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domingo, junho 30

BARCAÇA_45


EDITORIAL

Boa Noite!

Hoje é dia de Barcaça e isso significa que há mais uma edição no cais do costume. Na agenda deste mês vários destaques, com uma nova entrada Ajuste de Contas.


Monumentalidade

Mário Silva/Montemor, Fernando Curado/Figueira da Foz e Aldo Aveiro/Carapinheira os nossos colaboradores dedicam às pedras com história o seu olhar.

Olhares

Carla Henriques já nos habituou a lindas descrições sobre a vida, na sua forma tão peculiar de estar na presença do mar.

Pagaiadas

João Amaral nas suas pagaiadas leva-nos a percorrer não só o mondego, mas também algumas historias e historietas das viagens da canoagem.

Poesia

Já na poesia destacamos as quatro Mulheres que na sua forma diversificada nos apresentam os seus momentos numa escrita com musicalidade.

Politica

Na área política o olhar do Daniel pelo PCP.

Música e Livros

Finalizamos como sempre com livros e música esperando sempre que o leitor se delicie com as viagens da Barcaça.

Boas Leituras.


Chegada do Verão.

A corrida começou, a escolha do local de férias, o pedido de cartões que ao longo do ano serão um sufoco. Mas a vida continua e a (pseudo) classe média com menos dinheiro lá vai até perto de Marrocos banharem-se nas águas que tardam em aquecer.

Proliferam como cogumelos os restaurantes “groumet” chiques, caros e podemos dizer que saímos mais leves e com a mesma fome.

A tradicional lancheira da merenda para praia continua na mó de cima onde os pasteis de bacalhau, sandes variadas e depois uma bola de Berlim fazem o contentamento dos mais novos e neste caso dos mais graúdos.

Barcaça segue até à nossa praia seja ela fluvial da Ereira como na foz na margem esquerda o cabedelo e a rainha das praias portuguesas na margem direita, engalana-se para os já tradicionais festivais de verão.

O Povo saiu à rua colorindo as avenidas com os seus trajes e com a sua música a condizer com o momento, São João que é o padroeiro da Cidade, já em Montemor-o-Velho as colectividades num misto de mais velhos e mais novos e muita cor e alegria desfilaram no centro da Vila onde as representações das freguesias se fez representar, não obstante de desfilarem na sua própria freguesia mantendo viva a tradição.

Já os políticos (feirantes) nestas alturas aproveitam para dar música ao povo e aparecem nos festejos engravatados e noutros momentos em traje de passeio. Fotógrafos de serviço fazem a cobertura de forma que não escape a melhor pose para que o seu eleitorado fique deliciado com a “propaganda” esquecendo por momentos as necessidades tão prementes de apoio à saúde, transportes, ...

As colectividades fazem das tripas coração por manter as portas ABERTAS, mas os preços para restauração que poderiam ser uma boa ajuda para o associativismo, os preços praticados são proibitivos. Pela informação disponível Movimento Associativo é de 150 euros para tasquinhas.

A Barcaça segue o seu deslizar até à foz e quem sabe se no próximo ano iremos desfrutar das mesas na Praça da Républica que vai ser requalificada...

Até ao próximo número que sai mensalmente.

Só faltava que a justiça portuguesa o permitisse e esquecesse quantos foram prejudicados e ludibriados por esta senhora administradora em conluio com estes cúmplices oportunistas, sem ética nem conduta moral!

Eu e a minha família, mas também a Associação Fernão Mendes Pinto e quantos ali trabalhavam e foram despedidos, perderam não só dinheiro como dignidade face às calúnias e esquemas montados em função da insolvência, ato em que o Guerra, Torrão, Garcez, administradora de insolvência e companhia se comportaram como meliantes e, premeditadamente, deixaram cair os avalistas como eu que já nem sequer estava no processo, e deixaram de pagar o leasing que financiou a aquisição de todo o mobiliário e equipamento que esses ditos meliantes utilizaram em proveito próprio, que ainda hoje se encontra cedido pela Administradora de Insolvência à nora e ao ex-diretor clínico Magalhães.


Diga-se que se tal mobiliário e equipamento tivesse sido vendido nem eu nem os demais avalistas teriam sido votados à insolvência, no meu caso quase 12 anos, em nome de bens que serviram para a Associação Fernão Mendes Pinto ganhar muitos milhões de euros e mais tarde a nora e o médico Magalhães, ex-diretor clínico da Unidade…

Enquanto isso, fui constituído arguido, julgado e absolvido, mas não ressarcido das dezenas de euros que fui obrigado a despender para me defender e suportar o ónus de tudo o que passei.

Contudo, parece ter chegado o momento da verdade e de chamar os bois pelos nomes, porque nada ficará por dizer nem como antes!

(continua)


#junho, trouxe os sonhos, a vontade de reiniciar o caminho, a força e a consciência de que, quando queremos, somos capazes de nos levantar. Não importa a dor que nos infligiram nem o tamanho da injustiça.

#Junho trouxe a certeza que é preciso ter coragem para ser feliz. E, mais ainda, para o querer ser. Ao contrário do que nos tentam fazer crer, não basta dizer e pronto. Não chega acordar, um dia de manhã e, em frente ao espelho, dizer para o reflexo do nosso EU: “A partir de hoje, vou ser FELIZ.”

Talvez seja assim o início do processo. De um longo processo.

#Junho chegou para nos mostrar que não chega o mais ou menos. O talvez. O assim-assim. Isso chega para passar os dias. Viver tranquilamente, mas não nos faz sentir felizes. Vamos marcando passo. Vamos esperando os dias passar. Vamos olhando para o relógio na esperança que o tempo passe depressa. Mas isso não chega.

#Junho chegou para, deixarmos de aceitar mentiras, ataques, traições, injustiças. Não podemos ter medo de desejar mais para a nossa vida. De querer mais. De ousar mais. De querer melhor. O mais ou menos não pode continuar a ser suficiente.

#Junho trouxe a certeza que ser feliz é difícil. Se é. Como se não o soubéssemos, já! Ser feliz implica, obrigatoriamente, momentos de tormento, de dúvida, de insegurança, de incerteza. Do abandono de nós próprios. O abandono de tudo o que achávamos certo até então.

