Madrugada
como tantas outras, ainda o sol estava a levantar-se já o varejo da Barcaça com
pulso de ferro atravessava para outra margem as alfaias e a junta que iriam
lavrar a terra e trazer de volta a comida tanto para casa como para os animais.
Era
a dureza desta faina que marcava na cara os rasgos do trabalho que muitas vezes
se fazia de sol a sol. Hoje nesta edição número trinta e cinco desejo que essa
lembrança fique patente e nada melhor que a descrição tão genuína em “Pontos
Sem Fim”. Recorda-nos as ruas e vielas, a ida ao rio, aos marmelos, as
lavadeiras...
Mário
Silva viaja até à vila da Carapinheira e fala-nos de mais um monumento emblemático
a “Igreja de Santa Susana” datada de 1571 a não perder.
Carla
M. Henriques relembra-nos o adeus a agosto que é sempre uma lembrança que o
trabalho recomeça.
António
Girão em vida nova como reformado recorda a família um laço muito importante
para nosso crescimento como Homem e benfeitor de causas nobres.
Aldo
Aveiro traz-nos uma figura que marcou a sua época, Tomás Nunes de Serra e Moura
que passou por Montemor-o-Velho por volta de 1824.
O
regresso do nosso amigo António Matos descreve-nos como foi o Poder Local após
1974. Vai até 1977 e como funcionaram as Comissões Administrativas.
Fernando
Curado sempre com belas descrições, desta vez “O Abastecimento de água à
Figueira da Foz (1887/1925)
Repórter
Mabor (Olímpio Fernandes) na sua barca que nunca esqueceu recorda-nos esses tempos
as idas ao campo das Lages e o aparecimento do seu cognome.
Na
poesia diversificada Garça Real fala-nos dos tempos novos dos sonhos e a sua
procura “flor saudosa”, já Isabel Capinha com Destino como pode ser simples se
o soubermos alimentar com coisas simples. Isabel Tavares um poema que é um hino
ao seu animal de estimação que a deixou muito triste. Mara Kopke uma viagem nos
combóis de Lisboa onde entre o esvoaçar de uma gaivota, uma noite fria traz a
solidão...
Na secção da política Daniel dos Reis Nunes homenageia um camarada “António Batata” e como ele diz: - Carregar no olhar a esperança de futuro é uma tarefa só para especiais, e o olhar do Batata nunca enganou ninguém!
O amigo João Mendes (BE) “Calor, Mentiras e Vídeo” passa pelo seu olhar as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), das propostas do BE para arborização e recuperação de cursos de água com ar crítico da forma e do modo como foram feitas e no seu jeito muito próprio alerta para trapalhadas de André Ventura. Já a seu ver, a publicidade em volta da divulgação da Feira de Ano que ano após ano fica mais curta, alerta para os filhos da terra.
Victor Camarneiro um tema atualíssimo “Beijo de perdição” Luis Rubiales no tão falado beijo à jogadora campeã do futebol feminino, Jenni Hermoso. Do oito ao oitenta rapidíssimo...
Na nossa livraria um livro para crianças “aventuras incríveis ao lado de Ulisses”
Já na música Hélder Moutinho com “Venho de um Tempo”
Na nossa nova rúbrica de quadros famosos “Guernica” e o seu simbolismo “em 1937, é uma “declaração de guerra contra a guerra e um manifesto contra a violência”. O quadro, além de ser um ícone da Guerra Civil Espanhola, é hoje um símbolo do antimilitarismo mundial e da luta pela liberdade do ser humano.
Desejo a todos boas leituras.
Nascer e renascer diversas vezes das cinzas, olhar lá do alto do nosso castelo e contemplar ora verdejante ou em tons “Vicent van Gogh” este vale que me viu crescer. Para trás ficam as belas recordações da ida às laranjas, da apanha do louro, dos passeios na na barcaça como fossemos ajudantes e de tempos em tempos um passeio rio abaixo largando cofres para as enguias, na barca uma constante ainda hoje no Mondego.
Na calçada portuguesa que anos mais tarde foi transformada em alcatrão, onde a dificuldade dos carros de bois se fazia sentir na subida devido aos aros em metal que resvalavam, uma subida/descida agreste.
Do lado de lá a nespereira que com os seus galhos virada para estrada nos davam o consolo de tempos em tempos por altura da Páscoa.
No caminho de arriba levava-nos diretamente ao rio, onde acompanhava as lavadeiras que percorriam casa a casa dos mais abastados e lá nas margens do Mondego era a aldeia da roupa branca com os seus cantares e as pedras devidamente assinaladas por cada uma das lavadeiras. Nós a "pequenada" ou andávamos ao peixe à toca ou a banhos.
“Recordar é viver” em Outubro na abertura da escola pela rua detrás do castelo a pequenada lá se ia juntando e de volta e meia os mais atrevidos visitavam o moleiro e a sua árvore de marmelos que era sempre um grande risco e muitas das vezes grandes correrias. Os mais novos ficavam a tomar contas das pastas dos mais velhos e em caso de dar à sola... lá ficavam porque o peso era demasiado para nós.
Nessa época aprendia-se a nadar, andar de bicicleta com as pernas entre o quadro da pasteleira que era muito alta para nós, no Verão nas idas esporádicas à Praia da Figueira que nesse tempo ficava longe, visita habitual ao “Ti Barbosa” que por debaixo da Piscina do Grande Hotel tinha o aluguer de bicicletas e que nós nos prontificamos ajudar remendar os furos, claro que ele sabia ao que íamos, lá dizia – “levem essa mas não vão para longe que pode chegar clientes”.
O mar esse onde se encontravam os meus pais ficava a cinquenta metros porque nesse tempo o mar batia nos dias de marés vivas no relógio e algumas vezes galgava até ao comércio.
Por volta das sete da tarde voltamos para Montemor-o-Velho onde junto ao borralho nos esperava uma brôa com petinga e um prato de azeite com que nos deliciamos esperando o jantar.
