Viver uma vida de liberdade
Viver em
liberdade envolve abraçar a individualidade e a diversidade, o que promove um
sentimento de pertença e aceitação na sociedade. Numa sociedade livre, pessoas
de diferentes origens podem reunir-se e celebrar as suas diferenças, em vez de
serem forçadas a conformar-se com um conjunto restrito de padrões. Abraçar a
individualidade e a diversidade exige praticar a empatia e a compreensão,
colocar-nos no lugar dos outros e reconhecer as perspetivas e experiências
únicas que cada pessoa traz para a mesa. Ao abraçar a individualidade e a
diversidade, podemos criar uma sociedade mais inclusiva e equitativa, onde
todos tenham a oportunidade de prosperar e contribuir.
A defesa dos
direitos humanos e da justiça é outro aspecto fundamental da vida em liberdade.
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, e esses
direitos devem ser protegidos sem reservas, independentemente de onde vivam ou
das línguas que falem. Toda pessoa tem direito à plena defesa, a não ser
torturada e a não sofrer discriminação. Ao defender estes direitos humanos
fundamentais, podemos criar uma sociedade onde todos sejam tratados com
dignidade e respeito e onde a justiça seja acessível a todos.
Viver em
liberdade também envolve perseguir objetivos e paixões pessoais sem limitações.
A liberdade financeira concede independência e capacitação, permitindo que os
indivíduos tenham mais tempo e dinheiro para perseguir objetivos pessoais,
viajar e progredir nas suas carreiras. Perseguir as nossas paixões e alcançar
os nossos objetivos pessoais pode trazer uma sensação de realização e propósito
às nossas vidas. Embora algumas limitações à liberdade individual possam ser
necessárias na vida social, elas devem ser reduzidas ao mínimo, permitindo que
os indivíduos desenvolvam as suas faculdades naturais e contribuam para causas
significativas. Ao viver em liberdade, podemos criar uma sociedade onde todos
tenham a oportunidade de perseguir os seus sonhos e viver a sua melhor vida.
Concluindo,
viver em liberdade é um aspecto fundamental da vida humana. Envolve a
capacidade de fazer escolhas e perseguir objetivos pessoais sem restrições ou
limitações. Embora existam várias formas de liberdade, incluindo a liberdade
política, económica e cultural, a opressão social e política, a desigualdade
económica e as restrições religiosas e culturais podem impedir os indivíduos de
viver uma vida de liberdade. No entanto, abraçar a individualidade e a
diversidade, defender os direitos humanos e a justiça e perseguir paixões e
objectivos pessoais pode ajudar os indivíduos a viver uma vida de liberdade. Em
última análise, viver em liberdade é essencial para a realização pessoal e o
bem-estar geral da sociedade.
25 DE ABRIL SEMPRE
O Sonho de Abril: A Revolução em Portugal
Contexto Histórico
Quando abril tinha sonhos? O 25 de
Abril de 1974 foi chegando aos poucos a todas as cidades e aldeias de Portugal.
Nesse contexto histórico, é importante compreender os antecedentes do 25 de
Abril, que remontam à década de 1920, com o surgimento de movimentos
republicanos e a instabilidade política vivida no país. Esses antecedentes
foram fundamentais para a criação do clima propício à Revolução dos Cravos.
Antecedentes do 25 de Abril
Antes do 25 de Abril de 1974,
Portugal vivenciou um período de instabilidade política e social, com a
ditadura de António de Oliveira Salazar, que governou o país de forma
autoritária desde 1933. Os antecedentes do 25 de Abril remontam às décadas de
1920 e 1930, com o surgimento de movimentos republicanos que contestavam a
monarquia e defendiam a instauração de um regime democrático em Portugal. Esses
movimentos foram reprimidos pelo regime salazarista, mas o desejo por liberdade
e justiça social apenas se intensificou ao longo das décadas seguintes.
O Regime Ditatorial em
Portugal
O regime ditatorial em Portugal
teve início em 1933, sob a liderança de António de Oliveira Salazar, e perdurou
por mais de quatro décadas. Caracterizado por um governo centralizado,
autoritário e repressivo, o regime salazarista limitava as liberdades individuais,
controlava a imprensa e perseguia aqueles que se opunham ao governo. A censura
e a falta de democracia estavam enraizadas na sociedade portuguesa, resultando
em um clima de medo e opressão. Esse regime ditatorial teve um papel
fundamental na construção do contexto propício à Revolução dos Cravos.
A Luta pela Liberdade
A luta pela liberdade em Portugal
foi uma constante ao longo do regime ditatorial de Salazar. Ao longo das
décadas de 1940, 1950 e 1960, diversos movimentos de resistência foram
surgindo, com destaque para o Movimento de Unidade Democrática (MUD), que buscava
a restauração da democracia e a garantia dos direitos fundamentais aos cidadãos
portugueses. Esses movimentos enfrentaram a repressão e a perseguição do regime
salazarista, mas mesmo assim conseguiram manter acesa a chama da esperança por
um país livre e democrático. A luta pela liberdade desempenhou um papel crucial
na preparação do terreno para a Revolução dos Cravos em 1974.
25 DE ABRIL SEMPRE
Capela de Nossa
Senhora dos Olivais [Tentúgal – Parte I]
Situada a pouco mais de um quilómetro a norte
da antiga vila de Tentúgal, a capela de
Nossa Senhora dos Olivais apresenta dimensões razoáveis, conservando,
no seu interior, a traça da reedificação quinhentista (teto de pedra abobadado,
com caixotões simples, altares e retábulos também de pedra). Na frontaria, uma
reconstrução pouco adequada realizada no século XIX, retirou-lhe o aspeto
antigo, conservando as colunas que pertenciam ao alpendre.
Edificada no século XVI, teve inicialmente como
orago de Nossa Senhora da Encarnação, sendo certo que por volta de 1550 Nossa
Senhora dos Olivais passou a ser a sua padroeira. Sofreu algumas reformas nos
séculos seguintes, sendo a mais visível a do século XIX. Aqui se faziam várias
romarias.
O motivo da substituição de orago foi apresentado
por Frei Agostinho de Santa Maria em 1712: “por volta de 1550 andava certa
pastorinha, um dia, por aqueles olivais, que davam fraco pasto, a apascentar as
suas ovelhas. Aparece-lhe Nossa Senhora a ordenar-lhe que fosse à vila e
dissesse aos moradores que a Mãe de Deus lhe aparecera e que a fossem buscar. A
pastorinha cumpriu a missão e trouxe muito povo, que viu a imagem da Virgem,
mas não lhe tocou, por medo e respeito. Foram de seguida dar parte à gente grada
e ao pároco, que com eles vieram, substituindo Nossa Senhora da Encarnação pela
nova imagem que, como a ermida, passou a ser designada por Nossa Senhora dos
Olivais. Mas parece que a nova padroeira não terá ficado satisfeita com a
resolução, porque fugiu três vezes, sendo outras tantas conduzida para a
capela. Da última vez trouxeram-na com um bocado de terra dos olivais e a
Virgem, condoída do bom povo, manteve-se ali, onde tem sido pródiga de
milagres.”
A esta ermida faz-se anualmente uma romaria:
“Senhora dos Olivais / tem olival em poisio / se este ano está de relva / para
o ano dará trigo”. A Festa da Senhora celebra-se no último domingo de abril com
grande solenidade. No mesmo dia realizava-se uma feira franca no largo
fronteiro à capela. Esta ermida teve uma Confraria em que o juiz era sempre um
eclesiástico. Foram seus confrades grandes personagens do reino, como os
Senhores da Casa de Ferreira, o Conde de Cantanhede com toda a sua família.
A Confraria de Nossa Senhora da Anunciação foi
fundada por mancebos solteiros, clérigos e mais gente isenta da obrigação do
matrimónio. A Confraria de São João Baptista foi incorporada nesta para juntar
os parcos rendimentos de ambas.