#Junho trouxe a #Coragem de ser feliz. Arriscaria dizer que isso implica momentos de #infelicidade. É preciso ter coragem de dizer que este «mais ou menos» que devia chegar, para vivermos, afinal não nos chega. Que precisamos de mais. De tão mais.

É PRECISO TER CORAGEM PARA SER FELIZ.E ASSUMIR QUERER SÊ-LO❤️

CANOAGEM NOS VETERANOS

Quem julga que com o passar dos anos a ansiedade e o nervosismo não existem quando estamos na véspera ou em preparação para uma competição, é porque nunca passou por essas situações. Como disse no texto da última edição da Barcaça, mais de três décadas depois fui chamado a uma seleção distrital (Coimbra) para participar no Campeonato Nacional de Inter Regiōes em Canoagem.

Era um sonho de menino, mas nunca uma certeza em veterano. Para quem não está muito por dentro do campeonato nacional de canoagem poderá achar estranho uma pessoa da minha idade estar tão entusiasmado com esta chamada a seleção. A verdade é que na canoagem não existe uma data-limite para abandonar as competições nacionais, está tudo dividido por escalões que com o passar dos anos os atletas vão percorrendo.

Assim, os campeões nunca ou dificilmente deixarão de o ser, enquanto atletas de canoagem. Isso leva a que tenhamos nestas categorias atletas a fazerem tempos de grande nível, estamos a falar de atletas que estiveram em campeonatos do Mundo, Europa e até Jogos Olímpicos. Vimos Atletas com mais de 50 anos, fazerem melhores tempos do que muitos dos atletas seniores.

Isso aumenta a nossa ansiedade, que só passa quando é dada a largada e o barco começa a embalar...

Ter o prazer de entrar na mesma embarcação com atletas que foram os nossos ídolos na juventude e o medo de falhar, faz com que as pernas tremam e o coração bata mais rápido mesmo quando já temos tantos anos de vida. Mas, a verdade é que trememos mesmo. Apesar da idade o treino tem de ser diário se queremos fazer bons resultados. Não basta dar umas voltas de barco e ir para a prova. Preparei-me para esta competição, sei que ainda podia dar muito mais, mas as qualidades dos meus colegas de embarcação deram-me uma ajuda e assim a minha participação nesta competição nacional teve o prêmio com que há tanto anos sonhava...

Duas medalhas de segundo lugar numa prova de Seleções.

Velhos...! Velho só na idade.

Faça desporto...

Capela de Santa Leocádia [Marujal - Vila Nova da Barca]

Sobranceira aos campos do Baixo Mondego, sobre a margem esquerda do rio, e situada a curta distância da casa dos senhores da Quinta do Marujal, que em 1500 se grafava “Murujal”, esta capela terá sido edificada em 1541, conforme data inscrita no arco triunfal da capela-mor, data que, muito provavelmente, coincidirá também com ada construção da referida casa.

Na capela-mor, abobadada e de planta circular, estavam as imagens de Nossa Senhora da Graça e Santa Leocádia, num retábulo de pedra dividido em três nichos, outrora policromado. Para além do corpo da nave, de cobertura de madeira, possuía ainda uma pequena sacristia.

Sabemos, igualmente, que, até ao século XIX, terá funcionado como local de eleição para o sepultamento dos moradores do Marujal. O primeiro enterramento registado diz respeito a um tal de Manuel Nunes, “enterrado na Irmida de Santa Leocadia” a 1 de julho de 1620.

Em 1721, na obra “Santuário Mariano e História das imagens milagrosas de Nossa Senhora”, afirmava-se que esta ermida era “dedicada a Santa Leocadia ou, com mais verdade, a Nossa Senhora da Graça; “ he tão antiga que se refere, por tradição, fora paroquia”.

A este propósito, e segundo uma lenda local, conta-se que um dia, “junto àquelle sitio, appareceo huma Imagem de Santa Leocadia sobre hum monte de pedras soltas.”

Foi levada para a ermida, mas, para espanto de todos, no dia seguinte a imagem havia desaparecido do altar, vindo a ser encontrada sobre o mesmo monte de pedras onde havia sido descoberta. Como a situação se repetisse nos dias seguintes, e por sugestão de um dos populares presentes, decidiram revolver as pedras, para verificar se por debaixo delas se ocultava “algum mysterio”, e foi então que descobriram, “caso maravilhoso”, a imagem de Nossa Senhora da Graça que de pronto conduziram, na companhia da imagem de Santa Leocádia, à ermida, de onde nunca mais se mudaram ou desapareceram.

Hoje, como em tantos outros casos, a capela encontra-se abandonada e a degradar-se rapidamente.

Fontes:

https://www.cm-montemorvelho.pt/index.php/component/k2/item/362-

capela-de-santa-leocadia; https://hap.pt/content/quinta-do-marujal.

A INQUISIÇÃO PASSOU POR MONTEMOR-O-VELHO

A Inquisição passou por Montemor-o-Velho fazendo centenas de vítimas.

O sistema dá 390 processos de residentes nesta localidade e termo, no séc. XVII.

Vários elementos da mesma família eram acusados, tendo sido, pelo menos, uma família completamente arrasada: a mãe, viúva, e sete filhos, um dos quais padre.

A Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício , surgiu na Idade Média , criada pelo papa Gregório IX , no século XIII , como "instituição permanente e universal, confiada a religiosos na dependência direta da Santa Sé". Destinava-se a combater várias heresias que punham em causa a legitimidade tanto do poder eclesiástico como do poder civil.

Ao longo de quase 300 anos esta foi uma das instituições mais temidas em Portugal. Para garantir uma fé católica com elevado grau de pureza, milhares de pessoas foram perseguidas, torturadas e mortas na fogueira. Nenhuma heresia escapava ao Santo Ofício. Os suspeitos eram interrogados para se obter a prova de culpa, ou através de testemunhas, cuja identidade era mantida secreta, ou por meio de confissão dos próprios, que podia ser obtida através de torturas.