Continua no próximo número
Igreja de Santa Susana – Carapinheira – Parte I
O
início da edificação da atual igreja matriz de Santa Susana da
Carapinheira teria ocorrido por volta de 1571, no local onde ainda hoje se
encontra. A atestar este facto, o padre-cura da Carapinheira, licenciado André
Rodrigues Carreiras, nas Memórias Paroquiais de 1721, em juramento “in verbo
sacerdotis”, refere: “(...) a igreja parochial he padroeyra Santa Suzana foi
edificada no lugar da Carapinheira a sento e sinquenta annos (1571). Antes
disso já era freguezia de que era Padroeyro Sam Payo, estava situada na Ribeyra
dos Moinhos dentro de hũa quinta da Malta, sujeita á Comenda da Santa Maria de
Enxumil, não se pode com clareza saber o principio de sua edifïcassão na dita
quinta e que dali se mudara por crescer mais o povo onde hoje está edificado
(...), ha três sepulturas particulares, hũa de Rodrigo Affonso, outra de
Domingos Vaz Frade e outra de Maria Vaz - a sepultura de Rodrigo Affonso he da
primeira fundação da igreja que foi feita a sento e sinquenta annos para elle e
seus herdeyros consedendose-lhe por dar a terra para a igreja e adro, que pella
não ter no monte a deu no campo por ella - a sepultura de Domingos Vaz Frade e
Maria Vaz se lhe deu por mandarem vir o Breve para se mudar a igreja (…).”
Antigos pergaminhos
referem que o novo templo ficou inacabado, sem a capela-mor, e que, com o
passar dos anos, ia ficando pequeno, dado o grande “concurso de fregueses”.
Assim, a igreja foi sofrendo alterações: ampliação, conservação, melhoramentos.
O processo de
edificação da capela-mor inicia-se a 23 de abril de 1733 com uma petição
enviada ao bispo de Coimbra pelo juiz da igreja, João Rodrigues Caldeira, com
o aval dos outros fabriqueiros: António Simões Ribeiro, Bernardo da Costa e
Manuel Nunes Arriaga, na sequência das visitações de 1720 e 1729 que atestam a
necessidade da construção da capela-mor, mas não existir disponibilidades financeiras
para o efeito uma vez que os dízimos e prestimónios eram recebidos e não se
cumpriam obrigações à igreja.
A visita efetuada em
1720, pelo reverendo Manoel Soeiro de Almeida, revela a obrigação de edificar a
capela-mor, dizendo “(…) acha-se esta igreja com bastante grandeza e feita á
custa dos fregueses, o que he muito para louvar, he precizo dar-se principio a
obra da capella mor, pello que mando ao rendeiro que cobra do prezente os
fructos a mesma igreja pertencentes e aos dos prestimónios a quem tambem
pertense a reedificação da capella mor no prezente cazo, ponhão a lanço a dita
obra e arematasão a quem com mais perfeisão e com mais comodo a fizer,
conformando-se com o corpo da mesma igreja de que darão cumprimento em termo de
des meses, sob penna de dois mil reis (...).” [Instituições Pias,
Bispado de Coimbra, AUC]
Numa outra visitação,
de 1729, o Dr. Sebastião Antunes exarou a seguinte informação: “(…) no temporal
achei hum cappitulo feito pello vizitador meu antecessor no qual com muita
razão ordenava se fizesse a Capella Maior, puzesse a pregão e se arrematasse a quem
com mais comodo a fizesse que o rendeiro que cobra a renda dos prestimonios
concorresse para os gastos da Capella, dando conta disto ao fabricario, que a
isto he obrigado athé o prezente, vejo se não tem posto em execussão, estando
nesta parte a igreja com muita imperfeisão, pello que ordeno que o Reverendo
Parocho desta Igreja fassa aviso ao fabricario della reprezentando-lhe a grande
necessidade que ha desta obra, porquanto dentro de trez mezes de principio a
ella, que fiz em avizo que se lhe fiz, não faltará ao que se lhe pede, e quando
no dito tempo o não fassa, da resposta que mandar dará conta a Meza para nella
se deferir o que for justificasão (... ).” [Instituições Pias, AUC].
Mário Silva
Fonte: https://pcarapinheira.webnode.page/a-igreja/
[Adeus, agosto. Olá, setembro, mês dos recomeços]
Dizem que a vida é feita de mudanças e que estamos sempre a tempo de
recomeçar. Uma frase, tão simples, mas que carrega em si uma poderosa mensagem
de esperança e renovação. Podemos recomeçar tantas vezes quantas quisermos e
nos permitirmos. Os últimos tempos, para mim, têm sido de mudança. De desafios.
De recomeços.
Perto do início de mais um mês, setembro traz, em regra, vários recomeços.
Regresso às aulas. Regresso ao trabalho, para muitos, após as merecidas férias.
Regresso a tantas rotinas que ficaram em suspenso durante o verão.
Mas, setembro ou qualquer outro mês, pode trazer consigo diversas mudanças.
Algumas bem mais profundas do que o regresso ao trabalho e à escola. Esses
recomeços podem surgir de diversas maneiras: seja a mudança de trabalho, a mudança
de casa, o fim de um relacionamento, uma perda significativa ou simplesmente a
procura por uma nova perspetiva de vida. Independentemente da origem, recomeçar
é uma oportunidade valiosa para crescer, aprender e encontrarmo-nos.
Basta querermos e crermos!
Claro que recomeços e/ou mudanças podem trazer medo, sensação de perda,
tristeza. Quantas vezes nos deparamos com situações em que sentimos que tudo
está perdido, que não há mais saída? É nesses momentos que nos devemos lembrar
de que a vida é uma constante oportunidade de recomeçar. Nem sempre recomeçar é
algo ruim, embora seja comum sentir medo, insegurança e até mesmo alguma
resistência nesses momentos de recomeço.
Afinal, o desconhecido pode ser intimidante!
Mas não importa o que tenhamos vivido ou enfrentado até agora, haverá
sempre uma nova oportunidade para recomeçar. Podemos ter errado, caído,
magoado, mas isso não significa que não possamos levantar e seguir em frente.
Isso não significa, jamais, que não possamos seguir um novo caminho.
Afinal, os recomeços são como asas que nos impulsionam a voar novamente e
nos dão novas oportunidades de aprender com os erros e nos tornarmos melhores
pessoas!
Apesar de a vida nos confrontar com alguns desafios que nos parecem
insuperáveis, apesar de parecer que estamos presos a ciclos de dificuldades e
não conseguimos encontrar a luz ao fundo do túnel, devemos lembrar-nos de que
recomeçar é sempre possível. Podemos mudar de direção, procurar novas
oportunidades e transformar a nossa realidade.
Acreditem. Podemos. Pode parecer, por momentos, que não. Mas podemos!