Fontes: https://www.cm-montemorvelho.pt/index.php/component/k2/item/186-capela-de-nossa-senhora-dos-olivais
Viu-o partir, em silêncio. Sentiu-o partir, algum
tempo, antes de acontecer. Não sabe se partiu porque quis ou porque tinha,
mesmo, de o fazer.
Sabia que uma vez na vida, daria de caras,
ocasionalmente, com aquela pessoa que saberia, sem explicação, ser a certa. No
momento errado. Talvez. Sim, talvez, fossem/sejam almas que se conectam,
energias que se conhecem, corações que batem mais forte. Sem motivo. Sem
explicação.
Como se o universo conspirasse para os juntar naquele momento específico, mas também para os separar na mesma medida. O destino parecia brincar com eles, colocando obstáculos nos seus caminhos que os impedia de ficar juntos.
Era uma daquelas situações em que a razão dizia para
seguir em frente, mas o coração implorava para ficar. Havia questões a
resolver. Dores a curar. E assim, entre o querer e o dever, entre a vontade e a
obrigação, entre o amor e a realidade, acabaram por se afastar.
A luz da manhã tingia o dia com tons suaves de
amarelo, refletindo a tranquilidade que se instalara ali. Ela ficou ali
sentada, observando o horizonte serenamente. Não queria olhar para trás e vê-lo
partir. Ele parou. Sentou-se a olhar. A coragem parecia falhar. Cada movimento
dele era calculado, meticuloso, como se quisesse adiar o inevitável. Ela sabia
que era preciso deixá-lo ir, mesmo que seu coração gritasse para que ele
ficasse.
As memórias dos momentos juntos invadiram as suas
mentes, um turbilhão de emoções contraditórias. Risos compartilhados, lágrimas
derramadas, silêncios reconfortantes. E ali estavam eles, de costas voltadas,
separados por uma distância maior do que qualquer estrada pudesse medir.
Ele levantou-se. Chegou perto dela. Ela sentiu a mão
dele tocar levemente seu rosto, um gesto suave e familiar que arrepiou a sua
pele. Os seus olhos encontraram-se, e por um instante, o tempo pareceu
congelar. Seguiu. Enquanto ele se afastava, levando consigo um pedaço dela, ela
soube que aquela conexão era mais do que uma simples casualidade. Era um
encontro de almas, um laço que transcendia o tempo e a distância.
E assim, enquanto o vento carregava as palavras não
ditas e as promessas não cumpridas, ela permaneceu ali, com o coração mais
pesado, mas cheio de gratidão por ter conhecido aquele que, mesmo no momento
errado, se tornara tão certo. Talvez ele nem o soubesse.
Mas mesmo com a distância física, sabiam que as suas
almas estavam ligadas de alguma forma. E guardavam a esperança de que um dia,
num futuro incerto, os seus caminhos se cruzassem novamente e tivessem a
oportunidade de viver o que não puderam naquele momento.
E assim, com a lembrança do que poderia ter sido e a
esperança do que ainda poderia ser, seguiram em frente, levando consigo a
certeza de que aquela conexão era única e especial, e que nada poderia
apagá-la.
Passariam a ser as pessoas certas.
Na hora certa.
Um dia.
Ela acreditava...
CANOAGEM
MONTEMORENSE... que futuro iremos ter!
Uma
boa pergunta que merece uma resposta séria, real e com conhecimento de causa.
Desde
o meu retorno a modalidade que tenho vindo a registar várias opiniões,
atitudes, comentários e por vezes até discussões. O que é que mudou com tudo
isto?
NADA Montemor não vai conseguir nunca ter um clube de canoagem com relevância nacional se não mudar o conceito e a ideia do que é ser um clube de canoagem para COMPETIÇÃO.
Neste
momento temos um Clube em Montemor e mais duas Associações que têm secções de
Canoagem. Mas pronto, vamos aceitar que temos três clubes e vamos somar o
número de atletas, também me atrevo a dizer que não devem chegar a meia
centena, se quiser ainda aprofundar mais a coisa, quase garanto que pouco mais
de metade pratica e treina canoagem o mínimo aceitável que considero ser
necessário e que são as 3 vezes por semana. Mas, por aquilo que tenho visto,
ainda consigo fazer mais uma afirmação real.… desses que treinam regularmente
deve caber nos dedos de uma mão aqueles que poderão vir a ser atletas medianos
nesta modalidade se as coisas se mantiverem assim.
O que que temos de mudar?
TUDO...
Em primeiro lugar: Criar um "novo" Clube, com uma direção própria e
composta na sua maioria por pessoas conhecedoras da modalidade, com autonomia
para decidir e capaz de desenvolver projetos para a captação de jovens atletas
de dentro e fora do concelho. Pode-se fazer um sem números de atividades que
para além de trazerem atletas poderão ser bastante rentáveis para o Clube.
Mas
para isso é necessário ter a tal autonomia própria.
Uma
secção de Canoagem não pode ser um Clube de Canoagem.
A
diferença é que uma secção depende daquilo que a Direção da instituição decide
para a canoagem, essa direção possivelmente nunca esteve numa prova de
Canoagem. Um Clube de Canoagem vive apenas para a Canoagem e tem sempre em
primeiro lugar o objetivo de fazer crescer o Clube em número, mas acima de tudo
em qualidade.
Saber
organizar-se de maneira que nada falte a modalidade: numa prova, na logística,
nos transportes de atletas e barcos, no apoio nas provas, nos processos de
treinos, equipamentos diversos e nas prioridades em compras de barcos, pagaias
e outro material essencial. Nada disto se faz facilmente numa secção, assim
como o compromisso com a modalidade é quase nulo. Daí eu defender que a
Canoagem em Montemor no futuro muito próximo tem de passar pela organização de
um clube único e com uma direção própria.
Depois
temos ainda a mentalidade das pessoas da terra, temos o que de melhor há no
mundo para a prática desta modalidade, mas apenas meia dúzia das pessoas da
terra estarão presentes para ver por exemplo uma taça de Portugal.
Para
ser canoísta a um nível médio ou um pouco mais é necessário abdicar de muitas
coisas tanto por parte dos pais como dos jovens que praticam a modalidade. Não
se pode estar num treino e estar a pensar que o treino nunca mais acaba. Quem
tem pressa em terminar um treino, é sinal que nunca será um atleta de nível
médio, será sempre e apenas... mais um praticante de canoagem.
Há
sem dúvida imensas lacunas para corrigir e melhorar para que Montemor possa
estar perto dos melhores clubes de Portugal. Quando se "cria" um
clube de canoagem para a vertente competitiva tem de se pensar na evolução
natural dos resultados desportivos quer sejam individuais quer sejam coletivos
e isso implica ter vários elementos que neste momento nenhum clube de Montemor
tem. Falo de um staff organizado, técnicos com disponibilidade e devidamente
compensados, todas as classes de embarcações e respetivo equipamento
complementar etc, etc.
E
é aí que eu me revejo, ser pessoa ativa num clube ambicioso e ter poder de
decisão no que á canoagem diz respeito. Mentiria se dissesse que ainda não fui
abordado por pessoas interessadas em criar um clube único, sim estarei
disponível para contribuir para o salto qualitativo da Canoagem em Montemor,
mas com os pés bem assentes no chão e sem querer dar um passo maior do que as
pernas. No entanto tenho a certeza que naturalmente irá surgir um clube de
canoagem em Montemor, até porque quem tem as condições únicas que Montemor
possuí, obrigatoriamente terá de haver um CLUBE á mesma altura. Vamos esperar
para ver.
João
Amaral (Treinador Canoagem de nível II)
(1º campeonato de infantis da AFC)
A história por detrás destes "guerreiros", somente com o intuito de informar, uma pequena resenha desta equipa do ACM, resolvi descrever o historial da mesma.
A equipa em causa nasceu a partir dos torneios de
divulgação e desenvolvimento do futebol infantil, realizados em vários campos
da região centro, organizados pela DGD-Coimbra, sob a batuta do saudoso
Couceiro Figueira (então técnico da DGD-Coimbra).
A partir daí formaram-se várias equipas em outros tantos clubes que permitiram a realização do 1º Campeonato de Infantis da AFC.