O ofício deste tribunal eclesiástico era inquirir dos desvios da fé católica, das heresias e das demais práticas pagãs. Todas as denúncias eram aceites, uma carta anónima ou um boato constituíam factos suficientes para iniciar um processo inquisitorial que permanecia secreto para a maioria. Os inquisidores tinham centenas de pessoas ao seu serviço e dispunham de uma rede de informadores a quem atribuíam recompensas e privilégios, como a isenção de pagar impostos, por exemplo. Trabalhar para a Inquisição, como ficou conhecido o tribunal do Santo Ofício, era também uma promoção social.

Os poderes conferidos aos inquisidores eram quase ilimitados. Podiam prender, julgar, castigar e torturar sem que os acusados pudessem escolher a sua defesa. O crime tinha de ser confessado e, não menos importante, tinha de haver lugar para o arrependimento, as almas que a Igreja conseguia salvar do inferno. Para isso, os inquisidores dispunham de métodos de interrogatório tão eficazes que o suspeito ou sucumbia nos instrumentos de suplício ou, como acontecia quase sempre, dizia-se culpado.

As sentenças eram proclamadas e executadas em sessões públicas, mais tarde chamadas de autos de fé. As cerimónias mais famosas eram publicitadas e encenadas como se se tratassem de espetáculos de entretenimento, para atrair, excitar e comover a população; muitos contavam com a presença do rei e da família real. As penitências aplicadas incluíam açoites, prisão temporária ou perpétua, condenação às galés, desterro, confisco de bens e execução pelo fogo. Porém, o direito canónico não permitia que os juízes do Santo Ofício condenassem ninguém à morte, essa parte cabia às autoridades civis, o que é mais uma prova da ligação entre a Igreja e Estado.

A Inquisição entrou em Portugal em 1536, quando as viagens dos Descobrimentos afirmavam a nação lusa no mundo. O novo tribunal, a funcionar em pleno em Espanha, foi primeiro pedido, sem sucesso, por D. Manuel e, de novo em 1531, por D. João III, que incumbira o embaixador em Roma de requerer a sua criação. Os reis queriam sobretudo “uma nova arma de centralização régia”. Para justificar a presença num território em que a unidade religiosa não estava em perigo, quase sem protestantes, a instituição portuguesa elegeu os cristãos-novos, judeus forçados à conversão religiosa, com poder e por isso invejados, os seus maiores inimigos.

As perseguições aos hereges duraram 285 anos. Aos poucos, a organização que começou por estar subordinada ao poder do rei, que se fez um estado dentro do Estado, foi perdendo popularidade e vitalidade. O Marquês de Pombal manda acabar com a distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos e equipara o Santo Ofício a qualquer outro tribunal régio. O golpe final chega em 1861, um ano depois da revolução liberal. Dos registos que existem, sabemos que entre 1543 e 1684, a Inquisição condenou em Portugal 19 247 pessoas, das quais 1379 foram queimadas, e centenas morreram na prisão enquanto esperavam julgamento.

O historiador José Pedro Paiva, coautor do livro “A História da InquisiçãoPortuguesa, 1536- 1861”, faz um resumo do que foi este Tribunal, considerado santo nos meios e nos fins.

FAMÍLIA ARRASADA

O caso da família em apreço neste apontamento, cuja genealogia apresentamos, foi um exemplo da tirania do Tribunal do Santo Ofício. O chefe da família, Gaspar Lobo de Azambuja, já tinha falecido, sobrevivendo-lhe a viúva, Cristina de Figueiredo, de 55 anos, 3 filhos e 4 filhas, uma destas casada. Viviam como cristãos velhos. O pai tê-lo-ia sido sem dúvida e a mãe dizia que também o era. Mas, na vila de Montemor-o-Velho havia, há dezenas de anos, um rumor de que ela tinha parte de cristã nova. Meia dúzia de anos antes das prisões, o lavrador Domingos Gonçalves Dourado começou a chamar cristã nova à viúva, por ser inimigo da família, e os filhos puseram uma demanda em Tribunal que subiu à Relação, ignorando-se o resultado (Proc. n.º 9885, de Isabel Lobo).

O filho mais velho foi ordenado de padre e foi mesmo sacerdote na paróquia de Arcozelo, na diocese do Porto. A filha mais velha, Isabel Lobo, casou com um cristão velho, de origem fidalga, Francisco Pereira Coutinho.

Ao tempo, havia uma vaga de prisões de cristãos novos em Montemor-o-Velho.

O sistema dá 390 processos de residentes nesta localidade e termo, no séc. XVII.

Os presos tinham de denunciar alguém, único modo de saírem do processo com vida, pois não bastava “confessarem”. Corriam perigo todos os que tivessem fama de terem alguma parte de cristãos novos.

O processo n.º 5731, de Cristina de Figueiredo, a viúva e mãe, não está

disponível por estar em mau estado. O processo da filha Isabel Lobo prova que, antes da sua prisão, fora denunciada por Catarina Rodrigues, solteira, de 45 anos, em 31 de Maio de 1666 e por D. Isabel de Abreu, viúva, em 26 de Junho1666.

Foram presos em 25 de Janeiro de 1667, a mãe e os filhos Isabel, Maria e Manuel, de 30, 26 e 24 anos, respetivamente.

A prisão de várias pessoas da mesma família tinha grandes vantagens para a Inquisição, com o sofisma de que seriam mais valiosas as denúncias de parentes próximos, sendo que o processo seria mais fácil de concretizar uma vez que os presos acabariam por denunciar-se uns aos outros para tentarem salvar a vida.

No entanto, naquela exata data, não prenderam o filho mais velho, o Padre Luis de Azurara Lobo, de 33 anos, assim como os mais novos Teresa, António e Marta, de 19, 17 e 16 anos, respetivamente. Com este facto, possivelmente, quiseram esperar que estes fossem denunciados pela mãe e irmãos que foram presos.

