
aparece como obra do espírito santo. Um mundo que deu tantas coisas e as
gerações mais novas as estão a desperdiçar pela ignorância do seu facilitismo. Julgam
que estão a ser obrigados a estudar até ao 12º ano, julgam que entrar numa
faculdade lhes dá o direito a um emprego, julgam que vão cá estar os pais
durante toda a sua vida para lhes fazer as transferências para conseguirem sem
trabalho, viajar, sunset’s/Pôr do Sol, e todas as mordomias de noites de copos.
Não os tempos estão a mudar para não dizer que mudaram faz algum tempo, a vida
está mais difícil, o 12º ano de hoje é a 4ª classe dos tempos dos nossos avós,
e o 5º ano dos nossos pais. A tecnologia avançou muito, podemos verificar nos
supermercados onde o cliente faz tudo, retira o produto, pesa-o, passa-o na
máquina e paga com o cartão sem necessidade de empregado, pergunto quantos
postos de trabalho retiraram estes estabelecimentos dos “doutores” que enchiam as
suas caixas.
O
mundo está a mudar, as guerras, a escassez de alimentos e produtos essenciais
para nosso quotidiano ou estão em vias de desaparecer ou o seu preço ficará inacessível
para muitos.
A classe política não fugiu a normalidade da sociedade, são fracos, carreiristas e com cunhos familiares, não tem experiência da vida do trabalho subiram dentro do partido afastando todos os que lhes eram opositores e mordem no seu dono logo que caia em desgraça.
Devemos nós incutir nos nossos filhos que sem trabalho
honesto, sem valores da família sem associativismo, voluntariado válido e não
camuflado para receber subsídios não avançamos. A vida tem de dar uma volta mas
aí começa a grande dificuldade na escolha que nos dão. Em primeiro lugar credibilizar
a politica, ter os melhores a defenderem os nossos interesses, abrir a politica
a comunidade civil e que nas suas próprias regiões possamos escolher os melhores
sem que da direcção central nos enviem “paraquedistas” do aparelho.
Educação
é um dos pilares centrais da nossa Liberdade, dar oportunidades a todos, com
meios com programas eficazes com professores e com escolas e não com
galinheiros.
Justiça
para todos como está emanada na constituição e não a que temos uma para ricos
outra para pobres, onde quem tem dinheiro pode recorrer aos únicos que ganham
com a nossa desgraça os Gabinetes de advogados infiltrados como polvos no nosso
sistema democrático que tenho algumas dúvidas que seja isentos.
Saúde
com mais investimento, mas com pessoas à frente que saibam dirigir uma máquina
muito pesada e onde o lóbi está entranhado em todas as suas artérias. Investir em
saúde hoje é poupar no futuro e com a média de esperança de vida aumentar
devemos olhar para os nossos idosos os tais que falei há pouco avós e pais para
terem melhores condições seja em casa ou em lares que alguns mais parecem casas
mortuárias.
Já
dizia o poeta, “ o sonho comanda a vida” por isso deixem-me sonhar.
Capela de Nossa
Senhora da Tocha [Santo Varão]
Situada no interior da povoação, trata-se de uma pequena
capela que foi mandada erigir no ano de 1661, por Francisco José Floreado e sua
mulher Brites Aires Ferreira, junto do Solar da família dos Floreados. Deste
acontecimento nos dá conta uma inscrição gravada entre as volutas adossadas no
frontão da porta principal, assim como uma inscrição no seu interior. Nela se
pode ler: “Esta Santa Capela de N. S. da Tocha mandou fazer Francisco Jorge
Floreado e sua mulher Brites Aires toda à sua custa…”.
Capela
de pequenas dimensões, com campanário e interior de nave única, nela se
encontra um altar-mor com uma mesa em madeira e um retábulo de excelente
qualidade construído em pedra de Ançã, da Renascença tardia, provavelmente
da Escola de João de Ruão.