Mas lembrem-se que recomeçar não significa apagar o passado, mas sim
aprender com ele e seguir em frente. É uma oportunidade de renovação, de nos
reinventarmos e de procurarmos a felicidade que talvez tenha ficado para trás.
A vida é um constante fluxo de mudanças, e recomeçar é parte fundamental desse
processo. Não importa a idade que tenhamos, estaremos sempre a tempo de
recomeçar e criar histórias e memórias. É um privilégio que a vida nos dá, a
oportunidade de refazer os nossos caminhos, de escolher um novo rumo e de nos
permitir sermos verdadeiramente felizes. Não importa quantas vezes precisemos
de recomeçar, o importante é nunca desistirmos de tentar!
Muitas vezes, os recomeços vêm acompanhados de mudanças de rumo e
prioridades. Talvez seja preciso abandonar antigos padrões e hábitos que já não
fazem mais sentido. É um momento de nos conectarmos connosco mesmos,
descobrirmos novos interesses, estabelecermos novas metas e traçar novos
caminhos que estejam mais alinhados com nossos valores e desejos mais
profundos.
É verdade que o processo de recomeçar pode ser desafiador. Mas, quando
abraçamos essa oportunidade de crescimento e nos permitimos explorar o
desconhecido, descobrimos um universo de possibilidades e experiências
enriquecedoras. A vida presenteia-nos com a oportunidade de nos reinventarmos a
cada novo recomeço.
Setembro, será o recomeço para mim, para ti e para muitos de nós. O tipo de
recomeço de cada um não interessa. As razões que os levam a recomeçar também
não.
Portanto, sempre direi que, quando nos depararmos com momentos difíceis,
com obstáculos aparentemente intransponíveis, lembremo-nos de que a vida é
feita de recomeços. Tenhamos coragem para enfrentar todos os nossos medos,
acreditemos nas nossas capacidades de superação e sigamos adiante. Afinal, a
felicidade espera por nós, e estaremos sempre a tempo de recomeçar.
Em setembro, mês de recomeços, abracem todos os desafios que vos surjam,
aprendam com as experiências passadas e permitam-se evoluir.
Afinal, a vida é uma constante renovação, e os recomeços são as sementes
que plantamos para colher uma jornada mais plena e significativa.
Adeus, agosto. Olá, setembro, que sejas o mês de bons recomeços e momentos.
OBRIGADO, FAMÍLIA!
Nos momentos mais delicados, quem souber o que é
reconhecimento, honra e agradecimento, dará graças a Deus, à Natureza, à Vida
ou ao que quer que seja, pelo bem que lhe fazem.
Neste momento delicado que estamos a viver, reconheço
o valor da família que tenho.
Reconheço aos mais velhos pelos conselhos, pelo olhar que fazem e pelas palavras sempre sábias que nos dão.
Sendo eu um dos elementos entre os mais velhos e os
mais novos, sinto a obrigação de ouvir todos e ir transmitindo as necessidades
e os conselhos, as dúvidas e os saberes, os pedidos de ajuda e a ajuda que é
dada, mesmo sem ser pedida.
Nesta fase, Primo António, a sua presença,
contemporâneo de meu Pai e de Meu Padrinho, escuto as suas palavras como as de
um menino grande que escuta o seu mestre, que necessita de ir a esta escola em
que eu sou aluno. Nesta escola, há uma outra senhora que me dá conselhos, mesmo
sem eu a ouvir fisicamente, porque a sua voz está sempre no meu horizonte.
Obrigado, Prima Mélhita (Amélia).
Estes são os mais velhos!
Para ti, Primo Francisco, mais novo do que eu, não me
quero alongar em palavras, porque não as tenho na dimensão universal que as
mereces. Só te posso dizer: muito, muito obrigado! Gosto muito de ti!
Claro, o nosso Alberto, o meu guia, só com um ano a
mais do que eu. A este, lá para o céu, um grande beijo, Berto! És enorme!
Para ti, Zé Alberto, o irmão/primo/companheiro, não
vão palavras: vai um abraço. Daqueles que nós sabemos tão bem dar um ao outro!
Anália, minha companheira de viagem, quero dedicar-te
um determinante definido, o determinante "a". Dedico-to numa frase em
que ele está destacado: "És A minha companheira de viagem".
Nunca abandonarei um barco, no qual sou um simples
marinheiro, com estas CAPITÃES que tudo conhecem do mar, das estrelas e do horizonte.
AMO-VOS!
GENTE
DE MONTEMOR-O-VELHO
“Onde
nasceu o Fernão Mendes Pinto
Jorge
de Montemor onde nasceu?
A
mesma terra, o mesmo céu que eu pinto,
Castelo
Velho, o que foi deles é meu.”
In
Ossadas, Afonso Duarte
No
centro litoral de Portugal, atravessado pelo cantado e encantador Rio Mondego,
por terras ribeirinhas e Gandaresas, espraia-se o concelho de Montemor-o-Velho,
que a natureza privilegiou com uma exuberante e pitoresca paisagem, qual
aguarela, onde sobressai o verde (ou o loiro) dos ubérrimos campos do Mondego e
o azul-celeste do horizonte é recortado pelo vasto e riquíssimo património arquitetónico.
Montemor-o-Velho,
vila e concelho, território de lendas e façanhas, orgulha-se também do seu
histórico passado glorioso e dos seus ilustres filhos, natos ou residentes por
opção, conhecendo-se homens e mulheres de virtuosos ofícios de serviço público
ou de influência na vida política, social e cultural da vila, do concelho, do
país ou além-fronteiras.
O
Município vangloria-se dos notáveis de Montemor-o-Velho, dando a conhecer os
seus maiores, através de diferentes formas, para que, na bruma dos tempos, não
pereça a “alma manlienense” desta vetusta Vila.
Recentemente
publicou o e-book “Homens e Mulheres de Montemor-o-Velho”, esplendidamente
ilustrado, onde sintetiza a biografia de duas dezenas de montemorenses, natos
ou moradores por convicção, que honraram a sua terra e a fizeram conhecer, além-fronteiras,
através dos seus feitos.
Mas
o número de montemorenses ilustres é muito maior. Serão centenas, ou milhares,
de “almas” que não terão registo biográfico e que, por vicissitudes várias,
ficarão no esquecimento.