Vendo a prisão da mãe e dos três irmãos, o Padre Luis de Azurara Lobo, receando ser preso, tentou fugir para Vila Nova de Anços, onde tinha parentes e amigos. Por má sorte, não conseguiu um barco para atravessar os rios e os campos alagados que separavam Montemor daquela localidade.

Entretanto, o Prior da Igreja de S. João de Montemor-o-Velho, apressou-se a escrever à Inquisição de Coimbra, contando o facto e admirando-se de Luis Lobo ainda não ter sido preso. O Promotor deu essa informação à Mesa e propôs a prisão, tanto mais que já dispunha de três denúncias. O Padre foi preso em 21 de Fevereiro de 1667, enquanto os restantes três irmãos, mais novos, foram presos em 21 de Abril de 1668.

O Padre Luis de Azurara Lobo não exercia a paroquialidade em Montemor.

Fora Pároco na freguesia de Arcozelo, na diocese do Porto, mas passou a Paróquia, recebendo ainda uma pensão dos frutos dela. Nem sempre celebrava Missa, mas participava na missa dos domingos e feriados de preceito e frequentava o Coro deum Convento em Montemor. Deveria também cultivar o elemento feminino, porque meia dúzia de anos antes fizera um filho a Catarina Leda, uma jovem de Montemor.

No seu processo, demonstra não ser muito inteligente, mas seria, porém, um tipo franco, bastante incapaz de representar o que não sentia.

Depois de preso, não faltava quem o denunciasse. Sabendo que ele estava preso, ou por terem sido presos depois dele, ou por conversas nos cárceres, houve alguns que o fizeram, não faltando as denúncias dos irmãos, Teresa, Maria, Marta e António. No entanto, não sofreu acusação dos irmãos Isabel e Manuel.

Tentou passar por cristão velho, mas a Inquisição de Coimbra combateu ferozmente essa possibilidade, havendo Assentos da Mesa e do Conselho Geral a afirmar a cristãnovice dele. Pairava um rumor constante de que seu avô materno tinha parte de cristão novo. Primeiramente, contestou, por negação, as acusações de judaísmo, mas, como de costume, de nada lhe serviu. Quando lhe foi publicada a prova da justiça, arguiu sempre contraditas, mais ou menos fundamentadas.

Ainda nada tinha confessado quando o Assento da Mesa de 9 de Março de 1669 propôs que fosse relaxado. Por essa data, foi decidido transferi-lo de Coimbra para Lisboa, dando entrada nos cárceres da capital em 15 de Março de 1669; no mesmo dia, o Conselho Geral confirmou o Assento da Mesa de Coimbra e decidiu o seu relaxamento à Justiça secular.

Foi notificado do Assento a 18 de Março de 1669, e no dia 20 iniciou as suas confissões. Anotou que não obtinha nenhum resultado com a defesa e tinha de cantar a música que os Inquisidores queriam. Mas fê-lo algo desconcertado. Falou de um modo altivo, sem a humildade que eles queriam nos réus. Grande parte dos que acusou, já estavam presos e, por isso, a denúncia era de pouca utilidade para os acusadores, esquecendo-se do nome de muitos que tinha identificado nas contraditas, pelo que não foi convincente. Aliás, em momento menos feliz, quiçá por um rebate de consciência, disse que fora crente na Lei de Moisés, inventando um meio termo em que cera crente simultaneamente nas duas Leis, o que não tinha sentido, como lhe disseram os Inquisidores. E nestas confissões e contradições andaram durante duas semanas. E, aproximando-se a data do Auto da Fé, o Padre revogou tudo o que tinha confessado, recuperando a sua dignidade para morrer no patíbulo. Foi morto no Auto da Fé no Terreiro do Paço, em 31 de Março de 1669.

Entretanto, no dia 26 de Maio de 1669, em Coimbra, sua mãe foi morta no cadafalso. O seu irmão Manuel foi condenado a 5 anos nas galés (dava trabalhos forçados na prisão do Limoeiro, por não haver galés). As irmãs Teresa, Marta, Maria e o irmão António condenados a cárcere e hábito penitencial a arbítrio ou perpétuo (Teresa). A sua irmã Isabel continuou presa e foi morta depois no auto da fé de 14 de Junho de 1671, em Coimbra.

Em relação ao Padre Luis da Azurara Lobo, escreveu João Lúcio de Azevedo:

“No auto de 31 de Março de 1666, em Lisboa, foi relaxado o padre Luis de Azurara Lobo, que seguia os preceitos judaicos, sem deixar de exercer as funções do sacerdócio, nas quais, dizia, igualmente acreditava. Judeu e cristão conjuntamente, pensava assegurar por esse modo a salvação. Morreu por variar nas declarações e não ter nomeado cúmplices para satisfação dos juízes.”

Sobre este assunto, escreveu António Joaquim Moreira: “Este processo é curioso pelo enredado dele: começou na Inquisição de Coimbra, e, não sei porquê, veio com o Réu parar à de Lisboa. Pelo que dele pude coligir, o preso não sabia que havia de dizer, porque, segundo a sua retractação, nada tinha feito, e dava a adivinhar em quem lhe lembrava, e dizia quantos disparates lhe vinham à cabeça, que provavelmente se tinha transtornado com dois anos de cárcere e as aturadas admoestações e ameaças do costume: todo o seu fim era livrar da morte. “

O Padre Luis Azurara Lobo não teve trunfos fortes para jogar, resignando-se a morrer com alguma dignidade. Neste processo, é de relevar a importância que os Inquisidores deram à demonstração de que o réu tem parte de cristão-novo, no longo Assento a fls. 218. Denúncias e confissões de práticas judaicas eram pura invenção para o funcionamento da máquina inquisitória, pois os réus eram penitenciados apenas pelo sangue que traziam nas veias.