O nicho principal, que alberga a imagem da Senhora da Tocha,
de dimensões apreciáveis e ao estilo maneirista, é ladeado por duas colunas
caneladas com capitéis coríntios. A ornamentação deste retábulo é composta por
frontões triangulares e baixos-relevos com motivos geométricos vegetalistas e
figurativos.
Por sua vez os nichos laterais, de dimensões mais reduzidas,
albergavam pequenas imagens de pedra, de S. Francisco e S. Lourenço. Do lado
esquerdo do altar-mor uma porta dá acesso ao antigo solar, já inexistente. Esta
família dos Floreados aparece ligada por laços de casamento e possivelmente
familiares à dos Saros, uma vez que uma filha de Manuel Gonçalves Floreado,
Maria de Aguiar, casa em 1621, com Cristóvão Fernandes Saro.
Tal como as outras capelas da aldeia, constata-se ter servido
de panteão familiar. Dos vários descendentes do casal de fundadores, quase
todos ingressados na carreira religiosa, o registo de óbito de 1717, de uma das
filhas, Teresa Pimentel, dá-a como sepultada na capela, o mesmo acontecendo com
uma sobrinha desta, Luísa Pimentel, herdeira da capela por morte de sua tia,
sem descendência, cuja certidão de óbito data de 1761.
Será um filho desta herdeira, Suplício José Pimentel, que
herdará esta capela, onde casará com Mariana Josefa da Silva e Sequeira, de
Ansião, em 1756. Morre prematuramente, deixando apenas um filho, residente em
Ansião, o qual certamente se terá desfeito, não só da capela, como do solar,
pois nos inícios do século XIX já ela aparece na posse dos Rangéis.
A Assembleia Municipal de Montemor-o-Velho, em reunião
efetuada a 27 de abril de 1990, aprovou por unanimidade a sua classificação
como imóvel de interesse concelhio. Alguns anos mais tarde, foi adquirida,
conjuntamente com o solar dos Rangéis de meados do século XVIII, por
particulares que procederam a obras de restauro.
Fontes:
https://www.santovarao.net/senhora-tocha/;
https://www.cm-montemorvelho.pt/index.php/component/k2/item/179-capela-de-nossa-senhora-da-tocha.
[quantas coisas deixamos por dizer?]
•
Há muito tempo que não se falavam. Cruzaram-se na rua.
Fruto do acaso. Ironia do destino. Conspiração do universo. Trocaram olhares.
Sorrisos. E pararam. As suas mãos tocaram-se suavemente. Sentaram-se, ali, os
dois lado a lado. O tempo havia passado. A vida tinha-os afastado. Mas,
curiosamente, nada havia mudado.
Do nada, ele olhou para ela e quebrando o ensurdecedor
silêncio, questionou:
- Posso fazer-te uma pergunta? Prometes responder de
forma transparente e honesta? Estás apaixonada por mim?
Quase de imediato, ela respondeu:
- Não, não estou apaixonada por ti, mas já estive.
Era uma resposta intencional.
O silêncio fez estrondo. Ele não esperava aquela
resposta. Mas ela prosseguiu:
- Já estive apaixonada por ti. Hoje, amo-te. Não
escolhi apaixonar-me, mas escolhi amar. Por todas as razões e mais alguma.
Fizeste de mim melhor pessoa. E mesmo à distância o que sinto por ti faz-me
bem. Por isso não questiono. Aceito. E amo. Assim. Em silêncio. Aceitando.
Desejando-te o melhor.
Ele ficou surpreso com a resposta. Talvez porque, no
fundo, era o que queria ouvir. Já havia passado algum tempo desde que se tinham
visto. Ele não imaginava ouvir aquilo. Mas no fundo era o que mais desejava.
- Porque nunca me disseste? Eu também já estive
apaixonado por ti, e hoje amo-te mais do que nunca. Obrigado por teres sido
honesta comigo.
- Sabes, na verdade quis dizer-to. Muitas vezes.