Em cima (da esquerda para a direita):
Víctor Pardal; Paulo Mateus; Mário José Silva;
Carlos Couto; Víctor Góis; Pedro
Doroteia; Joaquim Silva; Vítor Filipe.
Em baixo (da esquerda para a direita):
José Henrique (Santarém); João Silva (Silvita);
Vasco António (Vató); Henrique Mateus
(Quica); Víctor Silva; Luís Alves; Mário Jorge Silva; Joaquim da Silva (Quinzito)
A partir dessas equipas criou-se a equipa/seleção de
Coimbra (onde tiveram lugar alguns miúdos do ACM - Paulo Mateus, João Silva,
Joaquim Silva, Francisco Guerra, Luís Alves, Joaquim Silva, Vasco António, etc.…)
que veio a participar em torneios de futebol com outras equipas, sendo de
destacar o torneio quadrangular em Santarém com o Benfica, Real de Madrid e
Barcelona.
O sorteio determinou quem jogava contra quem, a
eliminar
Quem ganhasse ia à final e fazia dois jogos.
Quem perdesse, ficava pelo caminho e só fazia um jogo
Calhou-nos o Benfica. Perdemos por 2 - 1. Viemos para
casa...
Mais tarde fomos participar num torneio no estádio da
Luz e foi um "tormento" para mim ter de estar sempre a chamar a
atenção do Francisco Guerra (guarda-redes) para ter atenção ao jogo, pois os
seus olhos não saiam das bancadas... (os jogos de infantis realizavam-se antes
dos jogos do Benfica (séniores) e no estádio já se encontravam muitas pessoas.
Quanto ao que se passava na "nossa casa",
permita-me que o esclareça no sentido da verdade dos factos.
1º - No ACM da altura, à exceção do saudoso
Gilberto, nunca ninguém quis saber da existência da equipa em causa. Só tivemos
algum apoio a partir dos iniciados.
2º - Quem era o treinador/animador desportivo
dessa equipa era eu, algumas vezes coadjuvado pelo Victor Pardal (acompanhei
essas crianças durante 10 anos – desde os infantis até aos juvenis).
3º - Muitas vezes não tínhamos sequer acesso aos
balneários; a chave era-nos negada, nomeadamente pelo Sr. Antonino.
4º - Para jogar, tinha de todas as 6ªs-feiras ir
a casa de um dos diretores para assinarem a ficha de jogo (por especial favor);
nunca tivemos delegado ao jogo em presença; a desculpa junto dos árbitros era
sempre a mesma – “O Sr. Delegado vem em carro diferente e chega mais tarde!”
Também nos dias de jogos em casa, muitas vezes com a
ajuda do Sr. Gilberto, tínhamos de marcar o campo, colocar as redes nas balizas
e ligar o motor para se ter água do poço e se poder tomar banho no final do
jogo (de água fria, por vezes gelada). Normalmente chegávamos ao campo pelas
07:00 (no inverno ainda de noite…), para jogar às 10:00. Tudo isto era
realizado com a participação dos miúdos.
5º - O apoio que tivemos para a aquisição do
equipamento foi o que consegui junto da DGD e da CMM-o-Velho.
6º - Para a necessária “bucha” depois do jogo,
socorria-me do apoio da Cooperativa Agrícola de M-o-V que nos dava todas as
semanas uma caixa de leite com chocolate ou com morango e um queijo, a que se
juntava o que as crianças traziam de casa e era repartido por todos.
Depois dos jogos, no regresso, parávamos em algum
lugar agradável e confraternizávamos, comendo e bebendo o que havia. Isso
acabou por gerar uma grande ligação e espírito de solidariedade entre todos.
Éramos uma EQUIPA.
7º - No dia da final tivemos 9 pessoas de
Montemor a assistir (Gilberto Moio (que levou a bandeira do ACM), o Sr. Neves,
Mário Pardal, Victor Camarneiro, o meu pai, o Sr. Mário Azedo… não me ocorre os
três que faltam!)
8º - Tudo estava preparado para a Académica sair
vitoriosa. A começar pela marcação da final no Estádio Municipal de Coimbra,
considerado campo neutro. (A académica joga lá, muitas vezes!).
9º - Quando chegámos ao estádio, estava a começar
a final para o 3º e 4º lugar. Os miúdos da Académica trataram logo de nos
intimidar chamando-nos de equipa do “Botas de borracha”. Éramos assim tratados
pois alguns dos miúdos (normalmente) calçavam botas de borracha (era o seu
melhor calçado!).
Tive de segurar os miúdos para não responderem às
provocações dizendo-lhes que iríamos provar dentro de campo, pois a vontade de
alguns era partir para a “violência”.
10º - Após o intervalo, quando estávamos à saída
do túnel a aguardar autorização para ir para o campo, um dos árbitros
dirigiu-se aos miúdos dizendo… “onde vão com tanta pressa – quem vai ganhar
isto é a Académica” … estava ao lado do Mário Zé que era o 1º da fila – nem
sequer respondi…). Na altura estava 0-0.
11º - Quem era o treinador da Académica era o
Víctor Manuel e o Director Técnico o famoso (da altura) Sr. Bentes.
12º - No final do jogo, dadas as provocações a
que a equipa tinha sido sujeita, ninguém quis ir ao balneário tomar banho e
mudar de roupa no estádio. Vieram equipados na carrinha até M-o-V, a cantar
todo o caminho onde quiseram fazer uma arruada, equipados, com a Taça nas mãos
e as medalhas ao peito, a cantar “passou, passou um avião e Montemor foi
campeão”.
13º - Vindos dos Anjos, ao chegarmos à Praça,
encontrei o Sr. Costa (na altura presidente do ACM, que me perguntou o que se
passava; só lhe respondi que tínhamos sido campeões). Por aqui se vê o
envolvimento da Direção do ACM com a equipa de Infantis.
14º - Depois da arruada em M-o-V, fomos para a
Ereira, onde também se fez uma arruada (5 dos jogadores da equipa eram da
Ereira).
14º No dia seguinte à final fui a casa do Gilberto
Moio e entreguei-lhe a Taça ganha. Era ele que a merecia. Quase sempre ia
connosco, mas quando não podia ir emprestava-me a carrinha para ir para os
jogos.
15º - Na altura a Taça ganha era o maior troféu
(em tamanho) que se encontrava no ACM.
16º - Na época em que fomos campeões de infantis,
o nível de jogo era tal que clubes com equipas de iniciados nos convidavam para
treinar com eles. Nessa época fizemos 36 jogos seguidos, sem perder (seria
motivo do Guinness... não?!...).
17º - Pena que não tivesse havido a atenção e
cuidado a todo o trabalho gerado com as crianças da altura, para futuro do
clube. Só os séniores interessavam, e pessimamente mal geridos, sem grande
organização e perspetivas futuras.
18º - Excetuando as poucas pessoas referidas,
nunca ninguém do clube deu importância às crianças, que eram o futuro do clube,
e provavelmente o ACM teria sido o que não foi.
19º - Aproveito a oportunidade para lhe enviar as
fotografias da final no Estádio Municipal de Coimbra.
Bom, apesar de tudo, não tenho qualquer ressentimento
de nada nem de ninguém. O que me interessava na altura era permitir às crianças
terem uma oportunidade que lhe era negada por todos, pelo que não tenho agora
qualquer outro interesse com todo este enunciado, a não ser retratar a real
realidade de esse momento da história do ACM, de que ambos, cada um ao seu
jeito, gostávamos muito, para que quando se fale deste assunto, ou por qualquer
motivo venha à baila, que se fale dele com conhecimento dos factos.
Com os meus melhores cumprimentos e que a vida lhe
continue a sorrir como deseja.
FIGUEIRA DA FOZ
O BAIRRO NOVO DE SANTA CATARINA (1ª PARTE)
No início do século XIX a Figueira era uma pequena
vila, urbanisticamente desordenada, com aproximadamente 4.000 habitantes.