Genealogia desta família:

João de Barros Pinto, do qual corria o rumor de ter parte de cristão-novo, casou em Montemor-o-Velho com Isabel Giroa e tiveram:

1.- Cristina Figueiredo - da qual corre o rumor de ter parte de cristã nova, de 55 anos - Proc. n.º 5731 de Coimbra - que casou com Gaspar Lobo de Azambuja, cristão velho, e foi presa em 25 de Janeiro de 1667, relaxada, foi ao auto da fé de 26 de Maio de 1669. Tiveram sete filhos:

1.1.- Luis de Azurara Lobo, Padre, de 33 anos - Proc. n.º 1994, de Lisboa, preso em 21 de Fevereiro de 1667, relaxado, foi ao auto da fé de 31 de Março de 1669, em Lisboa e tem um filho chamado Mendo que teve da jovem Catarina Leda, o qual tem 4 ou 5 anos.

1.2.- Isabel Lobo (a), ou Isabel de Figueiredo, de 30 anos -  Proc. n.º 9885, de Coimbra - que casou com Francisco Pereira Coutinho, cristão velho, presa em 25 de Janeiro de 1667, relaxada, foi ao auto da fé de 14 de Junho de 1671.

 1.3.- Manuel Lobo de Azambuja, de 24 anos – Proc. n.º 2104, de Coimbra, preso

em 25 de Janeiro de 1667, solteiro, reconciliado, foi ao auto da fé de 26 de Junho de 1669.

 1.4.- António Lobo, de 18 anos – Processo 'desaparecido' – preso em 21 de Abril de 1668, reconciliado, foi ao auto da fé de 26 de Maio de 1669, sob o n.º 42.

1.5.- Maria Loba, de 26 anos - Proc. n.º 2030 de Coimbra, presa em 25 de Janeiro de 1667, reconciliada, foi ao auto da fé de 26 Maio de 1669.

1.6.- Teresa Lobo, de 19 anos - Proc. n.º 411 de Coimbra, presa em 21 de Abril de 1668, reconciliada, foi ao auto da fé de  26-5-1669.

 1.7.- Marta Lobo, de 16 anos – Proc. n.º 5863, de Coimbra, presa em 21 de Abril de 1668, reconciliada, foi ao auto da fé de 26 de Maio de 1669.

2.- Valentim de Barros, de 50 anos – Proc.n.º 410 de Coimbra, escrivão da almotaçaria, casado com Maria Cardosa Zuzarte e tiveram

2.1.- Geraldo de Barros, de 16 ou 17 anos de idade, solteiro,  Proc. n.º 13692, de Lisboa.

Aldo Aveiro, A Inquisição passou por Montemor-o-Velho, 1.º Apontamento, escrito em 2010, revisto em 2024 para o Jornal Digital Barcaça, de junho de 2024.

Textos consultados: Arlindo Correia, que seguimos nas linhas gerais, P.e Luis de Azurara ou Luis de Azurara Lobo, natural e morador na vila de Montemor-o-Velho;

Processo n.º 1994, da Inquisição de Lisboa e Processo de Diligência de Habilitação de Luis de Azurara Lobo https://digitarq.arquivos.pt/results?t=Luis+Azurara+Lobo e António Joaquim Moreira, Colecção das mais célebres sentenças da Inquisição,

fls. 361– Cod. 861 da BNP. Online: http://purl.pt/15392/4

SAUDOSISTA POIS ENTÃO...


Se a cada um de nós, calcular as devidas proporções são diferentes no que entendemos sobre o nosso passado e das suas vivências, porque não refletir no presente a noção de onde viemos, cuja viagem depois foi de envolvência social e cultural de colarinhos brancos e vestidos a roçar os nobres salões não conseguiram destruir a idealização simples e rural no velho de 83 anos. Renegando sempre os velhos do restelo... maneando a sua cabeça com inveja ou falta de coragem para novas aventuras e o conhecimento mais adiante, o saudosista deve ponderar sem complexos o antes e depois, não caindo no disparate de não perceber o meio termo por onde encontramos a virtude...

Afinal, na vossa primeira abordagem ao saudável saudosista, o que fica claro na sua origem, são os valores da palavra dada nos dignos aldeões que não sabiam uma letra do tamanho da antiga ponte do Casal Novo do Rio.

É certo, a sociedade transforma-se, vencemos e percorremos a estrada de todas a vidas, os pobres daquela época pediam em grupo aos domingos pelas ruas de Montemor, no entanto o que temos ainda, basta recorrer às estatísticas e penso dorido que a saudade não me vai matar no presente, se a Europa, foi uma prima dona para os políticos, vejamos o povinho que não vou negar, só lhe falta o pau para pedir esmola como antigamente,

Sendo assim o saudosismo tem regras de aplicação nas suas atitudes, deixando para os estudiosos a sua função erudita, se por cã me basta saber de onde venho e não sei ainda para onde vou “pavonear-me” com a certeza de que jã não tenho tempo de vender a "alma ao diabo"


MANUEL BRUNO PISTER DE ANDRADE (1768-1833) – PADRE, POLÍTICO E POETA

Pister de Andrade foi pároco do Paião durante 17 anos ininterruptos, de abril de 1811 a 6 de junho de 1828, exceto no pequeno período de 19 de junho a 8 de setembro de 1824.

E se durante mais anos não paroquiou a freguesia do Paião foi porque teve de fugir no advento do Miguelismo, vivendo exilado e “monteado como fera até ao fim dos seus dias”.

Pister de Andrade nasceu na Guarda em 19 de fevereiro de 1768.

Na Guarda, e depois em Castelo Branco, fez os primeiros estudos, e muito novo ainda foi constrangido pela família a entrar num convento da Ordem de S. Francisco, onde concluiu o noviciado.


Foi obrigado a professar, tomando o nome de Frei Manuel de Santa Thereza de Jesus Guarda.

Na Guarda e em Castelo Branco residiu até 1791, ano em que veio para Coimbra a fim de cursar estudos superiores e onde residiu até 1793 no Convento de S. Francisco.

Não terá entrado na Universidade, sabendo-se que residiu algum tempo no Convento de S. Francisco em Lisboa.

Por duas vezes envergou o hábito franciscano, e por duas vezes o deixou, porque “dotado de um temperamento ardente e amoroso, as asperezas do claustro não conseguiram abrandar-lhe as tendências mundanas, e vemos por muitas das suas poesias que o seu coração não resistiu aos encantos das beldades com quem largamente conviveu na mocidade”.