Escrevi-o. Apaguei sempre. Achei que não o devia fazer. Optei por não o dizer.
Respeitei a tua ausência. O teu silêncio.
E assim, depois de tanto tempo sem se falarem,
finalmente abriram os seus corações. Talvez porque apenas agora estivessem
prontos para viverem juntos essa nova fase do amor que os unia. E o silêncio
que antes era desconfortável, agora era preenchido pelo som suave das palavras
de amor que trocavam.
Ela olhou para ele, focou os olhos dele e disse-lhe a
sorrir: “Amo-te!”
•
Não aconteceu, mas podia ter acontecido. A verdade é
que deixamos, sempre, muito por dizer. Perdemos oportunidades. Perdemos
pessoas.
o Aveiro, “Tradições Populares: da Quaresma ao Pentecostes, no Baixo Mondego”, originalmente escrito e publicado na imprensa regional em 1990, adaptado em 2024 para web e Jornal Digital Barcaça.
Tradições
Populares: da Quaresma ao Pentecostes
Da
Quaresma, que começa na Quarta-feira de Cinzas e termina pela tarde de Quinta-Feira
Santa, antes da missa vespertina da Ceia do Senhor, ao Tríduo Pascal, ponto culminante
do ano litúrgico que se inicia com esta Eucaristia e conclui no domingo de Páscoa,
até ao Pentecostes (50 dias após a Páscoa), existem magníficas tradições ancestrais,
bem arreigadas nas comunidades cristãs do Baixo Mondego.
Muitas comunidades católicas do Baixo Mondego “ainda” vivem a Páscoa “à semelhança” de uma enraizada tradição antiquíssima: a cruz paroquial “visita” todos os paroquianos no Domingo da Ressurreição. Neste ano de 2024, este ritual começou hoje, 31 de março, e prolonga-se, em algumas paróquias, por Segunda-feira de Páscoa e Domingo de Pascoela.
Na
verdade, a Páscoa, para os católicos, é o “grande dia” do tempo pascal. Mas não
é simplesmente uma festa entre outras festas: é a “Festa das festas”, a
“Solenidade das solenidades”.
É
tão grande “esta festa” que são precisos cinquenta dias para a celebrar,
vividos e solenizados como um só dia. Nela, os católicos fazem memória do
núcleo da sua fé, ou seja, celebram a ressurreição do Senhor, penhor da
ressurreição de todos os que adormeceram na fé de Cristo.
O
tempo pascal caracteriza-se também pelo clamor alegre da “aleluia”, acrescido
do convite: “exultemos e alegremo-nos todos porque Ele (o Cristo) reina para
sempre”. Por isso o calendário litúrgico dá-nos a seguinte orientação: “Os
cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes devem
ser celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou
melhor, como “um grande domingo”.
A
visita pascal é uma tradição religiosa bem peculiar das paróquias do concelho
de Montemor-o-Velho, em que o “prior” de cada paróquia visita os seus
paroquianos desejando-lhes “Boas Festas”. Devido à escassez de presbíteros,
actualmente, o compasso é presidido por um seminarista ou leigo indicado pelo
pároco.
Trata-se da cerimónia anual da “bênção da casa e da família”, tradição católica antiga que tem lugar no Domingo de Páscoa e, em paróquias extensas e populosas, a visita pascal estende-se por Segunda-Feira de Páscoa e Domingo II da Páscoa (Pascoela). É o que acontece em muitas paróquias do Baixo Mondego.
No
fim da missa do Domingo de Páscoa (Segunda-Feira de Páscoa e Domingo II da Páscoa),
o celebrante apresenta à comunidade a equipa que vai anunciar a “ressurreição”
e, ao som do repicar festivo dos sinos da igreja paroquial e do estalejar de
foguetes anunciando a saída do “compasso”, dá-se início a tão agradável quão
exímia tradição.