Em 1835 escreveu Joaquim da Silva Soares, então
presidente da Câmara Municipal:
“Esta vila está edificada na maior desordem que se pode imaginar, não tendo uma única rua direita, e todas muito estreitas, tendo cada indivíduo construído como e onde lhe apetece”.
Mas a praia da Figueira viria a ser a melhor do país,
“a mais linda praia de banhos de Portugal” e “não tem outro remédio senão vir à
Figueira quem quiser ver a mais bela praia de Portugal”, escreveu Ramalho
Ortigão.
Este hábito aquista da burguesia mais não era do que a cópia do costume iniciado em Inglaterra e França em meados do século XVIII, ou, quando mais de 6 séculos atrás, D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal, se deslocou de Coimbra até à praia da Figueira da Foz.
Uma crónica de Frei Bernardo de Brito relata que D.
Afonso Henriques andava em Coimbra "tão carregado de triunfos como de más
disposições", prescrevendo-lhe o seu médico um passeio ao longo do
Mondego, até à foz, onde "chegou ao mar quase são."
Também Antero de Quental e Manuel de Arriaga, ambos açorianos e estudantes em Coimbra, se encontraram algumas vezes na Figueira, nas férias de Verão.
(Manuel de Arriaga casou com uma figueirense e foi
Presidente da República de 1911 a 1915).
Segundo Teófilo Braga, igualmente açoriano, e
Presidente da República em 1915, foi durante as férias de 1860 que Antero de
Quental escreveu a sua ode “As Estrelas” e a poesia “O Crepúsculo”.
Antero de Quental tinha então 18 anos quando em 1860,
na Figueira da Foz, ao pôr do Sol, escreveu um dos seus mais belos poemas de
amor que intitulou de “O Crepúsculo”:
“Oh! vem Maria! sobre a rocha erguida/Em asp'ra costa,
sobranceira ao mar, /Vamos sozinhos ver as brancas ondas/Sobre os rochedos, em
cachões, saltar!
Ali, bem juntos, ao cair da tarde, /De mãos trocadas a
falar de amor, /Quero, ao contar-te mil segredos d’alma, /Ver-te nas faces
virginal pudor.” (…)
Em que amor gera dentro de alma os laços/Que as almas
ligam com estreito nó, /E que no arroubo de amoroso rapto/Funde dois seres numa
vida só. (…)
Quero nas horas do crepúsculo ameno/Sobre o rochedo sobranceiro ao mar, /Aos pés da virgem que escolheu minha alma/Ler-lhe nos olhos confissões sem par”.
Apesar de continuar essencialmente reservada à aristocracia e às elites, a moda dos banhos na praia ia conquistando cada vez mais adeptos, a vida balnear ganhava importância, os turistas no Verão eram muitos, mas a zona edificada continuava distante da praia.
Então, um grupo de empreendedores constituiu uma sociedade anónima e cooperativa, por escritura provisória de 3 de janeiro de 1860, com o fim de construir o Bairro Novo de Santa Catarina, à semelhança das sociedades que construíram os bairros balneares franceses de Arcachon, Biarritz, Diepp, Boulogne e Trouville.
Esta sociedade formada em 1860 era composta por
António Ferreira de Oliveira, João Fernandes Tomás, João Fernandes Gaspar,
António Lopes Guimarães e o seu mentor, Francisco Maria Pereira da Silva.
Chamar-se-ia Companhia Edificadora Figueirense em 1867, seria constituída formalmente em 1868, em conformidade com a lei de 22 de julho de 1867, e teria estatutos aprovados em 1869.
Os estatutos da Companhia Edificadora Figueirense previam a promoção de “diversos melhoramentos materiais na Figueira, com a especialidade de dar desenvolvimento à formação do novo Bairro de Santa Catarina, já principiado na parte ocidental da vila, e contíguo à praia de banhos, construindo casas de habitação e outros edifícios e comodidades para os banhistas e moradores no referido bairro".
Os aludidos estatutos previam ainda a construção de "habitações adequadas para banhistas, com mais ou menos acomodações – tipos para habitação de artistas, homens de mar e operários – tipo para cocheiras e cavalariças; um edifício com quartos independentes para hóspedes, e com amplas salas, ou recintos dispostos para refeições, bebidas, jogos permitidos e concertos de música; um albergue para as classes menos abastadas, um mercado e casas; um estabelecimento para banhos frios e quentes".
Foram fundadores da Companhia Edificadora Figueirense
o Eng.º Francisco Maria Pereira da Silva (de Lisboa, a residir na Figueira),
António Ricardo da Graça e Augusto César dos Santos, ambos de Lisboa, o Dr.
Francisco António Dinis e José Jacinto da Silva Pinto, os dois de Coimbra, o
Dr. António Lopes Guimarães Pedrosa, Bernardino Teixeira Ferraz, João Fernandes
Gaspar, o Dr. Lucas Fernandes das Neves e António Ferreira de Oliveira, todos
da Figueira.
Em 1860 o eng.º Francisco Maria Pereira da Silva adquirira um terreno na Rua da Alegria e em 1865 aí construiu a sua residência, um prédio de rés-do-chão, com uma torre circular a Noroeste, que ainda hoje existe, e duas torres de secção retangular no alçado Sul, e ainda um extenso muro encimado por ameias.
A torre de Noroeste fazia lembrar o antigo farol do
Cabo Mondego, cuja construção foi igualmente da responsabilidade do Eng.º
Silva, e sendo também semelhante à torre que existiu dentro do Forte de Santa
Catarina.
Seria a primeira casa do Bairro Novo, construída na Rua da Alegria, que viria a denominar-se Esplanada António da Silva Guimarães em 3 de novembro de 1904.
Em 1861 já estavam concluídos alguns arruamentos do
Bairro Novo e o primeiro edifício construído pela Companhia Edificadora
Figueirense seria iniciado a 2 de abril de 1869, como noticiou «O
Conimbricense» no dia seguinte:
“Tendo a direcção da Companhia Edificadora Figueirense
destinado o dia de hontem para o principio dos trabalhos no nosso bairro,
convidou para assistirem a este acto festivo a exmª camara municipal, e os
exm.os srs. Juiz de direito e delegado administrador do concelho, parocho e
todos os accionistas da companhia residentes na Figueira, pelas 10 horas da
manhã, achando-se já reunido imenso povo nos terrenos do novo bairro, chegou a
camara municipal com as suas insígnias, a qual foi recebida pela direcção ao som
de uma harmoniosa pela de musica, desempenhada pela filarmónica Figueirense,
subindo ao mesmo tempo ao ar grande numero de foguetes. Procedendo-se em
seguida ao lançamento da primeira pedra no alicerce de uma casa que vae
edificar-se para o sr. Augusto Luiz César dos Santos, que foi o primeiro
accionista, que encomendou construcção á companhia. Foi o digno presidente da
camara, o sr. Dr. José Joaquim Borges, que bateu a pedra com as formalidades do
costume, achando-se rodeado de todas as auctoridades e convidados de distinção.
Tocou logo a musica o hymno nacional e elevaram-se ao ar muitos foguetes, O
ilustre presidente fez, por essa ocasião, um discurso análogo, a este acto
solemne, o qual foi ouvido com muita atenção, e produziu excelente efeito nos espectadores.
Em seguida recolheu a camara aos palis di concelho, pelas auctoridades e grande
numero dos convidados. O dia 2 Abril foi um dia de verdadeiro júbilo para os
habitantes da Figueira”.
Este edifício de Augusto Luiz César dos Santos seria
inaugurado em setembro de 1869 e nele viria a funcionar a Assembleia
Recreativa.
Em 14 de março de 1874, o deputado Albino Geraldes
apresentou um projeto de lei que isentava de impostos (predial e registo),
durante 10 anos, a Companhia Edificadora Figueirense, quando esta tinha já
construído 18 “prédios de bela aparência”.
No seu livro «As Praias de Portugal», de 1876, Ramalho Ortigão não deixou de se referir a este ambicioso projeto de construção de um bairro balnear:
“Uma companhia edificadora tem construído casas
agradáveis, em um bairro novo junto à foz do Mondego, em sítio elevado e sadio.