Com inimigos poderosos e cansado da vida claustral, resolveu ir a Roma impetrar ao Pontífice um breve de secularização, mas sem recursos financeiros, a sua viagem foi longa e acidentada.

Partiu a pé da Guarda em 27 de janeiro de 1793, já em Espanha padeceu uma forte tempestade que o deixou encharcado e faminto, valendo-lhe a caridade de um homem que lhe arranjou um cavalo em que se transportou até Salamanca.

De Salamanca foi para Madrid, num coche de retorno, onde esteve 16 dias, até que arranjou passagem para Barcelona, e daqui embarcou para Génova numa viagem que demorou 14 dias.

Em Génova conheceu o português Frei Alexandre, monge de S. Bento, natural de Braga, com quem combinou seguir por mar até Civitavecchia, e depois para Roma, onde conseguiu a secularização.

Regressou a Lisboa, onde os seus inimigos puseram em causa a sua secularização, mas conseguiu obter a intervenção do Príncipe Real, depois D. João VI, que fez cumprir o breve pontifício.

Secularizado, obteve a coadjutoria do Louriçal, sendo depois nomeado coadjutor de Lavos, de que era pároco António de Macedo Pereira da Horta, e na casa deste se encontrou em 1808 com o General Arthur Welesley, aqui hospedado após desembarcar na praia do Cabedelo, a quem dedicaria o poema «Welingtaida» em 1816.

Pister de Andrade foi depois capelão das freiras de Santa Marta, em Lisboa, onde permaneceu algum tempo.

Entrou de novo na vida monástica, residindo no seu antigo Convento de S. Francisco de Lisboa, mas depressa se arrependeu, impetrando pela segunda vez numa breve secularização que lhe foi concedida pelo papa Pio VII, por intervenção do núncio apostólico em Lisboa, o cardeal Vicente Machi.

Vagando a Igreja do Paião por parte do pároco João Dias Bertão, e estando Pister de Andrade já secularizado pela segunda vez, requereu à Abadessa do Convento de Santa Clara de Coimbra o seu provimento, e deferida a sua pretensão, foi provido na paróquia do Paião em abril de 1811.

No Paião notabilizou-se como orador sagrado, fecundo e eloquente, e dotado de fértil engenho e grande cultura e inteligência, todos lhe reconheceram a maior consideração no ministério do púlpito.

Ativo propagandista dos ideais liberais saídos da revolução de 1820, encorajou muitas vezes o povo a resistir às exações dos monges de Seiça, aconselhando e protegendo os seus paroquianos, e assim provocando o ódio daqueles religiosos, onde abundavam as ideias absolutistas.

Pister de Andrade tornou-se um contestatário, reclamando superiormente das injustiças que frequentemente observava.

Como se constata num parecer da Comissão Eclesiástica de 2 de abril de 1821, sobre um requerimento de Pister de Andrade, no qual se queixa da Abadessa do Convento de Santa Clara de Coimbra, "que procura com delongas de injusta chicana, impedir o termo de justíssimas demandas".

Reclama também da conduta dos juízes eclesiásticos daquele bispado e pede às Cortes a nomeação de magistrados "que avocando todas as causas de que faz menção as decidam definitivamente em uma só instância."

A Comissão Eclesiástica indeferiu este requerimento e igual fim teve outra petição de Pister de Andrade em que pediu a extinção dos padroados particulares.

Em 1823, após a Vilafrancada, a dissolução das Cortes liberais e o fim da Constituição de 1822, Pister de Andrade quase foi preso, valendo-lhe amigos poderosos que lhe aconselharam prudência e moderação na propaganda das suas ideias liberais.

Falecido D. João VI em 10 de março de 1826, e proclamada a Carta em 1826, temos de novo Pister de Andrade envolvido em atividades políticas, datando daí um poema nacionalista feito em Coimbra em 1827, «Quadras patrióticas”, que ofereceu à infanta D. Isabel Maria, regente do reino.

Aclamado o rei D. Miguel em 11 de junho de 1828, Pister de Andrade é perseguido, assim como muitos outros liberais, e nesta perseguição salientam-se os monges de Seiça, seus implacáveis adversários, o seu colega de Lavos, Manuel Maria de Mello, e o seu confrade da Figueira, José Braz Maria, que paroquiou S. Julião de 1814 até à derrota dos absolutistas em 1834.

O período Miguelista durou de abril de 1828 a maio de 1834, durante o qual se levantou uma “rigorosa devassa” que levou aos cárceres e ao exílio muitos figueirenses e à fuga das autoridades locais.

Do lado dos delatores sobressaía o padre José Braz Maria, um inimigo feroz de quantos acreditavam no ideal liberal, mesmo sendo seus patrícios e colegas de profissão, um “vil denunciante nas devassas que as autoridades de então promoveram contra eles” e, por sua iniciativa, muitos foram parar às prisões de Almeida, “uma espécie de sucursal da infernal Santa Inquisição.”

Foram pronunciados 163 réus figueirenses nas “Devassas e sumários procedidos ex-vi da Rebelião de 16 de Maio próximo (1828) no Distrito Cível da Vila da Figueira até ao dia 26 do corrente mês de novembro de 1828”, entre os quais estavam Pister de Andrade, 4 liberais da freguesia de Lavos e outros 4 da freguesia do Paião.


São 163 cidadãos de todas as localidades do concelho, e de todas as condições sociais, como António Fernandes Coelho, advogado na Figueira, António Trovão, barbeiro em Maiorca, António de Azevedo Rafael, boticário no Paião, António Luiz de Seabra, ex-juiz de fora de Montemor-o-Velho, Albano José de Carvalho, natural de Quiaios e Alferes de Milícias do Regimento da Figueira, Francisco da Silva Pedrosa, agricultor em Lavos, Francisco Borges dos Santos, advogado de Buarcos, Ignacio Fernandes Coelho, ex-recebedor da Alfândega, José dos Santos Jardim, natural do Porto, tanoeiro e taverneiro na Figueira, Leandro Pinto Curado, ex-juiz ordinário do couto de Lavos, Leandro Cardoso da Maria, agricultor de Quiaios, Luiz Rodrigues Marinheiro, lavrador no Paião, Manuel Joaquim Fernandes Thomaz, estudante, da Figueira, Manuel Pister Bruno d’Andrade, vigário do Paião, Nestório Dias, negociante, da Figueira, Roque Fernandes Thomaz, estudante, da Figueira, Francisco Maria da Cruz de Mello, figueirense a estudar em Coimbra, e ainda mais 146 individualidades.