Mencionado
na Grande Enciclopédia Luso-Brasileira e noutros documentos, lembramos, neste
apontamento, Tomás Nunes de Serra e Moura, nado em Montemor-o-Velho, estudou em
Coimbra, constituiu família em Alenquer e que viveu e desenvolveu os seus
ofícios públicos entre o continente, ilha da Madeira e a Índia Portuguesa, e
faleceu em Lisboa.
Suas
raízes vieram da “Beira Interior”, continuaram em Montemor-o-Velho e aqui
viveram dezenas de familiares que marcaram a vida pública, social e cultural
desta vila, em fins do séc. XIX e séc. XX (...).
Tomás Nunes de Serra e Moura
Nasceu
a 13 de Novembro de 1824, e batizado a 28 do mesmo mês e ano, na paróquia de
São Martinho de Montemor-o-Velho. Filho de José Nunes de Serra e Moura, de
Montemor-o-Velho, e de Claudina Inácia (Rodrigues da Silva), de Maiorca. Neto
paterno de António Nunes de Serra e Moura, de Freches, Trancoso, bispado de
Pinhel (ao tempo), e de Maria Vitória (de Oliveira), de Montemor-o-Velho, e
neto materno de Tomás Rodrigues da Silva e de Joaquina Angelina (de Torres),
ambos de Maiorca.
Tomás
Nunes de Serra e Moura teve os irmãos: Maria, Agostinha e Miguel Augusto da
Serra Nunes e era sobrinho paterno de Joaquim e de Manuel Nunes de Serra e Moura.
Casou com Armanda Guilhermina de Sarmento, em Alenquer, onde nasceram e foram
batizados seus filhos Francisco e António Nunes da Serra e Moura.
Formou-se
em Direito na Universidade de Coimbra (1849), tendo integrado o Batalhão
Académico durante a Guerra Civil da Patuleia (1846-1847).
Estabeleceu
banca de advogado em Alenquer, profissão que exerceu durante a década de 1850.
Em 1860, foi nomeado, após concurso, juiz de Direito do quadro do Ultramar,
tendo sido colocado em Bardez, Índia (Registo Geral de Mercês, D.Pedro V,
liv.18, fl.70v). No ano seguinte, transitou para Procurador da Coroa e Fazenda
junto da Relação de Goa. (Registo Geral de Mercês de D. Luís I, liv. 2, f. 8).
Em
1867, publica uma coletânea de pareceres. Neste ano, regressou ao Continente e
pediu a sua integração no quadro do Reino, tendo sido despachado para a comarca
de Castro Daire.
Em
1872, foi novamente colocado na Relação de Goa, no lugar de procurador régio.
Em 1877, seria nomeado juiz de 2.ª Instância deste tribunal, do qual foi
presidente em 1878.
Regressou
a Lisboa em 1882, tendo sido colocado como juiz agregado ao Tribunal da Relação
desta cidade. Teria a nomeação definitiva como magistrado desta Relação em 1887
(Registo Geral de Mercês, Mercês de D. Luís I, liv. 50, f. 13v). Ascenderia a
presidente desta instituição, por Decreto de 22 de Outubro de 1891, tomando
posse a 24 de Outubro.
Por
decreto de 29 de Dezembro de 1883, foi nomeado governador civil do Funchal,
tomando posse deste cargo a 9 de Janeiro de 1884 (1883-1884), tendo também sido
eleito par do Reino por este distrito em 1887. Terminou a sua carreira como
juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (1893) e foi presidente deste
órgão, em 1909.
Recebeu
a comenda da Ordem de Cristo em 1862 e, em 1867, a carta de conselheiro de
Estado honorário (Registo Geral de Mercês, Mercês de D. Luís I, liv. 16, f.
82).
Foi
admitido sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa por proposta dos sócios
Fernando Pedroso, José Ignácio de A. Garcia e Marrecas Ferreira, em sessão de 9
de Novembro de 1885.
Monárquico
convicto, seria demitido, em Outubro de 1910, pelas novas autoridades
republicanas.
Faleceu
em Lisboa, a 17 de Março de 1917.
Aldo
Aveiro, Agosto de 2023.
O VINTE E
CINCO DE ABRIL E O PODER LOCAL
Todos nós sabemos que, numa madrugada do já longínquo ano de 1974, da era
do séc. passado. Um punhado de Homens de farda militar vestidos, trouxeram ao
povo português, muitas surpresas, bem como muitas esperanças e a vida deste
país mudou. Mudou para sempre e para melhor.
Com este feito, que foi transversal, trouxe-nos a certeza de uma liberdade,
que até aí não tínhamos. Éramos um povo analfabeto, pobre, vivíamos na miséria
e á sobra dos senhores feudais.
Quase cinquenta anos depois e chegado aos nossos dias, verificamos que
houve uma grande evolução, nomeadamente ao nível do poder local e
Montemor-o-Velho, seguiu essa linha.
Vamos falar por agora nos primeiros 30 anos de democracia e liberdade, no
que se refere a Montemor e seu concelho.
O poder local aqui descrito é o para louvar e prestar uma simples homenagem
a todos aqueles que com a sua inteligência, com o seu trabalho e a sua
dedicação, tornaram possível o espírito e o desenvolvimento de uma sociedade
local. O futuro aos homens do amanhã pertence e é para eles que fica a visão de
melhor fazerem.
É sempre bom recordar que, após essa grande Revolução dos Cravos, foi
indicada uma Comissão Administrativa para dirigirem os destinos da Câmara
Municipal de Montemor-o-Velho e essa Comissão foi assim composta: Presidente
José Alves de Sousa Sampaio, tendo como vogais os Srs. David Pinto Coelho;
Ilídio Rodrigues Gonçalves; Eng. Fernando Manuel Ângelo Leitão e José Carlos
Caldeira Bonito...
Algumas da personalidade que fizeram parte até aos dias de hoje, das sucessivas
constituições dos elementos aos serviços na Câmara de Montemor quer na
Presidência, quer na Vereação, já não fazem parque inclusive do reino dos
vivos. Mas! há muitos outros que podem testemunhar algo sobre a sua experiência
de governação local.
É curioso que, durante os primeiros 30 anos, muitas foram as substituições
de elementos dentro do período para que foram eleitos.