Neste bairro há um hotel, Foz do Mondego, onde se recebem hóspedes a 1$000 reis
por dia. A vila tem ainda mais dois hotéis, o Figueirense e o da Praça Nova, um
pequeno teatro, uma praça de touros e dois clubes: a Assembleia Recreativa, no
bairro novo, onde se dança às terças e sextas-feiras, e a Assembleia
Figueirense, no antigo palácio dos condes da Figueira, onde se dança à quinta-feira
e ao domingo”.
Em 1880 a Figueira possuía várias casas de espetáculos, como o Teatro Príncipe D. Carlos (1874),
o Teatro Chalet, uma praça de touros (a atual é de 1895), o Grémio Lusitano (1823), que foi o primeiro teatro da Figueira, e dois clubes: a Assembleia Figueirense (1839) e a Assembleia Recreativa (1869).A 3 de agosto de 1882 foi inaugurada a linha férrea da
Figueira à Pampilhosa, com ligação a Vilar Formoso. D. Luís I esteve presente,
acompanhado da rainha D. Maria Pia de Saboia e de vários ministros do seu
governo, e no dia 20 de setembro seguinte a Figueira foi elevada à categoria de
cidade.
A 3 de setembro de 1884, em pleno coração do Bairro
Novo, foi inaugurada uma nova casa de espetáculos, o Teatro-Circo Saraiva de
Carvalho (TCSC), antecessor do Grande Casino Peninsular.
O TCSC situava-se na Rua da Concórdia (Bernardo Lopes desde 1902), no mesmo espaço onde se localiza hoje o Casino. Albergava 3.000 pessoas e foi a maior casa de espetáculos de Portugal até ser construído o Coliseu dos Recreios em Lisboa.
Em 1891 foi inaugurado o Jardim Municipal, em 1892
o Mercado Municipal e em 1894 o Museu Municipal.
O Casino Mondego funcionava desde 1890, o Grande Casino Peninsular desde 1895
e o Casino Oceano desde 1898.Em 2 de janeiro de 1898 foi inaugurado o novo edifício
dos Paços do Concelho e em julho seguinte abriu o Hotel Lisbonense, instalado
no primeiro edifício a ser construído no Bairro Novo, na supracitada casa de
Augusto Luiz César dos Santos.
De Coimbra vinham muitos professores e muitos estudantes, estes compareciam mais tarde, na primeira quinzena de outubro, e a Figueira “era já Coimbra, ou cheirava tanto a Coimbra que era como se o fosse”, como escreveu J. F. Trindade Coelho
(1861-1908) no livro «In Illo Tempore».(Este livro foi publicado em 1902 e nele se evoca o
ambiente boémio da Universidade de Coimbra, onde Trindade Coelho estudou
Direito).
O trânsito de viaturas de tração animal era então
infernal, tendo a Câmara aprovado em 3 de agosto de 1898, por proposta do
Administrador do Concelho, uma Postura sobre o trânsito na zona do Picadeiro
com o seguinte articulado:
“Artigo 1º - Fica proibida desde o 1º do corrente mês
de agosto até ao dia 15 de outubro próximo futuro, desde as 11 horas da manhã
até à 1 hora da noite, o trânsito de cavalgaduras, velocípedes, carros ou
outros quaisquer veículos que não andem em serviço público, na Rua da Boa
Recordação, desde a Rua do Melhoramento até à Travessa do Circo, e na Rua da
Concórdia, desde a Rua do Bomfim até à Rua da União.
Parágrafo único: É permitido o trânsito no cruzamento
da rua da Boa Recordação com a Rua da Liberdade.
Artigo 2º: A transgressão do disposto no artigo
antecedente será punida com a multa de 2:000 reis”.
O ‘D. Juan’ de Sicó e Baixo Mondego
Com abismal diferença, por terras de Sicó e do
Baixo Mondego, também viveu um “D. Juan” (1). Ruy Mendes d’Abreu (2)
intitulava-se “Rei Mendes”, ostentava brasão fidalgo de cinco asas de oiro,
cortadas de sangue, sobre campo de goles. Era um aventureiro, conquistador
ignóbil, criminoso, bandoleiro e fidalguíssimo biltre. Foi preso na
Carapinheira e degolado em Lisboa (sentença de 04.11.1679), sendo o seu corpo
dividido em 5 partes que foram distribuídas por Carapinheira, Ancião, Montemor,
Tentúgal e Cantanhede.
A sua libertinagem e a sua espada espalharam o
pavor por muitos lugares “da ouvidoria de Montemor e da correição de Coimbra”.
Estuprou, matou, incendiou, assaltou. A virgindade e o pudor foram gáudios nas
suas mãos. Ultrajou a velhice, maculou a inocência, aviltou a probidade.
A abadessa de Nossa Senhora de Campos, em
Montemor-o-Velho, pressentindo a sua presença nas redondezas, cerrava todas as
portas do mosteiro. Em Cantanhede, quando se falava no seu nome, as mulheres
tremiam e enterravam-se as pratas. Os lavradores de Tentúgal e da Carapinheira,
suas mulheres e filhas estavam continuamente sujeitos ao seu ímpeto de raiva e
de lascívia (…).
Até que, finalmente, meirinhos e quadrilheiros
o prenderam no lugar de Carapinheira, onde se fortificara, quando a espada, que
o acompanhara toda a vida, lhe saltou para um “souto de carvalhos”. Há quem
afirme que alguém ainda conserva essa enorme lâmina onde se lê, dum lado –
‘Alonzo de Sahabon, Toledo’, e, do outro – ‘Dios y mi honor’. Pertencia à
estirpe de nobilíssimos facínoras que deu, em 1660, o senhor (…).
Detemos e deciframos, com interesse, uma cópia
do processo da sentença que lhe foi lida em 4 de novembro de 1679. Fizemos um
retrato de um conquistador facínora e de uma raiva atroz: Um sanguinário e vil
salteador de estrada; orgulhoso como um grande de Espanha; enfojado, como uma
fera, na sua casa solarenga de Ancião, hirsuta de cunhais de armas e apojada de
clavinas e de arcabuzes. Viveu soltamente. Dispensava família e amigos. Isto é,
não os tinha. Aliás, nem podia tê-los, pois nunca sorvera o leite da ternura
humana. Só facínoras da terra, acolhidos ao seu caldo e às suas patacas de
prata lhe prestavam vassalagem. Uma espada de ferro, um chapéu de abalroar,
três costelas de oiro, um rosário atado no punho e ‘Deus na boca, o diabo na
alma’.
Das cerca de quatro dezenas de crimes de que
fora acusado, nenhum negou nem mostrou arrependimento. Do estudo que estamos a
fazer (…), anotamos apenas alguns exemplos das vis atrocidades do “Rei Mendes”.
(…) Certo dia ensolarado, pela estrada de
Ancião, caminhava uma liteira, no passinho choutão dos machos, levando uma moça
púbere e seu velho pai. O perverso cai sobre o liteireiro, despeja-lhe uma
pistola nos radolos; atravessa o velho com a espada, leva a moça, violenta-a,
tem-na uma noite a dormir na sua esteira e, de manhã, lança-a na estrada, ao
desamparo.
Outro dia, cobiça uma viúva moça e rica do
lugar do Canassal, Francisca Gaspar. Promete-lhe casamento, mas, como não é
atendido, espera a noite, assalta a casa, assassina os criados, amordaça a
mulher, possui-a pela violência, rouba-lhe dois relicários de diamantes, e
deixa-a, desmaiada, ao pé dos cadáveres.
Mais tarde, cruza-se com Silvestre Pires,
pede-lhe a filha para comborça; contrariada a sua pretensão, Mendes agarra um
arcabuz e vareja-o.
Dias depois, faz o mesmo pedido à mulher de
António Ruiz, reclamando-lhe uma filha; os pais acedem, a tremer de medo, mas a
rapariga recusa-se a entrar na casa de Ancião; o fidalgo procura-a; dá com ela
ao pé duns sovereiros, amordaça-a, estupra-a, amarra-a a um tronco e, a cantar,
retalha-lhe as costas com um vergalho de boi.