Haviam de ser conhecidos por “malhados” todos os figueirenses que se opuseram ao absolutismo, e muitos deles foram presos, torturados e deportados no período Miguelista.

Pister de Andrade foge do Paião, porque a Alçada o pronunciara, mandando prendê-lo e ordenando o sequestro dos seus bens.

Indo as autoridades ao Paião, para procederem à prisão de Pister de Andrade e executarem o sequestro dos seus bens, verificam que o Juízo da Figueira já se tinha antecipado, sequestrando-lhe os bens, que eram “uma égua, dois carneiros, vinte alqueires de milho e cento e tantos volumes de várias obras de livros troncados”.

Não encontraram Pister de Andrade, porque amigos dedicados o tinham ajudado na fuga, começando aí uma vida errante, com muitas desventuras, que só terminaria com a sua morte em 1833.

Os seus implacáveis inimigos, à frente dos quais se salientavam o prior de Lavos, Manuel Maria de Mello, e o coadjutor do Paião, comensal de Pister de Andrade a quem este dispensara acolhimento, empregavam os maiores esforços para descobrirem o seu paradeiro e o entregarem à justiça.

Clandestino, Pister de Andrade viveu em casas abandonadas, no meio de matas e pinhais, mas também chegou a ser acolhido por amigos dedicados como o comerciante inglês George Laidley a viver na Figueira.


Contou sempre com o apoio secreto dos seus amigos figueirenses e liberais, nos quais se contavam, para além de George Laidley, António Alves de Freitas, Manuel José dos Santos, António Joaquim de Morais, Manuel Nunes, Joaquim Inácio dos Santos, Luiz Ferreira Pimentel, Rodrigo Francisco Branco, Francisco Antunes Braz, António das Neves Barateiro e Edward Baker.

Erudito e de espírito liberal, o padre Pister de Andrade não teve o apoio e o conforto da Igreja, onde até se cruzou com inimigos, e dentre eles se contavam alguns colegas conservadores como Manuel Maria de Melo, padre de Lavos, e José Braz Maria, pároco da Figueira.

Pister de Andrade era um homem culto, poeta, espírito irrequieto e progressista, amante do liberalismo e da liberdade, e por esta sofreu atrozes perseguições, conheceu o homizio, andou a monte durante 5 anos, vindo a falecer em 1833, um ano antes da revolução liberal ter triunfado.

Com a vitória dos liberais, a população figueirense saiu para a rua, vitoriando as tropas fiéis a D. Pedro, corria o ano de 1834 e o dia 8 do mês de maio:

“A alegria é indescritível, quase toca as raias do delírio. São mães e esposas que choram de alegria por verem chegada a hora em que hão de abraçar os seus queridos, até ali postos a ferros, e são amigos que se felicitam entusiasticamente, pelo triunfo final da sua Ideia.”

“O padre José Braz Maria mal pode crer o que vê; torvo e desorientado, dirige-se para a Casa da Câmara onde o clero, nobreza e povo se achavam reunidos para aclamação da rainha D. Maria II, ao que ele se associa, assinando também (certamente sob a reserva mental) o respetivo Auto então lavrado”.


Todavia, com a vitória de D. Pedro em 1834, veio também a proibição das ordens religiosas, porque tinham muito poder e a sua esmagadora maioria se tinha colocado ao lado de D. Miguel.

O Mosteiro de Seiça foi encerrado, e o seu último Abade, Frei João Mexia, refugiou-se na Vinha da Rainha, seguindo depois para o Norte, porém, a maioria dos monges de Seiça, sem recursos para viajar, terminou os seus dias em grande pobreza, no Copeiro e noutras localidades da zona.

Relativamente ao padre José Braz Maria, que paroquiava a Igreja de S. Julião desde 1814, foi afastado em junho de 1834, tendo a respetiva Junta de Paróquia atestado, 6 anos depois, que se portara com honra, em documento emitido em 19 de janeiro de 1840.

Num voo ousado,

soltaram-se-me das mãos

as palavras há tanto

aí guardadas …

 

Voaram para longe,

rumo ao sul,

em busca da lonjura

dos ideais distantes…

Escaparam-se-me entre os dedos,

rasgando o seu caminho …

 

Agora, sem elas,

Que farei? Onde encontrar de novo

A sua essência?

A sua riqueza?

Sem elas, como poderei viver,

Como direi o que sinto?

Como encontrar

o caminho?

 

Irei eu em busca de outras,

cristalinas de luz,

debruadas de azul,

leves, discretas,

raras como pérolas,

capazes de traduzir

a riqueza que em mim guardo??? …

Palavras, só palavras, afinal…


 

AMIGOS

Não há palavras para explicar

O que cada um merece

Mas eu vou tentar

E vamos ver o que acontece

 

A amizade dos amigos

É como amizade de irmãos

Ela é tão ou mais importante

Desde que sentida com o

Coração

 

Na amizade sincera

Não existe preconceito

Todos têm cabidela

Com o devido respeito

 

Existem vários tipos de amigos

Os que se dizem mais

coerentes,

E aqueles que nem por isso

Mas todos são pacientes

 

O meu tempo e o vosso tempo

Transcendem qualquer medida

Além de toadas as vivências

Sendo a amizade, um

ingrediente da vida

 

Os amigos que nos

acompanharam

Pela nossa vida fora

Tantos anos já passaram

Que os recordamos agora

 

Amigos de longe ou de perto

Todos temos que valorizar

A distância não é impedimento

Para o grupo se juntar

 

Todos contam suas histórias

E são todas de encantar

Irão estas também ficar na

memória

Para mais tarde as recordar

 

As histórias, quem as conta

O faz com alguma tenacidade

Para que quem esteja a ouvir

As recorde com saudade

 

Nestes encontros majestosos

O vinho é uma categoria

O repasto é gostoso

E a tarde é de folia

 

Nós somos como as videiras

Que dão uvas e muito mais

Nós matamos o nosso tempo

A falar com os demais

 

A vida é uma tela

Não importa as suas cores

O que importa é viver

Com qualidade de vida e sem

Dores

 

Viver cada momento

O que temos de ultrapassar

Para nós é uma bênção

Ver o tempo a passar

 

Não queremos nem a brincar

Dizer adeus a alguém

Leva saudades quem parte

Quem fica, saudades tem.