A
comitiva é normalmente constituída por cinco pessoas ou “figuras” fundamentais:
o ‘miúdo’ ou ‘adolescente’ que segue à frente a tilintar a campainha,
anunciando a aproximação da comitiva; o “mordomo”, envergando a sua opa, que
transporta a Cruz; o leigo da caldeira da água-benta; o leigo que recebe o
“folar” e o prior, com as vestes festivas. E lá vai o “compasso”, de casa em
casa, desejando “Boas Festas” e uma “Santa Páscoa” a todos os paroquianos,
familiares e amigos.
Que
linda, que alegre festa no início da época primaveril!... Se o Natal é a Festa
da Família, a Páscoa é, sem dúvida, a Festa da Comunidade Paroquial. Que força
têm as tradições!...
Elas
sobrevivem porque têm raízes bem profundas e porque satisfazem uma necessidade humana,
social e religiosa.
A
entrada de cada habitação está geralmente embelezada com variadas flores,
destacando-se o rosmaninho e o alecrim, que exalam um inebriante aroma; a casa
está impecavelmente limpa, alindada e cheirosa; a família está reunida na sala,
e aí se beija, com devoção, a cruz paroquial adornada e perfumada, enquanto o
prior procede à bênção, para logo a seguir, por entre “boas-festas” e
“aleluias”, cumprimentar e saudar, um a um, todos os membros da família e
amigos. Depois da oferta do “folar” e de toda a gente ter beijado a cruz, na
mesa coberta pela melhor toalha, são servidos os doces da época e as mais
típicas comidas e bebidas para todos poderem confraternizar por breves
momentos, momentos alegres e festivos, mas imperativamente breves, pois o
“compasso” tem de prosseguir o itinerário habitual para entrar em todas as
casas que o esperam de portas abertas. Quando termina a visita pascal a toda a
freguesia (ou parte), a comitiva recolhe à igreja paroquial, mais uma vez ao
som festivo do repicar dos sinos intercalado com o estalejar de foguetes.
Nesta
data festiva e comemorativa também é habitual os padrinhos presentearem os afilhados
com o típico “folar” (um grande e saboroso bolo com ovos), retribuindo estes
com as tradicionais amêndoas. Actualmente, o folar é substituído por dinheiro
ou outras prendas.
À
volta deste ritual simples e significativo, de carácter religioso, que
constitui o essencial da tradição, vieram juntar-se, através dos tempos,
elementos de origem cultural e social, que enriquecem este costume ancestral e
lhe emprestam o colorido e o ambiente alegre e festivo, próprios do dia de
Páscoa.
Amentar
ou Cantar às Almas
Época
quaresmal. Para os cristãos é um período de reflexão, de penitência, de
reconciliação. É um tempo de preparação para celebração da Páscoa. O Cantar das
Almas faz parte de um ritual de privações e penitências e de reflexão que tem
lugar neste espaço quaresmal. Nesta época, esta manifestação de devoção às
almas dos que já partiram realiza-se em várias freguesias do concelho.
Um
grupo de homens percorre os lugares da freguesia, cantando ou rezando, conforme
a vontade do visitado, e recebendo dádivas dos crentes, normalmente em
dinheiro, que serão traduzidas em missas e outros actos litúrgicos para
sufragar as almas dos antepassados.
Via-Sacra
e Procissão dos Passos
Ainda no período quaresmal, quatro comunidades cristãs do concelho (Carapinheira e Pereira, Tentúgal e Montemor-o-Velho, por ordem de realização), têm por tradição reconstituir os momentos mais marcantes alusivos à morte de Cristo, com a realização vias-sacras e de soleníssimas procissões do “Senhor dos Passos”. Os pontos altos das cerimónias de domingo, além da Eucaristia e Sermão do Pretório, residem no Cantar da Verónica e no Sermão do Encontro, numa simbologia do encontro de Cristo com sua Mãe, a caminho do Calvário.