Uma noite, dois homens, na companhia duma
irmã, moça bonita, vão pousar a Tentúgal à estalagem de Maria Simões; Mendes
‘apetece’ a mulher; oferece-lhe, para a levar consigo, uma pataca de prata do
Peru; os irmãos saltam, acodem; o primeiro fica na espada do fidalgo; o segundo
cai, com dois quartos de arcabuz no peito; a moça é ultrajada, nos catres da
própria estalagem, sem lhe valer fôlego vivo.
Inesperadamente, Mendes é preso por querer
roubar a prata que uma mochila traz num alforge. Resiste, mata um meirinho a
tiro, evade-se; quer escalar de noite o mosteiro de Santa Clara.
O facínora era ‘herdeiro’ de muitas fazendas
no Baixo Mondego, tendo vivido, acastelado, como régulo, no lugar de
Carapinheira. Recolheu criminosos, insultou a justiça, fuzilou quadrilheiros e
povo (…).
A casa foi assaltada e prenderam-no; o bárbaro
chorou e entregou-se (…). Foi condenado a morrer pela forca. Porém, por estirpe
fidalga, recorreu ao desembargo que confirma a morte, mas por degolação. Quando
lhe leram a sentença, Mendes, pálido, ramalhete de rosários e de cruzes,
balbuciou, numa voz apagada: ‘Quero comungar…’
Foi executado em (…), com os seguintes
imperativos: “(…) e seu corpo será feito em quartos, e a cabeça posta no lugar
da Carapinheira (…), e os quartos serão postos, o da mão direita, em Ancião (…)
e os três se porão em Montemor, Tentúgal e Cantanhede (…).
Aldo Aveiro, «O ‘D. Juan’ de Sicó e Baixo
Mondego», escrito originariamente em 1997, a partir da leitura do processo da
sentença da Relação de Lisboa; publicado na imprensa regional (DC-14 de abril
de 2017). Adaptado para web e Jornal Digital Barcaça em Abril de 2024.
(1) “O estilo Don Juan, é um tipo de homem,
extremamente sedutor, encantador, acolhedor e atencioso. Um perfeito
cavalheiro. Por quem a maioria das mulheres se “derrete” Quando ele se
interessa por uma determinada mulher e deseja conquistá-la, em seu jogo de
sedução, faz com que essa mulher se sinta a mais especial e maravilhosa fêmea
do planeta. A única. Ele eleva a autoestima dela às alturas, e faz com que se sinta
muito segura. É um apreciador de mulheres. A mulher não precisa ser linda e perfeita,
para atrair sua atenção e desejo, pois ele se atrai pelos detalhes, por algum encanto
especial que ela tenha e que o instigue. (…)” - (Excerto do texto “Don Juan: Ódio
ou fascínio pelas mulheres” de Teresa Cristina Pascotto).
(2) Ruy Mendes de Abreu foi baptizado no dia
11 de Novembro de 1652, na Igreja de Santa Cruz da Ribeira de Santarém…
“Rodrigo (Ruy), filho de João Ferreyra Couceiro e de Dona Antónia (Abreu), sua
molher….” (Do registo de batismo/nascimento). (…) Foi pai de João Couceiro de
Abreu, natural da Vila de Ancião, com Domingas Magdalena (Madalena Francisca de
Mendonça), natural da Vila de Ancião. Casou com Inês Tenório de Faria.
João Couceiro de Abreu (e Castro?) diz que é
neto, pela parte paterna, de João Ferreira Couceiro, natural de Santarém, e de
Antónia de Abreu Cogominho, natural da Vila de Pombal e pela parte materna, de
Manuel Afonso e de Maria Roiz, naturais da Vila de Ancião, moradores que foram
no sítio dos Ampoyados ou Empyados. (Da Diligência de habilitação para a Ordem
de Cristo).
Na
madrugada de 25 de Abril, de 1974, o desejado sonho tornou-se realidade,
partindo com destino pelas ruas e praças deste belo país, com o povo gritando
que eram suas e que jamais seriam vencidos, agora que o velho regime fora
obrigado pelos militares a render-se depois de ter usurpado a dignidade social
e humana, sufocando a liberdade de pensamento, prendendo e matando como se nada
fosse.
Faz hoje 50 anos, como os recordo na varanda do meu salão de
senhoras, em Braga, quando uma das minhas colaboradoras, chamando-me aflita
noutra sala. Venha, venha ver a multidão a gritar na avenida, o que será, o que
será, perguntava-me sem que eu tivesse resposta para a acalmar, sendo hoje se
viver, idosa como eu sou de velho.
De mãos na varanda em alvoroço, desci logo a escada a
correr e fui atrás da multidão, até as antiquíssimas arcadas, escutando este e
aquele. O regime tinha sido derrubado pelos heroicos militares, eu não
acreditava em tal sonho na madrugada de Abril de 1974.
Convenhamos por minha convicção social e cultural, que ao abandonar o Casal Novo do Rio e Montemor, aos 15 anos de idade, já como barbeiro de profissão, indo ganhar 300 escudos por mês e cama e mesa, foi um luxo e ao mesmo tempo o choque contestatório, face às minhas gentes que tinha abandonado sem luz elétrica, sequer um rádio para ouvir as notícias ou, tomando banho no rio Mondego, jurei para sempre até aos dias de hoje que as revoluções são precisas, quando os chamados políticos de farta pança, se esquecem que há mais vidas para além das suas vidas do orgulho doentio e produzido na cegueira do seu bem estar.
Cinquenta anos depois, como esquecer o 25 de Abril de 1974, ou se quiser ficar consciente da minha convicção cívica recuar a 1955, quando na Figueira da Foz, conheci outro estado social , barbeando outras pessoas que não aquelas que eu tinha deixado no Casa Novo do Rio e que cortavam a barba de oito em oito dias ou mais, se o cabelo levava alguns meses a crescer nas minhas gentes que me ensinaram que nunca os devia esquecer muito mais a revolução aconteceu para se fazer justiça social que vai tardando na atual pobreza, que não tem razão de nos magoar socialmente, já que a fantasia dos ricos menos ricos e os pobres menos pobres, quem me diz a mim que precisamos de outra revolução?
AMANHÃ COMEÇARÁ UM NOVO CICLO NA MINHA VIDA!
Procuro a PAZ!
Porque as pessoas que eu amo merecem, porque os meus amigos merecem, porque
eu mereço.
Só um número restrito de amigos íntimos e de familiares conhece o tormento
pelo qual passei (e passo), a injustiça de que fui alvo, a vítima inocente que
fui, a imagem que me criaram e a destruição que me causaram.
Há um par de jornalistas que conhece tudo isto e já fui sondado para o
contar. Esse dia chegará. É uma "pena de morte social" que me
criaram.
Amanhã irei iniciar a ajuda terapêutica, após insistência das pessoas que
eu amo. Merecem que eu o faça.
Não quero morrer sem dar a conhecer tudo! Tudo, mesmo!
E, quando isso acontecer, 90% de quem me conhece ficará emocionado e
profundamente admirado. Tenho a certeza, tenho documentos, tenho provas, tenho
quem me apoie e, quem me conhece, também conhece a verdade!
Isto é o princípio da grande mágoa que me tem matado!
Chegou a hora da coragem! E, esta hora terá início com apoio clínico
(psicológico).
Tem que ser!
Abril é o tempo …
Tempo de alvoroço, de ansiedade e de esperança…
tempo de fé, de coragem determinada,
tempo de acreditarmos em nós
e no que nos define…
Tempo sempre de renovação
de ideais e de sonhos,
tempo para de novo nos entregarmos convictamente,
vendo em cada rosto, em cada flor
o sorriso das promessas por cumprir…
Ficou
presa no tempo a hipocrisia,
E com ela o medo e os fantasmas de um tempo
que quisemos banir, rejeitando o que nos tolhia…
Por
isso, agora, de novo abril …
Queremos assumir tudo outra vez,
assim negando as grilhetas desse tempo cinzento,
desse tempo apagado e vazio …
Rejeitaremos os medos, e tudo o que nos retirar
a alegria de sermos nós, autênticos
e livres, como sempre sonhámos …
E abril
florirá de novo em cada rosto,
em cada esquina,
sorrindo nas canções e nos gritos
da multidão que espera eternamente.