No período entre o 25 de abril de 1974 e 21 de janeiro de 1977, a Câmara
funcionou com Comissões Administrativas e só em 21 de janeiro de 1977 (segundo
o livro dos 25 anos do poder local), houve a primeira eleição autárquica
democraticamente realizadas e que ficou assim eleita; Presidente - Eng.
Fernando Manuel Ângelo Leitão - Vereadores - Srs. Eng. Técnico Agrário Carlos
José Machado Laranjeira Pereira; Celso Augusto Ferreira Baía; José Maurício de
Freitas Góis; Eng. Luís Antônio Marçal Correia de Oliveira; José de Oliveira
Moleiro e Antônio de Oliveira Girão.
Os trabalhos desta eleição prolongaram-se até ao ano de 1980
Este artigo não acaba aqui. Porque muito mais há a dizer, porque a lista é
longa e dela que teremos de dar o nosso testemunho, mas o seu tratamento a seu
tempo chegará. Por agora vamos ficar por aqui.
Queremos com estes pequenos apontamentos dar testemunho de quanto admiramos
esses homens que aplicaram o seu saber e a sua dedicação e inteligência ao
serviço da comunidade.
António Matos
O ABASTECIMENTO DE ÁGUA À FIGUEIRA DA FOZ – 2ª FASE
(1887 A 1925) - BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS
Em 1861 começou a ser construído o atual Bairro Novo e
a escassez de água na Figueira da Foz era notória.
Tornou-se urgente procurar novas captações de água,
com grandes caudais, ampliar a rede de condutas, reforçar o número de
fontanários e melhorar a qualidade da água.
Em 1864 o jornal “O Figueirense” publicou um artigo de
opinião do então presidente da Câmara, João José da Costa, que indicava como
solução o aproveitamento das nascentes da vertente sul da Serra da Boa Viagem.
Esta solução viria a ser posta em prática pelo
presidente de Câmara que se lhe seguiu, António dos Santos Rocha, que, no seu
1º mandato, de 1878 a 1880, mandou elaborar um projeto de reforço do
abastecimento de água a partir das nascentes existentes nas faldas da serra da
Boa Viagem.
Por esta altura, a Figueira era abastecida de água a partir de fontes, poços, fontanários e por pequenas nascentes existentes na Mata do Convento de Santo António e no Casal da Rata, zonas hoje urbanizadas.
Havia a Fonte da Figueira, na Praia da Fonte (zona do
atual Mercado Municipal), a Fonte da Bica, na rua da Bica, a Fonte da Lapa,
junto ao casal da Lapa, a Fonte da Várzea, no caminho para Tavarede, a Fonte de
Tavarede, a Fonte da Salmanha, na estrada de Vila Verde, e a Fonte da Fontela.
A venda ambulante fazia-se ao caneco e o preço variava em função da época do ano e da sua origem. “Em tempos normaes o caneco de água da Varzea custa 30 réis (fora do tempo dos banhos em que chega a vender-se por 40 réis), o das outras fontes 20 réis e a água fornecida pelas carroças 15 réis”.
PROJETO
Em 1878 o executivo municipal dirigido por Santos
Rocha mandou elaborar o projeto conducente à resolução da escassez de água na
Figueira da Foz, convidando para o efeito Joaquim Filipe da Encarnação Nery
Delgado, engenheiro militar e membro destacado da Comissão Geológica do Reino,
casado com a figueirense D. Maria Ricardina Augusta da Fonseca em 1860.
Em 1880, a 15 de fevereiro, Nery Delgado entregou na
Câmara Municipal o projeto, constituído por 3 partes distintas: uma relativa à
captação e à conduta adutora até à Figueira, outra respeitante à sua
distribuição pelos chafarizes e domicílios e, por último, um orçamento
detalhado.
Em 1880, a 7 de abril, a Câmara Municipal adjudicou o
projeto de Nery Delgado por 500 mil réis, a pagar em 5 prestações mensais.
O projeto de Nery Delgado indicava ser necessário encontrar um caudal de 600 m3/dia que garantiria o abastecimento de 100 litros/dia por habitante para uma população de “6.000 almas” ou de 60 litros/dia para 10.000 habitantes, durante o Verão.
O projeto previa a captação de água no início da
Ribeira de Tavarede, na zona do Prazo, na Serra da Boa Viagem, onde existiam
muitas nascentes e a “água rompia por toda a parte”, a construção de uma
conduta adutora com 3 Km, em ferro fundido, da nascente do Prazo ao Pinhal (das
Águas), e a construção de um reservatório de 2.500 m3 a construir neste Pinhal.
Embora este reservatório tenha sido ampliado e sujeito
a trabalhos de manutenção, ainda hoje funciona incluído nas novas
infraestruturas do “Pinhal das Águas”, onde, em 1985, foram sedeados os
Serviços Municipalizados de Águas (atual Águas da Figueira S.A.).
CONCURSO E OBRAS
Em 1886, a 2 de novembro, a Câmara Municipal presidida por João Pereira das Neves deliberou abrir concurso público para a execução da obra e a concessão da exploração do abastecimento de água e para o fornecimento de gás para a iluminação pública da cidade.
Em 1886, a 14 de dezembro, foi adjudicada a única
proposta presente no concurso, a da empresa inglesa The Anglo-Portuguese Gas
& Water Company Limited.
O contrato de concessão firmado entre a Câmara
Municipal da Figueira da Foz e os ingleses foi assinado em dezembro de 1886,
estabelecendo o prazo de 18 meses para a conclusão das obras e um regime de
monopólio por 99 anos, findos os quais todos os edifícios e aparelhos, direitos
e ações pertencentes aos concessionários passariam para a posse Câmara, sem
qualquer indemnização.
As obras começaram de imediato, a 26 de dezembro, mas
a empreitada mostrou-se agitada porque a aquisição dos terrenos no Prazo, onde
Nery Delgado recomendara a instalação da galeria de captação subterrânea,
acabou em tribunal.
Os principais terrenos a adquirir pertenciam ao Cabido
da Sé de Coimbra e a António Monteiro de Sousa e esposa.
Na impossibilidade de conseguir um acordo sobre a
“expropriação amigável” com os referidos proprietários, que exigiam uma
“indemnização incrivelmente exorbitante”, a empresa inglesa solicitou a
intervenção da Câmara Municipal para mediar o negócio, sem sucesso, tendo-se
recorrido à expropriação por utilidade pública urgente de um lote com cerca de
1.000 m2.