Fotos de: João Capinha


SOU TUDO E SOU NADA

Sou tudo num instante fugaz

Desdobro-me, reinvento-me, renasço

Sou mais tudo que sou capaz…

Mas afinal neste mundo e

Nestes tempos conturbados...

Tudo o que mais almejo

É poder viver em paz.

 

Sou de tudo num dia só

E sou nada num outro dia

Como as marés e o tempo

Sou feita de nostalgia

Por tudo o que já não é

Mas já foi tanto na vida...

 

Aí como sou tudo e nada

Aí como queria ser…

Tudo o que sonhei na vida

Tudo que me faz viver

É sonhar que em cada dia

Tudo pode acontecer…

Eu Canto...

Eu canto quem parte
Contra o vento, contra tudo
Que reage e não se fica
Neste marasmo absurdo
Eu canto a coragem
De quem vê mais além
E não renega o passado
Pois o passado o sustem
Eu canto quem acredita
Que tem mãos de seiva
Que alimenta os seus filhos
Com a futura colheita

Mas canto quem permanece
Com alma de partir
Carrega o fardo do tempo
Com tempo para sorrir
Eu canto quem rasga a terra
Com jeito de afagar
Se não chove, que importa
Com lágrimas a vai regar
Eu canto quem espera
Pois a espera fortalece
E trás no ventre a certeza
Que amanhã, amanhece

Eu canto o poeta que chora
Que se revolta e implora
Que virem esses caminhos
Para não ter de ir embora



Ao Fausto, “Somos teus filhos, ó mar de estrelas. Cuida-nos bem” O Fausto mentiu-me.

O Fausto foi imensas vezes o meu melhor amigo, o meu conselheiro.

Tivemos horas de conversas e, na minha ingenuidade, acreditei que o Fausto “ia para lá do que era eterno” e que jamais me abandonaria.

Hoje acordei, ainda na luta entre as remelas de sono e os diários da manhã, e li que o Fausto me tinha deixado. Tinha partido ao longo desse claro rio de água doce. Nunca conheci pessoalmente o Fausto. Recusei essa possibilidade, “não se conhecem os heróis”.

Declinei ir ao bar onde ele se encontrava no final de um concerto. Mas lembro-me vivamente da beleza do seu sorriso nessa noite, rasgado ao ponto de enrugar os olhos enquanto cantava “a nova brigada dos coronéis de lápis azul”, envolto no ambiente dourado do Theatro Circo em Braga.

Este artigo tinha prazo a 30 de junho, e escrevo-o na madrugada de dia 2. Primeiro, porque um computador deixou subitamente de funcionar, depois porque o outro que fui buscar para substituir o primeiro me caiu das mãos e seguiu a mesma predestinação.

Talvez tenha sido um sinal, um aviso do destino, a dizer-me para não escrever nada, que teria a obrigação de usar este espaço para me despedir do homem monumento, do homem da música com cheiro a especiarias, do homem que quando cantava nos fazia sentir texturas na ponta dos dedos, daquele que nos transporta para o dourado das águas e nos faz balançar em barcos e ter nos pés as ervas babosas.

 O Fausto faz-me sempre chorar quando o ouço cantar “Somos capitães, de olhos pregados nos céus de cima dos chapitéus, e na verdade o que vos dói é que não queremos ser heróis.”

Ao Fausto, que as estrelas te acolham e o mar te embale.


LIVROS

março 1985
RESUMO

Gonçalo, Teresa, Duarte, Pedro, Isabel e Inês pertencem a uma geração que vive a dramática ruptura com a herança ideológica pesada, onde um catolicismo tradicionalista arbitra as regras da existência. Estes protagonistas, embora com as mais diversas filosofias de vida, estão todos eles marcados por uma sociedade bem portuguesa e todos eles, na fragilidade das suas vidas, da sua solidão, se encontram estreitamente ligados às suas existências. Se «Os Nós e os Laços» é um romance de conflito de valores com o passado ainda presente, é também exploração de novos percursos que se entreabrem à experiência de cada um dos personagens: é a descoberta do corpo como lugar privilegiado de comunicação, são os jogos de existência em que bem e mal permutam constantemente de posição, e é sobretudo esse discreto mas instaurador movimento de pensar o mundo feminino.


MÚSICA 






QUADROS CÉLEBRES

'Meadow', 1996, pastel on paper laid down on aluminium, 170x149.7cm | #PaulaRego

Esta obra-prima de P.Rego, foi vendida na passada terça-feira, por 2,07 milhões de libras, cerca de 2,45 milhões de euros, num leilão da Sotheby’s em Londres. Um dos trabalhos mais virtuosos, dramáticos e pioneiros da pintora, fez parte de uma exposição de 23 obras em larga escala apresentadas em 1996 na galeria Marlborough, em Nova Iorque, entre os quais se encontravam os quadros com referências ao universo da Disney como as obras “Fantasia” ou a “Branca de Neve” / This masterpiece by Rego was sold last Tuesday for 2.07 million pounds, around 2.45 million euros, at a Sotheby’s auction in London. One of the painter's most virtuoso, dramatic and pioneering works, it was part of an exhibition of 23 large-scale works presented in 96' at the Marlborough gallery, in NY, among which were paintings with references to the Disney universe, such as the works “Fantasia” or “Snow White

1 comentário:

  1. Saudosista pois então de madrugada para viajar na Barcaça ,porque velho não dorme mas pensa no...pppassado

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