LIBERDADE
A vida é uma sucessão de momentos para serem
desfrutados.
Não guardes nada para amanhã…usa e abusa de tudo o
que o te faz feliz…
Não deixes nada “para uma ocasião especial”, porque
cada dia que viveres
será uma ocasião especial.
Não use as frases tipo “um dia desses” ou “algum
dia…
Diz sem medo aos teus familiares e amigos o quanto
os amas.
Cada dia, hora e minutos são únicos e especiais.
Não sejas prisioneiro de ti mesmo.
VIVE livre e ama a tua LIBERDADE!
25 DE ABRIL SEMPRE!
Entrou pela madrugada dentro
…Aquela manhã sonhada
Encheu-nos o pensamento
Tomou-nos os corações…
E gritámos numa só voz…
…Uma só verdade!
LIBERDADE! LIBERDADE!
Esse grito de felicidade
Enche-me de tanta saudade
E de um fervilhar de emoções…
Que dia aquele, meu Portugal!
…Um mundo tão desigual
…Estava a morrer!
Nada mais seria igual…
LIBERDADE! LIBERDADE!
Gritava-se… Liberdade!
…Num alvoroço total.
Cravos vermelhos cor de sangue,
…Derramado por tanto tempo!
…Acabara-se todo o medo!...
Novos e mais velhos em coro
…Pelas ruas da cidade
Gritavam com felicidade…
LIBERDADE! LIBERDADE!
Os canos das espingardas,
Pareciam obras de arte
Engalanadas, todas elas
…Com cravos!
Cravos rubros, por toda a parte
Abraços, sorrisos, lágrimas
…De pura
felicidade!...
…Que Saudade!
LIBERDADE! LIBERDADE!
O grito saiu à rua!
Desceu por entre ruelas,
Passou por muitas vielas,
E ouvia-se em todas elas
Numa onda de fraternidade…
LIBERDADE! LIBERDADE!
Era o dia 25 de Abril
O sonho concretizado
O anseio mais esperado
A madrugada sonhada…
O grito, a esperança,
Que arrastava toda a gente!
25 DE ABRIL, SEMPRE!
Mas que fizeram aos cravos?
Esses cravos tão amados?
É preciso reabilitá-los!
Encher com eles os vasos,
Enfeitar as nossas casas…
E nas janelas… Colocar em todas elas
…Rubros cravos perfumados
…Os nossos cravos de ABRIL!...
E dar-lhes ASAS…
Não esquecer a emoção,
Dessa enorme multidão
Dessa alegria sentida…
Está bem viva essa visão
Dentro do meu coração
Eu senti essa felicidade
E revivo com saudade…
…Toda essa multidão
…Toda essa gente
De todas as gargantas… De repente!
Esse… GRITO
DE LIBERDADE!
25 DE ABRIL… SEMPRE!
Há sinais em ti e em mim
Que procuramos constantemente
E nessa procura não mente
Quem permanece e teima assim
E há falhas, hiatos e silêncios
Bocadinhos de sombras e de prata
Estilhaços de vidro que mata
Corações que se vêm ínvios
Mas há fechar os olhos e encontrar
Teus olhos num sopro quente
Mãos que se dão sem a gente
Precisar sequer de falar
Qual de nós vai poder parar
de magoar a dor do outro? E saber…
Qual de nós vai poder avançar
Perdoar, vencer e… esquecer…
Trocam-se as rimas e as frases
Que nos deram tanto… tanto
Mas onde parar em nós
O rio do nosso pranto…
Na praia do nosso peito
Seguro, sensível… com jeito
Mais quente e com desvelo
Aguarda um Amor singelo
Abril defende-se, praticando-o!
Este não seria o cinquentenário que Abril merecia.
Abril não merecia uma comemoração destas, como não mereceu aquele novembro de 75, ou como não mereceu aquele 11 de Março ou por fim como não mereceu aqueles tempos de má memória de 2014.
A ofensiva ao dia “inteiro e limpo” , como o
caracterizou “Sophia”, começou no mesmo dia em que as portas da liberdade foram
abertas. Os movimentos mais reacionários que se mantêm até hoje nunca perdoaram
a perda de privilégios e a justa luta pela igualdade entre todos. Ainda a
revolução não estava na rua, já afiavam os dentes para de seguida os ferrar com
força.
Esta não é a maior ofensiva prática à revolução, mas é
a maior ofensiva popular à revolução. Dois em cada Dez portugueses
decidiram-se por um partido fascizante, atacante de minorias pobres, de
mulheres, de trabalhadores. Um partido xenófobo e racista. Que foi a eleições
em 2024 com um programa de 1950.
Se isto não fosse só por si, sentido de preocupação, o que esperávamos de todo o espectro democrático era um combate forte, no entanto a Direita com PSD e CDS trouxeram de novo temas civilizacionais à muito ultrapassados para nova discussão: o papel da mulher, a família normativa, o aborto ou mesmo o serviço militar obrigatório. O objectivo destes temas, não foi mais do que a discussão de alguma coisa que os colocasse no mesmo patamar de fratura que o Chega. A direita preferiu entrar no jogo e escolher candidatos como Sebastião Bugalho, ou mesmo votando em Diogo Pacheco de Amorim, um terrorista pertencente ao MDLP, movimento que provocou a morte de diversos civis como o Padre Max, entre outros onde se contabiliza mesmo crianças.
Para os democratas não há grande novidade, para os
democratas, a liberdade não comemora aniversários anuais, para os democratas a
liberdade é uma luta do dia a dia. É um sentimento dentro do nosso peito que
não pode deixar de bater. É por isso que Abril se defende praticando-o.
Nas escolas quando se ameaça e a inclusão, na saúde
quando se promove a sua privatização, com a liberdade de escolha da vida de
cada um, no trabalho quando nos viver em risco de pobreza tendo um trabalho de
40 horas semanais.
Contra tudo isto é altura de afirmar abril, de cerrar
punhos, de construir fileiras, de cantar desfolhadas, de declarar Ary, de
pintar José Dias Coelho, de resistir como Conceição e Domingos, de dançar como
Teresa, de escrever como Soeiro. É altura de resistência, é altura de fazer
abril de novo.
Obra grandiosa
desenvolvida durante 35 anos.
Bloco
de Esquerda – Núcleo de Montemor-o-Velho
“E
SEMPRE QUE ABRIL AQUI PASSAR;
DOU-LHE
ESTE FARNEL PRA O AJUDAR.”
Abril
de 1974, dia 25, 20 horas e 20 minutos. Lisboa. Rua António Maria Cardoso.
Pouco mais de uma centena e meia de populares desce as ruas do Carmo para o
Chiado e manifesta-se defronte à sede da PIDE/DGS. Armados apenas de palavras
de ordem são recebidos a metralha no ajuntamento.
Somam-se
45 feridos e 4 mortos:
-João
Arruda;
-Fernando
Reis;
-Fernando
Giesteira;
-José
Barneto,
deixaram
logo ali as suas vidas ao toque fratricida e omnipresente dos indicadores da
PIDE. A distinta instituição policial mostrava assim, mesmo havendo passado o
Governo, que uma autocracia ditatorial nunca se rende e não lhe comove matar o
seu irmão.
E
foram tantos e tantas, os irmãos e irmãs, vilmente torturados e mortos por esse
regime que hoje alguns querem revitalizar e viver.
Abril
de 1974, dia 25, sucedem-se as edições de jornais. O jornal
“República”
anuncia que não passou por nenhum órgão censor e o jornal “O Século” imprime a
sua quinta edição do dia. Os jornalistas podem finalmente escrever sobre o
facto e não sobre o fato imposto e delimitado pelo lápis azul.