É o Diário do Governo de 8 de maio de 1888 que publica
a declaração de utilidade pública e a urgente expropriação do terreno do Prazo
de Tavarede para a construção do túnel de exploração das águas.
No dia 1 de janeiro de 1889 começam as escavações no
alto do Pinhal tendo em vista a construção de um reservatório de água.
Em 21 de agosto de 1889 foram ensaiadas as bocas de
incêndio e, de imediato, a água captada no Prazo chegou à Figueira da Foz, a
partir de um reservatório situado no Pinhal (das Águas), onde se construiu uma
nova e maior rede, reforçada de fontanários públicos e também com abastecimento
a particulares.
Em 1890 estavam em funcionamento 6 fontanários: no
Largo Pereira dos Santos, no Largo de S. João do Vale, no Largo do Mato, no
Largo Luís de Camões, na Praça 8 de Maio e na Av. Saraiva de Carvalho.
Desta importante obra do final do século XIX, restam
ainda alguns vestígios, e algumas partes estão mesmo em funcionamento,
nomeadamente três dos chafarizes originais da cidade e o reservatório do Alto
do Pinhal (ampliado em 1985 pelos SMAS).
CONFLITOS ENTRE A CÂMARA E A EMPRESA INGLESA
As obras decorreram sempre num clima de conflito entre
a Câmara Municipal e a empresa inglesa e, ao que parece, não terá sido alheia a
animosidade então existente entre Portugal e Inglaterra em resultado do
Ultimato de 1890.
Assim, apesar das obras de abastecimento de água terem
ficado concluídas em 1889, só foram reconhecidas como tal em 1895.
As obras ficaram concluídas, mas atingiram o dobro do
custo inicial previsto, por outro lado, Nery Delgado veio a verificar que o seu
projeto não tinha sido cumprido pela empresa inglesa, o que o levou a
participar junto do MOPCI:
“[…] O intitulado engenheiro inglez encarregado pela
Companhia de executar os trabalhos, teve desde o principio difficuldade em
comprehender o projecto, duvidas que o supplicante lhe esclareceu por
differentes vezes; mas o que é certo é que por ignorancia, ou por espirito de
mal entendida economia, o projecto, mesmo na parte em que foi executado, foi
alterado em muitos pontos essenciaes, sem que o supplicante tivesse auctorizado
taes modificações: podendo o referido engenheiro fazer estas mudanças, por que
não me consta que pessoa devidamente auctorizada tivesse sido encarregada por
parte da Camara ou do governo de fiscalisar os trabalhos”.
As divergências entre a Câmara Municipal e a empresa
inglesa intensificaram-se ao longo dos anos, queixando-se a Câmara dos valores
dos consumos faturados, da qualidade da água, dos preços, da qualidade dos
serviços, da quantidade de água disponível e de não se ter atingido o consumo
gratuito previsto no contrato para os fontanários.
A companhia inglesa queixava-se dos atrasos nos
pagamentos, do exagero dos fornecimentos gratuitos e do facto de a Câmara ter
autorizado a abertura de fontes e poços, prejudicando a expectativa inicial da
concessão.
Os consumidores rejeitavam a contagem da água por
hidrómetros e preferiam as avenças em virtude deste sistema ter sido solicitado
pelo então presidente da Câmara, Guimarães Lopes, alegando que a população
tinha rejeitado os contadores, mas, Nery Delgado tinha plena razão, pois
“enquanto vigorasse a venda por avenças ou contratos particulares com os
consumidores, seria impossível obter um resultado favorável deste
empreendimento, por impossibilidade de controlar os gastos”.
Existiam ainda muitas divergências sobre a qualidade
do serviço prestado pela companhia inglesa no âmbito da concessão da iluminação
pública, queixando-se os munícipes do poder iluminante do gás e a empresa do
vandalismo dos candeeiros.
A Câmara Municipal tentava resgatar a concessão e a
empresa inglesa respondia com pedidos de indemnização.
O processo de resgate andou pelos tribunais e o
executivo municipal, liderado por Manuel Gaspar de Lemos, deliberou, a 7 de
abril de 1921, o resgaste da concessão, e, a 7 de março de 1925, a
municipalização dos serviços de captação e distribuição de águas à cidade da
Figueira da Foz.
Foi o fim da Anglo-Portuguese Gas & Water Co e a
consequente criação dos Serviços Municipalizados de Eletricidade e Água, a 1 de
agosto de 1927.
Começa aqui a 3ª fase do abastecimento de água à
Figueira da Foz (1925 a 1999).
Repórter MABOR. (1958)
No espaço do antes e depois, julgo que deve ser dedicado ao tempo que
passou, se no presente entendermos sem dor na alma, mas refletindo
irreparavelmente na organização de todas as vivências no antes e depois.
Por aí encontramos a noção e alguma pedagogia, também a nossa história
das nossas caminhadas vida fora com a certeza que não devemos esquecer de onde
viemos, se antes se comia o caldo da panela e depois numa terrina com atrativos
desenhos.
-Importa sim convergir e unir o conhecimento das experiências, não perdendo
o norte da invernia e a geada que significava a rude tarefa de quem trabalhava
as terras.
É, pois, neste caldo das transformações sociais que surgem as desavenças
interiores de alguns homens de bem, é certo, mas que se perderam no horizonte
das mais valias, enganando-se num novo espaço de todos conhecido no antes e
depois, sobretudo quando se alcança o êxito material ou outro...
Talvez por isso, se idoso vivo com algumas dúvidas, tenho a certeza que
guardo com carinho a inocência do rapaz embrulhado em Repórter Mabor (1958) no
campo das Lages, como se fosse figura popular que fazia rir as jovens
raparigas, entre elas a Jovem Dilia, que gritava no grupo, mal sabia que anos
depois iria encontrar nos bailes no Teatro Ester de Carvalho, até hoje a
minha mulher, já lá vão 58 anos de casados.
Foi por esta altura que desconhecendo o novo mundo que me esperava pela
encruzilhada da vida, procurando vencer na sua meta o que se tornou sempre em
aventuras, cada vez mais longe do rapaz repórter, fui descobrindo em mim que
tinha ficado preso ao encanto da minha inocência por lá nos carreiros e
nos caminhos, caindo e erguendo-me com esperança no futuro, mas cuidando
sempre do passado do meu Mabor, tão modesto e amigo que me acompanhou até aos
dias de hoje.