Cada
“Procissão dos Passos” constitui uma significativa manifestação de fé e
devoção, que é visível durante o espiritual e silencioso cortejo litúrgico,
apenas suspenso pelo entoar da Verónica, em latim, “vede se há dor igual à
minha”. No Sermão do Encontro, é normal verem-se algumas lágrimas a brotar e a
resvalarem pelos rostos das pessoas mais sensíveis, exprimindo o mais exímio
sentimento de dor, fé e esperança. Estas cerimónias estão enraizadas também nas
comunidades de Pereira, Tentúgal e Montemor-o-Velho.
Na Semana Santa também se realizam, entre outras manifestações artísticas de Fé que encenam, entre outros momentos, a Ceia do Senhor, o rito do Lava-pés, a Paixão e Morte de Jesus Cristo, a Procissão do Senhor Morto ou a Procissão do Senhor Ressuscitado.
Dentro
do mesmo período ainda se pode admirar a realização das tradições profanas do Desenterrar
da Sesta (25 de Março), a Queima de Judas e o Enterro do Bacalhau.
A finalizar o Tempo Pascal com o Pentecostes, em algumas localidades do concelho também se realiza a festa do Pentecostes ou festa do espírito Santo, celebração religiosa cristã que comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo, cinquenta dias depois da Páscoa.
Repórter Mabor. (1960)
As minhas "tretas e meia" na Barcaça, produzem na minha ansiedade
a necessidade de vos comunicar a minha razão pelo facto de existir no tu como
se fosse uma conversa de família ou amigos em redor de uma mesa de boa
vizinhança, se comunicar sentimentos de partilha coexiste com a função de
proximidade.
Por essa circunstância do passado, recordar o 25 de Abril de 1974, quase a
completar 50 anos, por mim euforicamente vividos e outros mais, recordei
um dia destes a cantiga do Chico Buarque, propondo-vos apenas um curto
lamiré.
“Foi
bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim”
A cantiga do Chico Buarque, subsiste de 50 em 50 anos, como se fosse e é um
hino ao 25 de Abril de 1974... Já agora ao nosso Chico Buarque, que não me
conheces de lado nenhum, também eu estou contente Pã, de ter visto
pelas ruas e praças do nosso Portugalzinho, do Minho à ponta de Sagres, os
vários partidos convidando os seus eleitores no sentido das melhores
propostas dos seus programas.
Estou contente Pá, pela razão notável de vivermos em democracia e cada um
de nós com o seu livre pensamento, ao contrário de Cuba, não julgues
prosápia de vilão, mas de todo pelo facto de ter conhecido o regime duas
vezes... indo mais longe na Rússia, na Coreia do Norte por aqui bastam os
noticiários, por isso estou contente pelo dia 10 de março de 2004, sem ter por
perto os bufos e a criminosa polícia política.
Por fim vou dizer-te PÁ, que estou triste, muito triste, por ver agora nas
mesmas ruas e praças, os policiais, os professores, os agricultores, os sem
abrigo quando vamos festejar, não o sonho de há 50 anos, mas no presente as
reformas que deveriam ter realizado e muitos revolucionários cuidaram
apenas do seu umbigo, com a certeza de que a tua cantiga PÁ... faz parte da
intemporalidade dos que amam a liberdade.
Três da manhã, a hora mais comprida
do dia!
O corpo, ou a mente, têm esse
despertador que nos mata. Invariavelmente, acorda-nos para nos atormentar. É
dilacerante! Tudo é equacionado como se a vida fosse uma prisão limitada a
acordar às três da manhã. Nada do que fizemos pela sociedade nos tranquiliza,
por muito que tenha sido, tudo é negro. A noite também é negra!
As três da manhã é a hora de
recarregar negativamente as baterias para o dia que aí vem e que desejamos que
venha rápido para não ser noite. Cada dia há mais um bocadinho de três da
manhã.
Só agora percebemos o verso do
poeta “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar” e tudo nos passa pela
cabeça na interpretação de uma frase que parece tão simples!