Não
haverá mais credos de editores malandros. Ao contrário do ódio, é a alegria e a
paz que percorrem a pouco o país.
O
movimento dos capitães conseguiu, e o apoio popular é imenso.
25
de Abril de 1974, não há como não gritar na rua liberdade, e paz, e
fraternidade e empatia com todos e todas. Cravos enchem finalmente canos de
espingarda como em outro tempo se haviam enchido com pólvora e chumbo.
A
vida mudou. Com a educação, a saúde, a pensão, a habitação, o salário, o país
mudou.
Serviço
público, pois claro!
Para
muitos, a vida feita apenas de deveres passou a ter também direitos.
Para
muitos, a vida feita apenas de sangue e guerra passou a ter também o desígnio
da paz.
Por
causa da nossa família coletiva.
Tudo
apenas por causa da nossa mãe.
Tudo
apenas por causa da democracia.
Tudo
por causa da nossa mãe democracia.
Mãe!
Obrigado.
Mãe:
- “Sempre que Abril aqui passar, dou-lhe este farnel para o ajudar!”
José
Afonso
Na
Rua António Maria
“Na
Rua António Maria
Da
primaz instituição
Vive
a maior confraria
Desta
válida nação
E
muita matula brava
Ainda
teimava
Que
havia de vir
Um
dia assim de repente
Para
toda a gente
Voltar
a sorrir
Mas
eles Conceição vão
Lamber
as botas
Comer
à mão
Dum
novo
Pina
Manique
Com
outra lábia
Com
outro tique
Tem
quatro letras pequenas
Mas
outro nome não dão
Nesta
fortaleza antiga
Só
não muda a guarnição
E
muita matula ufana
Cuidando
que a mana
Morrera
de vez
Deu
graças
À
D. Urraca
Ao
som da ressaca
Que
o pagode fez
Mas
eles Conceição vão
Lamber
as botas
Comer
à mão
Dum
novo Pina Manique
Com
outra lábia
Com
outro tique
Na
Rua António Maria
Convenha
a todos saber
A
patriótica espia
Sabe
bem onde morder
Vela
p'la nossa morada
No
vão de uma escada
Sem
se anunciar
E
oferece a quem bem destina
Um
quarto de esquina
Com
vistas pró mar
Mas
eles Conceição vão
Lamber
as botas
Comer
à mão
Dum
novo Pina Manique
Com
outra lábia
Com
outro toque
Aldeia
da roupa branca
Suja
de já não corar
O
Zé Povo foi pra França
Não
se cansa de esperar
O
capataz da fazenda
Pôs
a quinta à venda
Para
quem mais der
E
os donos marcaram tentos
Com
novos intentos
Doa
a quem doer
Mas
eles Conceição vão
Lamber
as botas
Comer
à mão
Dum
novo Pina Manique
Com
outra lábia
Com
outro tique”
Aqui vai outro do 25 de Abril
Ali aos Anjos, no redondo do muro branco daquela que foi minha escola
primária, permaneceu durante anos, teimosa e intermitentemente, uma inscrição
de proveniência desconhecida, feita a pincel, onde se lia ABAIXO A GUERRA COLONIAL, e que, à medida que uns a
escreviam e outros apagavam, suscitou curiosidade e funcionou como um dos mais
importantes enigmas pré-revolucionárias do autor destas linhas.
O segundo, embora não por ordem decrescente nem cronológica, explicou-mo
meu pai, e ao meu irmão, quando nos aconselhava a não falar abertamente, sequer
a brincar, das figuras do regime ou das pessoas proeminentes cá da terra pois,
face à quantidade de informadores (vulgo bufos) e agentes da PIDE existentes,
tal atrevimento nos poderia provocar alguns dissabores, e também a ele.
O terceiro, o embaraço provocado por uma circunstância inesperada, que
consistiu no facto de, para o casamento da minha irmã, estarem confirmadas as
presenças de duas personalidades que por razões opostas se tornaram subitamente
especiais: o sogro do Joaquim Canastreiro, de seu nome Cidadão, operário fabril
da Marinha Grande e ex-preso político no Tarrafal; a outra, um Chefe da PIDE
que não sendo conhecido da família, mas tão só amigo de um nosso tio de Lisboa,
nessa condição o acompanhou e induziu os meus progenitores a tomar as devidas
cautelas no sentido de prevenir quaisquer deslizes verbais que pudessem
ensombrar a cerimónia.
O quarto, um achado surpreendente e totalmente inesperado no parapeito de
uma das montras da Renault da Figueira da Foz quando, numa das esperas noturnas
por uma prima que recebia explicações nas Abadias, me deparei com um livro
abandonado em cuja capa figurava a imagem de um homem barbado, boina com
estrela na cabeça, que apenas por intuição guardei muito bem guardado e serviu
de referencial para uma nova aprendizagem. Chamava-se Antologia Che Guevara!
O quinto, a última visita oficial do então Presidente da República, Américo
Tomás, que incluiu Montemor no roteiro e para a qual fomos empurrados pela
escola, para fazer número e enfeitar a recepção que a Câmara organizou no
castelo, com pajens, trombetas, bandeiras e tudo o mais, protocolo que
antecederia a inauguração que não se chegou a realizar, nem nesse dia nem
nunca, da nova Ponte da Alagoa, ao lado da qual o referido estadista passou
como cão por vinha vindimada em direcção à praia da claridade. Nessa manhã
bebemos um pouco, eu e alguns colegas, e na impunidade da adolescência
festejámos por antecipação a decrepitude do regime e o fracasso da visita.
O sexto, na manhã do dia 25 de Abril de 1974 quando, já alertado pelos
rumores de um Golpe de Estado em Lisboa, saí à rua como todos os dias para
percorrer a pé o caminho até à escola e, frente à Fonte do Machado, observei
que dois soldados da GNR, invulgarmente agachados e apressados, recolhiam uns
papéis que esvoaçavam pelo chão, que mais tarde soube terem sido largados por
um avião para informar a população das razões que levaram os militares a
protagonizar o dito Golpe. Furtando-me à vigilância dos guardas consegui
agarrar e esconder um deles e, qual conspirador vitorioso, depois de lê-lo e
convencer-me da relevância do seu conteúdo, corri até à escola, partilhei o meu
tesouro com alunos, professores e funcionários, que se amontoavam nas escadas e
entrada do edifício e especulavam sobre o que se estaria a passar.
O comunicado foi lido em voz alta para todos. Por unanimidade foi decretada
greve geral e elegeu-se uma Comissão. E passámos o resto da manhã a tentar
adivinhar o que quereria dizer Revolução, Democracia, Socialismo e Liberdade.
Tinha quase quinze anos.
Histórias de Abril — Um
Passado com Presente
Este livro traz-nos um olhar dos mais novos sobre o 25 de abril
de 1974 e o seu significado, numa visão que cruza o tempo através de inúmeros
textos e ilustrações. Dezenas e dezenas de crianças e jovens transmitem-nos as
suas histórias, certezas, incertezas; episódios de quem lhes está próximo e
viveu uma realidade com quase meio século, mas ainda tão viva. A
particularidade? Este é um livro em que todos os autores são alunos de escolas
do concelho de Odivelas, onde esteve instalado o Posto de Comando do MFA, no
Quartel da Pontinha.
Feliz 460o aniversário William
Shakespeare !
Uma das três litografias do triptyc 'Sala de Shakespeare', sobre papel de
wove Somerset, 90x65,3cm, 2006 | #PaulaRego
O quadro tem implícita uma mensagem de
resistência contra o autoritarismo e também contra a ascensão dos governos fascistas na
Europa. O quadro estabelece um diálogo direto com o espectador por enxergar o
drama, a morte e a tragédia. O quadro, ao mesmo tempo, representa as terríveis
consequências da guerra sob a luz de uma lâmpada elétrica, símbolo da modernidade e do progresso técnico. A obra de
Picasso trabalha com uma linguagem paradoxal
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