Agora que a vida
tem um sabor novo
não vou desistir
dos sonhos de outrora…
Regressarei serena
e autêntica
às manhãs azuis
que as nuvens toldaram…
Encontrarei, intactas,
as pétalas desse passado
que as nuvens esconderam
e o vento desfolhou …
Encontrarei a flor saudosa
ainda à espera deste agora
renovado.
Garça Real
DESTINO
simples é
falar quando as palavras fluem e expressas tua opinião,
custoso é
expressar essas palavras por gestos e atitudes.
simples é
julgar as pessoas em qualquer circunstância,
custoso é
refletir sobre os seus erros, aconselhar e ajudar a melhorá-los.
simples é
criticares sem saber o que se passa,
custoso é
ser amigo em todas as horas.
simples é
ser impaciente quando algo irrita,
custoso é
transmitir carinho a quem o merece.
simples é
beijar, abraçar, apertar as mãos,
custoso é
transmitir AMOR com esses atos.
Isabel Capinha
AO BLACK!
Procuro-te meu
“peludo”
Mas já não te
posso ver
Nossa casa está
mais triste
Porque me foste
morrer?
O teu olhar tão
leal
Tão amigo e caloroso
O teu olhar
fraternal
Já não mora mais
connosco.
E tanta falta me
fazes
Meu pequenino
amor
Minha doçura da
vida
-Chamou por ti o
SENHOR.
Nunca te vou
esquecer
Nem do amor que
me deste
Porque me foste
morrer?
Ficou tudo mais
agreste.
Mais triste e
desamparado
Mais só e mais
sem ternura
A ternura dos
teus olhos
E a tua grande
doçura.
Espero voltar a
encontrar-te
Um dia quando eu
partir
Eu sei que o Bom
DEUS faz isso
Porque Ama os seus filhos
E Gosta de os
Ver sorrir!
AUTORIA: ISABEL
TAVARES 26-08-2018
(© Todos os
Direitos de Autor Reservados)
Código do
Direito de Autor e dos Direitos Conexos - Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março
- Diário da República n.º 61, Série I, de 14.03.1985 -
Isabel Tavares
Comboios de Lisboa
Onde estão os sorrisos?
os choros e as vozes?
Onde está a lareira
Que acende a nossa vida...
Tudo se apagou, tudo se finda!
Não há esperança, nem sonho
Apenas os gestos
da inútil despedida.
E uma raiva cega
que seca as lágrimas e a vida.
Mara Kopke
A
fibra dos inflexíveis.
Nada
mais me liga ao António Batata do que um nome/adjetivo que entre nós,
comunistas, nos enche de orgulho, seja por razões históricas, seja por motivos
de militância distintiva.
Eu
e o Batata éramos, (perdoem-me), somos camaradas.
O
Batata é meu camarada, daqueles que são inflexíveis no acreditar de um porvir
diferente, e que nos pormenores da vida disparam uma fibra e coragem que não
está ao alcance de todos.
Carregar
no olhar a esperança de futuro é uma tarefa só para especiais, e o olhar do
Batata nunca enganou ninguém!
Tinha-o
carregado de esperança, de justiça, de entrega, de horizonte e também de um
imenso desejo de ver um mundo mais justo para os mais frágeis.
E
na esperança de que não existam duvidas quanto ao que acima afirmo e abaixo
justifico, declaro desde já que nunca fomos próximos, apenas assisti a um homem
comum repleto das melhores características humanas.
Montemor-o-Velho
foi vítima surda e muda de uma grande ofensiva ao SNS. Essa ofensiva
efetivou-se com o fecho de vários postos de saúde, sendo Liceia uma das
primeiras freguesias a perder essa valência primária e imprescindível.
António
Batata, junto com outros, decidiu intervir contra o seu encerramento.
Comunicado
discutido, comunicado escrito e impresso, pronto a ser distribuído, já depois
da meia-noite, António Batata informa por telefone que está a dar entrada nas
urgências, tem um problema cardíaco, pede desculpa ao partido, mas não iria
conseguir assegurar a tarefa de distribuição do mesmo.
A
fibra dos inflexíveis vê-se nestes momentos, por volta das 6 da manhã, o
telefone toca. “António Batata” – “Atender”; “camarada, já saí das urgências,
deixem os comunicados contra o encerramento do posto de saúde em minha casa que
eu estou a sair daqui e ainda vou distribuí-los, vou mais devagar, mas vou!”. E
foi!
O
Batata era inflexível no seu desejo de um mundo mais justo, mas com uma fibra e
entrega inimagináveis. O Batata nunca fingiu ser o que não era e na minha última
paragem em sua casa pediu para chamar “o rapaz”, e deixou-me um aperto de mão e
disse-me “força que ainda há muita estrada para correr, contamos contigo”, e na
profundidade do olhar que lhe era tão característico senti um abraço que não
demos por sermos ambos meio distantes.
Entre
camaradas tento não usar o tempo passado, um camarada nunca o deixa de ser.
Entre camaradas não uso o tempo passado, pois um camarada como o António Batata é e será sempre um exemplo de futuro que não nos abandona no caminho ainda a percorrer e daqui continuamos a contar com ele.
*António
Batata faleceu a 10 de julho de 2023
*foto comemoração dos 102 anos do PCP/ abril 2023
Calor,
mentiras e vídeo.
“A hora da partida, talvez na
existência o mais delicioso, esquisito momento, onde tudo é alacridade, gozo,
esperança...
Fugir a todas as prisões, mesmo
às mais doces, supor que um instante basta para borrar todo o usado cenário da
vida atual e que outra vida começa, enredada de incertezas, sim, mas pejada de
larguíssimas promessas, de inquietadoras visões, de frutuosas quimeras, nada
que se compare a esse momento de alvorada, tanto mais incitante quanto mais a miúdo
repetido, a cujo feiticeiro rejuvenescimento a alma se dilata ilimitadamente.”
Manuel
Teixeira-Gomes, Cartas sem moral nenhuma, 1903.
O
Verão chegou-nos alarve. A coisa veio envolvida num quase tudo de idiotice. Os
casinhos do Governo, as trapalhadas das Jornadas Mundiais da Juventude, as
ambições Partidárias, mas era Verão e ele veio.
Quem
esperava aquele lume brando de férias, enganou-se. Houve ferro e fogo. Golpes
de palácio e tudo.