Aí, sonhamos acordados, na
tentativa de criar motivos para não haver estas três da manhã. A vida é
ingrata, o relógio também!
Pensamos em tudo e procuramos o que
nos possa servir de tranquilizante. É difícil!
Pensamos em fazer o que fazemos
todos os anos: ir a Fátima a pedalar pelos nossos meninos e voltar a pedalar.
Nem isso nos alivia e era um sonho mos outros anos. Verificamos a data
disponível, após a mudança da hora, verificamos o sábado sem chuva e…azar dos
azares, é 13 de abril.
Até aqui é 13!
Mas, se ainda tivermos força,
iremos. Faremos o habitual: colocar a vela por eles e regressar.
SE alguém quiser fazer companhia,
iremos por estrada. Ir e voltar no mesmo dia!
Vamos tentar
ter essa coragem. Essa e toda a coragem!
JOSÉ ALVES BARBOSA – UM FIGUEIRENSE ILUSTRE
José Alves Barbosa nasceu em Buarcos, a 09 de outubro de 1911, e faleceu em Montemor – o – Velho, a 30 de abril de 1973.
Filho de António Alves Barbosa, padeiro, natural de
Pereira, Montemor-o-Velho, e de Rosa da Silva, doméstica, natural do Casal
Novo, Quiaios, residentes em Buarcos à data do seu nascimento.
José Alves Barbosa, conhecido por Zé Gandarês, teve
uma infância difícil.
Ficou órfão de pai aos 7 anos de idade, quando o seu
progenitor trabalhava como padeiro nas Caldas da Rainha.
Sua mãe, Rosa da Silva, regressou à Figueira da Foz,
onde foi vendedora de galinhas e coelhos no Mercado Engenheiro Silva.
José Alves Barbosa começou a trabalhar muito novo nas duas grandes empresas metalo-mecânicas de construção naval da Figueira, o VARANGA e o MOTA, onde foi moço de recados, ajudante de ferreiro, ferreiro e soldador.
Mais tarde trabalhou no CARDOSO & CARDOSO, na Av.
Saraiva de Carvalho, com traseiras para a Rua Fernandes Tomás, onde se
especializou na reparação de bicicletas.
Saiu do CARDOSO & CARDOSO e estabeleceu-se por
conta própria no ramo da reparação, venda e aluguer de bicicletas, também na
Av. Saraiva de Carvalho.
Influenciado por grandes ciclistas figueirenses, principalmente por JOSÉ BENTO PESSOA, o maior ciclista português do seu tempo, nascido na Figueira da Foz em 7 de março de 1874, dedicou-se também ao ciclismo, com muito sucesso.
José Alves Barbosa começou por dinamizar o uso da
bicicleta e o cicloturismo, organizando passeios (“raides”), tais como
“Figueira da Foz – Batalha – Figueira da Foz”, “Figueira da Foz - Chama da
Pátria”,” Figueira da Foz – Vigo – Figueira da Foz” e” Figueira da Foz – Viseu
– Figueira da Foz”.
Em 1929 começou a participar em provas desportivas, as
primeiras com arranque da Av. Saraiva de Carvalho.
Vestiu a camisola do Ginásio Figueirense, com a qual
correu as voltas a Portugal de 1932 e 1933 e onde foi campeão distrital de
fundo (100 Km).
Representou também o “Clube Ciclista José Bento
Pessoa” nos seus 3 últimos anos de ciclista, instituição que dinamizou
conjuntamente com José Bento Pessoa e com o apoio de Arnaldo Sobral.
Participou em quatro “Voltas a Portugal”: 1932 (3ª
volta), 1933 (4ª volta), 1935 (6ª volta) e 1938 (7ª volta).
Ficou em 4º lugar na volta de 1938 e em 10º lugar na
volta de 1933.
Conhecido pelo “Rei dos furos”, remendava à noite os
seus próprios “boyaux” para poder correr no dia seguinte.
Aquando da boa prestação na Volta a Portugal em 1933,
Arnaldo Sobral moveu influências junto do seu Benfica, conseguindo que o
corredor figueirense ingressasse no grande clube de Lisboa.
José Alves Barbosa vendeu, então, a um primo, o seu
negócio de bicicletas, na Av. Saraiva de Carvalho, e seguiu para Lisboa com o
sonho de representar o Benfica.
Mas, com pouco mais de 20 anos, com um filho de 2 anos
e uma bebé de 1 ano, com dificuldade em arranjar habitação, trabalho e oficina,
regressou à Figueira ao fim de uma ou duas semanas.
Após se ter retirado da vida desportiva,
estabeleceu-se em Montemor– o – Velho em 1940, onde não havia ninguém a
arranjar bicicletas.
Dormindo na casa dos sogros, na Fontela, fez
diariamente de bicicleta, durante cerca de um ano, o percurso Fontela –
Montemor – Fontela.
Depois instalou-se definitivamente em Montemor, voltando à Figueira durante os três meses de Verão, até à sua morte, onde explorou um negócio de ensino e aluguer de bicicletas desde os seus 19 anos.
José Alves Barbosa casou com Bárbara da Silva Loureiro, de Vila Verde, em 13 de dezembro de 1931.
O filho de ambos, António da Silva Barbosa (ALVES
BARBOSA), inicialmente treinado pelo seu pai, foi o maior ciclista português da
década de 50 do século XX e um dos melhores ciclistas portugueses de todos os
tempos (venceu 3 vezes a Volta a Portugal).
Os mais novos desconhecem que a Figueira da Foz foi uma terra de grandes ciclistas, como JOSÉ BENTO PESSOA, JOSÉ ALVES BARBOSA e ANTÓNIO DA SILVA BARBOSA (ALVES BARBOSA).
José Craveiro
[Contador de Histórias] É um mestre. Fiel depositário do património daquele
vale onde corre o Mondego, dos cantares aos trajes, das orações aos licores,
dos contos às ervas medicinais, das procissões aos manjares conventuais. Tudo
recupera vida e se anima nas palavras e nos gestos deste contador de histórias.
O seu genuíno repertório de temas da tradição oral portuguesa surpreende pela
variedade e coerência.
Noite de procissão de velas
na terra que me viu nascer …
Noite de reencontros com um passado
tão distante e tão recente,
aparentemente distante,
mas tão meu, tão nosso …
Noite de recolhimento, de viagem interior,
de revisitação da vida
que foi, do tempo que foi
e que flui, imparável,
escoando-se-nos entre os dedos
como água alegremente
fugidia com pressa de
chegar…
E as velas ardem lentamente,
ao compasso da música,
ao compasso dos passos emocionados,
na vila revisitada …
Noite de meditação,
tempo (segundos breves!) …
para rever rostos de outrora,
rostos de ontem, afinal,
rostos do tempo dos afetos tão sentidos,
rostos meus, que me não pertencem…
rostos que o tempo não
poupou…
E as velas ardem lentamente, já gastas…
Resvala teimosamente
uma emocionada lágrima
que fica caída, parada e
hesitante, incapaz de se soltar …
E as velas vão ardendo lentamente,
enquanto ecoa em mim
essa música que sei de cor,
a música da triste cadência dos passos, vindos
de um passado distante,
tão perto agora,
tão presente…
E as velas ardem lentamente,
cada vez mais gastas
na noite escura,
rolando saudades e memórias,
iluminando as horas perdidas,
as horas afinal ganhas
quando assomam às janelas
rostos de ternura,
à luz das velas que se enrolam
na música triste,
mas tão apaziguadora …
E as velas?
Ardem lentamente até ao fim da viagem,
agora já no castelo, outra vez encantado,
fantasticamente cheio de vida,
iluminado por velas que ainda ardem …
Garça Real
O Mundo
O mundo é uma roda gigante
cheia de pessoas,
todas elas diferentes…
de diferentes lugares
de diferentes línguas
e muitas vezes a mesma
língua,
mas com diferentes sotaques,
de diferentes razões de
pensar, falar e agir,
de diferentes raças
e até de diferentes
tamanhos.