A
garantia está dada, e o próximo ano será de intensa luta político-partidária.
Para
além de uma intensa luta politica, o próximo ano começa com a certeza que
nenhum dos problemas fundamentais está resolvido. A recordar: Saúde, Habitação
e Educação.
Altura
certa de voltar ao título e recuperar o fio de prumo do texto.
É
então:
Calor,
Mentiras e Vídeo.
Do
Calor:
O
quente que se fez dia e noite, que não deixou o repouso do sono ser descanso e
sonho, é eficaz a recordar algumas das propostas do Bloco de Esquerda para o
município de Montemor-o-Velho: Arborização dos núcleos residenciais,
Recuperação de cursos de água.
Remoção
de espécies invasoras e plantação de espécies nativas ou endógenas, favorecimento
à centralização em localidades de novas habitações e Desenvolvimento de espaços
culturais e desportivos públicos. Mais cedo ou mais tarde assim será. Apanhar o
comboio a horas é garantidamente a melhor opção.
Da
mentira:
André
Ventura e o seu Chega! não deixaram de nos brindar com a pouco salutar falta de
verdade aos factos e boçalidade. Ora o homem não ía às Jornadas, ora já ia, ora
pedia desculpa por não ir e plagiava o grafismo de Público e de Rádio
Renascença para fazer passar discurso de ódio. Enfim... Uma trapalhada que
serve aos não cegos para ver o que
nesta
“nova” direita radical se adivinha. Se porventura ficaram aí alguns peregrinos perdidos,
convirá lembrar que são das antigas colónias ultramarinas. Muitos tão portugueses
como eu, mas muito mais esquecidos. Lembre-se que na Universidade de Cabo Verde
já se escreve a obra em mandarim, mas para um visto em Portugal é necessário ir
a Dakar no Senegal... Os mesmos bandidos, o mesmo financiamento, a mesma
conversa...
Do
vídeo:
Resistindo
ao poder da televisão, a feira do ano, cada vez mais curta, continua a ser um espaço
de troca, compra e venda, de proximidade. O caminho a fazer fica pelas
palavras, enquanto o investimento fica pela ação de contruir e manter
fidelidades de cacique. Seja então o momento, um momento de autocritica. Pelos
filhos da terra. Município de Montemor-o-Velho! Viva!!!
Beijo de perdição
Tinha prometido a mim próprio não escrever sobre o tal beijo na boca (pico)
que o então presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales,
pespegou na jogadora campeã do mundo de futebol feminino, Jenni Hermoso,
inicialmente consensual e comemorativo da conquista do título, mas mais tarde
tornado escândalo do ano, da década ou do século, por quantos e quantas não
beijaram nem foram beijados e consideraram o ato desde abuso, pouca vergonha,
agressão sexual, machismo, desrespeito, supremacia, virilidade agressiva, etc.,
ao ponto da Jenni se ter visto na obrigação de vir a público dar o dito por não
dito e deixar claro que o sucedido não teve o seu consentimento, aderindo de
certa forma à tese praticamente generalizada do mundo do futebol e da maioria
da comunidade internacional, incluindo federações e confederações congéneres,
clubes, ligas, movimentos feministas, defensores e defensoras dos direitos
humanos e das democracias, o rei, a rainha e os infantes, quem sabe o rei Juan
Carlos, esse virtuoso…, os media, praticantes, dirigentes, enfim, uma autêntica
miríade de influencers a que não faltaram virtuosas
personalidades da igreja católica e de outras igrejas e congregações.
Por momentos o mundo parou, a guerra Ucrânia–Rússia intervalou, Prigozhin
tombou, três golpes de estado nos sítios do costume entronizaram novos tiranos,
a economia portuguesa regrediu, o Teide descongelou, o calor não cedeu e a liga
de futebol português arrancou, não sem que o presidente da liga, o tal de
Proença, que quando era árbitro nacional tratava todos os jogadores por queridos,
tenha vindo a público diabolizar o Rubiales e ditar sentenças em sangue há
muito derramado.
Claro que sou militante da igualdade de género e do respeito absoluto que
deve presidir às relações entre homens e mulheres, independentemente das suas
opções e preferências sexuais, pelo que, gostando ou não do amaldiçoado
prevaricador e de sua muchacha, não me sinto incomodado e não vejo
qualquer atentado fundamental naquele beijo consentido!
EMBARQUEM COM ULISSES NESTA GRANDE AVENTURA
Uma coleção surpreendente para os mais pequenos
conhecerem a Odisseia, o grande clássico da literatura universal, e
viverem aventuras incríveis ao lado de Ulisses enquanto começam a sentir o
prazer da leitura.
Fantásticos livros ilustrados que adaptam a obra original à linguagem
infantil o oferecem um novo olhar sobre estas personagens eternas que nos
transmitem valores atuais.
Ao acompanhar
Ulisses na sua grande viagem de regresso a casa irão descobrir este herói
único, criaturas lendárias, rainhas poderosas e proezas incríveis.
Uma
oportunidade única para aprenderem e se divertirem ao mesmo tempo!
Juntamente com Ulisses, na obra aparece outra personagem protagonista: a deusa
Atena, que guia os leitores nesta viagem por um mar misterioso e cheio de
perigos.
Irá
ser ela, a deusa da sabedoria, que apresentará a aventura que se vai viver e
qual vai ser a etapa seguinte.
Além
disso, no final de cada livro, há um mapa ilustrado da viagem que mostra o
trajeto feito pelo herói grego Ulisses.
https://vimeo.com/850341410
Com
349 cm de altura por 776,5 cm de comprimento, Guernica,
uma das obras mais famosas de Pablo Picasso (1881–1973), pintada a óleo em 1937, é uma
“declaração de guerra contra a guerra e um manifesto contra a violência”. O
quadro, além de ser um ícone da Guerra Civil
Espanhola, é hoje um símbolo do antimilitarismo mundial e da luta
pela liberdade do ser humano.
O quadro tem implícita uma mensagem
de resistência contra o autoritarismo e também contra a
ascensão dos governos fascistas na Europa. O quadro estabelece um diálogo
direto com o espectador por enxergar o drama, a morte e a tragédia. O quadro,
ao mesmo tempo, representa as terríveis consequências da guerra sob a luz de
uma lâmpada elétrica,
símbolo da modernidade e do progresso técnico. A obra de Picasso trabalha com
uma linguagem paradoxal.
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