Perante todas estas
diferenças pensamos que tudo vai ser diferente,
que no meio de toda esta
diversidade,
esta incrível variedade de
gente,
alguém se destaque pela
diferença!
E sim, é verdade,
encontramos a diferença que
tanto queremos
na maneira de pensar ou de
agir,
seja certa ou errada,
esta será peculiar a cada um
de nós
o que faz com que todos
sejamos diferentes
mas que todos estejamos em
sintonia
desejando o melhor para o
MUNDO.
TAMBÉM HÁ DIAS ASSIM…
Tanto tempo já passou
Tantas coisas já vivi…
Tantas vezes me encontrei
E outras tantas me perdi…
Tenho saudades de risos
Conversas pela madrugada
As horas iam passando
Mas ninguém dava por nada
As festas com os amigos
A alegre cavaqueira
A música sempre a tocar
Tudo era alegria…
Tudo era brincadeira…
Tudo ficou pelo caminho
Já tão longe nesta vida
Foram momentos tão belos
Junto de gente tão querida
Sinto saudades de vozes
Sinto saudades de mim
Lembro tempos que passaram
Também há dias assim…
Assim te sinto sem palavras,
Onde iremos, não sei.
Onde te espero e amanheço,
Onde permaneço… seguirei
Não há lugar, não há tempo,
Não há infinito, mas
indeterminado…
A matéria que não é átomo
Acontece, é momento…
Um dia, é um tempo, sempre
presente,
Uma noite, nos teus braços,
é eterna
Um sorriso teu marca o lugar
Onde fica o nosso paraíso.
Não temos onde, não temos
quando,
Não temos caminho, só
essência
E eu fixo apenas a
permanência
Da cadência das ondas do
mar.
Somos o que somos sem par
Sem explicação, sem passado
O futuro é indeterminado
O presente é o teu olhar
Liberdade
por Mário Caetano
A liberdade que tanto desejas está
nas tuas mãos.
O que está a impedir que nos sintamos
livres?
Num momento de mudança global em que
os nossos direitos estão a ser postos em causa, devemos concentrar-nos no que
está a acontecer à nossa volta e, simultaneamente, olhar para dentro de nós
mesmos, percebendo o que nos aprisiona e o que nos liberta.
Os textos deste livro ajudar-te-ão a
refletir sobre diversos pontos que têm influenciado a tua vida, e que, quando
tocados conscientemente, dar-te-ão a possibilidade de fazeres novas escolhas.
Este livro vai ajudar-te.
Nunca como agora foi tão importante
saber escolher.
Chegou o tempo de sermos livres.
A PARTIR DO MOMENTO EM QUE ÉS LIVRE
CADA DIA TRANSFORMA-SE NUMA
OPORTUNIDADE
"A Liberdade Guiando o Povo", de Eugène Delacroix
História e Sociedade: Um
Contexto de Análise
A Revolução de 1830 na França é conhecida como as Três
Gloriosas. Ocorreu nos dias 27, 28 e 29 de julho e foi caracterizada pela frase
"A liberdade guiando o povo". Esta data ficou conhecida por sua
importância histórica e política.
Liderada pela oposição liberal, uma revolta teve seu apoio do
povo para destronar o rei Carlos X, devido ao aumento dos impostos e aos
desmandos absolutistas de seu governo.
Durante três dias, as ruas de Paris foram tomadas por rebeldes,
o que resultou em conflitos violentos. O temor do rei Carlos X foi tão grande
que ele fugiu para a Inglaterra, receando o destino que seu antecessor, o rei
Luis XVI, teve durante a Revolução Francesa de 1799: a morte por guilhotina.
Com o mesmo lema utilizado anteriormente, os revolucionários levantaram seus ideais: liberdade, igualdade e fraternidade.
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